terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Pílulas 5

Então, vamos lá...

É o amor
Escrevo esta mensagem infinitamente emocionado com a qualidade da série "Do Amor", exibida pelo canal Multishow (mas que eu tenho assistido pelo mundo maravilhoso - e algumas vezes preguiçoso - da internet). Idealizado pela atriz (talentosa e linda) Maria Flor, o programa tem como protagonista a artista Lulu, interpretada por Maria Flor, que vive intensas e emocionantes histórias de amor. Se, na primeira temporada, vemos como começa e se desenvolve o relacionamento dela com o professor universitário Pio; na segunda, em ótimos diálogos (de cortarem o coração), observamos como se desenrola o romance dela com o também artista bonitão, barbudo-estilo-los-hermanos Brás. Em torno de Lulu, outros personagens carismáticos, como Eva (liberdade!), Lena (descobrimento), Tomás (cadê o amadurecimento?) e Lucas (e agora?)... Eu acabei de assistir ao décimo episódio da segunda temporada (e agora terei de esperar uma semana para ver o próximo!!!)... Chorei! E quero salvar uma árvore, subir em uma árvore e descobrir se elas têm realmente alma... hahahahaha... Papo maluco? Assista ao episódio e depois fale comigo...

Não choro
E, assistindo à série "Do Amor", descobri a música "Mal Secreto", gravada por Gal Costa no clássico disco "Fa-Tal", que tem a incrível "Como 2 e 2". E a letra dessa canção fala tanto de mim... Incrível o poder da arte de nos descrever, não é mesmo? "Não fico parado, não fico calado, não fico quieto/Corro, choro, converso".

Mergulho
Respeito o mar. Não vou até o fundo. Não me aventuro muito quando eu e eles somos quase um só corpo. Não fico muito tempo submerso. Mas gosto de sentir que consigo ficar alguns segundos mergulhado. Literalmente! Gosto do cheiro do sal na minha pele. Gosto de sentir que estou me bronzeando. Gosto da mistura do sal com a areia. Gosto de sentar na areia e observar a praia. Gosto de sentar na areia e observar a pluralidade de corpos, cores, copos... na praia. Na praia. Gosto de observar o sol indo embora. Gosto. Praia. E, se puder, leia o livro "Na Praia", de Ian McEwan.

Samba
Sambar na cara da sociedade. Cantar em alto volume a canção que foi escrita para o Roberto. Aquela que Jorge Ben Jor escreveu. A do síndico. Caetanear. Djavanear. Gil. Sambar Beth Carvalho. Ficar levemente bêbado. Calor. Cerveja gelada. Bud ou Skol. Arcos da Lapa. Um circo no meio de tanto concreto. E, agora, estamos a dois meses do Carnaval!

Maluco, beleza?
"Eu vou ficar, ahhhhhhhhhhhhhh, ficar com certeza maluco beleza". De repente, alguns corpos são erguidos... no meio da pista. A gente fica sem entender nada. Olha para o rosto de alguns amigos para tentar entender se aquilo realmente está acontecendo. Uma pessoa quase nua no meio da pista. Literalmente. Aquilo realmente está acontecendo? Está!!! Pista!!! Dança! Dança! E está tudo incrível! Mas tudo isso está acontecendo mesmo?

Fim de 2013
Último fim de semana do ano de 2013? Foi incrível ter vivido em você. Ter estado em você. 

Início de 2014
Até daqui a pouco. 


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Imagina na Copa

Dado o adiantado do ano nada mais justo do que fazer uma retrospectiva...
2013 foi o ano do "Imagina na Copa", do funk ostentação, ano em que o axé de Daniela Mercury saiu do armário e casou com uma moça, o Papa pediu demissão e contrataram um novo e argentino, o Rock in Rio trouxe o  Springsteen e o Lollapaloozaa, o Cake.
E o show do Cake foi ruim e a culpa nem foi da banda. No Jokey, o Lolla comprovou de baixo de muita chuva e com muitaaaaaa lama sua vocação e a banda The Killers a sua para micareta. 
O Uruguai regularizou a venda da maconha e o Eike ficou pobre (em proporções eikenianas, obviamente).
O Brasil foi tomado por manifestações e por alguns dias, os políticos tiveram medo do povo e eu tive orgulho.
Nas ruas do Centro de São Paulo, a venda de vinagre foi proibida!
Aí logo logo o povo relaxou e desencanou de manifestação uma vez que a FIFA deu início a pré-venda dos ingressos para os jogos.
A defesa a causa animal foi parar na delegacia e nos jornais com o Caso Royal e uma brasileira foi presa na Rússia com o Greenpeace. É o povo do bem na luta na tentativa de construir um mundo mais bacana.
Mas nada disso foi tão notícia quanto o Rei do Camarote e o The Voice Brasil.
Morreram  Cory Monteith, Chorão, Champignon,  Fauzi Arap, Nelson Mandela... 
Enquanto a África se despedia emocionada de Madiba um trolha se passou por intérprete de libras e o Obama ficou tirando "selfie" com uma loira. Vergonha alheia em rede internacional.
A todos os queridos amigos, que 2014 seja ao menos um pouquinho menos piada que 2013 e que ao final do ano que vem possamos nos orgulhar de fatos que não incluam uma bola colorida ou os peitos da irmã de um jogador celebridade.

Melhor filme: Gravidade
Melhor filme bobo: Mato sem cachorro (comédia romântica nacional bem feita) 
Melhor espetáculo de teatro: Dentro é lugar longe, da Trupe Sinhá Zózima e Cantata para um Bastidor de Utopias, da Cia. do Tijolo 
Músicas: Nada em vão do Rodrigo Amarante e Sacrilege do Yeah Yeah Yeahs 
Bom momento: Lollapaloozaa no Jockey (com Alan de Faria)
Estrela do ano: Danilo Gentili
Mico do ano: Obana e a loira durante o funeral do Mandela
Momento surreal: Fugir da polícia após manifestação após minha festa de aniversário (com Alan de Faria)
Melhor meio de comunicação: What´s app
Melhor programa da televisão: Scandal
Temas recorrentes: trabalho trabalho trabalho

domingo, 29 de dezembro de 2013

Ano Novo

Em grande parte do mundo o ano novo se consolidou há uns 500 anos. Desde o Egito Antigo de 3.750 a.C. quando Orion/Sirius alinhava-se com a estrela Canopus ao centro da Via Láctea, exatamente à zero-hora sobre as pirâmides de Gizé, passando pelo calendário babilônico de 2.800 a.C. chegando ao gregoriano, o reveillon mudou de data diversas vezes. A celebração na Mesopotâmia começava na lua nova do equinócio da primavera. Atualmente isso seria em 19 de março. Nessa data os espiritualistas comemoram o ano novo esotérico. Desde meados de dezembro com o tumulto das festas venho pensando no assunto. E para cada Feliz Ano que eu desejei, pensava: mas, qual? O gregoriano é claro!  Esse calendário é uma herança do império romano. De Numa Pompilius até Julio César reinava uma confusão só, pois os anos não eram contados e sim nomeados em homenagem aos cônsules. Enquanto, os assírios e persas festejavam essa passagem no dia 23 de setembro e os gregos em 21 de dezembro para os romanos o ano principiava em 1º de março. Com o calendário de Júlio César passou a ser celebrado em 1º de janeiro, dia dedicado a Jano, deus dos portões. A reforma do papa Gregório III, em 1582, consolidou a data. Então está tudo certo. Será? Alguns povos ainda comemoram em datas diferentes. Na China, a festa acontece em fins de janeiro e início de fevereiro. No Japão e na Índia apesar das diferenças de calendários o apelo comercial está alterando muitas solenidades tradicionais e o ano novo está sendo festejado junto com o Ocidente. A comunidade judaica tem um calendário próprio, assim como os islâmicos.
Recentemente comemorei com minha filha o Rosh Hashaná. Considerado como o ano novo, começa no primeiro dia do sétimo mês do calendário judaico: Tishrei (set/out). Ele é oficial em Israel e vale para os judeus em todo o mundo sendo contado a partir do sexto dia da criação, quando Adão e Eva surgem no paraíso, portanto este é o ano 5772/5773. Está baseado no sol e na lua, enquanto o gregoriano tem como suporte o sol e o islâmico à lua. Em vez de feliz ano novo, a saudação é “que você seja inscrito e selado no Livro da Vida”. O período do grande feriado torna-se a escolha entre a virtude e o pecado e aqueles que se arrependem estão no caminho certo para serem inscritos no Livro da Vida, daí a saudação trazendo consigo a promessa de um ano bom. Na tradição judaica o livro é fechado no Yom Kipur. Os dez dias entre as duas datas são conhecidos como os dias de temor. O Rosh Hashaná é também de lembrança, rememorando a história de Isaac.
No islamismo o ano novo é celebrado na metade do mês de maio. A contagem corresponde a Hégira, em árabe, emigração, cujo ano zero é 622, data em que o profeta Maomé deixou a cidade de Meca estabelecendo-se em Medina.
Isso sem falar no calendário republicano francês de 1772. O ano teve início em 22 de novembro, data em que foi instaurada a República principiando a meia-noite no equinócio de outono. A eliminação das festas religiosas, dos nomes dos santos e do domingo indispôs a população contra ele. Teve curta duração e em 1806 o gregoriano voltou a vigorar. O reveillon que em francês significa despertar voltou ao 1º de janeiro. Então... Feliz Año Nuevo! Heureuse Nouvelle Année! Buon Anno! Happy New Year! Shaná Tová! Feliz Ano Novo! São os meus votos sinceros aos leitores do blog.

sábado, 28 de dezembro de 2013


"Sou louco por você"
Com o bilhete em mãos joguei as rosas fora e fui tomar café da manhã.  Sentei à mesa de fórmica branca velha e tomei duas xícaras de café. A fome ficou no ontem.

"Sou louco por você"

Fui pro quarto me vestir, para ir não sei onde, nem porque. Pus roupa branca, sou sempre da paz. Tive medo do espelho, que vive me dizendo que mudei.

"Sou louco por você".

Pensei em sair de carro, mas não tinha sol. Saí à pé atrás das árvores que se acabam no trânsito. Ultimamente não sei muito onde ir. Não estou certa  que vidas quero conhecer. Mas os muros coloridos me animam. A euforia me faz vomitar de excitação.

"Sou louco por você"

Entrei numa loja e comprei um livro budista. Preciso entender melhor sobre essa coisa de passagem. Tomo suco de melão. Alguém puxa papo no balcão. Mas estou surda.

"Sou louco por você"

Volto pra casa correndo, fugindo da confusão. Torpeço na entrada. Bato a boca no chão e sai sangue. Mas estou viva e não quero ninguém louco por mim.


Ps. Caros amigos do Sete, perdoem-me as duas últimas ausências. Coisas fora do controle. Um feliz 2014 a todos. Cheio de saúde e muita LUZ.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

NASCIMENTOS E INCOMPRENSÃO - Continuação

Sob o comando do sargento-mor Theotônio José Juzarte, os navegantes continuaram viagem, sempre com a determinação de chegar ao Forte e Presídio Nossa Senhoras dos Prazeres. No Tietê, viram os morros de Piracicaba e Araraquara-Guaçu, há mais de oito léguas de distância. Acampavam sempre com o mesmo ritual. No dia seguinte, 24, seguindo rumo noroeste, transpuseram as cachoeiras Potunduva, Ibauru-Guaçu e Ibauru-Mirim... arrancharam próximos a um rio que desembocava entre elas (Rio Bauru?).
25 de abril, dois nascimentos iriam atrasar a viagem. Uma jovem mulher, cabocla das Gerais, num lento e doloroso parto, deu à luz um menino... seu nome, Jesus. Criança robusta que abriu seus pulmões na mata e chorou até encontrar o seio materno e mamar com avidez. Outra jovem, uma índia bronzeada, guarani da horda de Apapukuva, solitariamente seguiu em direção a um igarapé e silenciosamente, imersa na água, sentiu nascer um menino... novo choro à procura das mamas maternas invadiu a floresta. Seu nome... Yma ú, uma “semente sagrada”.
            O caboclinho e o indiosinho foram saudados pela passarada da floresta. Iriam rumo a Iguatemi que com todas as dificuldades  seria atingida depois de dois meses. Os nenês, crias de raças diferentes e antagônicas, muito depois, alguns anos adiante, poderiam se confrontar, um trucidando o outro ou vice-versa. Era a lei da floresta daquele sertão desconhecido. Colonos querendo conquistá-lo; índios querendo preservá-lo.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

E então é Natal... e então eu esqueci que o  Natal cai num dia da semana e que neste ano era quarta... daí não postei. Desculpem! Hoje é dia do Thiago... mas como até agora 23h25 ele não apareceu, resolvi ocupar o espaço.

Hoje conto a história de uma amiga que embarcou num navio. Caprichou no visual, bermudas de linho, blusinhas de seda, pantalonas impecáveis, um vestido fantástico para a noite do comandante, e outro lindo, para a noite do Natal.

O embarque foi um pouco tumultuado mas ela estava tão feliz! Que elegância aquele navio, o melhor, o mais caro, o mais bonito!

 Como era "all inclusive", todos comiam muito, bebiam muito, gritavam muito. Todas as famílias levaram muitas crianças, todas as crianças eram muito mal educadas, todos os pais eram muito relaxados e todos os dias foi a mesma coisa: muito barulho, muita confusão, muitos pratos cheios de comidas devolvidos, pela incapacidade de ingerir mais do que cabe no estômago, muito desperdício, muito desconforto.

O melhor lugar para ficar era o quarto, muito bem decorado e com um ar condicionado perfeito.

Viu uma pessoa deixando o pé de molho na piscina para poder tirar a cutícula (!!!!).

Durante a viagem foi entristecendo. Estava sozinha e embarcou acreditando que faria amizades interessantes. Colocada numa mesa com outras nove mulheres sozinhas achou a conversa  muito chata. Conversa RO/ SA, roupas e saúde, nada além.

Chegou hoje. Jura que nunca mais passa o Natal fora. Deveria ter vindo comer o delicioso peru que eu fiz e dar risada com o "inimigo secreto", tudo super convencional mas saboroso e divertido.

Boa última semana do ano! Abraços!



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Pílulas 4

Vamos lá...

Preguiça
A minha saga preguiçosa persiste. No site do Yahoo!, na home, aparece uma notícia dizendo que o filho de Claudia Raia, o tal do Enzo, beijou muito em uma festa de aniversário. Não sei se foi na festa de aniversário dele ou em alguma outra. Esse menino, que já é adolescente, já apareceu em outras notícias há alguns meses. Diziam que ele estaria pegando a tal da Nicole Bahls, para desespero da mãe, que está em cartaz em São Paulo com um musical. Preguiça! Aliás, eu torço, e muito, para que os filhos, namorados, sobrinhos e afins de famosos deixem, um dia, de ser conhecidos como filhos, namorados, sobrinhos e afins de famosos e passem a ser reconhecidos (e por que não reverenciados) como profissionais talentosos nas profissões que escolherem. Um exemplo: Alice Braga, que dificilmente, hoje em dia, ganha o aposto de "sobrinha de dona Sonia" quando é citada em matérias de jornais...

Praia
Estou no quarto dia de folga do recesso de Natal do meu trabalho. E somente hoje fez um sol bacana aqui em Rio das Ostras, cidade praiana da região dos Lagos do Rio de Janeiro. Mas nem por isso eu deixei de ir para a praia nos outros dias. Sabe como é paulista que não tem a possibilidade de ir para a praia todos os dias, não é mesmo? Mesmo com o dia nublado - e até mesmo uma garoa fina -, eu fui à praia, nadei (com óculos de natação e tudo), corri cerca de 2 km e ainda fiz algumas séries de abdominal. Por que tudo isso? Carnaval, sabe!?

Pais e filhos
Quando estou em São Paulo, converso com meus pais dia sim dia não. Assim, quando estou na casa deles, não há a necessidade de contar o que está acontecendo em minha vida, afinal de contas não há muitas novidades a serem ditas. O que mais gosto, estando aqui, é da presença física deles. Saber que, enquanto eu estou, sei lá, lendo um livro ou assistindo a algum programa na televisão, eles estão no terraço ou no quarto dormindo. Isso já basta para eu ficar mais feliz.

É campeão!
Eu me emocionei com a vitória brasileira no Mundial Feminino de Handebol, que aconteceu na Sérvia. No evento esportivo, que acontece a cada dois anos, o Brasil conseguiu a inédita medalha de ouro. Quem já foi atleta de esportes "amadores" - definitivamente, não estou falando de futebol! - conhece um pouco a dificuldade que é praticar modalidades como o basquete (o que foi o meu caso), o vôlei, o handebol... Atletas de esportes menos populares, então, sofrem ainda mais com a falta de apoio e condições de treino Assim, conquistas, como a dessas meninas, são muito mais especiais do que a vitória do meu time de coração no futebol ou da seleção na Copa do Mundo. Não sei, mas nesses esportes "amadores", eu enxergo mais raça, mais coração, mais tudo.

Natal
Feliz Natal!

é isso!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Odô iyá

Nasci Iemanjá.
Nasci também filha de Iansã, Oxum e, é claro, Iemanjá.
Cresci entre escadas, livros e gatos. Mocinha fui para o asfalto, viver entre prédios e fumaça. Entre rios poluídos.
Não sei desenhar, mal cozinho, troco palavras e me confundo com nomes, pronomes, verbos e adjetivos. Mas sei nadar e até ando de bicicleta.
Não tenho medo de bicho algum. Só de barata, mas barata é inseto e não conta.
Nunca fui boa aluna. Sou absolutamente incapaz de guardar nomes. Datas então, nem se fale. Tenho uma capacidade incrível para reter na mente tudo o que há de inútil e desnecessário. Nunca me peça para fazer contas ou ser objetiva.
Ontem joguei do meu armário algo como 12 kg de papel, contas de 2006, recibos, lembranças de uma outra vida.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O admirável mundo novo!

A crise atual e seu corolário, o desemprego permanente, dizem os políticos é passageira. Alguém está enganando alguém. O trabalho está em vias de desaparecer e se Obama ou Dilma fingem não saber, garanto ter conhecido pelo menos uma pessoa que dizia isso com categoria. Na década de 1980, quando eu estudava na França, estava sob a orientação do sociólogo Jofre Dumazedier, um comunista desiludido trabalhando com lazer. No final do século XX o mundo teria mais de 40% de desempregados, afirmava. Ao mesmo tempo descrevia as transformações na nova civilização, pois a anterior, fundamentada na estabilidade do cargo como garantia de segurança, estava desaparecendo. Previa um mundo comandado por economistas, “o jugo da economia,” brincava. Um verdadeiro profeta! Pela primeira vez na história, a maioria dos seres humanos é dispensável para o reduzido número dos que gerenciam a economia mundial. Essa verdade não está escondida, porém os políticos não falam dela com clareza. A economia lança-se cada vez mais à especulação pura. Prestem atenção nas atuais transações dos governos, seja na Europa, seja na América. Refiro-me a uma forma corrente de troca negociando algo inexistente como o G-20 e seus trilhões. Transações não com ativos reais, mas onde se transferem dívidas, que por sua vez são negociadas, revendidas e recompradas infinitamente, na maioria das vezes sobre valores virtuais. Loucura? Sim, trata-se de um mercado ilusório, fundamentado nos simulacros. Um homem apostando como em um cassino, pode efetuar esse tipo de transação, apenas com um computador e um fax, confirmando a declaração de Helmut Schmidt à televisão alemã: “nesses mercados surrealistas são feitos cem vezes mais negócios do que nos demais.” Esse comércio virtual conduziu a economia a um beco sem saída e foi incapaz de gerar verdadeiros empregos. Não sei quanto dinheiro Obama entregou às montadoras na vã esperança de segurar uma ocupação para os funcionários, porém eles continuam sendo dispensando. Não tenho resposta para a questão, embora nunca tenha separado o fazer cultural do social. A meu ver toda atividade é política, mesmo quando não pretende ser. Shakespeare ficaria fascinado pelos lances trágicos dessa economia e por suas implicações, pois são elas que dissimuladamente estão transformando o destino dos habitantes desse planeta.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NASCIMENTOS E INCOMPRENSÃO



O governador de província de São Paulo, Morgado de Matheus, em 1769, designou o sargento-mor Theotônio José Juzarte, para conduzir uma expedição  até  atingir Iguatemi, em Goiás, onde existia o Forte e Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres.  Ali tinha por missão substituir  a guarda desse forte e alojar naquela  região, povoadores com o propósito de consolidar a presença brasileira naquela área, que vivia em turbulência com vizinhos sul-americanos. Theotônio se incumbiu por recomendação do Morgado, de elaborar um diário que serviria de informações para futuros navegantes àquela região, quando usassem os rios Tietê, Paraná e Iguatemi.
Partiram de Araritaguaba (atual Porto Feliz), às margens do Rio Tietê. O visconde de Taunay no livro “Diário de Navegação”, elaborado pela Unicamp informou que  “a 13 de abril desse ano, ... é que partiu de
Porto Feliz a grande monção, com trinta e seis grandes embarcações em que se aboletavam quase oitocentas pessoas, das quais setecentas e tantas ‘povoadoras’ com homens, mulheres, rapazes e crianças de todas as idades, trinta soldados de linha, gente de mareação e equipagem”.
No dia 20 de abril, registra o diário: “... depois passamos por uma cachoeira chamada Putunduva que quer dizer em Português onde a vista se faz escura, é muito perigosa, e medonha esta cachoeira, se metem as embarcações por ela com gente dentro a Deus e à ventura, daí, mais abaixo passamos pela cachoeira de Ibauru-guassu (g.n.) e foi preciso saltar gente em terra, aliviar as embarcações de alguma carga para poderem passar por cima das Pedras, e a gente, e carga abrindo-se picada pelo mato para ir sair abaixo da dita cachoeira, sofrendo muito trabalho e incômodo, carregando-se doentes sofrendo-se muitas mordidelas de mosquitos, e Bernes na passagem pelo mato: embarcamos outra vez, e daí mais abaixo passamos a cachoeira de Ibauru-mirim (g.n.), esta se passou pela sua madre indo tudo embarcado, e daí fomos seguindo viagem...” Na língua tupi-guarani Ibauru significa águas tortuosas, correnteza. Nas imediações dessas cachoeiras desaguava o Rio Bauru, sugerindo que ela emprestou seu nome para o rio e este para o  Município criado em 1896.
No primeiro dia, depois de muito navegar, surgiu a primeira cachoeira, Abaramanduaba; depois outra, Piraporá. Vencidas no final da tarde, embicadas as canoas nas margens do rio, abriu-se uma clareira para alojar o pessoal, lugar comum a se repetir  nas noites seguintes: matança de jacarés e cobras corais, ladainhas entoadas à Nossa Senhora e rezas ao santo protetor. Dourados e pintados apressados e comidos, veados pardos abatidos para servir nas refeições.
Cachoeiras, correntezas e saltos seriam vencidos nos dias seguintes. Haveria transporte de carga por terra, para que as canoas pudessem sobrepujá-los... um cenário redundante numa longa jornada desenrolada no século 18. No trajeto, contato com carrapatos que feriam a pele dos viajantes, doenças grassando, alguns perecendo no percurso.
E a viagem, com todas as dificuldades que a época ensejava, prosseguiu e   chegou às barras dos rios Capivari e Sorocaba, remos avançando no rio indomável e ficaram para trás o ribeirão Icoacatu e a barra do rio Piracicaba.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

fecha

abre os olhos.
deve ter sido o barulho da sirene.
diferente: um som suave, distante, improvável.
a noite imensa presa em seu quarto pesa sobre o rosto.
pensa em se virar. não consegue.
deve ser a preguiça da madrugada.
ou o vinho da noite.
vinho…
nota mental: evitar em noites tristes.
a cama parece mais áspera que antes.
ou seriam os pecados que castigam nas costas?
afinal, rasgam a pele feito chibatadas.
e não tem colchão de molas que dê jeito.
a consciência pesa.
em proporção matemática, o incômodo aumenta.
assim como o barulho da sirene.
olha, vai ser uma noite daquelas.
tenta lembrar o porquê, o onde, o quando.
mas está tudo embaralhado.
fios entrelaçados com boas lembranças, marcas de dores, sorrisos valentes.
deve ser restinho de sonho.
talvez um sonho bom…
vai saber?
pena que não lembra.
tomara que teve beijo na boca, sexo sujo, essas coisas…
até o pescoço dói. 
faz um esforço para virar pro lado e ver as horas.
não deve ser tão tarde assim…
nem lembra de ter ido para a cama.
maldito vinho…
a sirene já virou trilha sonora da noite.
e quando o pescoço termina o movimento, ele vê.
e não entende.
na calçada, pessoas paralisadas.
as mãos às bocas, os olhares, incrédulos.
não, não há lágrimas.
o silêncio ensurdece tanto que as bocas falam, mas ele não ouve.
filme dublado. idioma: terror.
só ouve a sirene.
sente algo escorrer pela barba.
mas a mão não obedece o braço, que não obedece o cérebro.
não consegue se mexer.
a dor aumenta.
mais pecados reclamando a consciência?
sonho bom que não é.
o que escorre pela barba invade a boca.
reconhece o gosto sofisticado do sangue.
dá até saudade do vinho.
a sirene berra.
e chega acompanhada de luzes, que invadem o escuro do quarto.
não entende. 
mas consegue imaginar.
sempre foi bom para pensar em histórias.
desde pequeno.
orgulho da professora de português.
pensa.
não está no quarto. não está deitado na cama. não tem preguiça.
pensa demais. 
queria não ter imaginado.
arrependimento é pecado?
se for, mais uma chicotada nas costas, por favor.
fecha os olhos para abri-los novamente.
quem sabe ainda é o sonho.
quem sabe?
fecha os olhos.
abre os olhos.

fecha os olhos.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

     Alan querido, joguei minha postagem para a noite a fim de dar a todos a oportunidade de ler seu texto e sentir pena/inveja de você.
     Tadinho... trabalhando tanto! Inveja: ele terá férias... e irá para a casa dos pais!!! Delícia maior não existe.
      Sempre amei a casa dos meus pais. Brigava muito com meu pai mas sentia uma admiração enorme por ele, pela seriedade com que fazia tudo e pela vida corretíssima que levou. Morreu com a idade que tenho hoje. Na época eu considerei uma boa idade para morrer. Hoje acho que foi muito cedo.
     Minha mãe tornou-se independente, mal chegara aos cinquenta, aprendeu a fazer tudo o que era necessário, desde pequenos investimentos no Banco, compreendendo a diferença entre médio, longo e curto prazo e essas coisas todas, até levar o carro para revisão, contratar pedreiros e assumir as responsabilidades que nunca tivera. Hoje não tenho mais a casa dos meus pais para ir... e sou a casa dos pais, é para cá que todos vêm, inclusive primos desgarrados. Viu o que você fez? Com uma frase só desencadeou memórias infinitas.
     Por ser a mãe, hoje fiz biscoitos para o Natal. Já percebi que não durarão. Ficaram deliciosos. Colocados num pote lindo, estão atraentes e ninguém resiste. O desfalque está mais ou menos em 50%. Amanhã farei mais.
     E como não é só o Natal que está chegando mas o final do ano, aqui vai  meu texto predileto sobre este tempo de contagem regressiva:
Cortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente
                                                                     Carlos Drummond de Andrade

Feliz Natal!
    
    
    

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Pílulas 3

Vamos lá...

como eu ainda não dormi, ainda é terça-feira. Desculpe-me por estar invadindo o espaço de você, Leda, que escreve às quartas-feiras. Gente, mas é uma mensagem de pedido de desculpa. Não haverá nada muito relevante e longo, pois estou em uma semaninha daquelas. Última semana antes das férias na USP, com entregas de trabalhos, com a difícil decisão de desencanar de uma disciplina, que foi mal dada pelo professor - culpa da greve também... Enfim, a verdade é que eu não vejo a hora de chegar o dia 20, quando viajarei para a casa dos meus pais e estarei na praia...

sem mais!
até a semana que vem!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Das nuvens


“Our lives are not our own. 
We are bound to others, past and present, 
and by each crime and every kindness, 
we birth our future.” 
David Mitchell

"Atlas das nuvens" de David Mitchell foi publicado em 2004 e é um livrão. Literalmente. 500 e poucas paginas na cópia que tenho em casa. Dessas publicações que dá para usar como arma no metro. E é um livrão no sentido figurado. Lindo. Emocionante. Desses que a gente lê e fica triste quando acaba e já quer recomeçar.
Dividido em histórias, cada uma a seu tempo e com seu conjunto de personagens, que de certa forma se comunicam e entrecruzam formando um todo único.
O primeiro núcleo chamado "The pacific journal of Adam Ewing" se passa em 1849 no Pacífico Sul e narra as desventuras de Adam Ewing
 O segundo "Letters from Zedelghem", em 1936, é focado na vida do compositor Robert Frobisher, seu amor proibido por Rufus Sixsmithe, e pela música, obviamente. Frobisher lê o diário de Ewing enquanto compõem sua obra prima, uma sinfonia chamada The Cloud Atlas Sextet.   
"Half lives: the first Luisa Rey mystery" acontece na San Francisco de 1973, quando a jornalista Luisa Rey conhece o cientista Sixsmithe que a coloca a par de perigos ligados ao uso da energia nuclear. 
"The ghastly ordeal of Timothy Cavendish" se passa na Inglaterra de 2012, quando o editor Cavendish se vê as voltas com confusões financeiras, familiares e amorosas. 
"An orison of sonmi-451", se passa em 2144 em um lugar chamado Neo Soul, um mundo dividido entre seres humanos e réplicas sendo uma delas Sonmi-451.
E o sexto, "Sloosha`s crossing an` ev`rythin` after" que se passa eu um mundo pós apocalíptico, em 2321, após um acidente nuclear, quando comunidades sobreviventes se degladiam em busca do mínimo e rezam através das palavras de Sonmi. 

O livro virou filme e o filme “A viagem” foi trucidado pela crítica.
Eu amei o filme e comprei o livro. Amei o livro e revi o filme.
O longa é dirigido por Tim Tykwer e pelos irmãos Lana e Andy Wachowski.
Lana, que era Larry, e passou por uma operação para mudança de sexo e este foi seu primeiro trabalho pós resignificação. E as críticas se referiam mais a este fato do que ao filme em si.
Eu, pessoalmente, gosto das soluções encontradas pelos diretores para resolver as 500 e poucas paginas sem perder a poesia. O livro conta historias sobre gente que ajuda gente e gente que atrapalha gente e mostra como mesmo com o passar de décadas, as histórias calcadas em caráter e humanidade, se repetem. E fala também de sonhos e rebeldia e de como os sonhos são a matéria de mudança e evolução do mundo...
Vale a viagem.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Mundo pequeno

A geração dos anos 1960 é responsável por grandes transformações ocorridas no mundo atual. Pois bem, tem mais uma. Stanley Milgram (1933-1984) da Universidade de Yale realizou uma pesquisa que resultou em polêmica, mas o resultado oferecido pelo psicólogo comprovou sua verdade. Ele enviou alguns pacotes para moradores da cidade de Wichita (Kansas) pedindo as pessoas que mandassem para um conhecido que acreditasse faria a encomenda chegar ao destinatário. Pasmem: diversas entregas chegaram após passar por seis pessoas, em média.
Hoje navegando pela Internet não é difícil descobrir que um amigo está conectado a uma pessoa ligada a personalidades da política, da mídia, do meio cultural, mas na década de 1960 trocar informações on line em tempo real era enredo para filme de ficção científica!
A experiência tornou-se conhecida como teoria dos seis graus de separação e inspirou peça de teatro e filme no final do século XX. Resumindo na teoria científica do psicólogo americano bastam seis laços de amizade para que duas pessoas estejam ligadas.
Pensei logo: eu e Brad Pitt. Mas, tem a Angelina Joli e o Baptista... Melhor não ficar imaginando coisas... Algo semelhante está sendo desenvolvido pelo site Yahoo, via Facebook e seus 750 milhões de usuários. Na página Small World você está sendo convidado a enviar uma mensagem para um desconhecido de um país qualquer selecionado pelos administradores do projeto. Para se tornar um remetente basta ter uma conta na rede social.
Pensei em tudo isso com a volta do sete graus de separação. Não conheço o Thiago Roque, nem a Camila Tibet, o Fernando Azevedo ou o Alan Faria e cá estou eu participando de um blog e escrevendo ao lado deles. Sim, Milgram estava certo, embora o número sete seja mais exato para os pesquisadores da Microsoft.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

VILA DA BELA VISTA

Dela você descortinava toda a cidade. Nela morei muito tempo no quarteirão 4 da Rua Padre Anchieta. Por esse motivo fui no lançamento do livro “Submerso em águas claras”, de Mariano de Mariano, cujo pai tinha uma das casas mais belas do bairro, na rua do outro padre, o Nóbrega,quarteirão 11. Foi um encontro de saudosos moradores daquele bairro, na quinta feira 5 de dezembro de 2013, na Livraria Jalovi dos altos da cidade. Não sendo a Vila mais antiga, ela era a mais Bella para se contemplar a cidade em toda sua extensão,na época. Por puro acaso tive a oportunidade de verificar num inventário familiar de 1936, a revelação como ela nasceu: “cabe destacar a Villa Jardim Bella Vista, antes pertencente a Nicolas Garcia, com escritório na Rua Pirajuí (atual Azarias Leite) com vendas a partir de 1929, com 311 lotes ocupando uma área de 8 alqueires. Cada lote era vendido de dois a quatro contos de réis, com entrada de 15%. Primeiros moradores a ali construir foram Guilherme Barbieri, Fortunato Braite e as irmãs Bouri. O loteamento pertenceu depois a João Garcia Gutierrez que, conforme anotação na caderneta nº 30, de fevereiro de 1936, vendeu parte da área loteada para a Casa Moreira, de propriedade de Alcides Moreira Leite, com escritório na rua Baptista de Carvalho, 1-4, phone 324. Nessa época a vila, localizada na zona norte da cidade, fazia divisas com o Rio Bauru, vilas Camargo, São João da Bela Vista, Quaggio e os armazéns da Noroeste. Tinha treze ruas: 8 de dezembro, Santo Antonio, 1º de dezembro, Rádio Club, PRG-8, Quintino Bocayuva, 12 de outubro, 24 de fevereiro, Matarazzo, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Silva Jardim e Alto Acre.” Como se observa, dessas treze vias públicas, poucas mantiveram sua denominação até a atualidade. (Segue abaixo uma foto da casa dos Mariano, da qual o escritor manifestou: Casa Sagrada do artífice, pai do arteiro).

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ruas

o papel amassado pelo tempo marcava: "rua das angústias".
letras garrafais. parecia coisa importante.
ele não lembrava de nada.
mas fez questão de acordar cedo.
o all-star preto estava ao lado da cama, cadarço novo.
nada de tropeços dessa vez.
o banho foi rápido, a encarada no espelho demorou mais.
parecia saber quem era. e o que tinha de fazer.
calça rasgada, camiseta preta, all-star, chave no bolso.
não, não precisa levar celular. não tem pra quem ou por que ligar.
15 minutos de caminhada. para aquecer as pernas.
talvez a alma.
pensava no que poderia encontrar, no que iria falar e em outros condicionais que a vida impõe em passeios como esse.
passeio que ele não sabe ainda se gosta. mas que repete anualmente. 
tradição. promessa. hábito.
pior que fumar mentolado.
mas segue. passos largos, fortes, marcados.
o coração aperta. falta uma quadra.
chega.
tem muita gente.
todos apressados. por dentro, assustados.
todos olhando para os lados. todos ignorando todos.
alguns até a si mesmos.
nada é falado. não há música ambiente, nem nos fones de ouvido.
parece não haver vida.
só rituais mecânicos. engrenagens silenciosas em funcionamento.
pernas e braços e pescoços e piscadelas num ritual messiânico. 
exaustivamente repetitivo. incrivelmente espontâneo.
balé e bailarinos.
todos filhos e netos da mesma dor com o mesmo pecado.
casalzinho sem-vergonha pra caralho.
tão semelhantes. tão similares. tão tais.
e ele assiste a tudo.
rei do camarote.
o coração aperta até a primeira lágrima cair.
é hora de dar meia volta.
antes que seja tarde.
antes, tira outro papel do bolso.
outro pedaço sujo, também maltratado pelo tempo.
ou maltratado por qualquer outra coisa.
tem dificuldade para ler as letras tristes, miúdas.
aperta os olhos, marejados por completo a esta hora.
"rua da saudade".
suspira.

amanhã, a caminhada é mais longa.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Natal

O Natal é um saco.
A declaração irreverente me deixou alarmada. Como pode alguém não perceber o tamanho do Natal?
É data simbólica, sim, mas cercada de tanta vontade de amar, tão comovente na desproporção entre o amor de Deus e o que vivemos nesta Terra!
O Natal nos devolve às origens humildes da fé. Fé, vi o pensamento publicado no Facebook, é dar o passo e depois Deus coloca o chão. A dicotomia entre a angústia de gastar (o que às vezes não se tem) e a alegria de dar o que se comprou é óbvia. Fazem isso os pais, os filhos, os enamorados, os amigos... e o olhar agradecido do presenteado enche de amor os corações.
Mas, voltando à fé, os materialistas são obrigados a viver um tempo de amor e, aí sim, dizem "o Natal é um saco". Para seres não amáveis, não amorosos, suportar beijos e abraços, orações, bênçãos distribuídas, presentes simples que por vezes não significam nada mas exigiram horas de pesquisa, é quase insuportável... e eles, os materialistas, não entendem. Tudo isso porque (dizem) Jesus nasceu?
Acreditam ser um amor imposto, veem no Natal um acontecimento falso em que se comemora, em data inventada, o nascimento de um ser que não é. Não há Deus, não há filho, não há Espírito Santo e menos ainda Espírito de Natal. É um conhecimento que não têm, não há espaço para gestos de amor (com hora marcada) em suas vidas. Facilmente retribuirão colocando algumas notas  dentro de um envelope e entregando para que o amigo faça o que bem entender.
Neste período de preparação para as festas é bom lembrar que: "A fé é uma forma de conhecimento que suscita uma forma de vida. O que domina no Natal é a força transformadora da livre e convicta adesão a Deus, ao "Deus que é" e à sua palavra eficaz, criadora das coisas e da bondade do
coração e da vida social. "

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pílulas 2

Vamos lá...

Preguiça
Eu continuo com preguiça de informação bizarra, banal, idiota, sem importância... Desculpe-me, é a tal terça-feira, talvez. Hoje, por exemplo, ao entrar no Facebook, logo pela manhã, ao acordar, por meio da internet do celular, "fui informado" de que o romance entre Neymar e Bruna Marquezine teria acabado. Aí, eu descobri, por meio do Twitter, que o namoro entre os dois tinha até um "apelido": Neybru. E, para piorar a situação (sim, tem como piorar!!!), os fãs de um e de outro estariam já se xingando, colocando a culpa em um ou em outro pelo fim da relação. Eu já sei porque não gosto muito de futebol. O problema não é o futebol em si (ok, ok, há até algumas partidas emocionantes... mas, convenhamos, tem coisa mais broxante do que assistir a uma partida de futebol por 90 minutos, ouvindo um narrador pentelho e não acontecer nenhum gol???), mas essas coisas extra-campo... É fim de namoro de jogador de futebol, o novo corte de cabelo do craque da camisa 10, o mergulho (chuá!) do artilheiro na Barra da Tijuca, os 2 kg a mais do ex-craque RRRRRonaldinho... ai, que preguiça!

E tem como piorar, é claro: na página inicial do Yahoo!, até alguns minutos atrás, a principal notícia era a de um ex-famoso-jogador-de-futebol, que estaria "puto" da vida pelo fato de supostas fotos nuas da filha terem parado na internet... Não seria melhor fazer uma matéria alertando que isso é crime, que publicar fotos ou vídeos íntimos de uma pessoa é uma das atitudes mais idiotas da face da Terra (assim como avaliar o desempenho sexual ou sei lá o quê em aplicativos como o tal do Lulu, frufru, cricri etc?).

E tem como piorar, é claro: na semana passada, a irmã de um zagueiro do Bahia, se não me engano, teve lá os seus 15 minutos de fama por, veja só, ao comemorar o gol do time pelo qual torcia, levantar a camisa e mostrar o sutiã/biquíni, sei lá o quê. O povo nunca viu mulher de biquíni, não!? Nunca viu peitos? Ai, que preguiça...


Chupa
Raul Castro, presidente de Cuba, e Barack Obama, presidente dos EUA, cumprimentaram-se durante o evento em homenagem ao ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Um gesto que, para muitos, pode representar mudanças nas conturbadas relações entre Cuba e EUA, inimigos históricos desde os anos 1950. Sobre o gesto, Castro afirmou que foi algo normal, afinal de contas "somos civilizados". Já a Casa Branca disse que Obama "não fez mais do que trocar cumprimentos com os líderes que estavam no seu caminho antes do discurso, não foi uma discussão substantiva". Histórico ou não, foi um gesto educado, de seres civilizados mesmo, como atestou o próprio Castro. Encerro essa pílula com uma opinião de José Simão, em seu Twitter. "O mundo estarrecido pq Obama cumprimentou Raul Castro. Eles são civilizados. Não é Vasco e Atlético-PR!". Chupa aqueles que, em meio à tal liberdade da internet, preferem a raiva nos discursos a opiniões que podem levar ao entendimento.

Chuva
A previsão do tempo, no fim de semana que se passou, segundo uma amiga que trabalha comigo, era de frio e/ou chuva. Bom, o aplicativo que indica o clima da semana a enganou. Ainda bem! No domingo, um clima agradável imperou em São Paulo, possibilitando que eu fosse pedalar na ciclofaixa (faça isso, repito!) e ainda curtisse uma festa em Campinas. Lá, o tempo chegou a fechar, mas não caiu uma gota. Resultado: água, brilho, vodca com morango e muita música boa. E o melhor de tudo foi que, finalmente, eu dancei uma música que não ouvia, em uma festa, há séculos: "Seek Bromance", de Tim Berg, que agora é mais conhecido como Avicci. http://www.youtube.com/watch?v=LKWs7wt7cdw

House
Ainda na onda música - aliás, o post de hoje será muito musical, já adianto -, na última semana, eu pelejei para encontrar, no YouTube, uma música de Robin S, musa-mor da house music nos anos 1990. Ela canta, por exemplo, "Show Me Love", "Love For Love" e a deliciosa "It Must Be Love" (você, adolescente nos anos 1990, deve ter ouvido muito essas canções). Quer um conselho básico? Coloque essa música para tocar na sua casa, duble, cante e dance... sem medo de ser feliz!!!  http://www.youtube.com/watch?v=dMskXvrrCtk


Musical
Eu tenho uma preguiça monstra de musicais. Ok, ok, eu assisto a algumas produções do gênero, mas, entre uma comédia e/ou um drama, eu me jogo em espetáculos de comédia e/ou drama sem medo de ser feliz. Mas, no último fim de semana, em um ato de sorte, fui assistir ao musical "A Madrinha Embriagada". Por que em um ato de sorte? Com um casal de amigos, cheguei ao teatro do Sesi, na avenida Paulista, perto do início da peça, que é gratuita, começar (às 16h), e consegui o ingresso. Bom, tenho que revelar: gostei do musical. Mas, em espetáculos desse gênero, o que me chama a atenção não é a voz dos artistas, mas, sim, a cenografia e a iluminação, capazes de nos levar para outro mundo. Literalmente.

Faixa exclusiva
Tenho carta de motorista, mas não dirijo. Não tenho carro e não pretendo comprar um carro. Ah, e sou defensor público da faixa exclusiva para ônibus! Sem mais....




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Primeira vez


A chamada no facebook do site Catraca Livre perguntava "Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez". Uhu, parei para pensar e para minha grata surpresa, notei que este foi um ano de algumas primeiras.
Pela primeira vez corri da polícia na Rua Augusta ao som de bombas de efeito moral no dia do meu aniversário com dois dos meus melhores amigos nesse junho de manifestações.
Quantas pessoas pode dizer que já fizeram isso? Você já fez isso, Rosa Bertoldi? O Alan Faria sim só que não era aniversário dele, visto que ele era um dois meus dois amigos.
Agora vamos ao exato oposto. Pela primeira vez em tantos e tantos anos de São Paulo fui ao Templo Budista Zu-Lai e foi uma experiência que recomendo. Até mais do que a anteriormente citada.

Pela primeira vez peguei um mapa de São Paulo e decidi fazer turismo na cidade onde vivo há tantos anos... e fui ao Mosteiro de São Bento, na Casa Modernista e andei na ciclofaixa da Avenida Paulista.
Pela primeira vez fiz voluntariado em uma campanha do agasalho idealizada pelo meu querido primo Nando e realizada inteiramente pela sociedade civil... foram três noites de muito frio na rua e muitos sorrisos de agradecimento sincero.
Pela primeira vez vi uma peça de teatro dentro de um carro.
Pela primeira vez passei a noite em um hospital veterinário (e Deus sendo pai, pela única).
Pela primeira vez fui ao Zoológico sozinha (e a trabalho, mas isso é um detalhe) e chorei vendo o musical "O Rei Leão".
Desde que me lembro por gente, pela primeira vez, tenho um gato preto. E ele é lindo, amoroso e incrível. Zacheo é um presente do Universo em forma de panterinha.
Se parar para pensar com cuidado talvez me lembre de mais alguns primeiros deste último ano, mas assim de bate pronto, estes são os que me lembro. E quer saber? Acho que está bem bom, né?

domingo, 8 de dezembro de 2013

Clique em cancelar para corrigir a falha...

Queria escrever um comentário sobre O Laptop de Leonardo. Liguei o computador, cliquei em arquivo, em novo, em word e ao renomear recebi a resposta: se a extensão do arquivo for alterada, pode tornar-se inutilizável. Quem nunca recebeu aviso dessa máquina infernal do tipo EAX=00000010 CS=1775?
Uma ironia, pois o autor do livro descreve como esse Renascimento 2.0 vai melhorar a qualidade de vida da população, fala maravilhas da tecnologia de ponta e eu aqui refletindo sobre os dissabores do usuário quando os computadores não estão em harmonia com necessidades primárias.
A questão é: como desafiar os projetistas a focar-se no indispensável? Afinal, o que se quer são aparelhos simples adaptados ao sujeito comum. Agora, parece-me o momento certo da indústria atender as exigências desse consumidor. Onde estão os gênios gráficos e os Leonardos do web-design, perguntei-me após ver os protótipos de inventos do artista numa exposição. Fiquei imaginando como seriam os computadores projetados por ele. Talvez fosse contratado para pensar diferente dando aos softwares compatibilidade entre velhas e novas máquinas. Ele desenharia ferramentas e processadores de textos fáceis. Gigabytes em quantidade ou banda larga para quem necessita e tecnologia simplificada atendendo gente como a gente. Escreveria manuais inteligíveis ajudando o usuário a transpor a brecha entre o saber e o precisar. Essas coisas não acontecem somente com computadores.
Dia desses, entrei no carro do meu marido. O painel do rádio parecia um disco voador, tal a quantidade de botões e círculos coloridos. Transponham o problema para televisores e/ou liquidificadores nossos de cada dia.
Mas, voltando à ciência computacional, onde estão às alternativas para meros mortais? Está desatualizada, dirão os jovens. Tenho um pendrive com uma boa memória na bolsa e uso um Iphone com uma boa quantidade de recursos, então não estou tão por fora assim. Procuro me informar sobre as novidades aproveitando o que tem utilidade para mim. A maioria dos usuários é assim.
Se da Vinci vivesse hoje, daria ênfase à alta qualidade, porém não faria como os engenheiros do ramo tratando seres humanos como desprovidos de inteligência e nem se comportaria como os designers de sistema acreditando que em breve haverá um programa de interfaces automático. Não, ele buscaria soluções pensando no bem estar do homem e disseminaria esse conhecimento atingindo os extremos da sociedade: especialistas e leigos. Como não apareceu nenhum Leonardo na área, o único recurso é clicar em cancelar para corrigir a falha... deles ou nossa?

sábado, 7 de dezembro de 2013





Make happy to be happy

Uma nova odisseia. Nova história. Novo curso. Norte seria sul, sul, norte. Azul seria rosa. E luto, branco. As ruas que são contramão, não seriam. Teríamos chuva em vários sentidos. Olharíamos pro céu e cadê o arco íris?  Aconteceriam outras coisas também. Beijo na boca não seria proibido, coração não seria partido, ninguém olharia pro umbigo.
O dia de fazer para ser feliz.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

IRRACIONAIS?

Postaram recentemente no facebook uma foto com comentários na qual Banzé, um cachorro, presumivelmente SRD, encontrou uma ninhada de gatinhos abandonada ma rua e levou os pequeninos bichanos para sua casa, protegendo-os.          
Não se trata de ato isolado essa revelação. Os animais surpreendem com suas atitudes.         
 Foi num país da Europa Oriental que uma cachorra teve oito filhotes: cinco fêmeas e três machos. Seu ninho, coberto com palha, foi instalado num paiol de uma humilde chácara local. Por coincidência, na mesma época uma moça grávida, cujo estado escondia dos pais com medo de ser violentamente  reprimida, sentindo as dores do parto, foi desesperada para um lugar cheio de mato e ali realizou seu parto, um menino. Deixou-o, no entanto, naquele local e retornou para seu lar. A cachorra dos oito caninos passando naquela região ouviu o choro da criança. Pegou o menino e levou para seu ninho, passando a ser amamentado com seus irmãozinhos cachorros. Quando os proprietários da chácara descobriram essa situação, atônitos tomaram o nenê no colo e levaram para sua casa. Ele sobreviveu. Agradeceram à cachorra pelo seu gesto altruísta.          
A solidariedade entre as espécies existe e a preocupação de proteger os abandonados, está neles latente. Não foi no Quênia que vicejou a amizade de um filhote de hipopótamo com uma tartaruga gigante que o adotou, ele  sobrevivente de uma tempestade que matou sua mãe?          
Num jornal da região onde eu moro foi noticiado que uma gata teve três gatinhos que acabaram aninhados num balaio em companhia de uma galinha. Esta passou a cuidar dos bichanos   e sua mãe aprovou a atitude da ave. O cachorro da casa foi conferir se tudo estava bem e aceitou também ação galinácea.          
Esse mesmo jornal noticiou o fato de um itinerante idoso, caminhante de destinos incertos, acolheu uma cachorra que por ele sentiu atraída e dali para frente não mais o abandonou.          
Os animais domésticos ou não, devem ser respeitados,  protegidos e bem tratados. Exemplo de amor verificou-se em abril de 2006 em Moscou, na realização de um festival internacional de felinos, quando foram expostos mais de 500 animais, inclusive uma gata Sphyns com seus filhotes. Enfim, são gestos que nos transmitem exemplarmente amor, amizade, fidelidade e tantas outras virtudes praticadas pelos animais irracionais.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

(des)encontro

sai do banho com pressa.
esfrega grosseiramente a toalha no corpo nu, ainda molhado, recém-libertado das preocupações mundanas.
está atrasada.
senta em frente à penteadeira de princesa – presente-herança da avó.
ah, vó… tinha o cheiro de lavanda…
não, para! tenha foco, mulher!
põe o brinco preferido, comprado do hippie da pracinha, de pedra preciosa.
só disfarça uma maquiagem pelo rosto, ainda tem luz no dia lá fora.
desfila o batom vermelho pela boca carnuda, que agora deixa evidente o brilho das más intenções.
uma segunda demão – só por garantia…
vigiada pelo espelho, pega a calcinha nova escondida no fundo da gaveta.
guardada para um momento especial.
e especial, hoje, é prato do dia.
o vestido florido escorrega pelo corpo – parece abraçar as curvas, lamber as coxas, apertar os seios miúdos.
ela geme. e sorri.
o perfume, este atrevido, ataca o pescoço. tarado, invade os pulsos.
marca território. bom menino.
nada nos pés. quer saber do chão para reconhecer o exato momento em que começar a voar.
dia especial, lembra?
abre a porta da sacada. está quase na hora.
dá tempo de tomar um copo de água.
não quer engasgar. quer, de uma vez por todas, falar o que sente. 
feito tabelinha com o sócrates – tocou, recebeu.
de volta à sacada, a ansiedade arranha o coração.
foco, mulher!
olha pra baixo. vê aquela gente indo pra casa, fim de labuta.
muitos deles voltando para seus amores.
muitos deles pensando em seus amores.
muitos deles desejando novos amores.
mas ela, não.
ela sabe o que quer.
mulher moderna. mulher fodona.
de repente, sente.
é agora. chegou a hora.
lentamente, levanta a cabeça. inclina o corpo, deixa levemente o colo aberto, seios quase se revelando feito fotografia à moda antiga.
queria fazer tipo, mas já escapava o sorriso, malandro que só.
fácil, fácil. que vergonha, vó…
já se sente na ponta dos pés.
levanta os olhos.
e vê.
sempre esteve ali.
quente, parecendo louco de desejo.
cheio de brilho, feito nova paixão.
tão próximo, como sonho bom.
recebe a ordem cerebral para dizer “eu te amo”. abre a boca avermelhada para obedecer, boa moça que é.
tarde demais.
ele ensaia o adeus – dois pra lá, dois pra cá.
fica menor. e menor. e menor.
pés no chão.
no horizonte, só aquele cheiro de despedida entre a trilha de migalhas deixadas pelo brilho, já um tanto opaco.
tudo bem. 
amanhã tem pôr-do-sol de novo.

e ela comprou um par de botas na promoção do shopping.