terça-feira, 31 de março de 2009

Como tornar-se um canalha


Não sei de onde veio essa idéia, mas numa conversa com uma amiga por email ontem, tomei a decisão: A partir de hoje eu sou um canalha!
Nao tenho a menor idéia de qual é a definição exata de “canalha” (Ok...Agora tenho... Etimologia it. canaglia (a1338) 'conjunto de pessoas desprezíveis', (1531) 'pessoa malvada', der. de cane 'cão' + suf. coletivo e depreciativo -aglia; ver ca(n)-, do Houaiss), mas vou procurar fazer o possível prá me tornar um.

Vou deixar meus contatos do MSN todos online... Ninguém mais será deletado, ninguém será ocultado e partir de agora serei gentil e camarada no ponto certo... A ponto de criar alguma afeição, a ponto de conquistar de alguma forma prá em seguida tomar vantagem disso.

É assim que as coisas deviam ser desde sempre. Quanto tempo eu perdi!

E olha que eu não levei nenhum fora hoje ou nos últimos dias não. Mas óbvio que sim, tive meus momentos ruins e que por alguma razão foram trazidos a tona recentemente e que me fizeram tomar essa decisão.

Talvez porque eu ainda almeje uma carreira política – pois é, ao contrário da maioria dos homens eu nunca quis ser astronauta ou bombeiro. Sempre quis ser presidente, mas a maturidade me levou a concluir que devo ser Senador. Sou bairrista demais prá ser presidente – acabei sempre tentando agradar a todo mundo.

Realmente acho que todo mundo “gosta” de mim... Todas as sogras, todas as tias, todas as atendentes que nunca são bem tratadas, todos os seguranças e manobristas que nunca recebem um boa noite ou um sorriso, enfim, todo mundo que gera votos mas que não dormiria comigo (ou até dormiria, mas eu é que não quero, sei lá...) no final do dia...

Mas isso mudou.

Não vou deixar de ser “oferecido” como uma vez um quase namorado da minha irma a chamou porque notou que ela era tão bem educada quanto eu e sorria para todos. Essas pessoas não tem nada a ver com meus problemas.

Mas qualquer otário ou otária que eu achar na balada, que eu julgar que mereça se danar simplesmente porque nasceu, vai levar. Vou cozinhar em banho Maria. Vou ter minha lista de pessoas que se encaixam nesse grupo. Vou dar em cima de todo mundo, dar fora em todo mundo, vou comer e sair sem dar tchau, e ligar o foda-se de uma vez por todas...

Talvez seja um excesso de autoconfiança escrever um texto como esse. Talvez alguns amigos ou amigas achem que estou ficando louco. Provavelmente se alguém do meu MSN ler esse post vai ficar com dúvida... Mas é isso. Cada um que pense o que quiser. Eu sou um canalha e se alguém souber de alguma coisa que possa me ajudar a me tornar um canalha melhor, por favor, a caixa de sugestões está aberta...E por favor, espalhem a notícia, porque canalha que se preze é conhecido por todos como canalha... Se só eu achar isso, não vai adiantar nada...

segunda-feira, 30 de março de 2009

NOVA VIZINHA

Quando o caminhão de mudança parou em frente à nossa casa tivemos certeza de que afinal a casinha do outro lado da rua seria habitada. Estava vazia há meses.
Mês de férias, sem muito o que fazer a meninada sentou na calçada para analisar a mobília e, principalmente para ver se chegaria com a mudança alguém da nossa idade.
Hoje provavelmente ninguém estaria na calçada mas no clube, diante da TV, vendo um filme, no computador ou no acampamento... Naquele tempo as férias eram na rua, mesmo. A programação da televisão começava às 6 da tarde, cinema só no domingo, clube era luxo, computador não existia e acampamento não fazia parte do nosso mundo.
Voltando à mudança, vimos descarregarem móveis que nenhum de nós tinha em casa: hoje sei que o nome é bergère, mas classificamos como um trono vermelho e dourado, um tapete de zebra lindo que os carregadores desenrolaram e enrolaram na calçada, caixas e mais caixas com panos coloridos, um espelho gigante em moldura dourada e um móvel enorme- outro conhecimento que não tinha à época- um étagère, também dourado.
O sofá, mesinhas, cadeiras, tudo era conhecido mas não como aqueles...
Encantados com tantas novidades chegamos às alturas quando um Chevrolet 52 azul, reluzente, estacionou e um senhor de terno marron e gravata listrada largou a direção apressadamente para abrir a porta do passageiro e de lá desceu dona Anita.
Risadas, cutucões e agitação. Ela era a mulher mais esquisita que já havíamos visto. Primeiro, porque usava na cabeça um lenço estampado que dava várias voltas no pescoço e caía atrás, depois porque seus óculos eram enormes mas principalmente porque usava casaco de pele e eram 11 horas de uma manhã de janeiro.
Andou sem olhar para nós, com a delicada mão do homem em seu cotovelo, diretamente para o portãozinho da casa e para nosso delírio descobrimos que por baixo do casacão usava uma saia tão justa que não conseguia subir o degrau alto. Ficou de lado, apoiou no muro, ele empurrou, mas nada! Não havia ângulo para dobrar o joelho dentro daquela saia.
Ficamos todos em pé para ver melhor, torcendo para que a situação piorasse. Infelizmente não piorou. O homem às suas costas levantou-a pela cintura e praticamente a empurrou para dentro ouvindo nossas gargalhadas.
Como a parte melhor já acabara, e era hora de comer, fomos para casa contar as novidades.
À tardezinha nos juntamos novamente. O caminhão partira, o Chevrolet na garagem, o homem subia e descia de uma escada para colocar cortinas, e tudo parecia muito plácido.
De repente ela apareceu no corredorzinho do lado.
Era muito feia! Cabelo azul, velha, com batom vermelho e “rouge”. Figura estranha. Não parecia com ninguém do bairro: as avós não usavam batom vermelho nem cabelo armado, as mães não usavam aquelas roupas e nem eram velhas.
As mulheres da rua também foram aparecendo. Uma ia à padaria, outra tinha ido xeretar mesmo e outra estava de passagem para a casa da mãe. Pararam e resolveram cumprimentá-la, dar as boas vindas.
Atravessaram a rua e foram acolhidas com o melhor sorriso do mundo.
- Ah, queridas, muito obrigada!
- A senhora morava por aqui?
- Não, eu tinha um apartamento na rua Paim, mas decidimos morar numa casa. Esta é perfeita, do tamanho que precisamos.
- A senhora tem filhos?
- Não, meu amor, sou recém casada... ainda não deu tempo. Apareçam, vamos conversar, apareçam!
No dia seguinte ela lavou a calçada e molhou o jardim de short. Um escândalo!
Quando foi à padaria de pijama e casaco de pele, o bairro já fervia.
À tarde as mães descobriram - ela era vedete. Ou melhor, ex-vedete. Aposentada.
Participara de alguns filmes com Mazzaropi e ainda fazia bicos na rádio Record.
Ouvi meu pai dizer para tomarmos cuidado, era uma mulher perigosa.
As mães, fascinadas, queriam saber de tudo. Aos poucos e sem muitos rodeios ela foi contando. Tivera muitos amantes. Fora muito apaixonada, mas ninguém a pedira em casamento. Amiga da Virgínia Lane, convidaria todas para um chá quando ela viesse de visita.
Ia montar um salão de beleza. Adorava casacos de pele. Tinha muitos, ganhos de amigos e admiradores.
Seu marido? Ah, seu marido era o “seo” Garcia, gerente da Pirani. Viúvo sem filhos sempre fora apaixonado por ela, desde moços. Os pais não o deixaram casar com uma moça à toa. Só quando os pais morreram começaram a namorar. E viveram amorosamente até a morte de “seo” Garcia uns 15 anos depois.
Ela se tornou a melhor cabeleireira/conselheira do bairro. Continuou a usar casaco de pele só com calcinha, sobre o pijama ou para conversar no portão.
Foi no colo dela que chorei a perda do meu primeiro amor.

domingo, 29 de março de 2009

Enquanto isso na lanchonete

"Ela dizia que parecia uma despedida
Calçou os sapatos, vestiu minha roupa
Já não cabia mais
Enquanto isso na lanchonete
Ela dizia que parecia uma despedida
Calcei os sapatos, vesti sua roupa
Já não cabia mais
Enquanto isso na lanchonete
Os dois se encontravam
E renascia..."
Enquanto isso na lanchonete - Vanguart


Ufa, acho que agora tudo volta um pouco mais ao normal. Eu sempre juro que dessa vez vai ser diferente e que eu vou trabalhar menos e aí me apaixono pelo projeto e aí já era. Perco a cabeça, trabalho horrores, perco sono, como mal e só penso em trabalho. Aí essa parte acaba e tudo volta ao normal. Felizmente. Amo o meu trabalho mas amo a minha família, os meus amigos, gatinho e adoro ter vida. Essa seman avoltei a viver. E bem.
Bom, mas agora me digam, a Eliana Tranchesi foi sentenciada a 94 anos de prisão. Gente, o que a mulherada desocupada dessa cidade vai fazer sem a Daslu? O Iguatemi vai explodir! A Faria Lima vai ficar em quarentena! Tudo isso porque a moça comprava um calça Marc Jacobs por 150 euros e declarava que havia comprado por 20 dolares. Ah, vai que já fizeram bem pior! Tem gente que matou, roubou água de pobrezinho e está aí, bonito, reeleito e impune. Ela pelo menos rouba de rico, nesse lance meio Robin Hood. Vendia coleção antiga aos novos ricos jurando que era fresquinha recém saída da passarela da Semana de Moda de Paris e por isso tinha aquela poeirinha. Quem é trouxa que se lasque, né? Trouxa rico merece ser enganado. Não assina a Vogue merece comprar gato por lebre! Hehehehe
E não fui ao Radiohead, vi pelo cabo e não me arrependo. Claro que show ao vivo tem um calor que é incomparavel mas até aí você também tem que aturar o calor humano à lá vida de gado. Leia-se: banheiro químico lotado e fedido (e algum não é?), fila pra entrada, fila pra sair, fila para pegar taxi (porque não dá mais para beber e dirigir senão a Tranchesi vai fazer amizade na cadeia)... e o show do Los Hermanos, que eu tanto queria ver, foi morno. Cadê as músicas pouco tocadas, cadê Canastra, MGMT e Little Joy?
E no Camelo X Amarante, o segundo ganhou de goleada. Camelo permaneceu na retranca, mal fez contado com aquele publicão que estava lá por eles, cantou pouco, passou a bola para Amarante que mostrou que Katylene está certa e que debaixo de todo aquele cabelo existe não só um grande compositor, um músico carismático e bacana mas também um homem bonito. Dá-lhe, Amarante.
E para balancear fui ao show solo, gravação do DVD, do Marcelo Camelo. Meio cabisbaixa depois da goleada do domingo mas saí de alma lavada. Ali, naquele ambiente absolutamente controlado e clean, Camelo é o cara. E bota O cara nisso.
Sim, senhoras e senhores, mantenho minha teoria de que Camelo e Amarante são respectivamente o Chico e o Caetano dessa geração. E me apaixono pelas coisas lindas que eles tem produzido.



Ah, e quem não viu Intempéries - O fim do tempo na Oca deve dar uma passada. A exposição é simples mas eficaz.

sábado, 28 de março de 2009

O SONHO DE MALLARMÉ

Não sei como me lembrei de um livro inacabado de Mallarmé. Na verdade foi uma superposição de fragmentos, elos e palavras-chaves que me levou a ele. Primeiro um filme de Woody Allen e a imagem congelada de uma gestante chorando diante de um quadro de Klimt. A tela “Esperança” mostrando uma mulher grávida em um fundo coberto de figuras monstruosas. Em seguida um amigo apresentando-me a um novo autor. Ao ler a poesia de Lito Albanês fiz o seguinte comentário: “é preciso fazer-se vidente.” A frase de Rimbaud levou-me ao simbolismo, um movimento do final do século XIX espremido entre um turbilhão de acontecimentos, tais como: impressionismo, pós-impressionismo e art nouveau. As figuras notáveis de Lautréamont, Van Gogh, Gauguin, Cézanne, Valéry e Mallarmé, o poeta maior do simbolismo, compartilhando aquele momento.
Ao relacionar objetos distantes, a estética simbolista fez a interação entre imagem interior e exterior e as fronteiras entre o mundo onírico e a realidade se tornaram indistintas. Os simbolistas realizaram um discurso indireto, do qual se percebe traços em Baudelaire. A maioria deles permaneceu afastada da sociedade. Mallarmé dizia que um grupo social onde o poeta não tem lugar não deve ser considerado. De vez em quando mandava um poema para o mundo lembrar-se de sua existência. A magia de sua linguagem continua a emocionar e exercer um poder de sonho sobre a sensibilidade contemporânea.
Tudo isso para dizer que Mallarmé era simbolista? Não. É para contar como ele imaginou um livro integral onde a poesia ficava em estado latente. A partir de um pequeno número de células-base, o autor realizaria milhares de possibilidades combinatórias. Essa era sua descrição para a obra le livre a venir/ o livro do futuro: um texto não linear, um livro com características diferentes das conhecidas. Na ocasião muitos pensaram tratar-se de um sonho místico de um escritor delirante. Ele imaginou um texto móvel obedecendo a uma ordem fixa permutando em todas as direções. No prefácio explicou: “lançar os olhos para as primeiras palavras do Poema, a fim de que as seguintes dispostas como estão os encaminhem às últimas. Os brancos assumem importância, como o silêncio em derredor, até o ponto em que um fragmento ocupe, no centro, o terço mais ou menos da página...”
Atualmente o livro poderia ser realizado através das novas tecnologias, pois elas dariam ao poeta a possibilidade da experimentação, da representação do movimento, do simultâneo e do instantâneo. Mallarmé ao conceber “Um lance de dados” viu... um hipertexto. A idéia do hipertexto é aproveitar a arquitetura não linear das memórias do computador para viabilizar uma escritura tridimensional dotada de uma disposição manipulável de forma interativa. Para leigos, isso significa abrir janelinhas ou links clicando palavras no original. Pensei... um fim de século leva a outro. Um jogo de espelhos ou vidência? Poetas têm o dom da vidência, dizia Rimbaud. O que é um vidente, afinal? Pessoa com a faculdade de visão sobrenatural de cenas futuras, aquela que profetiza. Quem possui essa habilidade está revestida de qualidades especiais. No caso, nosso poeta teve o dom de criar e se fazer vidente ao mergulhar em idéias inomináveis, inventadas, imaginadas... Pensei em Leonardo de Vinci e na quantidade de objetos que ele elaborou. Esse vidente esteve muito perto de encontrar soluções. Pensei em Dédalo, Descartes, Cyrano de Bergerac, Julio Verne, todos sonhando “com um homem alado”. Pensei em Mallarmé e como o computador converteu seu sonho em realidade. Hoje o hipertexto está sendo usado para produzir literatura criativa graças a visionários com eles.

quinta-feira, 26 de março de 2009

23

23
nem cedo, nem tarde demais: o tempo certo, a hora certa. dádiva do calendário dos deuses é conhecer você hoje, agora, pra sempre.

miau
de ronronar em ronronar, a cada espreguiçada gostosa, um pequeno cafuné ganho por manha: assim conquista-se o carinho de todos os dias, amém.

lua
de brilho intenso, próprio, dona do céu, faz das estrelas meras coadjuvantes: quando entra em cena, é senhora dos olhares e da admiração.

sétima
cheiro e prenúncio de incomparável diversão, escuta-se de longe a alegria disfarçada em saltos: ouvir este som é sinônimo de você estar aqui.

lê-tras
da ficção vampiresca à realidade triste que ainda causa admiração, folhear páginas é descobrir seus encantos, ora escondidos, ora timidamente revelados pela autora.

palhaçada
uma camada de alegria, outra de superação, mais uma de solidariedade: junte um coração sem medidas, um nariz vermelho e aprecie sem moderação.

sorriso
arte antiga que não se aprende na escola, não dá pra prestar vestibular nem comprar diploma. dom. virtude que vicia e, sobretudo, apaixona.

imagem
instantâneos que eternizam suspiros, dores, fantasias. digitalizações feitas à alma que fazem da memória praça gostosa pra se visitar no fim da tarde.

preguiça
vestindo pijama de ternura, deita: repousa, descansa, renova forças e prepara o espírito para outro dia de luta, de carinho, de viva vida.

beijo
os lábios pareciam velhos conhecidos: ao se encontrarem naquela noite de sábado, sabiam por onde caminhar, o que fazer e quando parar - nunca.

festa
desculpa pra lá de esfarrapada, velha feito peleja entre deus e diabo, para passar horas e horas desfilando sorrisos e alegria por aí.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Keep it simple & Just do that... ou prólogo sobre a liberdade e a solidão…

Pronto. Esta deve ser a décima segunda vez que escrevo esta primeira frase do primeiro post no blog e apago. Se fosse no século XIX (ou sei lá, qualquer ano antes de 1990, afinal talvez seja a mesma coisa), diria que neste momento teria um monte de papeis amassados jogados numa cesta de lixo. Mas não.. Agora é uma página em branco, criação de alguém que hoje deve receber milhões de ações da Microsoft e agora – coitado – em vez de 3 casas teve que vender uma para pagar dívidas do cartão de crédito feita para comprar ipods. E um cursorzinho propositadamente programado para piscar na velocidade máxima, para incomodar mesmo, para ver se sai alguma coisa. Além disto, um monte de pensamentos – e se “to share is to live” é a máxima da nossa década, porque não “blogar”? E daí tem a liberdade.... Tá bom, vou começar a escrever no blog... Mas escrever o que? Quantas linhas, quantos caracteres, qual assunto?? Qual profundidade? Qual público alvo? Qual grau de disclosure da vida pessoal? Escrever como um observador do mundo, na terceira pessoa (como sempre faço, confesso), ou não, “me jogar” na aventura de dizer EU ACHO QUE.... (sei lá o que eu acho..). Quase tão irritante quanto a pergunta que meu psicanalista me faz todas as vezes – conte-me tudo, e fale a primeira coisa que vier a cabeça... Desde que o mundo é mundo, ou seja, desde que a internet foi lançada para uso comercial, em 1994, tive a vontade de “blogar”, antecipando uns 5 anos o conceito hoje já ultrapassado (afinal tenho mais de 30!) – o lance agora é “twittar”, uma vez que para postar alguma coisa no blog é necessário (ou talvez seja uma forma possível) escrever um TEXTO, ora, vejam só, uma coisa que tem mais de 140 caracteres! Alguem lê? O que é leitura? Ah sim, uma forma arcaica de comunicação, na era da “interação com a informação”....
Enfim, a razão (que me vem a cabeça) do porquê tal projeto nunca foi posto em prática (“to share is to life”) é porque creio que faz pouco tempo que percebi que não há necessidade nem de uma auto-analise profunda, nem de um tratado sobre a vida cosmopolita-globalizada-líquida (adoro o conceito da vida líquida de Zygmunt Baun – é assim que se escreve mesmo? Será que checo ou não checo? – Ops, não checo, pois estou dentro de um avião OFFFFF LINE que horror! Não posso perguntar pra Deus Google, onisciente, onipresente. Tampouco descobri que não há necessidade de “estruturar”, ou seja, escrever uma introdução, um desenvolvimento e um fim, ou, mesmo não sendo assim, que existam hiperlinks lógicos entre os assuntos.. Ou talvez isto tudo seja necessário, e até desejável, e eu simplismente não estou A FIM! Talvez seja esta a grande descoberta...Sense & simplicity... já diz a propaganda mais esperta que eu já vi). “Just do that” – já orientava outra grande propaganda... Pronto, Philipps e Nike eleitas como os ícones do dia para mim. Keep it simple & Just do that. Serve até para o título. Talvez a grande pergunta seja o que é afinal o IT e o THAT destas frases. Se alguém algum dia conseguir defini-lo(s)(la)(s) por favor me avisem!!
Entao ta, o avião vai aterrisar daqui a pouco (Paris-Amsterdam, mas poderia ser RJ-SP, nao sei se a diferença seria muito grande), e nem de longe comecei a discorrer sobre UM assunto que seja... Uma coisa meio Seinfield falar sobre o nada, mas pelo menos já defini um objeto indefinido sobre o que escrever – o IT e o THAT acima.. Mas tem tanta coisa... Poderia ser sobre quem sou eu? (um mini-curriculo, que seja, vai que um headhunter acaba lendo este blog...ou alguem do linkedIn), sobre minhas aspirações amorosas (vai que arrumo o príncipe encantado aqui).. Poderia ainda falar justamente sobre o que é ser um gay-SaoPaulo-seculoXXI (ou tentar definir isto).. Ou falar sobre a fauna e a flora corporativas, ou sobre a vida globalizada de um pos-yuppie-alwaysconnected (chegando em Paris hoje a primeira coisa que fiz foi falar com um amigo a 8 fuso-horarios de distancia)... Ou, cereja do bolo ou cerne da questao, sobre a liberdade e a solidão advindos disso tudo..
OK.. Acho que já deu pra ter um pouquinho de idéia... Consideremos apenas o começo. Agora vou lá senão a comissária de bordo me joga do avião.. FUI.

terça-feira, 24 de março de 2009

Já estou de casa nova… Escolhi o primeiro apartamento que vi na Internet. Apesar de ter visto apartamentos e casas boas e ruins, fiquei com aquele local que tinha visto só por fotos na cabeça.... Quando o vi ao vivo, conclui que era o local certo.

E como era de se esperar, ele está mais prá Tate Modern do que prá British Museum... Mesmo em Cuernavaca onde tudo é velho e feio...

Foi engraçado ter de comprar quase tudo prá um apartamento em um final de semana... Imaginem que sou o primeiro morador e ele veio com geladeira, fogão, sofá e mesa (de mau gosto) e uma cama... O resto, TUDO por minha conta... Fui exatas 12 vezes a diferentes lojas e supermercados... Mas já tenho ralador, saca rolha, cerveja e amendoim... entao, digamos que estou praticamente vivendo numa casa normal com o basico prá sobrevivência...

Sempre pensei em comprar móveis na Artefacto e utensílios na Suxxar ou Spicy para minha casa... Como estou aqui provisoriamente, não quis gastar dinheiro e comprei tudo no Sam´s Club, Wall Mart, Home Depot e afins... E foi uma grata surpresa.

Depois que coloquei tudo no lugar comecei a pensar onde está com a cabeça alguém que compra Cristais Baccarrat... Ou onde eu estaria com a cabeça ao comprar móveis na Artefacto.

Foi engraçado... Sempre almejei ter o melhor em minha casa. Depois dessa experiência, tudo mudou... Meus copos são ótimos e custaram R$ 50 reais 8 deles... Meus jogo de jantar que tem todas as pecas custou menos de R$ 100... Enfim... tudo que comprei não quebra, não solta alca e vai me atender perfeitamente... E não custou caro... E prá que compraria diferente?

Não sei se esse tipo de alteração de valores está vindo com a idade ou simplesmente com a necessidade cada vez maior de gastar ou economizar dinheiro... de qualquer forma é bem vinda e espero que seja duradoura...

Ademais, coloco algumas fotos do apartamento prá ver se ao menos alguém fica com água na boca e vem me fazer uma visita...

Prá terminar, digo que vai ser difícil viver sem um closet daqui por diante... De repente a reação que a Carry Bradshaw teve ao ver seu closet novo passou a ter algum sentido. Prá quem é neurótico assumido, ver todas as camisas penduradas viradas pro mesmo lado em ordem de cor com cabides iguais trouxe algum prazer...

P.S. Eu ia tirar fotos prá postar junto com o texto, mas recebi a visita de Murphy e deu uma chuva aqui que deixou meu prédio sem energia...posto depois... :-(

segunda-feira, 23 de março de 2009

RESOLVA O MISTÉRIO...

A língua portuguesa é difícil? Quem falou?

Nós, os cultos, temos domínio de quantas palavras, mesmo? Só para rir um pouco, vejam como podemos ouvir um discurso ou ler uma história sem entender "patavina" (outra palavra desconhecida por quem tem menos se... uns... talvez...50???)

A abâmita ábala chegou. Abancara o mundo. Fôra abandada muito jovem mas seu sonho era abandoar-se novamente.

Só na Espanha, depois de anos e anos de tristeza, conseguira sorrir quando, enquanto abanicava-se um abanto, como se tivesse visto abantesma ou se estivesse abarbado, deixou-se abarcar pelo toureiro.

Agora, da baiúca daquele ábdito, via passarem pela rua mulas albardadas puxadas por abajus, caminhando para onde iriam abalançar as mercadorias.

Qual um abaiô, a empregadinha à qual seu ex marido abarregara-se, abainhava um esfregão movimentando-o para um lado e outro

Junto à cerca de abaraíba em redor da abatigüera e do abatiapé, uma abatinga parecia abatocada Tinha nas mãos um abebé, totalmente estranho àquela região. Quem seria?

A figura assustada fê-la lembrar do tipo abencerrage do toureiro espanhol. Então sorriu novamente, o dia pareceu mais claro e as coisas menos difíceis. Conseguiria, novamente teria forças para recomeçar.





RESOLUÇÃO DO MISTÉRIO
A tia em 4º grau , natural de um povo da Índia, chegou. Correra o mundo. Fôra isolada muito jovem mas seu sonho era unir-se a seu grupo novamente.

Só na Espanha depois de anos e anos de tristeza, conseguira sorrir quando,enquanto se abanava um touro covarde, como se tivesse visto um fantasma ou se estivesse em apuros,, deixou-se abraçar pelo toureiro.

Agora, da taberna daquele lugar êrmo, via passarem pela rua mulas, seladas com sela rude própria para animais de carga, puxadas por um tipo de mestiço brasileiro caminhando para onde iriam ser pesadas as mercadorias.
Qual um orixá que usa leque, a empregadinha à qual seu ex marido amasiara-se, fazia bainha num esfregão movimentando-o para um lado e outro.

Junto à cerca de madeira resistente em redor da roça de milho já colhido e de arroz silvestre, uma pessoa de cabelos brancos parecia confusa. Tinha nas mãos um leque usado em candomblé, totalmente estranho àquela região. Quem seria?

A figura assustada fê-la lembrar do tipo mouro do toureiro espanhol. Então sorriu novamente, o dia pareceu mais claro e as coisas menos difíceis. Conseguiria, novamente teria forças para recomeçar.

domingo, 22 de março de 2009

Já é de manhã

"Eu devo ir
Não há mais sentido
Nos resta se juntar
Quem sou eu
Já não importa
Nem nunca importou
O que importa é o que te quebra em duas cidades
O que importa é o que te deixa tão transfuso
O que é a dor eu não entendo
Mas sinto apertar de leve o meu peito
Nas madrugadas quando estou a navegar
Faz quarenta dias que eu estou no meu barco a vela"


Se os olhos são a alma do corpo, o espelho da minha alma é música. Sempre foi. Sou extremamente musical mesmo sem nenhum talento para essa arte. E na boa, nada me impressiona mais do que a simplicidade de tranformar poesia em letra e notas em arranjos, mas esse não é um blog sobre minha total ausência de musicalidade.
Tive certa vez um porteiro em um local de trabalho que me disse que sabia se o dia seria tranquilo ou corrido dependendo do que eu estava ouvindo quando chegava no trabalho. Sou como os índios, me preparo para a guerra pela música. Em caso de guerra NIN é uma das minhas bandas favoritas.
E essas últimas semanas tenho ouvido Para abrir os olhos.

E aos paulistanos hoje tem show do Los Hermanos abrindo Radiohead... a melhor banda desativada do país e o estranho mais amado pelo mundo afora.
Abaixo, clip que usa Creep, um clássico do repertório de fossa. Enjoy



sábado, 21 de março de 2009

Meus filhos tiveram quase todos os tipos de bichos, inclusive bicho-de-pé, menos elefante e cobra. O elefante é grande demais para um quintal tão pequeno e a cobra... bem, é difícil saber das suas intenções e como não tenho vocação para Cleópatra, ela foi vetada.
Cão e gato não combinam, diz o dito popular, mas os prediletos aqui sempre foram os bichanos e os au-aus. Algumas vezes essa mistura dá tão certo que eles acabam amigos partilhando da mesma cama. Hum, ga-chorro... pensaram as mentes sujas.
Vamos aos fatos: apareceu uma velha cachorra em nossa casa em construção e tornou-se o xodó de todos sendo alimentada e tratada com carinho. A festa durou pouco, animais não podem ficar soltos em condomínios e ela acabou retirada do local. Como a história tornou-se de domínio público, para compensar a perda os amigos passaram a procurar algo para substituí-la. Primeira alternativa: uma gatinha desaparecida em circunstâncias suspeitas antes de aportar aqui. Depois chegou a Maya, apadrinhada pelo Alan.
Quem é Maya? A ninfa protetora das fontes na Grécia Antiga e mãe do envolvente Mercúrio. A nossa ninfa-cachorra herdou o nome acrescido do charme de sua xará. A foto dela circula pela Internet através do blog da minha filha, uma presença constante em Bauru nos últimos tempos. Saudades da família? Me engana que eu gosto. Com certeza a culpa era da nova integrante do clã.
Preta e bege, ela corria alegre e brincalhona por uma casa cheia de escadas esbanjando simpatia. Tombos? Levou um montão, pois arquitetos planejam residências pensando no binômio, beleza/técnica e não em conforto de filhotes de pernas curtas.
Sua companheira distante foi uma gata siamesa. A Juju é um exemplar de alta classe. Ela possui calda longa, focinho fino, orelhas pontudas e a marca registrada da raça – olhos azuis – tão bonitos quanto os da Juliana, personagem principal da novela Terra Nostra. Devido à semelhança ganhou o nome. Seu corpo é creme com marcas em diferentes tons de marrom. Fiel, escolheu como dono o meu marido e ele dedica-lhe total atenção. Imponente, ela ignorava ostensivamente a todos nós, inclusive a Maya. Quem disse que a cachorrinha queria ser ignorada? Na tentativa de ganhar a Juju procurou estabelecer relações sendo recebida com desdém e uma patada. Maya, como autêntica vira-lata deve ter pensado: “tô nem aí” e tomou conta do pedaço.
Sabe aquele tapete, puro design escandinavo, o sonho de consumo dos filhos da Bauhaus? Pois é, nele a Maya dorme uma parte do dia demonstrando seu gosto refinado. Isso não merece um prêmio? Sim. Então, vou contar um segredo se você leitor não sair por aí dizendo que sou a Vera Loyola caipira. Ela andava pela casa com uma das minhas pulseiras transformada em colar. Afinal, nem só de ração e frutas vivia uma menina como ela. Lamentavelmente sumiu. Assim do nada, em uma de suas escapadas acabou perdida ou roubada, não sei.

terça-feira, 17 de março de 2009

A primeira viagem


Domingo fiz meu primeiro passeio aqui no México...aproveitando a companhia - e a carona, já que ainda estou sem carro - do chefe e sua família fomos ao norte da cidade do México, a Teotihuacan. Um local bacana, abarrotado de gente e com construções e um museu relativamente interessantes. Digo relativamente não por nada mas sim pelo fato de que coisas muito velhas não são meu forte.

Eu realmente prefiro a Tate Modern, a arquitetura do Instituto Thomie Othake ou algo desse nível... Questão de gosto mesmo.

Apesar de "relativamente" interessante o passeio me fez ficar desesperado pelo menos prá entender o que se passa nesse país, sua história quem veio primeiro, como os espanhóis conseguiram acabar com tudo tão rápido e facilmente... enfim... a história toda.

É engraçado quando comparamos que os indígenas mexicanos, peruanos deixaram uma herança cultural tão rica se comparada com a do Brasil... Alguns podem jogar pedras em mim agora, mas vamos combinar que o índio brasileiro não deixou influência arquitetônica, não deixou um idioma... deixou alguns hábitos e costumes, mas muito pouco se comparado com aqui...

Eu fui procurar apartamento e sei BEM onde toda influência está.... Paredes alaranjadas, flores de silk nas paredes, arte... muita arte (de bom e mau gosto) nas casas... Algo incomum no Brasil classe média.

É interessante pensar também que tão próximos, tenham sido tão distintas as populações originárias do Novo Mundo...

Quis só compartilhar um pouco do que estou vendo... E se tiverem sugestões de por onde devo começar, agradeço...

Saudações,

segunda-feira, 16 de março de 2009

Lindos, amorosos e em breve para adoção

Aproveitando a janela deixada pela Rosa nessa segunda feira...

Nunca entendi bem quem não gosta de gatos. Sempre AMEI gatos. Desde que me lembro tenho gatos ao redor. Minha avó sempre foi gateira e crescemos todos com bichanos aos redores. E gato em casa é quase gente, anda pela casa, dorme na cama e os incomodados que se mudem. Em casa se você não quer gato andando em cima de você ou dormindo na cama que você está no meio da madrugada, feche a porta do quarto porque a casa é deles!
E essas pessoas horrorosas que maltratam gatos me espantam muito. Estive em Bauru onde está tendo uma onda de assassinatos felinos inexplicável.
Mas agora falando de coisas lindas. Deixaram na garagem de uma amiga uma mami gata e seus cinco bebezinhos lindos. Eles ainda são muito pequenininhos mas em um mês estarão prontos para adoção.
Os interessados em adoção podem me enviar email para janainafainer@yahoo.com.br que eu sou a madrinha das crianças. Pais e mães solteiras são bem vindos.

como não querer um?



domingo, 15 de março de 2009

Poema (in) concreto

AFINAL, O QUE VOCÊ QUER DE MIM?





* O mundo seria um lugar bem mais simples se as pessoas dissessem o que realmente querem.

sábado, 14 de março de 2009

Capo d’Istria: ou o homem que veio de longe...

Existem fatos e pessoas inesquecíveis. Minha tia Marica era um desses seres incompreensíveis que vivia provocando comentários da família. Como criança eu costumava ouvir e não entender nada. Uma pena, pois hoje consigo perceber coisas que não compreendia naquele tempo. Uma delas era o fato dela trabalhar ou costurar na sexta feira santa. Quando alguém a repreendia, ela respondia: tudo bobagem!
Ela era uma das filhas mais velhas dos meus avós. Vivo me perguntando o motivo dessa frase. Ela morava perto de uma igreja católica e o padre era seu vizinho. Ele dizia: Dona Maria, a senhora não parece uma mulher piedosa, trabalha aos domingos, não respeita os dias santificados, isso é pecado. Tudo bobagem... Como vocês sabem, sou descendente de judeus. É possível que ela tenha sido educada mais próxima da cultura judaica do que da cristã e com a guerra, o posicionamento do governo Vargas em favor do Eixo e com as perseguições acontecidas no país, meu avô tenha decidido enquadrar os filhos mais novos nos costumes brasileiros e ela tenha guardado os ensinamentos remotos sobre outra cultura. Essa é uma explicação plausível para sua excentricidade. Quando adulta visitei-a muitas vezes, mas devido a uma complicação cardio-vascular, permanecia na cama e não falava mais. Muita gente deve ter pensado em castigo.
Talvez ela soubesse a verdadeira origem da família. Origem que eu venho buscando há algum tempo. O pouco que sei devo a tia Luiza. Nessa busca por meus ancestrais visitei Trieste e lá a moça que me atendeu relacionou o sobrenome à Istria. Pensei que para se livrar de um problema, estava me enviando para lá, mas não custa tentar.
Hoje decidi descobrir o significado do termo. Capo d’Istria é a região costeira do mar Adriático que vai da Itália até os Balcãs. Pertenceu ao império austro-húngaro e teve como capital Trieste. Ali existia uma cidade com o mesmo nome, hoje conhecida como Koper situada na Eslovênia. Ah, o mapa da Europa muda de década em década e isso dificulta a procura.
Meu avô nasceu austríaco no local denominado Friuli-Venezi-Giulia. Após 1918, com o fim do império, a província voltou a ser possessão italiana e hoje deve estar sob governo esloveno. A Eslovênia é uma extensão de Friuli, tendo pertencido ao império romano. Foi povoada pelos bárbaros, época de enorme desenvolvimento, então, também tem sangue bárbaro correndo nas veias desse povo. O país fica no nordeste da Itália sendo uma região com rios e montanhas de curvas perfeitas, de acordo com as informações obtidas na Internet, pois se alguém conhecer a Eslovênia e não for isso, vai lembrar que eu não tenho nada com isso, nem conheço o país. Quem nasce nesse país é o que?
Às vezes, um dado truncado pode fazer sentido, pois seu passaporte estava carimbado como vindo de Trieste e nacionalidade austríaca. Teria meu avô vindo de tão longe? Hoje ele seria eslovaco ou eslovênio? Sei não, afinal Balcãs é um universo de pequenos países. Todos bem encrenqueiros!

quinta-feira, 12 de março de 2009

dor

a dieta era rígida: pão-que-o-diabo-amassou, água do boteco da esquina e preces à vontade - aproveita e enche o prato fundo.
fazia isso para manter o corpo em forma.
não tinha instrutor nem frequentava templos acadêmicos da (mal)dita boa forma. muito menos comprava revista de gente marombada, autoajuda anabolizante e vazia.
se cuidava sozinho. autodidata.
no dia das compras, entre a imensidão do mar de angústias, à escolha como que expostas em prateleira de supermercado, sempre surgia uma nova dor.
lançamento. promoção. leve quatro, pague três. oferta especial para o cliente.
pegava aquela que mais salivava a boca. escondia embaixo da camiseta e corria. maratonista do destino.
a roupa era de missa. os domingos, de sargeta.
as vontades, aeróbicas, se alternavam, iam e viam feito putas na passarela, desfilando libidos, oferecendo falsos prazeres.
os desejos, artigos de luxo, trancavam-se feitos obra de arte. obedeça o horário de visitação, por favor.
sonhos? deuses romanos presentes só nos livros de história - e ele não sabe ler a nova ortografia.
sol a pino, chuva ladeira abaixo, piada repetida.
só abandonava a rotina bulímica em noites de lua de brilho cósmico.
nesses dias, entre ofensas, maldições, lágrimas e pesares, sorria - com cara de bobo, até.
mas de lado, rápido, curtinho... tinha vergonha.
tinha medo de se acostumar a ser feliz.
e felicidade, como todos sabem, não combina com roupa de missa.

terça-feira, 10 de março de 2009

A terceira vez que acertei o relógio

Uma das coisas mais estranhas que faço desde que tenho essa rotina doida de viagens a trabalho - o que vem ocorrendo há uns 7 anos, com um intervalo de uns 2 - é não arrumar o reógio de pulso com o horário local.

Parece estúpido, mas manter o horário do relógio na hora do Brasil é uma forma de manter um vínculo, de saber que volto logo. Na verdade enche o saco ajustar o relógio de pulso. É muito mais fácil acertar o do computador e do telefone celular. Mas notei que realmente é importante prá mim olhar no relógio e saber que horas são em casa.

Na segunda à noite, quando cheguei no México, ao olhar as horas, a primeira coisa que fiz, ainda dentro do avião foi acertar meu relógio de pulso com a hora local. Foi a terceira vez que fiz isso. A primeira, foi quando fui prá Londres, em 2002 por 4 meses. A outra vez foi quando fiquei na Itália em 2004 por outros 4 meses... E agora aqui no México.

Achei que fosse sofrer mais, chorar mais um pouco, mas até agora estou bem.

Estava desesperado prá comprar uma passagem de volta para o próximo feriado que houvesse aqui. De repente, a vontade passou. Não sei exatamente quando volto. Não estou pensando nisso no momento. Estou pensando aqui. Focando aqui. E espero continuar assim.

As coisas parecem estar caminhando bem. Tudo bem que a vida começa realmente só amanhã. De qualquer forma, estou otimista. Acho que tudo vai sair como deveria...

Boa semana a todos.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O AGIOTA

Solteiro, econômico, caseiro, não encontrava muitas razões para gastar.

Viagens? Com TV a cabo, tantos canais, tantas emoções, ver tudo do conforto do seu sofá....francamente, viajar para quê? Além disso, nas viagens havia as tais brincadeiras. Não tinha vontade de quebrar gelo nenhum. Conhecer algum lugar, isso sim, conversar um pouco, só isso. Brincar, rir, fazer palhaçada não, não gostava disso. Observava as mulheres, como se sentiam à vontade! Às vezes sentia inveja.
Melhor ficar em casa. Cinema? Ia de vez em quando; as filas davam-lhe a certeza de que ver televisão era melhor.

No Banco o dinheiro se acumulava. Tinha jeito com dinheiro, aplicava certo por isso não sentia medo da aposentadoria. Viveria bem.



Um amigo lhe falou de seu aperto, da falta de crédito, do medo de perder o carro. Ofereceu-se: juros bancários, um pouquinho mais. Gostou da experiência.

Ficaram sabendo e começaram a procurá-lo. Sentia prazer, uma emoção e ansiedade desconhecidas. Nunca se envolvera com mulher nenhuma e imaginava se os apaixonados sentiam esse medo, essa vontade de ver de novo, a insegurança. Vai dar certo? Será que fiz bem?

Preenchera seus dias e juntara papéis.

Comprou uma escrivaninha com gavetas. Ficou feliz. Até então não tinha tido uma escrivaninha só sua. Sentiu o cheirinho de madeira lixada, gostoso!

Abria e fechava as gavetas só para sentir o cheiro. Estava apaixonado pelo cheiro. Os papéis ficavam em cima do tampo. Será que existia isso em perfume, uma essência?
Começou a entrar em perfumarias e pedir cheiro de madeira lixada. As atendentes solícitas mostravam, em papeizinhos brancos que abanavam antes de lhe entregar: amadeirados com frutas, amadeirados com cítricos, madeira antiga, nenhum nem parecido com o que queria.

Passou a viver muito ocupado: escrevia os dados daqueles para quem emprestava dinheiro, marcava os juros, vencimentos, pagamentos e procurava o cheiro.

A gaveta já não era tão perfumada e nada parecido estava à venda. Sentia falta.

Decidiu comprar outra escrivaninha em vez de perder tempo em perfumarias.
Ninguém entendeu, quando ele morreu. Por que teria 32 escrivaninhas em casa, todas cobertas por pilhas de papéis e com as gavetas vazias?

domingo, 8 de março de 2009

In office

Semana de correria, muitas horas de trabalho e coisas engraçadas... sem tempo para nada... mas feliz



sábado, 7 de março de 2009

Cana Doce... Santo Amaro

Amaro/amargo/amaretto/Santo Amaro da Purificação, onde se cultiva a mais doce cana e conseqüentemente se fabrica a melhor aguardente. Cidade protegida por São Mauro, terra natal de dona Edith do prato e de Caetano Veloso, poeta enorme, enorme... Alguns vão torcer o nariz, afinal ele é popular demais. Mas isso é divino, maravilhoso.
Sem me preocupar com a sensibilidade alheia continuo sonhando colorido e lendo o livro Caetano Veloso só letras. São os poemas do compositor baiano. Como podem ser de uma simplicidade extrema e ao mesmo tempo de uma grande sofisticação formal? Contraditório? Sim... como dois e dois são cinco. Li em algum lugar sua confissão: minha obra é auto-biográfica mesmo quando não é. Faço minha a declaração, pois meu trabalho também é auto biográfico, mesmo quando não é. Tudo vai acontecendo fora da ordem como canta o poeta. Gosto de música. Algumas vezes ouço até clássicos, os prediletos são Ravel e Mahler. Mas no meu carro só entra CD do Caetano. Martírio para alguns, alegria para outros. Trata-se de doença e a questão será resolvida em divã de psicanalista com Prozac e tudo mais. A mania é conhecida, até a Liliane quando chego no Alex para almoçar, olha e diz: vou colocar seu dvd predileto.
Eu não sou a única fã do compositor. A artista plástica das colagens adora o moço. Envia recadinhos para ele sempre que pode. Alguém liga da Itália contando que vai assistir a um show do cantor. Ela manda um abraço. Depois ainda telefona para saber detalhes. A filha avisa: vou ao Canecão... adivinha no show de quem? Ah... dá aquele abraço nele. Ela leu o livro? Não, eu espero. Ela tem a vantagem de conhecer gente espalhada por este mundão afora. De Amsterdã à Salvador, não é Mauricio? Eu soube de sua passagem por Bauru e do encontro quase secreto na casa da sua amiga. Estiveram lá: o Jair, o Marcelo, a Luciana, o Sergio e a Janira. Quando ela estudou em Paris tornou-se intima do pintor Cícero Dias, dizem até que foi hóspede dele por um tempo... A Roseane Andrelo que está na Sorbonne/Université Paris III pode confirmar até onde vai a influência da mulher: a Martini, amiga da Marie Jeanne, por sua vez amiga da amiga bauruense convidou-a para jantar em Paris e tinha até caipirinha! Eu mal conheço os meus vizinhos. Puxa, parece inveja, eu juro que não. Até gostei daquelas colagens com vacas e bois pastando numa praça de Buenos Aires, aquelas carnes penduradas... Qual era a mensagem? Seria um protesto contra o aumento do sagrado bife de cada dia? Ao ler esse texto ela vai rir e dizer: você não entende nada, mesmo.
Voltando ao assunto: Natal, Ano Novo, Carnaval, Dia das Mães... ele chega empacotado em belas embalagens. Mesmo não sendo uma surpresa é sempre o melhor presente. Melhor até que sandália ou camiseta Herchcovitch. O Alê, como diz minha filha, deve ter complexo de superioridade, pois a etiqueta mede mais de um palmo. Eu me pergunto por que? Não é pra ficar escondida? Mas, tanto a camiseta quanto a etiqueta são maravilhosas, pontos para ele.
Como eu tenho dois filhos, às vezes, acontece um bis... do CD, não da camiseta. Acabo fazendo uma troca... não da camiseta, do CD... por outro do Caetano. O compositor urbano, menino brilhante cumprindo os ditames do pós-modernismo, olha e reflete o próprio ambiente. Na década de 70 isso se tornou perigoso. O Estado Nacional insistiu em afirmar o seu poder.Quarta-feira de cinzas no país. Caetano gritou: é proibido proibir e acabou levando seu coração vagabundo para London, London. Lá caminhou contra o vento, sem lenço e sem documento, assistindo os primeiros videoclipes por antena parabólica, sonhando com a liberdade de expressão e seu retorno ao país.
Quando voltou aos areais e estrelas de Abaeté casou-se com a Paulinha e tornou-se o dono do carnaval da Bahia, pois atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Também, deu boas vindas aos novos filhos cantando a beleza da vida e da natureza. A crônica é uma brincadeira. Nela estão citadas frases e palavras do compositor, mas é tudo verdade, e o livro, bem o livro... é uma jóia rara.

quinta-feira, 5 de março de 2009

feira

pode chegar, freguesia. tenha medo, não.
meu nome é socorro, mas todo mundo me chama de dona socorro.
porque eu sou mulher de dá respeito e ser respeitada, viu?
essa aqui é a barraquinha da dona socorro. aqui, tem de tudo.
de tudo mesmo. é famosa por causa disso.
e garanto procês o preço mais barato da cidade.
por exemplo: quem compra hoje três amor por R$ 1,99?
só quem vem na minha banca.
três por R$ 1,99! barato demais!
e amor bom, viu? docinho, feito no dia, coisa chique.
num é essas coisa antiga que neguinho deixa guardado mais de 20 anos.
é pra lambuzar os beiços. e pedir mais.
e tem de vários sabores: amor platônico, de verão, de Carnaval, com dor...
só o pra toda vida que eu num faço mais, porque tava encalhando e estragando.
se a freguesia num gostou, então, não tem. o cliente que manda!
e todos acompanham calda de tesão... pra deixar o amor ainda melhor!
eu, pelo menos, acho que fica melhor. mas vai do gosto do freguês.
agora, quer docinho e, por acaso, acha que o amor tá caro?
então, vai levar paixão! é, paixão!
seis por R$ 2!
olha que beleza. bolinho de paixão.
mas, ó, não é tão gostoso que nem o amor, viu? mas mata a vontade, hehehe.
sai bastante paixão também. essa eu tenho de todos os tamanhos, pequena, média, grande...
e hoje tô com uma promoção: quem comprar paixão leva a calda de tesão também.
só hoje, hein? seis por R$ 2!
e saudade? cês nunca experimentaram saudade?
ô, gente, em que mundo cês vivem?
saudade - bolo antigo, receita da minha vó distância - que deus a tenha, amém.
saudade eu vendo em fatia. R$ 2 cada pedaço. derrete na boca.
satisfação garantida! desafio alguém a fazer um bolo mais gostoso que esse.
olha, vou confessar um negócio procês: uma fatia de saudade com um copo do suco que tem na banca da dona recordação...
hum... que delícia.
qué saudade, moça? aê, moça esperta!
se eu tenho algo salgado? ô, sêo moço, e falta alguma coisa na barraquinha da dona socorro?
tenho coisa salgada, sim.
ó, esse aqui é decepção, uma gostosura. sabe porquê?
ó, vou te contar porque cê parece sê gente fina.
a massa é feita de confiança... fininha, sabe? mas o recheio é poderoso, tem duas fatias de tristeza e duas fatias de ingenuidade.
ó, e a tristeza é coisa de primeira, vem do estrangeiro!
depois, frito tudo em ódio quente. fica uma belezura.
os doutor de saúde aí vive falando na tevê que faz mal pro coração. fritura, sabe como é...
mas que é impossível deixar de comer é, né? ê, o moço é dos meus! hehehe. tome, um caprichado procê.
e só R$ 2,50! se quiser, encomenda que você leva decepção pra casa, pra fazer pra família toda.
tem também inveja. modéstia à parte, minha inveja é di-vi-na.
coisa daqueles chef de cozinha, que nem a loira da globo, lá, sabe...
bato o recheio inteirinho no liquidificador: ciúme, cinismo, frustração, maldade...
mas o toque final é uma pitadinha de mágoa.
vai pro forno, meia hora e pronto!
vixi... cê num vai querer comer outra coisa...
vai querer uma inveja, moça? opa, duas? pra amiga também? olha que maravilha...
cê sabe que, de sexta-feira, os clientes fazem fila pra pegar inveja? é uma doideira...
e nesse calor? quer coisa melhor do que sorvete?
é, freguesia, aqui na barrraquinha da dona socorro tem sorvete caseiro. receita da família!
são cinco sabores: culpa, desejo, encanto, indiferença e loucura.
quem vai querer?
posso dar uma sugestão, moça? mistura desejo e culpa.
fica maravilhoso - melhor que queijo e goiabada, sabe? aliás, mil vezes melhor.
sorvete é R$ 1 a bola. só uma moedinha, gente.
outra dica especial: se você tomar uma bola de desejo com um bolinho de paixão, fica divino!
tem gente que diz que é mais gostoso do que amor.
é que nem receita francesa, aquele petit gateau lá. fica doce de rico, hahahahaha!
mas não acabou, não!
tenho também outras gostosuras, gente: vingança, carinho, vergonha, compreensão, vazio, rancor...
e tudo numa promoção especial: por R$ 5, cês levam um saco com um monte delas, tudo misturado.
a garotada adora! meus sobrinhos vivem pedindo.
vamo aproveitá, minha gente. tá tudo baratinho, é tudo muito bão!
como é, senhor? se tem prato feito?
ô, moço, num faço pf, não.
mas se você pediu um pf na barraquinha da dona socorro, cê num fica sem. tome o meu almoço.
não, eu insisto, senhor.
faço R$ 3 pro senhor. e tá da hora a marmita, hein? eu mesma fiz.
arroz, feijão, picadinho de esperança, salada de força de vontade com determinação e purê de ambição.
e o senhor ganha uma balinha de sonho de sobremesa.
vai dizer que não deu água na boca?

terça-feira, 3 de março de 2009

Farewell


Essa é minha última postagem do Brasil... A partir da próxima semana já estarei definitivamente em território mexicano. Mais do que nunca vou precisar do blog...

As crises estão passando e tenho convicção de que não são por ajuda dos remédios, e sim porque tinham de passar. Há coisas novas no entanto acontecendo e que estão tornando tudo mais difícil.

Estava relativamente fácil deixar meus amigos e família. Estou acostumado com eles e eles comigo. De longe ou de perto, estaremos sempre próximos. Mas uma legião de novas pessoas passaram a me cercar. E essas pessoas são pessoas sensacionais com as quais ainda não tenho um vínculo tão forte Negritoe está difícil de aceitar que vou ficar distante.

E eu mudei bastante esse ano. Honestamente, prá melhor. Estou mais leve, relaxado, apesar de um pouco mais deprimido. Há algum tempo, jamais escreveria algo assim no blog. Agora escrevo, me exponho e quero ainda mais. Notei que isso de uma certa foram aproxima pessoas, porque barreiras ou disfarces desaparecem e todos ficam mais tranquilos. Ao menos é o que tenho notado.

Prá piorar as coisas, de repente São Paulo tornou-se o lugar mais sensacional do mundo. Nos últimos meses eu não repeti nenhum restaurante e nenhum Clube... e fui a vários. Tenho também ido ao cinema com frequência, já que descobri que pago meia entrada no HSBC Belas Artes e no Espaço Unibanco porque sou cliente do HSBC e do Itaú.

Fui a todos os locais onde tinha direito, tendo eles a ver comigo ou não. Jantei no "Dalva e Dito" (ruim), "Aká" (sensacional), "Ritz Jardins" (normal), "Spot" (incrível), "Sal Gastronomia" (o melhor), "Quatrinno", "Eñe". Fui pular carnaval no bloco "Num-interessa". Virei baladeiro do mundo underground e conheci "A Lôca", "D-edge", "The Week"... Fui ao "All Black Pub". Voltei ao "Exquisito". 

Foi muita coisa em aproximadamente 2 meses, apesar de não parecer. Estou financeiramente arruinado com tudo isso admito. Mas cada minuto que passei nesses locais valeu, mesmo que eu saiba que provavelmente não vou repetir em todos.

Tudo sempre esteve disponível...ali... for granted... e eu nunca tinha ido. De repente, com a sensação de que vou perder São Paulo tive de recuperar o tempo perdido. E como foi bom. 

Aprendi a lição. Não farei mais algo assim... Vou tratar o México como algo temporário e que tem de ser aproveitado.

Vai ser interessante curtir São Paulo de férias. Vou procurar vir o máximo possível. Mas também não vou deixar de conhecer o que o México tem  a oferecer. 

Estou com um movimento estranho na barriga, um nó enorme na garganta...

Desejem-me sorte.

Um beijo a todos.

segunda-feira, 2 de março de 2009

DIA INTERNACIONAL DA MULHER?

A data só faria sentido se houvesse também o Dia Internacional do Homem ou o Dia Internacional do Ser Humano.

Nossa sociedade é machista? Sim!
A cultura ocidental é machista? Sim!
A cultura oriental é machista? Sim!
As Igrejas em geral são machistas? Sim!
Há igualdade entre os sexos? Não!
Deveria haver? Em certos aspectos sim, em outros não. Pode-se imaginar uma sociedade em que homens e mulheres fossem idênticos? Para que, então, haver homens e mulheres? Para procriar? Certamente a ciência daria um jeito nisso. O encanto não é a diferença?
Homens e suas características
+
mulheres e suas características
__________________________
= gama inumerável de possibilidades e um mundo cheio de alternativas.

Homens e mulheres deveriam ter, então, direitos diferentes? Sim, já que as necessidades são diferentes. Licença maternidade de seis meses é justo. Licença paternidade de seis meses? Provavelmente esse homem ficaria à toa Amamentar? É coisa de mãe. Varrer a casa e cozinhar? Coisa de mulher. Levar filho ao pediatra? Coisa de mãe. Lavar a roupa? Coisa de mulher. Quais são as coisas de homem? Trabalhar, jogar futebol, conversar, alguns serviços gerais “de risco” como trocar uma telha ou uma lâmpada, consertar uma tomada, conectar o bujão de gás, carregar algo muito pesado e algumas outras. As tribos primitivas viviam assim e não reivindicavam direitos iguais. O homem caça, a mulher cuida da cria. A mulher alimenta a cria, o homem brinca, ensina jogos, compete.

Alguém poderá dizer: credo, que análise superficial... Não é análise mas constatação. É esse o dia-a-dia de uma parcela significativa do nosso mundo. Claro que nossos meninos têm aprendido a mexer com as coisas do lar, ajudam o tempo todo a cuidar da cria, colaboram nos serviços da casa até porque as meninas estão aí, no mercado de trabalho... A idéia não é guerrear.

Sou totalmente contra a guerra dos sexos. Homens são maravilhosos e viver com eles é muito bom, exceto quando não é. Sem eles a Terra seria muito chata. Um mundo sem mulheres? Impossível! Elas são fascinantes. Não há homem que não sorria diante da “necessidade premente” de uma mulher sair agora para comprar um vestido novo porque não tem o que vestir, ir lavar a cabeça na cabeleireira, comprar um esmalte daquela cor, aquela, entre vermelho queimado e tomate mas sem toque de laranja, num tom um pouco mais rosado do que vinho...



Chegamos a um impasse? Rainer Maria Rilke em Cartas a um Jovem Poeta diz:

“ Algum dia haverá meninas e mulheres cujos nomes
não significarão mais apenas o oposto do masculino,
mas algo em si mesmo,
algo que leve a pensar não em complementos e limites
mas em vida e existência: o SER HUMANO FEMININO.
Esse progresso (no começo muito à revelia dos homens destronados)
transformará a experiência do amor,
que hoje está repleta de erros,
altera-la-á de cima a baixo,
reformulando-a até torná-la uma relação
que fluirá de um ser humano para outro
e não mais de um homem para uma mulher.
E esse amor mais humano (que irá satisfazer a si mesmo,
em sua infinita consideração e delicadeza no atar e desatar),
lembrará este que estamos preparando com esforço e luta,
um amor que consiste em duas solidões que se protegem,
se tocam e se saúdam.”


Uma outra tradução do mesmo texto diz:
"Um dia (desde já predito, sobretudo nos países nórdicos, por sinais fidedignos) ali estará a moça, ali estará a mulher cujo nome não mais significará apenas uma oposição ao macho nem suscitará a idéia de complemento e de limite, mas sim a de vida, de existência: a mulher-ser-humano.
Esse progresso há de transformar radicalmente (muito contra a vontade dos homens a quem tomará a dianteira) a vida amorosa hoje tão cheia de erros numa relação de ser humano para ser humano, não de macho para fêmea. E esse amor mais humano (que se produzirá de maneira infinitamente atenciosa e discreta, num atar e desatar claro e correto), assemelhar-se-á àquele que nós preparamos lutando fatigosamente, um amor que consiste na mútua proteção, limitação e saudação de duas solidões".

Boa semana!

domingo, 1 de março de 2009

De Dante

"Mas nem sinal
Só ondas brandas ventos carnaval
Se a Bahia fosse só poesia e cor
Você não teria crescido"
Dois durões (Lagoa) - Marina Lima


O inferno de Dante virou game. Sim, meus caros, o mundo está mudado.
E essa foi uma semana de sustos e silêncios. De chorar baixinho.
Tem horas que o melhor é calar mesmo porque em boca fechada não entra mosquito.
Então calo.
Poque sempre haverá um dia após o outro. E outro... outro... e mais um... porque a vida é feita de passinhos.