domingo, 31 de julho de 2011

Domingo

"Confio na minha capacidade de desistir das pessoas por mais que eu demore em fazer isso."
Sonia Rodrigues


Preguiça de tudo e nem o blog escapa. Tive uma semana muito estranha e conturbada, e no meio de tudo ouvi uma tirada ótima, pura filosofia digna de ser repassada na FFLCH.
Vou reproduzir aqui admitindo que sou muito mulherzinha mesmo, "toda mulher vem com dois assessórios originais de fábrica: insegurança e ciúme".
Falar o que, né? O rapaz foi bondoso e deixou de fora a celulite e TPM, mas ninguém é perfeito mesmo!!!
Bom domingo. E aos baurucos amados que estão em Bauru, felicitações e aproveitem o feriado!



sábado, 30 de julho de 2011

Andy Warhol: o endiabrado

Era um artista e acho que isso é do conhecimento de todos. Ninguém sabe quando nasceu, pois mentia sempre. Começou a carreira como designer e não foi revolucionário, mas tinha enorme percepção do mundo ao seu redor. Considerado o único artista verdadeiramente pop dançou conforme a música do mass midia e acompanhou as transformações ocorridas na arte contemporânea. Não criou nada e manejava a arte com um sexto sentido apurado captando antes que qualquer artista as novas correntes, enfim os anseios da sociedade. Sua estratégia artística tinha aspectos subversivos.Invertia o princípio dos modelos de quadros únicos dirigidos aos diletantes, recorrendo a fabricação em massa, destruindo dessa maneira o prestígio do original. Usou a serigrafia juntando-a com tinta acrílica. Embora as séries pareçam iguais, pois o motivo/assunto está repetido, as telas se diferenciam através da proporção, uso diferenciado da cor, sobreposição de figuras, espaços vazios ou em preto e branco, tornando-as diferentes.
Warhol representou o famoso modo de vida americano e seu trabalho revela - indiretamente - um embate interno entre vida e morte. Pintou sua primeira Marylin Monroe poucos dias depois da morte da atriz declarando, na ocasião, que seu interesse era a beleza. Apoiado em noticias de jornais revelou catástrofes aéreas, cadeiras elétricas, acidentes de carros e fez uma quantidade enorme de retratos da viúva Jackie Kennedy combinando momentos felizes com o rosto triste que aparecia no enterro do marido. Ele foi amado e odiado com a mesma intensidade, razão pela qual acabou sofrendo dois atentados. Na primeira, os tiros acertaram a série MM, na segunda, recebeu tiros pelo corpo e ficou hospitalizado por dois meses. Morreu jovem, de infecção hospitalar, uma ironia, não é?
Os sociólogos do futuro vão encontrar muitas informações sobre a civilização moderna do final do século vinte simplesmente analisando a obra de Warhol, que mesmo sendo ficção, era a mais pura realidade, e que realidade!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mistério à Beira Mar - IV


- Preciso voltar! Preciso vê-los.
- O que houve, Baptista? Parece-me alterado. Algo deve tê-lo afetado.
- Sim, prezados, reconheço ter-me perturbado. Este dia ameno, encoberto, as árvores tão verdes, a agradável companhia e a sensação de estar no final da vida perturbaram-me mais do que gostaria.
Manteve o silêncio por alguns instantes, em seguida continuou:
- Explico-lhes: fiz parte deste coro, era primeiro tenor. Num encontro de corais conheci Inkeri, uma soprano perfeita que participava de um coro feminino. Nosso enamoramento foi imediato. Em poucos meses estávamos casados. Vivi na Finlândia por trinta anos, tive filhos, envelheci. Com mais de cinquenta anos decidi retornar ao Brasil. Inkeri acompanhou-me, apesar do sofrimento. Lembrar-me daquele período afeta-me bastante.
- Mas voltaram por opção, você sempre poderá voltar, seus filhos vieram também? Talvez possa fazer essa viagem com um dos filhos ou com um neto... Certamente deixou amigos por lá -
Disse afetuosamente Azevedo e colocou o braço nas costas do novo amigo. Podia-se perceber uma intimidade crescente entre eles. Que privilégio o meu, presenciar o nascimento desta amizade!
- Dois filhos estão aqui, no Brasil: Jarvi e Joki. Minha filha Jaakkina ficou lá, está casada com um finlandês. São todos independentes e pouco nos vemos, mesmo com os daqui... há uma distância intransponível após a morte da mãe.
Arrependi-me quase de imediato mas, atrevidamente, já formulara a pergunta:
- O que houve?
Azevedo olhou-me parecendo censurar minha ousadia.
- Atribuem-me a culpa.
- Culpa de quê? Da morte de sua esposa? Por que, o que aconteceu? Azevedo olhou-me novamente agora francamente aborrecido com essa curiosidade.
- Dizem os antigos que não devemos transplantar árvores velhas e, por extensão, nem os velhos devem mudar de lugar. Morrem. Inkeri não se adaptou ao clima tropical. Inversamente do que acontece com a grande maioria, o Sol a deprimia, precisava evitá-lo por problemas na pele, nossa casa vivia fechada. Um dia a encontramos morta.
- Morte natural? – Pela terceira vez Azevedo censurou-me

domingo, 24 de julho de 2011

Ontem morreu Amy Winehouse


O mundo estava tão habituado a ter Amy nos tablóides todos os dias e o dia todo que fiquei sabendo de sua morte pelo telefone quando uma amiga ligou e disse: a Amy morreu. Assim mesmo como se a Amy fosse nosso vizinha de bairro ou ex-colega de academia.
Amy Winehouse surgiu soberada em 2003, aos 21 anos com Frank, seu cd de estréia e se firmou como artista como o lançamento do irretocável Back to Black em 2006. Mas ficou mesmo mais conhecida do grande público por sua notória fama de dar bafão por onde passasse.
Era uma menina de Camden Town com um talento imenso e sem nenhuma direção, sucesso tão jovem logo foi vítima da imprensa mais agressiva e destrutiva do mundo. Há alguns anos, quando estive em Londres, cidade em que os tabloides são distribuídos de graça em duas edições diárias nas ruas, fiquei desconcertada com a quantidade de novidades diárias que eram capazes de produzir sobre a artista.
Enquanto Lily Allen fazia graça saindo semi alcoolizada de um pub em seus sapatos Chanel, Amy era vista comprando crack em Camden Lock. Enquanto Adele passeava no parque comendo um wrap de queijo, Amy visitava seu marido encarcerado. Todas musas, todas inglesas, todas vítimas da imprensa, somente única com uma inata e óbvia incapacidade de lidar com o sucesso, o dinheiro e a invasão constante. De todas, Amy sempre foi a mais perseguida pelos paparazzi e a que mais rendeu dinheiro aos tablóides.
Recentemente li um livro que disseca a indústria da música no mundo contemporâneo, a indústria hoje definitivamente não é mais a mesma de Frank Sinatra ou mesmo a que abraçou os grunges nos anos 90. A indústria de hoje gere e digere carreira, como podemos tão de perto presenciar com a ascensão e queda e reascensão de outra vítima da imprensa que também rende aos tablóides, Ms. Britney Spears.
E porque Ms Spears, mesmo quando todos acreditavam que era seu fim, foi capaz de se reerger e lançar mais um hitmaker e uma turnê esgotada por onde passa, mesmo após bater em um paparazzi, perder a custódia dos filhos, ter um dicórvio escandaloso e ser internada em um sanatório? E por que o mesmo não podia acontecer com Amy?
Porque a contrário de Britney, cercada pela sua gravadora que ainda tem muito interesse em que a artista seja o canal produtor de sucessos e renda, Amy era uma artista. Britney faz o que lhe mandam e Amy sempre fez o que quis. Não que Amy fosse uma santa, mas mesmo tendo problemas pessoais era aquele tipo de artista no sentido mais tradicional da palavra, que sofre, que produz música por necessidade de comunicação, que tem inspiração e transpiração e não para estar nos charts da Billboard. Amy morreu por ser uma artista e uma menina despreparada para lidar com todo o seu talento e o rolo compressor da fama, foi morta pelo seu maior desejo, o de ser musa da música R&B, fazer mágica no soul, fazer história na música e por seu descontrole emocional. Amy Winehouse deixa como legado dois cds incríveis e a vontade no público de ter mais.
Em Janeiro, fiz questão de ver seu show em sua passagem pelo Brasil, mesmo todos dizendo que ela estava por baixo, e não me arrependi. No show, um festival equivocadíssimo e cheio de curiosos, a platéia mais sensível teve a chance de ver uma diva, uma artista frágil e tímida mas de um talento absurdo. E essa é a Amy que vai fazer falta no mundo da música.

sábado, 23 de julho de 2011

"Não faça ao próximo aquilo que não quer que façam a você..."

A frase é atribuída a Hillel, sábio judaico, que ao proferi-la completou: isso é a Torá, o restante são comentários. Vá e estude. O judaísmo é uma religião. Dele surgiram o cristianismo e o islamismo. Porém, o judaísmo é uma cultura, uma civilização, um povo unido por ideais comuns. Por incrível que pareça um judeu continua sendo judeu, mesmo não observando nenhum dos preceitos da lei hebraica. O judaísmo é um fenômeno complexo composto de religião, vida social, econômica e política, onde tudo se concentra na esfera de interesse da Halaká, lei que regula essa interconexão abrangendo mais de quatro mil anos e garantindo a continuidade entre história antiga e moderna.
Por quase dois mil anos o povo de Israel viveu espalhado pelo mundo, na diáspora, palavra grega que significa dispersão. Foi a partir dos anos 70, com a destruição do segundo templo pelo imperador romano Tito que essa peregrinação teve início. Parte, dos judeus, ficou na Galiléia, conservando vivo o laço com a terra de Israel, mas a grande maioria se dispersou, procurando manter intacta a própria identidade coletiva. No Oriente, a Babilônia continuou sendo o local preferido dos judeus fora de sua pátria. No Ocidente estavam presentes na região do Mediterrâneo, como Portugal, Espanha e Itália. Existe uma característica comum nas comunidades judaicas: o gueto.
Tratava-se de uma imposição, pois a noite ele era fechado e a entrada guardada. Um dos primeiros guetos foi o de Roma, em 1555, seguido pelo de Veneza e significou uma separação rigorosa entre judeus e as populações ao seu redor. Ali eles deveriam viver e trabalhar, sem que pudessem ser donos de suas casas e obrigados a exibir um sinal que os tornasse reconhecíveis quando se encontravam fora de seu ambiente. Não muito diferente da vida nos guetos era o mundo dos judeus da Europa Oriental, onde viviam em aldeias submetidos aos senhores feudais. Esse grupo falava um dialeto, o iídiche, uma mistura de hebraico e alemão. Nessas comunidades apareceu um movimento designado como hassidismo que se propunha difundir o misticismo do rabino Israel Baal Shem Tov baseado na Cabala e na força religiosa dos justos. Ele dizia que para ser um bom judeu não era necessário ter uma profunda cultura hebraica. Os lideres religiosos se opunham a essa posição alegando que apenas o estudo das leis podia despertar no homem a alegria de viver. Paralelamente, outro movimento, o Haskalá, pregava a assimilação com a cultura ocidental e parte de seus valores. Ao provocar uma crise, o grupo conseguiu resultados importantes, como a formação de uma literatura hebraica moderna, o amor por Sion e a vontade de retornar a Israel. Embora, o racismo sempre tenha feito parte da vida dos judeus, dessa época em diante as posições ficaram mais claras e o racismo mais escancarado. O caso Dreyfus demonstrou o quanto era efêmera a ilusão de emancipação desse povo. Depois, vieram o fascismo, o nazismo, enfim tudo aquilo que vocês sabem até 1947, com o reconhecimento pela ONU do Estado de Israel. Nesse segundo semestre os palestinos pretendem o mesmo. É esperar para ver qual o comportamento dos membros da ONU em relação à justa pretensão dos vizinhos de Israel.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Seis, quase sete...

No dia 31 de outubro de 2011 – segundo a maioria das previsões demográficas - nascerá um bebê, em algum lugar do mundo, que será o sétimo bilionésimo ser humano vivo no planeta. Não sabemos seu nome, nem mesmo o país em que nascerá, mas há 70% de probabilidade dessa criança vir ao mundo em um país pobre, e com baixos índices sociais e expectativa de vida. A chegada de nosso colega de número sete bilhões, contudo, em si não diz muito, sendo na verdade apenas um marco simbólico: não pensamos todos os dias de manhã que naquele mesmíssimo dia 218 mil pessoas a mais dormirão em suas casas (ocas, barracos, pontes e sarjetas) em todo o planeta (taxa de crescimento diário). O incremento quantitativo da população não é facilmente percebido pela humanidade, sendo constatável muito mais pela confusão na plataforma do metrô do que pelo aumento do preço do trigo. Nossos sistemas de organização (jurídico, político) não assimilam muito facilmente as conseqüências do aumento da população, muito embora as conseqüências sociais existam e tenham impacto relevante, ainda mais em países ou áreas pobres e com baixo desenvolvimento social.

Há, entretanto, um problema: falar sobre os problemas do crescimento vertiginoso da população mundial nos últimos tempos (de três bilhões em 1950 para sete bilhões em 2011) parece muitas vezes mais feio do que bater na própria mãe. É como se tocar nesse tema pudesse acordar certos monstros: legalização do aborto, controle da natalidade e até critérios econômicos para a reprodução responsável (algo como uma eugenia dos ricos). De fato, algumas coisas podem parecer terríveis, como condicionar o direito à reprodução ao preenchimento de certos critérios econômicos objetivos. Mas, em contrapartida, não podemos esquecer que considerar o matrimônio como condição para a procriação (como faz a Igreja de Roma) é algo muito semelhante.


Muito foram os homens que, ao longo dos séculos, manifestaram-se sobre os riscos da superpopulação. O mais famoso deles foi Malthus, um economista e pastor britânico que afirmava que a população sempre aumenta mais rápido do que a produção de alimentos, o que gera inevitavelmente fome em larga escala (pra não dizer uma considerável inflação no preço das commodities). Mas a subpopulação também já foi um problema econômico-filosófico: basta lembrarmos o fato de a “família” ter sido durante milênios a organização humana produtora de gêneros por excelência, tendo se tornado nos últimos quatro séculos cada vez mais um núcleo humano de consumo. Essa mudança radical no papel da família, além de modificar o ethos (espécie de síntese de costumes e valores de um determinado povo), também pode ser vista como uma das responsáveis pela gradual aceitação de casais homoafetivos como núcleos familiares, independentemente da capacidade reprodutiva.


Para exteriorizar minha opinião sobre o tema, valho-me da arte, pois acredito que não se possa ter uma opinião definitiva sobre o tema justamente pelo fato de a interpretação das conseqüências da expansão populacional não serem óbvias e dependerem do contexto histórico e tecnológico. Visitei no dia 05 de julho a exposição “6 bilhões de outros”no MASP (www.6milliardsdautres.org/index.php). O trabalho era composto por cerca de cinco mil entrevistas realizadas em 76 países diferentes, nas quais pessoas comuns respondiam a questões fundamentais para a humanidade como “qual sua primeira lembrança?”, “você se sente livre?” e “você tem alguma mensagem para os outros 6 bilhões de humanos?”. E podia-se ver ali uma infinidade de respostas, das mais singelas às mais profundamente elaboradas. Mas em todos os casos – do pescador brasileiro ao agricultor afegão, passando pelo executivo de Wall Street – os homens e mulheres que ali estavam eram únicos e maravilhosos. Isso mostrou para mim que, ao contrário das outras coisas, o ser humano não segue o caminho de uma moeda desvalorizada pela inflação: nós não perdemos nosso valor intrínseco pelo simples fato de haver muitos de nós. Essa constatação – a da divina singularidade do homem – acaba me impedindo de assumir posições radiais. Desta vez, eu fico em cima do muro, muito embora, racionalmente, sete bilhões seja um número absurdo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Terceira Parte

- Já viajei muito – disse Baptista – sem orgulho posso afirmar-lhes conhecer muito bem o Prado, o Louvre e o Hermitage, o Reina Sofia apenas conheço, e outros tantos que deleitaram-me na juventude. Já não mais poderei caminhar por horas naquelas galerias. Valem-me as memórias.
- Faz-me rir, o que afirma, andamos por idênticos caminhos. Talvez tenhamos nos encontrado em algum momento.
- Então, você também gosta de arte? Perguntei.
- As sete fascinam-me. Acreditam que eu tenha me deslocado a Hämeenlina, na Finlândia, para apreciar com meus próprios olhos o que viu Sibelius em sua infância? Pura paixão...
- Encanta-me falar em paixões, retrucou Azevedo. Já fiz loucuras por paixão.

Parou repentinamente de falar e refugiou-se nas memórias. Baptista caminhava com a cabeça baixa parecendo assistir a um filme projetado no piso da calçada. Respeitei o silêncio dos dois observando-os e imaginando a carga de lembranças que têm os idosos. Eu, com pouco mais de trinta, via-os como documentos históricos.
- Sibelius, um grande e complexo compositor... Não é dos meus prediletos – disse Azevedo.
- Gosta de Vivaldi, certamente.

A música erudita não é meu forte e o assunto estava me deixando no ar, talvez até assustada pela possibilidade de me perguntarem algo a respeito. MPB, um pouco de jazz, umas pinceladas de ópera mas de Sibelius nunca ouvira falar, de Vivaldi um pouco. Me surpreendi com a risada dos dois.
- Acertou em cheio, caríssimo. Vivaldi leva-me à paz. Não há angústia em suas composições, diferentemente de seu estimado Sibelius.
- Os filhos cuidaram para que eu tivesse uma boa estada aqui, deram-me este equipamento, MP4, com minhas gravações prediletas. Conhece estes compositores, senhorita Júlia?

Pronto, chegou minha vez.
- Alguma coisa de Vivaldi. De Sibelius nada. Desculpem a franqueza mas nem sequer seu nome eu conhecia, sinto-me envergonhada.
- Minha jovem, os tempos são outros... Há muita informação à disposição através dos meios de comunicação, hoje todos sentem-se obrigados à leitura de vários jornais, há a Internet, manter-se atualizado exige que se gaste algumas horas à frente da TV, trabalha-se muito... Não se constranja, não há tempo suficiente para tudo que se deseja. Nós vivemos em época mais tranquila, ouvia-se rádio e vitrola... Mas, se os quiser conhecer tenho aqui gravações. Tento manter-me atualizado com alguns destes dispositivos. Sentemo-nos neste parque, terá prazer em ouvir. Esta música chama-se Finlândia executada por coro masculino, vozes magníficas, o Pendyrus Male Choir.

A música maravilhosa reverberou sob as árvores. Senti os olhos úmidos.
- Que lindo!
- Muito sensível.
Colocou sua mão sobre a minha, numa intimidade até certo ponto surpreendente. Azevedo sorriu e comentou sobre o prazer de ter me encontrado.
- Diga-me senhorita Júlia: é uma apaixonada?
- Bom, eu sou meio empolgada... De vez em quando alguma coisa me fascina e eu mergulho de cabeça.
Baptista estava visivelmente alterado, parecia agitado, a placidez desaparecera.

domingo, 17 de julho de 2011

"O homem gostaria de ser peixe ou pássaro, a serpente gostaria de ter asas, o cão é um leão confuso...Mas o gato quer ser somente gato, e todo gato é um puro gato desde o bigode ao rabo."
Pablo Neruda


Se o Rogério já acha demais a quantidade de fotos do gato que eu publico, imagina o que ele não vai achar de um post... Desde que Benício entrou na minha vida, em um sábado de sol de janeiro, tudo mudou. Me preocupo com horários, viagens, faço uma triagem dos meus compromissos, sempre tenho wiskas sachê em quantidades monstruosas, fiz amizade com meus vizinhos, dei uma cópia da porta para o meu tio, arrumei uma faxineira para dois dias por semana, a sala está sempre, invariavelmente, parecida com uma zona de guerra e sempre, sempre me divirto quando estou em casa. Simples assim. Resumindo, virei mãe, mesmo que seja de um bichinho fofo de quatro patas peludas.
Me impressina o quanto um bichinho é doce, sincero, amoroso enquanto tanta gente a volta se dão ao trabalho de ser o exato oposto disso.

Dando uma volta na net, descobri essa foto incrível de Sir Ian McKellen, ator sensacinal e mais conhecido dos amantes da cultura pop com Magneto, o ultra vilão de X Men, e Gandalf, da trilogia O senhor dos anéis, e acabei descobrindo que a camiseta absurdamente sacada é parte de uma campanha contra a homofobia realizada na Inglaterra pela Stonewall Organization. Se deu resultados? Sei lá, mas que a ideia das camisetas é boa não há como negar.



PS: E em prova de que não sou a única louca demente no mundo, hoje saiu isso no UOL.

sábado, 16 de julho de 2011

1822 - Bahia x Pernambuco

"Que ninguém se aproxime dele
Ele é um réu condenado à morte.
Foi contra sua majestade,
contra a ordem de tudo que é nobre.
Republicano, ele não quis
obedecer ordens da corte
separatista, pretendeu
dar o Norte à gente do Norte
Padre existe é p'ra rezar
pela alma, não contra a fome."


Contei outro dia que estava lendo um livro do jornalista Laurentino Gomes, de título 1822. A data fala por si. Será? Até onde as escolas ensinam a verdadeira história do Brasil? Como aconteceu a separação do Brasil de Portugal? A impressão é de uma festa em ambos os lados. Quem conseguiu segurar a barra da união entre às antigas capitânias foi o pensamento/ação da família Andrada. Essas ideias certas ou erradas acabaram por fazer de Dom Pedro I o primeiro imperador do Brasil. Houve protestos, muitos protestos. O Uruguai tornou-se independente nessa época. O norte e o nordeste se posicionaram a favor de Dom João IV por questões econômicas, outros ficaram contra pelos mesmos motivos, enquanto outro grupo queria liberdade total. Sei pouco sobre isso, como a maioria dos brasileiros. Vou falar da Bahia e Pernambuco devido meu contato com esses dois estados. Os baianos comemoram a independência em dois de julho. Pró-americanos? Não!!!!! Essa é a data da expulsão das tropas portuguesas de seu território, em 1823. Dizem que foram os baianos que mais sofreram na separação da colônia, pois Portugal não queria abrir dessas terras. Queriam dividir o Brasil em dois países. O sul ficaria com D. Pedro I e o resto dependente de Lisboa. Grande parte de população aderiu ao imperador e a primeira localidade a se pronunciar foi Santo Amaro da Purificação, cidade famosa por sua cachaça e por Caetano Veloso ter ali nascido. Resumindo após sangrentos combates, em 2 de julho de 1823, os portugueses abandonaram Salvador. Daí os festejos tão prestigiados quanto o carnaval.
Porém, no Pernambuco, a opinião era outra. Em 1817 houve uma revolução contra D. João e foi proclamada uma república independente. O castigo foi perder Alagoas, parte da capitânia até aquele momento. Os participantes do levante ficaram presos na Bahia. Em 1824, o mesmo grupo rebelou-se através da Confederação do Equador e perdeu 60% de suas terras com isso. O motivo inicial da revolta teria sido a dissolução da constituinte. Frei Caneca e seus comandados queriam uma república federalista nos moldes americanos, com províncias autônomas, enquanto José Bonifácio desejava um governo forte centralizado para evitar a fragmentação territorial. Na Casa de Cultura do Recife existe um painel contando a saga dos confederados liderados por um dos mais respeitados heróis pernambucanos. Trata-se de um amontoado de imagens ilustrando as cenas de apoteose e morte de Caneca. A pintura tem um poder plástico e empático muito forte. É interessante relembrar aqui um fato relativamente recente. Em 1972, ano do sesquicentenário da independência, os restos mortais de Dom Pedro I foram trazidos para o Brasil. O povo do Pernambuco pediu que o navio passasse ao largo do porto de Recife, pois nesse pedaço de Brasil, não existia nenhum motivo para se prestar homenagem ao antigo imperador. O pedido foi atendido. Meu coração fica dividido nessa história, embora tenha pendido a favor dos intelectuais pernambucanos. Caetano Veloso é meu poeta predileto e Cícero Dias, autor do painel Frei Caneca é meu pintor preferido. Mas, fazer o que diante dessa minha dualidade?

sexta-feira, 15 de julho de 2011

De Kurt Cobain

Vídeo em que Jared Leto, vestido a la Kurt Cobain, canta Pennyroyal Tea... o próprio ator/cantor postou e escreveu que era um estudo que pendou em mandar a um estúdio quando ouviu que a vida de Kurt seria filmada... a princípio pensei que o vídeo era antigo e tratava-se de Last days, de Gus Van Sant, onde Michael Pitt mandou muito bem, mas pensquisando um pouquinho, descobri que uma biografia será rodada por Oren Moverman (diretor de Não estou lá) ainda este ano sobre o rock star e que no youtube há links de petição de escolha de elenco!!!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sabores

Já que tenho falado muito sobre comida vou contar a experiência que foi o meu jantar de aniversário, presente do Rogério, em San Francisco no Benu, restaurante de culinária molecular. Ultra tecnológico e cheio de surpresas, nunca comi nada tão diferente na minha vida. E nada tão charmoso também, já que quando a "prova" (porque não dá para chamar uma unidade ínfima de comida) tinha origem oriental, os pauzinhos eram de prata! Localizada no coração de WHARF, a Boudin é uma padaria linda e cheia de comidinhas e coisas incríveis. Lá comprei algumas coisinhas e tomei um sopa de frutos do mar, que mesmo inchando minha boca (eu sou um pouco alérgica a algumas coisas mas nada muito radical) era uma delícia e eu comeria de novo. Nada que dois comprimidos de Allegra 120 mg não resolva. Além de sopas, sanduíches e bolos, a padaria é conhecida por seus pães em forma de urso, lagosta, jacaré, carangueijo...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

San Francisco

Passei meu aniversário em San Francisco. E o universo me presenteou com raros três dias de calor e sol. Já chegamos, Rogério e eu, causando e tentando conhecer a cidade em uma manhã para tão logo fazer um picnic comemorativo da data, com salada, champagne californiana e bolo na praia com vista para a Golden Gate. A história de ir a San Francisco começou com a vontade de conhecer um restaurante no Napa Valley para o qual não conseguimos reservas mas acabamos conhecendo outro no lugar. Mas calma que ainda vou contar como foi meu jantar de aniversário. Nunca havia tido lá muito interesse em conhecer San Francisco, mas a cidade foi uma surpresa agradável e o tempo ajudo muito.
Cidade conhecida por sua neblina constante, vento e por ser ter no verão o pior inverno da Califórnia, com ruas absurdamente íngremes, casinhas vitorianas fofas e muitas flores coloridas, a cidade do dia é outra completamente diferente da da noite, da Castro District e bares para TODOS os gostos.
Pesquisando, descobri que antes de ser o epicentro do movimento pelos direitos homossexuais, a cidade, na década de 60, também foi importante ponto de encontro da contracultura americana, dos hippies e dos beatniks. Em uma googada supercifial, descobri que passaram por ali Allen Guinsberg, Timothy Leary e Hunter S. Thompson, motivo pelo qual hoje, em Chinatown esxiste o The Beat Museum, o qual não visitei.



terça-feira, 12 de julho de 2011

Mais lições de uma ilha gelada

Em meados de outubro do ano passado, quando nos aproximávamos do primeiro turno das eleições, comentei neste mesmo espaço o fato de a população da capital da Islândia, Reykjavík, ter elegido um palhaço para o cargo de prefeito. Tal notícia, naquele momento, era bastante curiosa, afinal apontava um paralelo ao fato de nosso atual deputado Tiririca estar então na liderança das pesquisas. Tiririca foi eleito, e a vida do país seguiu, bem ou mal, como tinha de ser.


Ocorre que mesmo antes do pleito eleitoral brasileiro do ano passado, a população islandesa já havia sido notícia, e justamente por não ser muito ortodoxa em suas visões políticas. Explico: para quem não sabe, a Islândia foi o primeiro país a ter sua economia arruinada pela crise financeira de 2008 (a quem se interessar, recomendo o ótimo documentário “Trabalho interno”, vencedor do Oscar de 2011). Quando chegou a hora de injetar dinheiro público nos bancos para manter a liquidez do sistema financeiro, o povo islandês chamou para si tal responsabilidade, exigindo para tanto um plebiscito. Resultado: o “não” ganhou. Os bancos quebraram e a população assumiu a decisão segundo a qual não seria admitido que bancos - que lucram de forma privada - socializassem seus prejuízos quando a corda lhes fosse lançada ao pescoço. Tais bancos islandeses foram obrigados a dar um calote e o dominó financeiro mundial começou a tombar, vindo dar como marolinha nestas paragens.


Na semana passada foi divulgada a última notícia da ilha das consoantes. A inusitada democracia islandesa está agora utilizando o Facebook para consultar seus cidadãos e recolher opiniões e sugestões para a nova Constituição do país, que está sendo escrita e que irá substituir a atualmente em vigor, redigida em 1944. Convocada após a quebra do país em 2008, a Assembléia Constituinte pretende dotar o país de uma Carta Política que efetivamente reflita o pensamento da população, e para tanto faz uso da internet, sempre exigindo que quem opine se identifique e argumente em defesa de seu ponto de vista.


Como se pode perceber, o exemplo islandês nos traz lições. Em primeiro lugar mostra que a idéia de democracia que hoje é exaltada no ocidente pode ser muito mais aprofundada: a ilusão de que somente apertar os botõezinhos da urna eletrônica de dois em dois anos pode mudar algo é doce. Esse sistema de democracia meramente representativa apenas troca os atores de uma peça teatral que já tem seu roteiro estabelecido, e cujos diretores obviamente não se apresentam às eleições. Num segundo plano, deixa claro que a internet, contrariamente ao que dizem muitos esquerdistas de plantão, não precisa ser necessariamente uma ferramenta de dominação e alienação das pessoas, especialmente dos jovens (muito embora possa sê-lo em uma sociedade incauta e ignorante). A rede pode sim ser usada em benefício da discussão saudável e responsável.


Mas ainda, e principalmente, a Islândia nos mostra, uma vez mais, todo o potencial de uma sociedade em que 99% da população é alfabetizada, e que se consolida como a menos desigual do mundo. Apesar dos pesares econômicos, mais de 2/3 da população da Islândia vai poder participar da redação da nova Constituição, já que esse é o percentual de pessoas com acesso 24 horas à internet. E acima de tudo, uma população que deixa claro que, sem abrir mão do capitalismo e da meritocracia, é possível radicalizar a experiência democrática, colocando a economia no seu devido lugar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Continuando...

Ao perceberem meu movimento muito elegantemente deram-me a frente para descer os poucos degraus do terraço e foram para a calçada que acompanhava a orla da praia.
Comecei a me sentir ridícula caminhando atrás deles sem nada ouvir. O vento vinha de nossas costas e carregava suas palavras, só podia perceber que conversavam animadamente. Resolvi acelerar e passar à frente. Ao avançar eles novamente me olharam e um deles galantemente dirigiu-me a palavra:
- Acompanhar - nos- ia, senhorita? Sem graça eu sorri dizendo que seria uma honra, eles rebateram dizendo que a honra seria deles e assim avançávamos os três, pela calçada deserta naquela época do ano. Pedi que conversassem. Gostaria de ouvi-los. Natural e complacentemente sorriram.
- Diga-nos a senhorita o que faz neste refúgio de idosos, pois que isto durante a temporada é lugar para jovens, agora exclusivamente para quem não gosta de movimento.
- Trabalhei muito no ano passado e acabei tendo uma exaustão. Médico e família exigiram que eu me refugiasse num lugar qualquer em que pudesse descansar, esquecer a agitação, ler e, enfim, conhecer pessoas agradáveis. Escolhi este.
- O Sol nesta temperatura é muito agradável e fará com que recupere sua energia.
Demos mais alguns passos em silêncio, então criei coragem para perguntar:
- E vocês? Desculpem-me tratá-los tão informalmente, mas são bastante jovens e somos companheiros em férias, não é mesmo?
Sorrindo o que usava bengala disse:
- Chame-me como quiser, o prazer de sua companhia é muito grande. Cheguei a pensar em partir, também sou urbano e apraz-me a agitação. Sua presença me alegra. Sou Baptista, com “p” no meio, muito prazer.
- E eu sou Azevedo. Adelmo Azevedo.
- Júlia. Eu também estava pensando em fugir daqui. Bom nos encontrarmos. Gosto muito de viajar mas para lugares agitados. Este deserto só mesmo como medicação.

domingo, 10 de julho de 2011


Acabei de ler Eugenia Grandet, do Balzac. O livro foi escrito em 1833. Leiga no autor, me surpreendeu a sensibilidade com que ele trata a alma feminina. Ele consegue captar necessidades, frustrações, entender reações e os sonhos das mulheres. Se pensarmos na época em que o livro foi escrito, tal sensibilidade espanta mais ainda.
Alguns artistas conseguem mesmo captar o ser mulher.
O italiano Amedeo Modigliani, o artista apaixonado pelos excessos, famoso na Escola de Paris e um dos principais pintores da primeira metade do século 20, fez retratos da amante Jeanne Hébuterne, que já’ `a época competiram com os retratos femininos feito pelo amigo, Pablo Picasso. O ultimo, feito quando a amante e musa já estava grávida, foi leiloado por 4.9 milhões de Euros. A empatia do observador com a mulher retratada ultrapassa a estilização que o artista adotara.
Jeanne, a amante, renunciara a família, aos amigos e a uma vida de abastada para ficar com o artista, que raramente voltava pra casa e quando voltava, era bêbado. Mas que nutria por ela um amor que parece infinito se olharmos para o quadro e lermos sua biografia. Ela se jogou da janela alguns dias depois da morte de Amadeu, em 1920, e morreu de amor.
Homens sensíveis?
Apesar de ter sido duramente criticado por dizer que só as mulheres normais gostam de apanhar, Nelson Rodrigues sabia profundamente dos sentimentos femininos, mesmo os mais vis. Em Bonitinha, mas ordinária, a personagem canalha se redime depois de ir ao fundo do poço. Ritinha, a prostituta, que sempre guardara a pureza de sua alma em meio às depravações do corpo, nunca gozara. O seu “machismo” pode ser explicado em outra máxima sua, a de que somos todos santos e canalhas, simultaneamente. Isso não diminui em nada os retratos literários que Nelson fez das mulheres que amavam, traiam e matavam em nome do amor. O dia a dia das donas de casa dos anos 50 e 60, que ao irem à feira se apaixonavam e freqüentavam os apartamentos dos amados e a noite estavam bonitas e cheirosas para os maridos.
Chico Buarque 'e outro artista que além das de Atenas, entende os sentimento das fêmeas que desejam ardentemente ser tatuagem no corpo dos homens. Quando ele canta a mulher, a voz fraca por fama, se emociona e parece ter dentro dele a mesma sensibilidade que outros artistas, por meio de outras artes tiveram.
Chico tem varias concepções de mulheres, de santas a putas, de Atenas ate Geni. Canta um amor dolorido que dizem só as mulheres sentem e clamam ser a boca de hortelã na manha do amado.
Por que estou citando esses artistas? Quero falar da mulher do século 21 e o que ela quer. A partir de Freud a mulher ganha também a possibilidade e o estatuto de ser histéricas. Histérica pelo que? O feminismo, que quis e quer acabar com o conceito vitoriano e burguês da mulher que e’ submissa e serve para parir, tão bem descrito por Simone de Beauvoir, na minha opinião, descaracterizou um pouco o sexo feminino. Não! Não somos iguais aos homens. Não somos piores, nem melhores. Somos diferentes geneticamente falando e nosso comportamento também ‘e diverso do masculino.
Queimaram sutiãs, lutaram pelo direito a pílulas e os mesmo níveis de poder. No inicio dos anos 90, a mulher começou ate a usar terno, para se igualar em ombro e altura ao homem.
Quer saber? Sou contra tudo isso. E Simone de Beauvoir devia ser também. Afinal submeteu-se aos caprichos de Sartre como uma boa apaixonada das letras de Chico. Nos, as mulheres, somos seres apaixonados, submissas sim, `as nossas próprias vontades que muitas vezes se encaixam com as vontades dos homens. Vejam bem, não são iguais as vontades dos homens, mas se encaixam.
Queremos ser tatuagem no corpo do homem que amamos. Quem nunca assinou o próprio nome com o sobrenome de um namorado ou um paquera? Quem nunca ficou grudada ao telefone esperando a ligação do dia seguinte? Que mulher nunca acreditou, logo depois da primeira noite, que seria para sempre?
Ate as vadias se entregam esperando serem salvas de tantos pintos que as rodeiam. Sim, as vadias também querem a salvação. Alguém que diga a elas que são especiais e únicas, apesar de serem de todos. Geni não deu para o rico do Zepelim apenas para salvar a cidade. Deu para se salvar também.
Queremos a salvação pelo amor. O delírio são, pela paixão. Queremos uma mao forte que nos pegue pelo cangote. Queremos a voz grossa que nos chame de amor ou de vagabunda, tudo na mesma noite.
Queremos ser semeadas pelo homem que amamos e ver a carinha de um ser que simboliza a junção de dois corpos. Queremos acordar cedo com beijos e flores, ceder às ereções matinais como servas de um amor que carregue durante o dia.
Sim, também queremos cargos de poder e independência econômica. Mas duvido das mulheres que dizem que não precisam de homem para viver. Duvido que elas não se encantem com o elogio diante de um novo lingerie ou de um bolo mal feito. Duvido! Duvido das mulheres que querem ser só’ santas ou só’ putas. A mulher ‘e versátil, ela pinta a unha de todas as cores para atrair o macho. Os decotes não são para o espelho, são para eles, buscam o olhar embasbacado de um homem apaixonado. Ou não?


PS. Me desculpem os erros de acentuacao e outros, meu taclado esta com problemas que ainda nao consegui resolver.

sábado, 9 de julho de 2011

VIVA O CALOR....

Forma de energia que se traduz em variação ambiental. Ah, aquele calorzinho gostoso do horário de verão, quando se pode sentar na calçada e tomar uma cerveja bem gelada ou lagartear na piscina... Saudade! Esse ano o inverno decidiu tomar conta do outono e descer a temperatura até quase zero grau. Credo, isso é um país incivilizado e tropical. Por favor, avisem o responsável por essas transformações fora de tempo: ele está adiantado demais! Estou brincando. As estações acontecem por causa da translação, a inclinação da terra em relação ao sol. E se o planeta azulzinho não mudasse de posição? Bem, de acordo com entendidos no assunto não haveria variação na umidade ou secura do ar. Seria sempre verão? Sei não. Poderia ser primavera, outono ou inverno não é? Lembro-me ainda das aulas de geografia quando a professora falava que conforme mudava o ângulo do plano orbital a terra passava ora pelo verão, ora pelo inverno. Como? Os raios solares tendem a atingir seu mínimo no começo do inverno, ao contrário do verão. Quando o Polo Norte se inclina em direção ao sol é verão no hemisfério norte, quando o Polo Sul faz o mesmo o calor chega abaixo da linha do equador. Esqueça essa chatice e pense que no verão os dias são mais longos - para serem curtidos a vontade - além de escurecer mais tarde, os termômetros quase explodem devido as altas temperaturas, daí o chopinho gelado, o vinho espumante e os sorvetes para refrescar. A impressão é que até a conversa fica mais solta. Oficialmente o verão tem seu inicio em 21 de dezembro com árvores verdes e frutas em abundância. Junta tudo: férias, calor, clima de alegria com as festas do final do ano e carnaval. A vida fica mais leve, embora a gente pareça mais pesada por conta da quantidade de água que se bebe e por causa do "samba, suor e cerveja," como diz meu poeta.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Casas, cores e desenhos

Juro que tentei localizar na internet alguma explicação para o uso de cores nas casas mexicanas. Não consegui. No meu guia (sim, minha gente, eu tenho um guia) o máximo de informação sobre arquitetura que tem foi é muito da arquitetura é de influência colonial espanhola e que tem a funcionalidade em vista. Somente. Então não vou contar fatos ou passar dados vou só dizer que parte da emoção de andar nas ruas, principalmente nas centrais tanto do México quando de Cuernavaca é ver casas pintadas de laranja com roxo, sacadas cheias de bordados, praças lindas com chafariz que fazem você realmente dormiu e acordou na cidade do Zorro.



Ps: Se alguma das Rosas souber e quiser fazer uma série sobre o assunto, será bem vinda.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Alebrijes

Há um ano quando perguntei ao Rogério o que eram alebrijes ele não sabia me dizer. Foi um casal de portuguêses quem me mandou procurar alebrijes. E lá fui eu. Monstrinhos que são uma mistura de animais com seres imaginários que devem ser colocados dentro de casa, preferencialmente de frente a porta de entrada, para espantar o mal olhado. Claro que adorei e segui em busca. E encontrei muitos. Na Cidade do México no mercado de artesanato, em Cuernavaca na loja de bugigangas... uma vez que passei a petar atenção vi alebrijes em quase todos os cantos.
Os charmosos monstrinhos surgiram, assim como a nomenclatura, com o artista Pedro Linares (1906 - 1992), em 1930. Delirando adoecido, sonhou com criaturas fantásticas e tão logo melhorou deu início a estudos em desenhos e papier mache, chegando a produção dos bichos em madeira, material no qual são produzidos até hoje.
Seu trabalho chamou a atenção de um galerista em Cuernavaca (sim, Rogério, você está lendo direito!) que o incentivou e eventualmente, do casal utra pop Frida Kahlo e Diego Rivera.
Eu já tenho uma coleçãozinha que inclui um imenso e lindo feito por encomenda e presente de um mexicano amigo fofo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ainda sobre paladares

Esta também foi uma viagem de alta gastronomia, em 10 dias visitei, com o super Rogério, dois dos eleitos entre os melhores 50 do mundo.
Um no México, o Biko e um americano do qual falarei depois.
O Biko é um desses restaurante de comida contemporânea molecular. Incrível!
Localizado em um bairro descolado da Cidade de México, com paredes e decoração beige, de uma simplicidade impressionante, um atendimento casual e simpático, ao contrário do que eu esperava, não nego que tenho um certo preconceito com restaurantes muito hypados.
Ao todo foram muitos pratos, todos minúsculos, de delícias impronunciáveis e em muitos casos impossíveis de identificar, todos os pratos eram casados com vinhos apropriados e ao fim a melhor sobremesa que já comi na vida até o momento. Era uma delícia de lichia recheada com queijo e melocoton, sob espuma de jamaica e sorvete de pão... ou seja, impossível de tentar em casa ou de saber ao certo o que era mesmo!

Segue um texto explicativo que achei na internet sobre culinária molecular bem bacana.

"O título do texto era para ter sido “Molecular: ABC de Quem Não Sabe Nada Para quem Sabe Menos Ainda“, mas ficou muito grande. E sim, sinceramente, eu não sei praticamente nada. Mas com uma pesquisa aqui e ali somado com os meus quase 2 anos e meio de química na faculdade não ajude a condensar tudo. Para alguma coisa o estudo acadêmico tem que servir, não?
A intenção é trazer alguma luz para esta vertente da cozinha que no Brasil ainda não é tão conhecida assim (pode ser nas faculdades e na alta gastronomia “?”) quando se comparada com a Europa e a Ásia. Entretanto, já ressalto que meu objetivo é algo básico e acessível para que todos possam compartilhar, nada de nomes e explicações esdrúxulos. Caso tenho curiosidade sobre o tema, be my guest!
Antes de mais nada temos que separar duas expressões utilizadas Gastronomia Molecular e Cozinha Molecular. O pessoal que faz uso das duas não gosta muito quando são empregadas de forma equivocada.

* Gastronomia Molecular: é o estudo científico dos processos químicos e físicos que ocorrem durante o cozimento. É possível criar novos métodos, técnicas e equipamentos, além de aperfeiçoar os já existentes.
* Cozinha Molecular: utiliza os conhecimentos descobertos da gastronomia molecular em seus pratos.

Mas nem todos aceitam os termos, uns adotam, outros repudiam. O que realmente importa é saber que ela existe e mudou algumas coisas na cozinha.
Mas… afinal o que realmente isso significa? Na verdade, verdadeira tudo é uma grande confusão, digamos. Por exemplo, o nome praticamente máximo hoje no assunto que vem a mente de todos é Ferran Adrià (el Bulli). Ele pode até não fazer parte do time propriamente dito (dependo da fonte que você lê), mas é o mais conhecido. Entretanto, muito do que ele (e vários outros) usam já existiam na indústria alimentícia. “Só” fizeram um novo uso dela.
De molecular, na essência da palavra, do meu ponto de vista, não tem nada. No sentido do que os chefs fazem, pois se fosse assim assar um suflé, bolo e afins seria. Mas pode ser molecular quando falamos no pesquisador Hervé This. Falaremos mais dele adiante.
Outros nomes desse filão aparecem: Pierre Gagnaire (restaurante homônimo, França) e Heston Bluementhal (do Fat Duck, Inglaterra) dos mais conhecidos. E Homaro Cantu (do Moto, EUA)"

terça-feira, 5 de julho de 2011

Apimentando

Ano passado fui ao México em busca de fuga. Acabara de sair de uma história que me fez mal e fugi a terra de Frida, dos lobos e das pirâmides em busca de paz. Quase de elevação, de uma fonte de calor diferenciada, sei lá. Cheguei lá e encontrei um caos quente e seco, pirâmides milenares e lindas tradições e uma energia incrível. Foi ótimo! E voltei renovada e encantada com o país.
Dessa vez, fui ao México para encontrar meu querido Rogério, comemorar meu aniversario e descansar um pouquinho. Pura e simplesmente. Encontrei o México das pimentas, de comidas insanamente estranhas, muitas variações de pão doce e do melhor café que já tomei. E olha que eu não costumo gostar de café adoçado.
Ano passado enquanto buscava as pirâmides não me dei muitas chances de experimentar a cozinha local. Já dessa vez comi toda a comida mexicana que podia. Se gostei? Não de tudo, mas ao menos tentei e provei coisas novas e inesperadas. Provei as pimentas, os peixes ao limão, as tortilhas em seus variados formatos, diferentes versões do queijo oaxaca e até mesmo um chicharron... de queijo!
E não, não fiz como Liz e ganhei 15 kg. Andei MUITO para compensar as comilanças e jantei muita salada! Nessa minha última visita, estive no Mexico dos sabores absolutamente exóticos e das pessoas amigáveis. E de Chaves, claro! Sempre!



segunda-feira, 4 de julho de 2011


O caminhar ligeiramente trôpego não impedia que se percebesse a elegância do porte e das roupas, cabelo impecável, o anel com sinete se destacava na mão que segurava a bengala. Dirigiu-se às cadeiras espreguiçadeiras alinhadas no terraço e sentou ao lado do único outro ocupante.
Essa atitude me fez imaginar que procurasse companhia ou, pelo menos, estaria em busca de alguns minutos de prosa. Provavelmente hospedara-se sozinho no hotel. Eu não conseguia enxergar se o ocupante da outra cadeira era homem ou mulher. Via apenas a copa de um chapéu. Talvez fosse a esposa.
Há dias sem conversar com ninguém, eu, que já começara a amaldiçoar esta viagem solitária, também andava à cata de companhia e, curiosa, desloquei-me até lá. Debrucei na mureta como se procurasse alguém na praia e, disfarçadamente, espiei o ocupante da outra cadeira: outro idoso, muito bem vestido e alinhado, como o recém-chegado. Sorri. Percebi não estar sendo observada e senti-me à vontade para permanecer ali.
O que já estava sentado iniciou a conversa.
- Vem sempre aqui?
- É a primeira vez, recomendaram-me com tanta ênfase que resolvi experimentar. Também o senhor?
- Coincidentemente, sim.
Pela pompa no linguajar e na pronúncia pareceram-me cultos. Que teriam sido? Hoje, evidentemente, aposentados, pois que já passavam dos oitenta anos. Deputados? Senadores? Advogados? Presidentes de grandes empresas?
- Apraz-lhe o litoral?
- Na meia estação... na meia estação exclusivamente. Temperaturas extremas incomodam-me. Prefiro enfrentá-las em casa.
- “Home, sweet home”? Sorriram em concordância.
Absortos em seus pensamentos, eu poderia observá-los sem pudor. Sentei-me também numa das espreguiçadeiras, fingindo ler. Ficaram em silêncio.
- Caminhamos? – sugeriu um deles.
- Será agradável – concordou o outro e eu, não podendo perdê-los, levantei-me antes que se erguessem. Caminharia também.
CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA

domingo, 3 de julho de 2011

Sobre ser Augusteum

"...Olho para o Augusteum e penso que, no final das contas, talvez a minha vida na verdade não tenha sido tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. O Augusteum me alerta para eu não me apegar a nenhuma ideia inútil sobre quem sou, o que represento, a quem pertenço ou que função eu poderia ter sido criada para exercer. Sim, eu ontem posso ter sido um glorioso monumento a alguém - mas amanhã posso virar um depósito de fogos de artifício. Até mesmo na cidade Eterna, diz o silencioso Augusteum, é preciso estar preparado para tumultuosas e intermináveis ondas de transformação..."
"Comer, Rezar, Amar", de Elizabeth Gilbert


Pegando a deixa da Rosa Bertoldi realmente acredito que todos deveriam em algum momento ler "Comer, Rezar, Amar", de Elizabeth Gilbert e nao so a mulherada pois a historia de vida e mudanca de Elizabeth eh incrivel e inspiradora.
Ah, sim, caros, estou em um note sem nenhum acento entao, esse, alem de um texto pouco coerente ha de ser gramaticamente incorreto.
Tem gente nessa vida que faz diferenca no andandamento do universo so por existir. Uma vez a Denise Stoklos disse que teve uma amiga atriz (incrivel de talentosa) que largou tudo para virar monja la no Tibet e que todos os dias ela tinha certeza de que o mundo nao havia perdido uma grande atriz mas sim que sua presenca como monja havia sim impedido muitas guerras pelo mundo.
E eh mais ou menos isso que o livro me passa, que devemos acima de tudo sermos positivos e honestos com AS NOSSAS PROPRIAS ESCOLHAS pq afina, sao nossa escolhas e elas podem ser revistas a qualquer momento, caso elas nao nos satisfacam.
Ha algum tempo decidi que nao mais reclamaria da vida pois afinal nao tenho do que reclamar, e que se tivesse, viraria a pagina e seguiria em direcao ao horizonte como naqueles filmes de cowboy. Ao fim da tarde. Mas sempre sendo honesta comigo mesma e feliz. Vamos combinar que ate que se prove o contrario esta eh nossa unica oportunidade nessa Terra, com esses lugares lindos e gente bacana.
Esquece do Sarney, dos corruptos, dos invejosos, dos maldosos... e so foca no que ha de bacana. Gente, juro que nao fumei maconha, eh que a real eh que busco a cada dia ser feliz e fazer dentro do possivel o melhor possivel porque so assim o Universo anda dentro do seu curso, a vida acontece naturzalmente sem murro em ponta de faca. Ai desculpa a enrolacao. Tudo deve estar meio sem sentido e nao so pela falta de acentuacao.
Semana que vem conto da viagem. Bjs e boa semana a todos.

sábado, 2 de julho de 2011

Comer e rezar...

Comer e rezar...
Primeiro foi o filme: Comer, rezar, amar. Em seguida comecei a ler o livro. Liz Gilbert é divertida, corajosa e inteligente. Bom, se não fosse não teria vendido mais de quatro milhões de cópias de sua obra traduzida para mais de trinta idiomas. Ela relata sua aventura - deveria dizer fuga? - após um divorcio traumático por três países completamente diferentes culturalmente falando. Itália/comer é sua primeira parada. Queria aprender uma língua diferente e na concepção dela o italiano de Dante tinha sua preferência. De maneira irreverente vai contando e quem conhece Roma acompanha com facilidade suas andanças e tropeços, seus novos amigos, suas viagens, sua gula. Descreve o ato de comer uma simples pizza como algo sagrado. Deve ter se alimentado muito bem, pois deixou o país com 15 quilos a mais. Ainda bem que foi aportar na Índia, mais precisamente em um ashram, um mosteiro, em busca de devoção. Praticante de ioga e tendo um guru, Liz queria uma experiência mística. Faz novos amigos e trabalha lavando todos os dias o chão do templo, onde medita por horas e horas preparando-se para perdoar a si mesma por seus pecados e estender esse perdão a todos que direta ou indiretamente feriram seu coração. Mesmo assim, não perde seu bom humor. Ler seu texto é como espiar o diário de alguém. Às vezes rindo, outras chorando, ela embarcou e chegou ao porto seguro que buscava. Magra de novo, após passar quatro meses ao redor de uma mesa vegetariana desembarcou na Indonésia, mas precisamente em Bali, na pequena cidade Ubud, onde Liz havia conhecido um xamã. Ele havia lido sua mão e previsto todos os acontecimentos relacionados à sua vida, concluindo que ela voltaria de novo àquela região. Voltou! E lá praticamente refeita de todas suas tristezas encontra-se com ele e acaba conhecendo outros moradores locais e alguns estrangeiros, dentre eles, Felipe, um brasileiro que é hoje seu marido. Suas memórias são uma lição de vida. Saí da leitura um pouco mais leve, mais tolerante, mais amável, mais convicta de que o Deus dos seres humanos é o mesmo em qualquer idioma e está dentro de nós. As lições contidas no livro são universais.