segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

E acaba janeiro...
E fevereiro começa com a ameaça de chuvas e carnaval.
Prédios caem, navios tombam, mulheres são violentadas ao vivo e a cores em programa de grande aceitação popular... e a escola de samba ensaia, o show deve continuar.
Proliferam lojas de colchões. Os ortopedistas recomendam que se troque a cada três anos, há modelos com molas ensacadas e com fibra de bambu, além dos brancos, os pretos e cor de vinho, com cabeceira acoplada...
- Este não é igual àquele?
- Não, é completamente diferente, a camada superior é feita com o mesmo látex usado na naves espaciais...
Como nossos antepassados sobreviveram à dor nas costas? Não só um colchão era para a vida toda como, muitas vezes, tratava-se apenas de um saco recheado com palha de milho, afofado na hora de dormir. Geralmente ao acordar a “vítima” não tinha palha nenhuma sob seu pobre corpo que jazia dolorido sobre as tábuas. Dormi algumas vezes num desses, na fazenda de meu avô, lá no Rio Grande do Sul.
E os tamborins (atenção ao momento cultura... instrumento de percussão do tipo membranofone, constituído de uma membrana esticada, em uma de suas extremidades, sobre uma armação, sem caixa de ressonância, normalmente confeccionada em metal, acrílico ou PVC - policloreto de vinila), bom, as tamborins repicam esquentando as cabrochas.
Os surdos, de primeira e de segunda, a caixa de guerra, a cuíca, o agogô e o reco-reco... “meu samba, viva meu samba verdadeiro, porque tem telecoteco...” ensaiam e fazem correr mais rápido o sangue dos brasileiros.
E as aulas recomeçam, o material tá caro, as mães depoem em frente às escolas dizendo que tudo aumentou. Pessoas enterram seus mortos e outros tantos não serão enterrados porque desapareceram na água do mar ou nos escombros dos prédios, e as sambistas bundudas continuam ensaiando e as porta-bandeiras giram, giram, giram... os mestres- sala ajoelham pedindo que parem, como não conseguem ter seu pedido atendido giram também, dão alguns saltos, fazem reverências e continuam, que o cortejo não pode parar:
- Vão pra frente que atrás vem gente!
E eles vão...
E o Brado Retumbante cotucou a política mas tudo fica igual, e a presidente que deve ter problemas com dentistas pois que a deixaram dentuça, por isso não quer dente no seu título e trocou por denta, vai viajar. Meu sobrinho trabalha no Itamarati, contou que vai um avião lotado com o “corpo diplomático” – deveria dizer corpos diplomáticos? Um avião para a presidente e seus assessores, outro avião com os corpos diplomáticos...
E as pessoas morrem na porta do hospital porque ninguém é responsável por elas, se estão longe uma ambulância busca, se estão dentro do hospital os enfermeiros levam mas na porta... bom, na porta é diferente... não está dentro, não podem atender, caído na calçada não está no hospital... é verdade, eu havia esquecido.
Preciso bordar minha fantasia.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Pré conceito

Em 5 de maio de 1993, três meninos de 8 anos foram dados como desaparecidos pelo pai de um deles na então pacata West Memphis, interior de Arkansas, Estados Unidos. Horas depois seus corpos, mortos, foram localizados com marcas de violência em uma floresta.
Um mês após o crime, três adolescentes, Jessie Misskelley, Jr, 17 anos, Jason Baldwin, 16 anos e Damien Echols, 18 anos, foram presos, julgados e condenados pelo crime em um dos julgamentos mais comentados da história justamente pelo seu absurdo.
O julgamento inicial, em 1994, rendeu o documentário Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills (1996) com produção da HBO e direção de Joe Berlinger e Bruce Sinofsky.
O longa levantou questões e fez com que diversas pessoas, dentre as quais algumas celebridades tais como Eddie Vader, Natalie Maines e Johnny Deep, se interessassem pelo caso.
Surgiu aí um grupo de apoio que juntamente com um dos advogados de defesa de um dos jovens tornou a descoberta do ocorrido em uma cruzada que correu por 18 anos e rendeu duas sequências, Paradise Lost 2: Revelations (2000) e Paradise Lost 3: Purgatory (2011).
Quem ainda não viu os documentários não deve perder a chance e com pouca pesquisa eles são facilmente localizáveis na internet. O conjunto quando visto é brutal e mostra a crueldade que só o preconceito é capaz de causar.
Deve virar filme em Hollywood em breve.




sábado, 28 de janeiro de 2012

0800.... uma piada!

Alguém já tentou cancelar um cartão de crédito, reclamar que a internet não funciona ou qualquer outro serviço como de 2 para 10 gibas a potencia de sua conexão? Basta ligar para o 0800!!!!!!! Saiba que sua ligação é muito importante para nós é a frase padrão. Isso até você dizer que não ligou para dar os parabéns pelo bom relacionamento entre a empresa e você, o consumidor. De repente as coisas mudam, as atendentes ficam valentes, as vozes macias desaparecem... isso quando elas não ficam surdas. Não estou ouvindo, pode repetir?
As empresas culpam os call centers, eles empurram a questão para qualquer santo que exista no céu, menos para o verdadeiro culpado: a empresa que terceiriza esse atendimento e se gaba de seu bom relacionamento com o cliente, quando deveria dizer seu isolamento. A maior parte do tempo é uma máquina que fala.
Se der sorte e conseguir dialogar com um ser humano pague promessa em qualquer grande basílica, isso se você for católica, senão agradeça do mesmo jeito. Li dia desse que um pouco menos de marketing de massa e mais ênfase no relacionamento pode ser uma boa política para esse tipo de serviço. Falo com conhecimento de causa. Recentemente fui maltratada por uma atendente por querer cancelar a NET que não funcionava e porque quis cancelar meu cartão Hipercard, do Unibanco, pois depois da fusão, a coisa foi ficando de mal a pior. Como sou chata e quero ser bem atendida decidi me desfazer dele. Não consegui. Fiquei ligada ao tal cartão sem fazer nenhum tipo de compra por uns seis meses. Um belo dia, eu entrei no Wall Mart e fui direto aquelas mesas e pedi o cancelamento.
O jovem perguntou qual a razão, eu expliquei e comentei ainda o fato de ter sido maltratada no 0800. Ele adotou as medidas necessárias na hora e explicou: é o segundo que faço hoje pelo mesmo motivo.
Acho que é hora das empresas acordarem e tratarem melhor seus clientes, pois hoje as pessoas querem agilidade no atendimento e um mínimo de preparo do atendente. Mas, como eles pensam que são invisíveis comportam-se como trogloditas. Diz um velho ditado “respeito é bom e eu gosto.”

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Verdade

"O que se vê é vero O teu sabor eu quero Mas nem só beleza eu vi (2x) Vi cidades degradadas Pessoas desamparadas Nas grades da solidão Fogo nos campos nas matas Queima de arquivo nas praças Chovia nas ruas do meu coração O que se vê é vero O teu sabor eu quero Mas nem só beleza eu vi (2x) Vi cidades turbulentas Chacinas sanguinolentas Pensei que morava nas terras do mal Choro dos filhos, maldades Fora dos trilhos, cidades Pensei que sonhava e era tudo real O que se vê é vero O teu sabor eu quero E a tua beleza eu vi (2x) Vi uma estrela luzindo A minha porta bateu Querendo me namorar Lua cheia clareava Imaginei que sonhava e era tudo real Ninguém mais coça bicho de pé Nem ninguém caça mais arrastapé Vida é assim é o que é"

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pele

Um pouquinho sobre a vida e morte de Sarah Kane.



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ânsia

Esta semana nossa querida Camilla Telbet voltou a postar um vídeo que acho incrível que traz uma leitura sensível e de uma peça intensa e por vezes bem pouco delicada da britânica Sarah Kane (1971 - 99) e me deu vontade de publicar aqui também...



"E eu quero brincar de esconde-esconde, te emprestar minhas roupas, dizer que amo seus sapatos, sentar na escada enquanto você toma banho, e massagear seu pescoço. E beijar seu rosto, segurar sua mão e sair p'ra andar. Não ligar quando você comer minha comida, e te encontrar numa lanchonete p'ra falar sobre o dia. Falar sobre o seu dia e rir da sua paranóia. E te dar fitas que você não ouve, ver filmes ótimos, ver filmes horríveis. E te contar sobre o programa de TV que assisti na noite anterior e não rir das suas piadas. Te querer pela manhã, mas deixar você dormir mais um pouco. Te dizer o quanto adoro seus olhos, seus lábios, seu pescoço, seus peitos, sua bunda. Sentar na escada, fumando, até seus vizinhos chegarem em casa, sentar na escada, fumando, até você chegar em casa. Me preocupar quando você está atrasado, e me surpreender quando você chega cedo. E te dar girassóis e ir à sua festa e dançar. Me arrepender quando estou errado e feliz quando você me perdoa. Olhar suas fotos e querer ter te conhecido desde sempre. Ouvir sua voz no meu ouvido, sentir sua pele na minha pele, e ficar assustada quando você se irrita. Eu digo que você está linda, e te abraçar quando você estiver aflita, e te apoiar quando você estiver magoada, te querer quando te cheiro, e te irritar quando te toco e choramingar quando estou ao seu lado. E choramingar quando não estou. Debruçar-me no seu peito, te sufocar de noite e sentir frio quando você puxa o cobertor e sentir calor quando você não puxa. Me derreter quando você sorri, me desarmar quando você ri. Mas não entender como você pode achar que estou rejeitando você quando eu não estou te rejeitando, e pensar como você pôde pensar que eu te rejeitaria. E me perguntar quem você é, mas te aceitar do mesmo jeito. E te contar sobre o "tree angel", "o menino da floresta encantada" que voou todo o oceano porque ele te amava. Comprar presentes que você não quer e devolvê-los de novo. E te pedir em casamento, e você dizer "não" de novo mas continuar pedindo, porque embora você ache que não era de verdade mas sempre foi sério, desde a primeira vez que pedi. Ando pela cidade pensando. É vazio sem você mas eu quero o que você quiser e penso. Estou me perdendo, mas vou contar o pior de mim e tentar dar o melhor de mim porque você não merece nada menos que isso. Responder suas perguntas quando prefiro não responder, e dizer a verdade mesmo que eu não queira, e tentar ser honesto porque sei que você prefere. E achar que tudo acabou, espera só mais dez minutos antes de me tirar da sua vida. Esquecer quem eu sou e me deixar tentar chegar mais perto de você. E de alguma forma, de alguma forma, de alguma forma compartilhar um pouco do irresistível, imortal, poderoso, incondicional, envolvente, enriquecedor, agregador, atual, infinito amor que eu tenho por você."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um momento só seu


Por sua mente passaram cenas do passado, de vinte, trinta, quarenta anos atrás. Tantas vezes ouvira falar que isso aconteceria... seu momento, só seu, sua memória, seu passado, sua história, seu tempo.
Tentou mexer as mãos, não se mexeram. Dos olhos percebeu escorrerem lágrimas. Não as pode enxugar, correram livremente encontrando seu caminho. Tudo parecia muito claro, iluminado, pensara que escurecesse...
O frio tomava conta de seu corpo. Consciente de seus membros mas incapaz de movê-los teve certeza de que chegara a hora.
Só, completamente só para fazer a travessia, gostaria de ter alguém segurando suas mãos, alguém em que se agarrasse caso decidisse ficar, se resolvesse não partir.
Era tarde.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Santa Chuva

"Vai chover de novo,
deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar,
E pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus"
Santa Chuva - Los Hermanos


Dia de chuva e friozinho no verão. Dia de friozinho no verão. E a vida calma. Porque às vezes, a vida vai calma. Até que chegam as tempestades. De repente fui pega por uma tempestade. E choveu. Muito. Muito mais do que a previsão havia dito. E segui, sem rumo, em meio a chuva. Palavras duras. Eu só sou uma menina com um gato, sonhos e defeitos. E sem rumo na chuva. Alguns anos atrás morei com uma alemã que confundia chorar com chover e dizia: Não chove! Hoje choveu. E quase chorei.

sábado, 21 de janeiro de 2012

A embaixada de Bauru em São Paulo

Eram os anos 70. Em São Paulo ainda fazia frio igual na Europa e garoava de vez em quando. Para uma garota educada no interior a cidade era o máximo. Hoje tenho minhas dúvidas em relação a isso, embora continue gostando muito da São Paulo cultural. Leia isso como: bons restaurantes e museus excelentes, sem falar nas galerias de arte. São Paulo não se parece com nenhuma cidade do mundo, pelo menos não com as que eu conheço.
Mas, gostaria de lembrar desses anos 70, momento cinzento na política brasileira, o clima era de terror, mesmo que a gente se divertisse muito. Nesse bom astral viva a família de Déborah, mulher conhecida dos bauruenses por sua generosidade e inteligência, além dos dotes culinários. Abria seu belo apartamento toda terça feira para receber qualquer bauruense de passagem ou não pela cidade com uma mesa farta. Lá conheci o Henri filho de um americano com uma brasileira, que com toda certeza era mais chegado a nossa cultura do que a de seu pai. Tocava violão e cantava muito bem. Naquela época o sucesso era uma música que Caetano Veloso gravou tempos depois Chuvas de Verão. Linda! Quando eu aparecia nesses encontros sempre pedia ao Henri para cantá-la e ele respondia: essa só depois de meia noite. Nunca perguntei o motivo. Mas, quando batiam as 12 badaladas do sino de uma igreja próxima à Frei Caneca, ele começa

“Podemos ser amigos simplesmente/Coisas do amor nunca mais/Amores do passado, do presente/repetem velhos temas tão banais/Ressentimentos passam como o vento/São coisas de momento/São chuvas de verão...
Trazer uma aflição dentro do peito/é da vida um defeito/Que se extingue com a razão/Estranho no meu peito/Estranha na minha alma/Agora eu tenho calma/Não te desejo mais...
Podemos ser amigos simplesmente/amigos simplesmente/nada mais...”


Essas lembranças voltaram a minha memória hoje quando ouvi no rádio do carro Chuvas de Verão na voz do Caetano. Foi como se eu caísse no túnel do tempo. Senti o cheiro de São Paulo e de sua chuva fininha, lembrei-me da capa maravilhosa que comprei acompanhada de Sergio, meu velho amigo, que vive há anos na França, de um vestido azul Klein que meu amigo Silvio adorava. Do bar perto da igreja de Moema onde a gente enchia a cara, pois era proibido proibir... então, podia-se dirigir embriagado. Dele dizendo que enquanto fossemos aquele grupo unido ninguém precisaria de psicólogo, afinal a gente chorava as mágoas, decepções, traições, puxada de tapete, um no ombro do outro. Do João Sebastião Bar e todos os intelectuais que por ali apareciam. Até João Gilberto tão alheio a tudo de vez em quando cantava por lá! Silvio foi meu primeiro contato com a morte. Quando ele morreu quase morri junto. Chorei por mais de seis meses sua perda, lembrando que quando eu estava grávida do meu primeiro filho, percorria o Iguatemi comigo para comprar roupas de bebê, mesmo ele tendo certeza que eu daria luz a uma ervilha! Sempre fui magra e não engordei durante os nove meses, só a barriga cresceu um pouco. Mas, meu filho nasceu enorme e continua grande em todos os sentidos. Hoje Déborah tem 92 anos, mas continua lúcida e leitora voraz de tudo de bom que o mercado lança, inclusive os best sellers. Ela me mandou os três volumes do Millennium, pode? Eu nunca tinha ouvido falar nos tais livros e existe até filme do primeiro volume pronto para ser lançado em fevereiro. Enfim, um momento luminoso na minha vida, tempos de Usp, de pós-graduação, de correrias, de festas infantis, hoje sou bem mais vivida e cínica sem dúvida nenhuma, aprendi que os bonzinhos não estão com nada, uma pena, a idade da inocência ter passado.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Melancolia


Texto de Vinicius Carlos Pereira, publicado em 10/08/2011 no www.cinemaqui.com.br

Por mais que o cinema tenha um receio imenso de eleger novos gênios da sétima arte enquanto aqueles que mudaram o cinema nos anos 70 e 80 ainda mantêm a vitalidade de suas obras, talvez já seja hora dessa porta ficar aberta para, pelo menos, alguns poucos nomes entrarem nessa sala, e o dinamarquês Lars Von Trier seria um dos primeiros dessa fila. Primeiro, pelo caminho corajoso com que vem traçando sua carreira, desde o movimento Dogma 95 (que talvez tenha sido o único que o cinema tenha visto nas últimas três décadas) passando por sua Palma de Ouro em Cannes por Dançando no Escuro e chegando até hoje, com seu Melancolia, uma estarrecedora visão do fim. É verdade que Von Trier parece menos focado em contar uma história propriamente dita, como no perturbador Anticristo, mas, ao mesmo tempo, acaba mostrando que essa nova fase de sua carreira acaba então tendo sido despertada pelo próprio, que foi realizado depois de uma crise de depressão que abateu o cineasta.

Com isso, Melancolia tenta então traçar um paralelo entre duas irmãs e aproximação de um enorme planeta (que nomeio o filme), supostamente em rota de colisão com a Terra. Em outras palavras, Lars Von Trier, à seu modo peculiar, faz um filme catástrofe para chamar de seu. Peculiar, por que nem por um segundo Melancolia dá qualquer esperança que seja para seu espectador, e é nesse momento que se entra no terreno fértil da mente do diretor. Von Trier deixa a impressão de que, mesmo que, em pouco tempo do início do filme tudo tenha acabado sob os acordes de Wagner (em Tristão e Isolda) em uma belíssima sequência em câmera lenta (assim com em Anticristo) que culmina com o choque, e a destruição, da Terra, o que vem depois é um exercício poético e inquietante sobre o que fazer quando tudo é inevitável. Mais ainda, por um momento, onde segundos se tornam minutos e tudo parece se mover sem sair do lugar, presente, passado e futuro se encontram entrelaçados nessa espécie de pesadelo apocalíptico, onde Kirsten Dunst e Charlotte Gainsburg, são mães, irmãs, noivas e esposas, enquanto tudo ruma para um esse fim. Melancolia é então apresentado em dois momentos, nomeadas através das duas irmãs. O primeiro, com a noite de casamento de Justine (Dunst, perdida no infinito) e depois pelo olhar de Claire (Gainsburg em mais um papel marcante) às portas da tragédia, sem saber o que fazer diante da chegada desse planeta. Talvez seja por meio dessas duas personagens que Von Trier tente pintar esse retrato cruel e exposto, que (como as imagens que Justine escolhe para ilustrar o escritório) parece ser impossível de desviar o olhar.

“Melancolia” talvez seja isso então, aquele acidente automobilístico que não lhe deixa prestar atenção em mais nada e depois não se esvai de seus pensamentos. O cineasta dinamarquês faz isso, principalmente, por se sentir confortável entre símbolos e significados, como se soubesse que nenhuma história consegue ser contada apenas com as imagens (pelo menos não as dele). É a partir desse princípio que “Melancolia” traça esses dois momentos, esses dois olhares, esses dois modos de encarar o que vem em seguida. Justine, assim como em seu pesadelo no começo do filme, tenta andar por essa floresta, mas está presa a uma espécie de cipó trançado em volta de suas pernas, apática diante, não só dos convidados de sua festa, como do mundo que a cerca, espremida por uma família que parece não conseguir aceitar essa dor que lhe faz se arrastar sem objetivo por sua vida. À sua volta, ninguém parece capaz de aceitá-la do jeito que ela é. Talvez nem ela mesma. Do outro, nesse segundo momento, Justine (agora em uma atuação esplendorosa de Dunst, sobrecarregada pelo peso da personagem e, literalmente, cambaleando por esse mundo) se torna quase um resquício daquela mulher e, destruída por uma depressão, acaba indo passar uns dias com sua irmã Claire.

É a partir daí que Von Trier engancha seu espectador nesse retrato brutal da alma do ser humano, já que o tal Planeta Melancolia está a dias de cruzar o caminho da Terra e, enquanto parte da comunidade científica (como o marido de Claire prefere enxergar) se mostra despreocupada com a aproximação dos dois, uma outra parte não consegue fugir da sensação de catástrofe que vem a seguir. Von Trier não está preocupado co essa esperança, já que, de acordo com o começo do filme, é tudo inevitável, mas sim à procura de entender como cada um se portaria diante do fim. Não o mundo, mas apenas essas quatro pessoas. Como sempre, o cineasta está sim em busca da pessoa, da unidade e do ser humano como único em uma situação que ele acaba não tendo controle. Claire vê aquilo como o fim de sua família, de seu filho, do amor com seu marido, é incapaz de compreender o inevitável da vida e só observa de longe sua irmã Justine se banhando nua ao reflexo azulado que o Planeta Melancolia colore as noites com sua aproximação, Justine que, abatida pela depressão, vê nessa catástrofe a possibilidade do fim de toda essa dor, de um mundo que parece não aceitá-la.

Muito embora nesse momento Von Trier talvez ainda tente se livrar dos fantasmas de sua própria condição recente, tentando, buscar um significado para seu próprio caminho (já que teve que “matar” seus demônios em Anticristo) agora acaba então tentando mostrar que, diante do inevitável, ao invés de se debater e fugir sem objetivo como insetos, o melhor seja aproveitar o tempo que lhe resta, construir seu próprio abrigo e se juntar com quem (em poucos momentos ou não) conseguiu te aceitar durante o que passou. Se na psicologia a melancolia é a perda (diminuição) de si mesmo diante dos demais, como se não conseguisse se sentir apto a fazer nada com propriedade, são em momentos como esses (finais) que todos acabam então tendo a certeza de que, mais do que nunca, não existem diferenças. E mesmo com essa espécie de pessimismo (que não é novidade, mas algo recorrente nas obras do diretor) o que Melancolia faz, não é mostrar o que ocorre, perigando cair em um pragmatismo que, muito pelo contrário, não combina com o cineasta, mas sim fazer cada um de seus espectadores pensar naquilo, tentar entender e imaginar o que se pode fazer quando se perde o controle sobre o mundo que você vive, quando nada mais importa a não ser o que já passou.

Assim como não se esconde por trás de verdades próprias e apenas faz com que o espectador perceba que, seja em um casamento, na relação com a família ou em uma vida inteira, os ciclos mudam e tudo que começa acaba, mesmo que toda sua duração seja relativa. Mas, ao mesmo tempo, Melancolia ainda tenta lembrar a todos que nada é mais substancial, palpável, calmo e relaxante que a esperança, seja apenas um fio dela que faz Claire relaxar ao sol, ou o contrário, que permite que todos esperem que a passagem do planeta seja apenas um acontecimento inesquecível e belo. E não que a falta de caminho para seguir, já que todos levam ao mesmo lugar, mas a possibilidade de fazer com que cada momento tenha a possibilidade de ignorar esse peso e voar ao céu como os balões com palavras de celebração na noite do casamento de Justine. Justamente, não uma fuga, mas sim uma esperança. No fim de tudo, Von Trier (que mais do que nunca parece não fugir de seu próprio Dogma95 e não esconde a dependência diante de seus personagens, com essa câmera inquieta, tremendamente plástica, mas, instintivamente sempre à procura do que está por trás daquelas pessoas) não foge do ritmo lento, que faz mais ainda que Melancolia seja essa experiência pesada, já que a idéia principal é mostrar que diante do inevitável aquilo que se entende por tempo não liga em se estender, assim como faz com que o escuro do final do filme e o silêncio com que os créditos ganham vida seja reconfortante e um belo momento para todos tentarem entender o que acabaram de ver, já que Lars Von Trier mostra que não há jeito mais poético e belo de acabar com o mundo do que esse. _______________________________________

Melancholia (EUA, 2011), escrito e dirigido por Lars Von Trier, com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Keifer Sutherland, Charlotte Rampling, John Hurt, Alexander Skarsgard, Stellan Skarsgard e Udo Kier ________________________________________

domingo, 15 de janeiro de 2012

Gentileza

"O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta"

Gentileza - Marisa Monte

Loucura. Uma semana que prometia ser básica foi uma loucura. De verdade. Meu Deus, o que eu posso dizer, que o mundo é louco? As pessoas são todas loucas? Que só as músicas são boas? É. OK, as músicas são boas... Mas as pessoas são loucas. Não sei ao certo se acredito nessa tal possibilidade de inversão polar que abrirá portas e causará mudanças, mas vamos combinar que o mundo está precisando de uma varridinha. O que foi essa história horrorosa dessa mulher maligna que "adotava" bichinos para matá-los com uma injeção no coração e vendê-los para macumbas. De quase 300 animais apenas 8 sobreviveram ao massacre. Se isso não é loucura o que é? E o navio que feliz passeava pela Toscana qunado de repente fez um remake do Titanic. Parecer técnico: erro humano.  E o capitão nem se dignou a esperar o navio ser evacuado antes de sumir bonito para sua casinha. As pessoas enlouqueceram. A impressão que tenho a cada dia que passa é que o ser humano perdeu a humanidade em algum lugar entre seus SVU, Ipads e smartphones. Não é por acaso que precisam de um assistente de vida robótico com quem possam interagir. Steve Jobs sabia o que estava fazendo quando criou o Siri, em breve, temo que ele será a única interação entre pessoas. Parte de mim realmente deseja que em 21 de dezembro de 2012 a Terra trema e coloque para fora a parte podre dessa (des)humanidade como se fosse uma farpa no dedo. E juro que isso não me excluí. Boa semana a todos e por favor, mais gentileza, minha gente.

IMPORTANTE AOS MORADORES DE SÃO PAULO: Informações para prestar depoimento no caso Dalva. Para prestar depoimento as pessoas devem ir até a Delegacia do meio ambiente na Av. São João 1247. O delegado que assinou o BO foi o Dr. Ivair Martinho Graça e o número do BO é 16/2012. Basta se apresentar como uma das pessoas lesadas pela Dalva e dar seu depoimento. Não se calem. A hora de pedir mudanças e leis severas contra maus tratos aos animais é agora! mais informações no site da AUG

sábado, 14 de janeiro de 2012

Proteção

"Jorge sentou praça

na cavalaria

e eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia


Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Para que meus inimigos tenham pés

e não me alcancem

Para que meus inimigos tenham mãos

e não me toquem

Para que meus inimigos tenham olhos

e não me vejam

E nem mesmo em pensamento

eles possam ter para me fazeram mal

Armas de fogo

meu corpo não alcançarão

Facas e espadas se quebrem

sem o meu corpo tocar

Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar

pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Jorge é de Capadócia"



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Estou furiosa!!!!!! Xixi na conta foi pouco, prepare-se...

O sombra ou minha sombra não arreda o pé, onde eu vou ele vai. O tal gato é um porre. Minha paciência está se esgotando e parece que o tempo não passa. Não veio passar o Natal? Como estava por aqui passou o ano novo e o dia de reis. Desconfio que, ele pretende ficar até o carnaval. Tomara que vire tamborim! Tudo continua igual: é Fabrício pra cá, Fabrício pra lá. Isso é nome de gato? No começo eu cogitei até de dar bola para ele, mas o cara é um grude, não dá e eu sou muita areia para o caminhãozinho dele. Sou bonita, ele é feio. Sou charmosa, ele é desengonçado, sou simpática (será!) ele é chato, um carapato que agarrou em mim e não me larga. Ah, saudades dos bons tempos em que eu era o xodó da casa. Ninguém liga mais para mim, quase invisível... é assim que me sinto. Qualquer hora pisam no meu lindo rabinho, vou miar bem alto e não vão nem pedir desculpas, estão todos atrás do tal gato cinza. E a filha aleijada da minha dona foi e voltou e nada de desocupar o beco, digo o quarto.


Entrei sorrateiramente lá e fiz xixi na conta de telefone dela, e nem assim ela desconfiou que isso é um aviso: hora de ir embora. Ela tem um negócio quadradinho parecido com um notebook, que ela chama de meu Macintosh. Tem também um aparelho moderninho IPhone desenhado por um tal de Job, estão dizendo que vale ouro, pois o cara morreu. Se ela não for embora logo vou repetir a dose, só que agora nas tais maquinas... Acho que minha mãe vai me dar uma surra, coisa que nunca aconteceu antes. Mas, por que ela não leva o pestinha para a casa dele. Ouvi uma conversa que ela tem de organizar um festival e vai deixar a ferinha aqui. Disse: coitadinho, não quero que ele fique 24 horas por dia sozinho. E eu com isso? Ele não mora em baixo da ponte, mora num apartamento numa tal de vila cheia de bares e com um grupo de carnaval chamado Pérola Negra. Será que eles moram num “barracão no morro” e eu não sabia? Vila Madalena... Vai ver é perto de Jerusalém. Não falam que essa tal de Madalena era a mulher de Jesus. Credo, o negócio está ficando cada vez pior, como fui chegar aqui? E como eu sei disso tudo? Li o Dan Brown, enquanto eles estão distraídos com um tal de Millenium. Será alguma coisa relacionada com o fim do milênio? Não pode ser. O ano novo é 2012. Enlouqueci. Vou parar. Se eles lerem vão me colocar no hospício com a desculpa da Madalena e do millenium. Vou procurar toda a água que encontrar e me preparar para o ataque, me aguardem, estou furiosa!

Mimi Yoda, a gatinha que veio do espaço sideral.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cora Coralina

Rebeldes à contenção lírica ou a quaisquer outras constrições, os poemas de Cora Coralina são frequentemente lírico-narrativos e alguns de seus melhores poemas chegam a cobrir dez ou mais páginas.

Em “O Prato Azul-Pombinho”, descreve por onze páginas as preocupações da bisavó com um aparelho de 92 peças que acabaram quebrados, sumidos, talvez roubados e que traziam prebendas de um tal Confúcio e baladas de um vate chamado Hipeng.
Dos 92 pratos ficou um.

Era um prato original, muito grande, fora de tamanho, um tanto oval... prato de centro, de antigas mesas senhoriais de família numerosa. De fastos decasamento e dias de batizado.... prato de bom-bocado e de mães-bentas, de fios de ovos, de receita dobrada de grandes pudins, recendendo a cravo, nadando em calda.

Fui me deliciando por sua descrição dos desenhos, das miniaturas delicadas, do tom azul forte, do fundo claro, do meio-relevo, dos galhos de árvores e das flores, do templo com lanternas, do quiosque rendilhado, do braço de mar, do pagode e do palácio chinês, da ponte, do barco coberto de seda e dos pombinhos voando. Ninguém senão Cora Coralina conseguiria escrever onze páginas sobre um prato. Não balelas, uma descrição fina, retrato sociológico de um tempo, narradora de sentimentos, emoções, paixões, fatos. Pura maravilha! O prato que levou bolo para a vizinha, e voltou cheio de muito-obrigados... que era centro das mesas de aniversário acomodando empadas ou bem-casados, o prato guardado no armário sólido, alto e bem fechado, como num relicário.

Um dia, por azar,
sem se saber, sem se esperar,
artes do salta-caminho,
partes do capeta,
fora de seu lugar, apareceu quebrado,
feito em pedaços
o prato azu- pombinho
.......................
Um torvelinho...

Que alegria ocupar a cadeira Cora Coralina na Academia Bauruense de Letras!
Imagino-me sentada, a ouvir Cora contar dos goiases, dos corais e coralinas, exaltando a natureza e os seres humanos, vendo encanto em pequenos/ humildes objetos, Ode às Muletas, enamorada pela natureza como no Poema do Milho.

Pela didática de Mestra Silvina, Cora Coralina aprende e chega à publicação de seus poemas. Como a própria Cora diz: “Foi pela didática paciente da velha mestra que a menina boba da casa, obtusa, do banco das mais atrasadas se desencantou em Cora Coralina, mulher que soube ler a vida dando-lhe conotações próprias.

Grande abraço e até a semana que vem.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Por email


Fala ae galerinha, tudo bom?
Espero que sim...

antes de qualquer coisa, feliz 2012 para todos vocês. Que este ano seja de muita cultura e muitos (re)encontros para todos nós... Dito isso, vamos ao que interessa, pois, embora a capital paulista esteja um tanto quanto vazia (para alívio de quem precisa cruzar a cidade, seja de carro ou de ônibus, todos os dias), tem muita coisa bacana acontecendo.... para alívio daqueles que não estão em férias, curtindo dias de folga na praia...

no cinema, por exemplo, começou a temporada de filmes com grandes chances de concorrerem ao cobiçado prêmio do Oscar. Entre eles, o novo de Steven Spielberg, "Cavalo de Guerra" - em duas semanas, estreia outro longa do diretor de "Jurassic Park", o aguardado "As Aventuras de Tim Tim". Para quem não é muito chegado ao Oscar, há outras boas opções em cartaz, como "Uma Aventura Incrível", "Um Sonho de Amor", "Triângulo Amoroso" e "O Céu sobre os Ombros". Além disso, está rolando, no CCBB, uma mostra bem bacana com documentários sobre música. Há desde filmes sobre Simonal até sobre o movimento punk paulista. Vale dar uma conferida na programação, que pode ser acessada no site do CCBB (o melhor é que os ingressos custam apenas R$ 4, se não me engano).

no teatro, vale assistir às quatro montagens que a cia. Razões Inversas, responsável, por exemplo, pelas excelentes "Anatomia Frozen" e "Agreste" (quem as assistiu sabe do que estou falando), revisita em uma mostra no Espaço Parlapatões. Além das duas peças citadas, ela ainda apresenta "A Bilha Quebrada" e "A Ilusão Cômica". Imperdível... mesmo!

ainda estão em cartaz "17 x Nelson", dirigida por Nelson Baskerville (também responsável pela incrível "Luis Antonio - Gabriela", em cartaz na Funarte), "Eu Te Amo" (versão para o teatro do filme de Arnaldo Jabor - quase assisti à peça no Rio, onde fez uma temporada de sucesso), "O Beijo no Asfalto" (outro Nelson Rodrigues na área), "Cabaret" (musical com Claudia Raia), "O Belo Indiferente", "Os Credores" e "Cine Camaleão - A Boca do Lixo"... Vale ficar de olho nessas produções.

entre os shows, Paula Lima se apresenta no Sesc Belenzinho, na quinta; Tiê (ótima!), no Sesc Vila Mariana, na quinta e na sexta; e Pedro Luís (dos sempre animados Monobloco e Pedro Luís e a Parede) mostra o seu trabalho solo , no dia 15, no Sesc Vila Mariana. Desses shows, tentarei ir ao de Tiê e ao do Pedro Luís... que o horário no jornal permita! rs

no campo das artes plásticas, as exposições "Anticorpos", com objetos dos irmãos Campana, e "Ocupação Ballet Statium", com imagens da cia. de dança Stagium, encerram temporada neste mês no CCBB e no Itaú Cultural, respectivamente. Fora essas, vale dar uma passada nas mostras "Jac Leirner", na Estação Pinacoteca, e "Mira Schendel", no Instituto Moreira Salles.

e os destaques da semana passada foram os filmes "Românticos Anônimos" e "Adeus, Primeiro Amor". O segundo é dirigido pela premiada Mia Hansen-Love, que já tem um prêmio no festival de Cannes no currículo, e o primeiro por Jean-Pierre Aménis. Dica: assista a "Românticos Anônimos" com quem gosta... Já "Adeus, Primeiro Amor", procure ir sozinho ou sem seu parceiro(a).

é isso
até mais
se cuidem!

alan


P.S: espero encontrá-los por aí...

sábado, 7 de janeiro de 2012

A sala de vidro de Simon Mawer

Em nota o autor esclarece que embora A sala de vidro seja uma obra ficcional, a casa de vidro e o cenário são de verdade... Acho bom começar do começo. Ganhei da Rosa Gabrielli, minha amiga de longa data, um livro. Assim como Traduzindo Hannah trata-se da história de judeus e uma das personagens mais fortes no caso dos trabalhos chama-se Hana.
Embora o autor diga que é ficção, lamento dizer que a trama é parecida com a história de uma das famílias mais tradicionais da antiga Tchecoslováquia. Bem vou situar os leitores do blog, vocês não têm obrigação de conhecer nada sobre o país. Como meu avô era judeu austríaco, eu sei um pouco da história do império austro húngaro. Foi sobre essas ruínas que o tratado Saint Germain-en- Laye criou a Tchecoslováquia unindo dois povos de língua similar: checos e eslovacos. A capital... bem a capital é Praga. A ocupação nazista se dá nos anos de 1939-45 e a comunista entre 1948-89. A redemocratização do país promove diálogos e, em 1993, um novo acordo entre as partes faz uma volta ao passado: checos de um lado e eslovacos de outro, ou seja, dois países. O texto relata fatos acontecidos na Moravia, uma região que continua pertencendo à atual República Tcheca.
Isso é história! Pois é. O livro relata a saga de uma família judaica ou nos termos nazistas, mestiça, logo após a primeira grande guerra, embora em momento algum o autor faça referencia as datas. Trata-se da vida do casal Liesel e Viktor Landauer. Descreve o casamento e a lua de mel em Veneza, onde eles conhecem um arquiteto Rainer Von Abt. Qualquer semelhança com o checo Jan KotEra não me parece mera coincidência. Viktor e Liesel ganharam um terreno de presente e pretendem construir uma casa moderna, afinal vivem no século XX. Landauer é um rico empresário judeu que estimula a inovação e o progresso. Como engenheiro projeta os carros de sua fábrica e junto com sua jovem esposa e o arquiteto arrojado planeja o projeto de uma casa modernista. Pronta ela se torna a Das Landauer Haus e possui uma sala de vidro, onde brilha uma parede de ônix. A casa é palco de recitais e encontros culturais passando a referencia na cidade. Qual cidade? Simon não diz. Eu suponho que se ele falou a verdade: cenário e casa não são ficção, então ela deve ter sido construída em Zlin, uma das mais modernas cidades do mundo distando pouco de Praga. Ela também não está longe da fronteira com a Polônia, primeiro lugar a ser invadido por Hitler.
Simon Mawer mostra a que veio logo nas primeiras páginas. O livro é ótimo. Na página 38 a conversa gira em torno da arte de vanguarda, Mondrian, De Stijl e Klimt. É Liesel quem anuncia que tem um retrato de sua mãe feito pelo pintor. “Se a filha servir de parâmetro, deve ser uma mulher muito bonita” afirma Von Abt e imediatamente critica o movimento Secessão e Viena por suas construções antiquadas dizendo que quer tirar o homem das cavernas para fazê-lo flutuar no ar. “Quero lhe dar um espaço de vidro onde habitar.” E o casal embarca nos seus sonhos: uma casa com estrutura sólida, porém leve, para um terreno que declinava de maneira suave e depois cada vez mais íngreme até um bosque. Na parte mais plana um jardim cujo centro seria um vidoeiro.
A vida de Viktor é semelhante a do empresário Tomás Bata. Viktor vendeu a fábrica de carros para seu sogro e abandonou o país quando a guerra começou. Bata deixou sua empresa como herança para seu irmão Jan Antonin. Porém durante os dez anos que foi prefeito de Zlin transformou a cidade numa utopia urbana. Tudo moderno, das fábricas, aos edifícios públicos, modelos para as construções privadas. O material? Tijolos vermelhos, vidros e concreto. A proposta era de Ebenezer Howard: a ideia era ter uma cidade jardim. A influência veio de Le Corbusier. Mas, afinal quem foi Thomas Bata? Ele construiu uma fábrica de calçados em Zlin e dez anos depois ganhou o mundo. Conheço um monte de gente que compra as botas pensando que são francesas! Viktor foi com a família para a Suiça e de lá para os Estados Unidos, onde montou uma fábrica de barcos. O livro começa e termina com a visita da senhora Elizabeth Landor, naturalizada americana e antiga proprietária da casa, que primeiro, foi tomada pelos alemães, depois pelos soviéticos e finalmente pelo governo da Tchecoslováquia. Assim também aconteceu com a vila de Thomas Bata concluída em 1911, e desenhada por Jan KotEra. Ela foi confiscada em 1945 e retomada por Thomas J. Bata, filho do fundador da empresa abrigando hoje a sede da Fundação Thomas Bata. Vida e arte entrelaçadas! Só os nomes foram mudados... Uma história e tanto premiada no Man Booker Prize por sua beleza e simetria, disse The Guardian de maneira metafórica... Seria uma ironia ou um elogio?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012



Eu falo com ele finjo que não sofro, finjo que seus conselhos adiantaram. Finjo que consigo. Finjo! E tudo dele me parece tão honesto. Até suas mentiras.
Finjo que ele está sendo um grande amigo, que se preocupa comigo, eu com ele e temos assuntos incomuns. Assim nos falamos e beijos, amor, querido ca, te ligo daqui a pouco. Liga pra me contar que ta feliz. Liga pra me dizer que está cansado. Quando me sinto morta de só, ligo pra ele e me sinto acompanhada.
Quando quase estávamos juntos, ele dizia que eu o completava e eu dizia o mesmo. Depois paramos de dizer essas frases com medo de que elas fossem comprometedoras. Sem falar, falando. Beijando de um jeito maluco. Transando até gastar a pele. Sempre que resistíamos, um perto do outro e tudo acontecia de novo, alucinadamente com a mesma intensidade.
Uma vez brigamos num estacionamento. No final da briga, ele me beijou o pescoço e a briga acabou.
Uma vez, na garagem do prédio, ele se ofendeu porque eu tive ciúme dele. Queria ir embora. Eu encostei meu peito no dele, ele ficou.
Gozamos muito.
Aí acabou.

Camilla Tebet

Ps. Pessoas queridas, desculpa a invasão num dia que nao é meu. NEm sei se vc ainda guardam meu dia. Enfim, me deu uma vontade louca de escrever pra cá.
Um beijo colorido a todos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sete dicas preciosas

Sete dicas preciosas para um 2012 de muita paz

Primeira dica: Decida que a paz interior é o que é mais importante para sua vida. Afirme pra você mesmo: "Me sentir em paz é o que mais importa pra mim, eu escolho a paz interior". Repita essa frase muitas e muitas vezes até que essa idéia se torne parte do seu ser, se refletindo nos seus pensamentos e ações.
Se a paz interior é o mais importante para a sua vida, você irá escolher viver o agora, pois viver no futuro e ficar em paz é incompatível. Sim, você poderá fazer o planejamento para atingir um objetivo. Poderá pensar no futuro para concretizar algo, mas assim que terminar de planejar, você voltará ao presente. Gradualmente você viverá a ordem natural das coisas: viver o agora a maior parte do tempo e fazer breves visitas ao futuro por meio dos seus pensamentos.

Segunda dica: A segunda dica para ficar em paz é aceitar cada momento que surge do jeito que ele é. Indubitavelmente muitos momentos se apresentarão de uma forma que você não deseja. Observe a sua reação. Você sente a contrariedade tomar conta de você? Lembre-se novamente da afirmação: "Me sentir em paz é o que mais importa, eu escolho a paz interior". Você pode ainda completar: "Eu escolho a aceitação". Aceite o agora como ele se apresenta.
Favor não confundir aceitação com conformismo, inoperância ou falta de atitude. Se é possível fazer algo para mudar a situação para melhor, faça. Mas escolha se sentir em paz primeiro e depois aja. Agindo dessa forma suas ações serão muito mais eficazes. Não condicione o seu bem estar a resolução da situação. E caso não seja mesmo possível fazer nada para mudar, apenas aceite total e incondicionalmente e fique em paz. Aceitar significa não criar uma resistência interior aquilo que já é. Brigar com aquilo que já é, é insanidade, coisa do ego.
A mente egóica irá tentar convencê-lo a brigar mentalmente com a situação tirando a sua tranquilidade. Fique atento, observe, e não dê energia a esses pensamentos. A repetição das afirmações de paz irá ajudá-lo a manter-se firme no seu propósito.

Terceira dica: Tenha muita paciência com você mesmo. Viver no agora e praticar a aceitação exige treino. A mente vem sendo condicionada há muitas gerações a funcionar de determinada maneira. O impulso da não aceitação e de viver no futuro será forte no início. Mas, gradativamente, com persistência e paciência o padrão vai mudando. Vale a pena insistir.

Quarta dica: Pare de reclamar de qualquer coisa que seja: governo, marido, filhos, fila do banco, engarrafamento, impostos, funcionários, de você mesmo, dos homens, das mulheres, do seu corpo... A reclamação é a manifestação mais clara da não aceitação. Qual é a sensação interior que surge quando começamos a reclamar? É algo agradável? Traz paz interior? Claro que não. Do ponto de vista prático, reclamar não muda em nada a situação e nos faz sentir mal.
Um esclarecimento. Parar de reclamar não significa ficar cego ou deixar de reconhecer o mal funcionamento de alguma coisa e as atitudes negativas de alguém. Continuamos vendo tudo, mas sem gerarmos a negatividade no nosso interior que apenas nos prejudica. Podemos ainda tomar atitudes caso esteja a nosso alcance. Mas primeiro lembre-se que ficar em paz é seu maior objetivo, e depois aja.

Quinta dica: Afasta-se cada vez mais do noticiário da televisão, jornais, revista e internet. Muita ansiedade, pessimismo, medo e outros sentimentos são causados ou alimentados pela pesada carga de negatividade que as pessoas absorvem diariamente. As pessoas e a sua própria mente tentarão convencê-lo de que é preciso estar informado para não ficar "alienado". Mas o que observamos é que cada vez mais as pessoas ficam alienadas por consumirem informação demais. Se tornam negativas e cheias de crenças limitantes, mas pensam que são pessoas realistas e bem informadas.

Sexta dica: Busque auto conhecimento e ferramentas que podem ajudá-lo. Existem inúmeras técnicas e tratamentos: Pratique EFT (manual gratuito no meu site), pratique Ho'oponopono (técnica de cura havaiana, manual gratuito no site www.hooponopono.ws ), use florais, receba Reiki, pratique meditação, receba massagem, pratique alguma forma de arte (dançar, pintar, cantar...), invista em cursos de auto conhecimento, invista em trabalhos terapêuticos, e etc...

Sétima dica: Observe a sua mente tentando tirar a sua paz interior. É apenas um velho condicionamento. De repente você se pega relembrando de uma situação do passado e dizendo "eu deveria ter feito isso e aquilo", "foi muito desrespeito de fulano", "quem ele pensa que é". As vezes surgem lembranças de situações desagradáveis do passado e as alimentamos de forma automática com comentários e pensamentos. E outras vezes surgem discussões mentais que nem houveram. Imaginamos o que deveríamos ter dito e também coisas que e o outro nem disse, mas que supomos que ele deve ter pensado. É muita viagem mental. Mais uma vez, ao se dar conta desses pensamentos, tenha muita paciência com você mesmo. Aceite-os e procure não dar mais energia pra eles. As frases de paz interior o ajudarão novamente a manter o foco.

Pratique o perdão. A EFT pode ajudar muito.
Fonte: André Lima – EFT (http://www.eftbr.com.br/curso-online)

domingo, 1 de janeiro de 2012

2012

É mais um ano que se passa e só posso dizer que 2011 foi um ano cheio de trabalho, com muito aprendizado e onde tive a oportunidade de conviver com pessoas incríveis... e outras nem tanto! 

Foi um ano de mudanças também, mudanças que me propus e que darão frutos em 2012

ao ano bebê que chega hoje já cheio de promessas (e de expectativas)... bem vindo


aos amigos queridos, muita luz, felicidade e garra para conquistar mais e mais felicidade


aos não amigos, toda sorte do mundo, pois o mundo ervilha é redondo e querendo ou não, uma vez dada a largada, sempre voltamos a reencontrar pessoas...


ao mundo, muita luz porque o resto, a gente P R O D U Z !!!