sábado, 10 de março de 2012

É ISSO AÍ, COMO A GENTE ACHOU QUE IA SER...


Os versos são de quem? Ouvi o seo Jorge cantando e pensei que isso é exatamente o que está acontecendo comigo. Alguém além de mim ouve o antigo moço do Farofa Carioca? Não com certeza somente Rosa Bertoldi vai dele até Bob Dylan, Lennon ou Caetano sem se preocupar muito, apenas curtindo!  
“Outro tempo começou pra mim agora /Vou deixar a rua me levar/ Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar e eu vou lembrar você/ É... mas tenho ainda muitas coisas pra arrumar e promessas que fiz e ainda nem cumpri / Palavras que aguardam o tempo exato pra falar.”
Sou famosa por expressar meus pensamentos em voz alta, em bom som, para não dar margem à dupla conotação e não vou mudar agora. Porém, arquivei uma série de informações e de respostas para o tempo certo. Como diz uma amiga: as pessoas se esquecem que o mundo é redondo. Outros costumam falar: tudo que vai volta. É assim mesmo, tudo que vai volta. Para mim esse retorno está acontecendo em dobro nesse momento. Para cada boa ação, a reação chega devagar e sempre trazendo boas novas. Impressionante!
Como muito bem afirmou Lipovetsky: a humanidade está desbussolada, perdeu o rumo, está desorientada. Eu respondo que cada época tem de ser pensada pelas características do seu laço social. Retorno a Esparta, Atenas, Roma e vejo essa tal de pós-modernidade e suas regras e normas tão esgarçadas que chego a acreditar nas profecias maias: estamos vivendo o fim do mundo. Desse mundo, é claro. Felizes por não estarem mais constrangidos a nenhum padrão de comportamento? Sei... A maioria pensa que é um deus romano como Janus, o de duas caras! Atores fingindo o tempo todo. Só sei que a liberdade de escolha predominante transformou o ser humano em um angustiado. Mesmo assim, tenho amigos otimistas, embora isso seja considerado como defeito. Tenho dez dedos na mão e ali cabem os dez amigos sinceros que possuo. São minha bússola, portanto desbussolada não sou, viu seu Lipovetsky! Recebo carinho, atenção deles como um bálsamo curando feridas provocadas pelos desprovidos de sinceridade, os janus da vida. Costumo dizer que fechei para balanço, quando na verdade estou evitando os falsos brilhantes. E não vai demorar muito vou poder pronunciar as palavras que esperam pelo tempo exato de falar...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher

O senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou lhe dar uma auxiliar que lhe seja semelhante” (.....) Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher... (Gn 2, 18 e 23).
E todo homem passou a procurar uma mulher, o osso de seus ossos.
A mulher escolhida era atacada, derrubada com uma cacetada e arrastada para seu “lar”. Submetida sexualmente procriava, arrumava, e cuidava da cria enquanto manipulava a caça (também escolhida, derrubada com uma cacetada e arrastada até o “lar” do caçador para que a mulher dele tomasse providências).
O tempo passou, a mulher refletiu sobre sua situação e a história mudou.
A fêmea escolhida, conforme a classe social, passou a receber um anel e era arrastada para seu “lar”. Entregava-se sexualmente, procriava, arrumava a casa e cuidava dos rebentos enquanto manipulava os alimentos – comprados com o dinheiro do homem e este exigia que ela administrasse bem o “castelo” dele.
O tempo passou, a mulher refletiu sobre sua situação e a história mudou.
Para falar a verdade o homem inventou máquinas, motores, produção, livre mercado, e descobriu que havia pouca mão de obra, e muita produção, e era necessário ampliar o mercado consumidor, e era premente aumentar a mão de obra na indústria... então “permitiu” que a mulher saísse de casa e fosse trabalhar fora, autorizou que ela recebesse um salário, aceitou que ela passasse a fazer parte do mercado consumidor... desde que cuidasse dos filhos e mantivesse o lar funcionando, providenciasse boa comida, a roupa estivesse limpa e organizada e que ela o recebesse em seus braços quando ele chegasse em casa.
O tempo passou, a mulher refletiu sobre sua situação e a história mudou.
A mulher percebeu que podia estudar e ganhar mais, que poderia pagar para alguém cuidar de seus filhos e de seu lar, que não era obrigada a fazer sexo com seu marido e até que poderia ter filhos sem ter marido, então os homens decidiram que era hora de permitir à mulher viver sozinha. Ela votava, trabalhava, viajava, competia...
O tempo passou, a mulher refletiu sobre a situação... e os homens começaram a largar a família. As mulheres tinham seus direitos e começaram a exigir respeito, mas seus filhos não as conheciam mais, pouco se encontravam... e os filhos desistiram de suas mães. Então esses filhos começaram a fazer coisas para chamar a atenção, queriam dizer: Mãe, preciso de você! Mas, em vez disso, faziam coisas erradas, desrespeitavam os adultos, agrediam bens públicos, buscavam alegria em lugares diferentes, com produtos diferentes, e chegamos aos dias atuais.
Palavras catastróficas? Não, apenas um painel aproximado do que pode ter acontecido.
Sem dúvida a luta pela emancipação feminina deu às mulheres direitos que não possuía: respeito e valorização, mas os deveres não diminuíram por serem essenciais! O que fazer? Esses deveres precisavam, paulatinamente, ser diluídos, ser assumidos pela outra parte da sociedade, o elemento masculino. O que se observa hoje é que alguns homens assumiram novos papeis com as responsabilidades inerentes a eles, outros não. Há muitas cobranças sendo feitas sobre essa nova marcação no palco da vida, há espaços abertos, falas esquecidas... Estamos numa nova estrutura social, a sociedade do descartável. Coisas muito sérias, como maternidade e paternidade, são vistas como descartáveis. O matrimônio é descartável... Se não der certo eu caso outra vez... se não for bom eu deixo... filhos são abandonados, abandonam-se os pais, abandona-se a fé, muda-se de religião, e assim muitos sentem-se modernos, inseridos nos novos padrões.
Mulheres queridas, parabéns pelos direitos conquistados, pela maravilha que é a maternidade, pelo sucesso profissional, pela fibra com que encaram desafios, pela quebra de paradigmas... mas a luta continua, não podemos nos deixar levar pela mídia, pela moda e pelos modos, é preciso encontrar o ponto de equilíbrio.
Que tenhamos força para continuar na luta, na conquista, na reivindicação e tenhamos também aliados, nossos homens para complementarem nossas funções.

domingo, 4 de março de 2012

Detox

A última vez que estive na California comprei um livro chamado Clean que estava entre os mais vendidos em todas as listas de todos os jornais. Li. Trata-se de uma proposta de desintoxicação física através de uma diciplina específica de dieta, meditação e exercícios.
O autor, além do livro, coloca a dieta e planos personificados na internet a venda por preços razoáveis e abriu um spa detox no deserto. Mas calma que já chego onde eu quero.
Não fiz a dieta (até porque o livro dá ideias mas não uma dieta específica - esta deve ser adquirida pelo site porque afinal, o moço tem contas a pagar), não fui ao spa no deserto (embora adoraria passar uma semana num spa no deserto) e bem, quanto aos exercícios...
O livro trata da desintoxicação do corpo para que este funcione perfeitamente, ou o mais perto disso possível, e embora eu tenha entrado num processo de detox com uma nutricionista (não como mais gluten nem laticínios e em breve pretendo abolir carnes da vida), o verdadeiro processo de detox que estou me propondo neste momento é outro.
Se quatro dias de abuso de álcool, açucares e porcarias em geral fazem o corpo produzir toxinas suficientes para matar um hamster, quantas palavras precisam ser ditas para o mesmo bichinho cair duro?
Qual o toxicidade real das palavras? Alguém já propos uma dieta e spa?
Lembrei que em Comer, rezar e amar, quando a protagonista vai para a Índia um de seus desafios é ficar calada e pensei que talvez um detox de palavras fosse o que eu realmente esteja precisando e de agora em diante faço como os aquarianos e só comento o essencial.

PS:
E por falar em fechar a boca, meus caros colegas blogueiros, considem aqui encerradas minhas atividades de crítica de coisa nenhuma e palpiteira da vida alheia. Desejo a vocês queridos o melhor, sempre.



sábado, 3 de março de 2012

EU VI DE NOVO: MARIA ANTONIETA

Ontem tentando esquecer as reações de uma dose única de homeopatia que me deixou um caco, acabei por rever o filme de Sofia Coppola vaiado no Festival de Cannes. A história não era bem assim, alegaram. A história... nunca é bem assim, mesmo.
Visitei Paris com minha filha e ela voltou encantada com as vitrines das confeitarias. Do bolinho ao bolão... tudo cor de rosa. Sofia transpôs para a tela uma metáfora, a mania francesa pelo doce cor de rosa. Uma alegoria sobre a França e sobre Maria Antonieta Josefa Joana de Habsburgo-Lorena, arquiduquesa da Áustria e rainha da França entre os anos de 1774-89. Foi deposta, e guilhotinada quatro anos depois. A diretora conta corretamente a vida de Versailles intra-muros, mas não mostrou como Antonieta tinha poder de decisão nas questões políticas e sobre o rei Luis XVI. Afinal, a filha da imperatriz da Áustria tinha sido educada para ser rainha. A futilidade da aristocracia local não foi imposta por ela. Aconteceu o contrário: uma moça austera “caindo na real” devido às circunstâncias, e ao modo de vida da corte onde vivia. Sofia se propôs falar de Antonieta e isso ela fez. E para transformar tudo em rosa, nem precisou andar muito, bastou dar uma volta pelos jardins do palácio para chegar a uma das mais famosas confeitarias da França e lá estavam os doces e bolos, tudo cor de rosa!!!!! Achei a idéia formidável, como ninguém havia pensado nisso antes? Tudo tão antigo e ao mesmo tempo tão atual como o tênis All Star, daí o conteúdo do filme ser a superficialidade das sociedades francesa do século XVIII e da pós-moderna.
O que estava acontecendo fora dos muros?
A burguesia ascendente estava ávida pelo poder. Num primeiro momento eles se contentaram em unir-se com a aristocracia através de casamentos. Isso acabou se tornando pouco para eles. Aspiravam ao governo. As monarquias absolutistas estavam com a corda no pescoço. A França detinha metade do dinheiro europeu. Tratava-se de um Estado pobre (o reinado de Luis XVI) dentro de um país rico. Existia uma burguesia endinheirada e uma indústria reclamando de falta de mão de obra qualificada, então, por que os camponeses e o povo das cidades estavam passando fome? Por que em vez de enviar dinheiro para os americanos fazerem sua revolução, não tiveram a ideia de distribuir pão aos franceses, em vez de brioche? Por que a rainha não se defendeu das tolas acusações? Nesse contexto aconteceu uma revolução alterando o quadro político e social do mundo. Na França era o princípio de uma época de convulsões resultando em república, ditadura, monarquia e dois impérios. Os motins culminaram com a tomada da Bastilha, onde estavam sete presos, um deles o marquês de Sade.
Em relação à Antonieta havia a antipatia dos franceses pelos austríacos, embora a família Habsburgo seja uma das mais tradicionais e ricas da Europa. Ao mesmo tempo, o príncipe e cardeal de Rohan, capelão real e prior da Sorbonne estava apaixonado pela rainha. Sua mãe Maria Teresa denunciara Rohan por sua vida dissoluta e gastos. Ele perdera o cargo de embaixador da Áustria. Dizem que era vaidoso e imbecil. Acreditava ser correspondido pela rainha, em sua paixão. Aproveitando-se disso, o casal Jeanne de Valois e Caglioto, convenceu-o a comprar um colar avaliado em milhões para Antonieta. Os aventureiros foram ajudados na trama por uma prostituta parecida com a rainha. O grupo pedia dinheiro emprestado de Rohan dizendo ser para ela pagar a tal jóia. Quando o escândalo veio à tona o rei mandou prender umas quinze pessoas, colocando o Parlamento para julgar o caso. Antonieta era inocente, mas as injurias e intrigas fervilhavam contra ela. Rohan pertencia a um clã influente e os inimigos de Antonieta se aproveitaram para humilhá-la na corte. A Sorbonne, pasmem, posicionou-se a favor dele, que acabou sendo inocentado. Havia ainda a questão do adultério. Quem era Hans Axel Fersen?
Filho de um senador sueco, aos 15 anos foi enviado a uma universidade alemã para aprender ciência militar, depois permaneceu na Itália onde estudou medicina e música. Aos 18 anos, chegou a Paris. De porte musculoso e aspecto viril, tinha um rosto regular complementado por olhos azuis e boca sensual. Possuía coração de fogo por baixo da aparência de gelo, diziam os freqüentadores da sociedade e da corte parisienses.
Em um baile à fantasia conheceu uma jovem de elegância excepcional com quem teve uma conversa galante. De repente, damas e cavalheiros fizeram um circulo em volta deles, com a intenção de protegê-la. A desconhecida tirou a máscara e para sua surpresa estava frente a frente com a delfina. Antonieta havia fugido do palácio para ir à festa e escolhera o jovem para uma brincadeira. Desde esse encontro uniu-os uma terna simpatia. Quando ela subiu ao trono, Fersen voltou à Suécia retornando quatro anos depois, sendo recebido pela rainha de maneira carinhosa. Ambos estavam com 22 anos. Como ela era casada desde os 15 anos e continuava virgem, corriam boatos de que Luís XVI era impotente. Não demorou e a amizade transformou-se em maledicência.
O jovem partiu para evitar danos à rainha. Após esse exílio voluntário voltou a Versailles para ficar. Antonieta e Axel se amavam e decidiram viver essa paixão. Mesmo assim, fizeram de tudo para conservar escondida do mundo essa afeição. Além de seus amigos íntimos, três testemunhas tinham conhecimento da situação: Talleyrand, a eminência parda do governo; Saint-Priest, um ministro do delfim e Bonaparte. Recentemente encontrou-se uma carta de Antonieta para Axel. Nela pode-se ler “adeus, a ti o mais amante e o mais amado dos homens...” Uma única linha ressuscitada atestando o sentimento de ambos, pois a história confirma: Fersen permaneceu ao lado dela durante sua prisão até ser decapitada. Viva a república, a igualdade, a liberdade e a fraternidade! Pena o lema não ter sido posto em prática e a tal da república durado tão pouco... Após seis anos a França tornou-se de novo uma monarquia, agora com Napoleão, tendo ao lado Josefina, uma mulher que vai fomentar muitas intrigas na corte mais sofisticada da época.
No Congresso de Rastatt, Fersen representando a Suécia, é vetado pelo imperador. “Não quero tratar com ele”. Em tom de desafio Bonaparte completou: “dormiu com a rainha.” Qual foi à atitude dele? Calou-se. O silêncio era mais eloqüente que qualquer palavra. Maria Antonieta não precisava de um defensor. Uma mulher é mais digna de admiração quando íntegra e livre obedece aos seus sentimentos e uma rainha é mais soberana ao agir com humana sinceridade.