Hoje faz 50 anos do golpe militar que instaurou uma ditadura militar no Brasil.
Sangrenta e terrivel como toda ditadura, a data nao foi comemorada, no entanto, foi lembrada porque lembrar eh sempre importante.
segunda-feira, 31 de março de 2014
domingo, 30 de março de 2014
Premium: o olho biônico
O que é cristalino? Se consultado o dicionário
responderá: transparente, límpido. Trata-se de um adjetivo relativo ao cristal.
Pode ser som puro. Porém para a anatomia é a lente biconvexa elástica situada
no globo ocular atrás da íris e na frente do corpo vítreo. Uau! Simplificando,
trata-se da lente transparente atrás da pupila que coloca luz em foco na
retina. Resumindo mais ainda: a gente enxerga pelo cristalino. Toda a conversa
mole introduz o leitor no meu dilema shakespeariano: fazer ou não fazer a
cirurgia, eis a questão. Uso óculos desde os 17 anos e vinte anos atrás me
submeti a uma cirurgia para zerar a miopia. De acordo com o médico eu estava
trocando seis por meia dúzia. Ou seja: deixava de usar lentes para ver de longe
para me adaptar aos óculos para enxergar de perto. Isso deu um ar de
intelectual ao meu visual e fiquei satisfeita. Agora estou de novo com dois
exemplares: um para perto e outro para longe. Hoje existe uma lente conhecida
como premium corrigindo o grau para longe e perto, em um único procedimento
(cirúrgico, claro) no próprio consultório.
Bem, não é assim tão simples, porém
resolve mesmo o problema. Trata-se de uma cirurgia de extração do cristalino e
implante de lentes fazendo o papel natural do olho como os óculos, com um
conforto e desempenho maior. Será? Qualquer pessoa portadora de deficiência
visual pode tentar a cirurgia tomando alguns cuidados e repousando alguns dias.
Ela é personalizada e trata, além do grau, de imperfeições da córnea, tais
como: astigmatismo, miopia, hipermetropia através de lentes acomodativas, as
quais simulam o movimento normal do foco do cristalino, pois o implante
intra-ocular está sendo considerado o maior avanço da Oftalmologia nos últimos
anos. Assim seja! quinta-feira, 27 de março de 2014
encontros e desencontros
ela só queria ter a chance de encontrá-lo de novo.
a primeira vez foi rápida demais.
no metrô, depois de um dia de merda.
na corrida pelas escadas, cruzou seu olhar com o dele.
não durou um segundo.
mas ela se apaixonou.
ficou envergonhada, confessa.
cabelo preso, maquiagem no fim, calça verde, nenhum salto.
ai, se a mãe soubesse disso…
sim, claro que estava linda.
mas queria causar boa impressão.
queria que, dessa vez, ele virasse o rosto.
que olhasse para ela.
que deixasse escapar um sorriso.
ah, aquele sorriso.
nunca vira. mas imaginava.
de jacaré. cheio de dentes.
cheio de vida.
queria de novo o coração acelerado.
não, não era pela corrida!
ela tirava a são silvestre de letra!
lola teria inveja.
queria uma momentânea falta de ar.
um desequilíbrio neste dia a dia cada vez mais mecânico.
um motivo para se sentir boba.
feliz-infeliz-feliz. ao quadrado. em eterno looping.
por isso, dia após dia, fazia a mesma via-crúcis.
escada do metrô. correria.
ela indo. ele vindo.
ela passa. capricha no olhar.
… e nada.
dia após dia.
feliz-infeliz-feliz.
nada.
uma hora, cansa.
não a correria - ela tirava a são silvestre de letra!
o descaso.
o abandono.
a falta de consideração.
infeliz-feliz-infeliz.
naquele dia, manteve a produção.
manteve a corrida em busca de uma vaga no trem a partir.
o coração acelerado.
a falta de ar.
se aproximou.
os olhares se cruzaram.
ergueu o dedo médio.
- vai se foder!
um grito espartano.
o rapaz virou o rosto, olhou bem para ela.
e sorriu.
enquanto isso, ela entrava no vagão.
feliz-feliz-feliz.
quarta-feira, 26 de março de 2014
Os problemas estão abolidos.
No fundo, no fundo,
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
( Paulo Leminski )
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
( Paulo Leminski )
Ah! que bom seria se esse decreto fosse aprovado pelos poderes devidos, que proibissem aos casados terem discussões, que proibissem aos solteiros sofrer por amor, que proibissem a falta de dinheiro para pagar as contas, que proibissem a chuva quando os agricultores não a quisessem e que chovesse nos dias certos, que fosse proibido chover demais e de menos, que proibissem a tristeza, não a tristeza comum mas aquela tão dolorida, tão dolorida que leva à morte. Não, ninguém morreria se não quisesse. Porque tem gente que não quer morrer e tem quem queira. Para esses seria providenciada uma morte muito boa, suave, sem dor, dormiria cada dia mais até que dormisse para sempre.
Ah! que bom seria se esse decreto também estipulasse que poderíamos nos deslocar só com o pensamento. Quero estar em Paris, comandaríamos, e em instantes a Torre Eiffel se materializaria à nossa frente... ou outros lugares, um pouco mais exóticos: numa estação meteorológica na Antártida, nos fiordes da Noruega, na casa do Papai Noel, na Lapônia, ou num congresso de física quântica em algum lugar do mundo. Claro que não seríamos limitados pela Terra, poderíamos desejar ir à Lua, a Marte ou brincar de gira-gira nos anéis de Saturno...
Ah! que bom seria se ninguém nos magoasse, se nossa família inteira nos amasse e nós os amássemos também, se não existissem mal entendidos, inveja, rancor, indiferença...
Todos, absolutamente todos, se amariam e sentiriam imensa alegria ao se encontrarem.
Que bom seria!
segunda-feira, 24 de março de 2014
"Eu nunca erro"
Atualmente ha ao menos duas series americanas que se passam em Washington DC, capital do poder americano. Sao elas Scandal e House of card.
A primeira, focada na vida profissional e pessoal da advogada e ex-funcionaria da Casa Branca, Olivia Pope (Kerry Washington). Estreada em 2012 e atualmente em sua terceira temporada, a serie mostra a capital do poder e o meio politico, as malandragens, o lobismo, os eternos duelos por poder e as mentiras, mas, atraves dos olhos de Olivia, ha ainda na politica um certo heroismo. A figura do presidente (Tony Goldwyn) que escorrega mas mantem a integridade mesmo as turras com seu assessor chefe (Jeff Perry) e sua esposa (Bellamy Young).
House of card, estreada em 2013, esta em sua segunda temporada e tem como casal base Francis e Claire Underwood (Kevin Spacek e Robin Wright), politico e lobista. Casados. Juntos eles manipulam o governo por dentro e a imprensa por fora buscando promover sempre seus interesses.
Sem se preocupar com nada ou ninguem que entre em seu caminho. A serie mostra o jogo, a maldade, as picuinhas, a podridao e o pior dos seres humanos.
Se Scandal escorrega em eventuais romantismos, House of cards vai fundo nas entranhas da maquina politica e mostra um mundo sem salvacao.
Entao, amiga Rosa Beroldi, as mudancas climaticas na verdade sao causadas para saciar a sede de dinheiro de empresarios que compram politicos que vendem os bens naturais, o corpo e a alma do povo, por um iate, um jatinho... ou se fosse no Brasil, uma passagem pra Miami ja bastaria!
A primeira, focada na vida profissional e pessoal da advogada e ex-funcionaria da Casa Branca, Olivia Pope (Kerry Washington). Estreada em 2012 e atualmente em sua terceira temporada, a serie mostra a capital do poder e o meio politico, as malandragens, o lobismo, os eternos duelos por poder e as mentiras, mas, atraves dos olhos de Olivia, ha ainda na politica um certo heroismo. A figura do presidente (Tony Goldwyn) que escorrega mas mantem a integridade mesmo as turras com seu assessor chefe (Jeff Perry) e sua esposa (Bellamy Young).
House of card, estreada em 2013, esta em sua segunda temporada e tem como casal base Francis e Claire Underwood (Kevin Spacek e Robin Wright), politico e lobista. Casados. Juntos eles manipulam o governo por dentro e a imprensa por fora buscando promover sempre seus interesses.
Sem se preocupar com nada ou ninguem que entre em seu caminho. A serie mostra o jogo, a maldade, as picuinhas, a podridao e o pior dos seres humanos.
Se Scandal escorrega em eventuais romantismos, House of cards vai fundo nas entranhas da maquina politica e mostra um mundo sem salvacao.
Entao, amiga Rosa Beroldi, as mudancas climaticas na verdade sao causadas para saciar a sede de dinheiro de empresarios que compram politicos que vendem os bens naturais, o corpo e a alma do povo, por um iate, um jatinho... ou se fosse no Brasil, uma passagem pra Miami ja bastaria!
domingo, 23 de março de 2014
Socorro... são as mudanças climáticas
Enquanto os alarmistas dizem que dentro de alguns anos não
vai haver água suficiente para todos, as calotas polares estão se dissolvendo
devido ao aquecimento. Se isso acontecer, o nível do mar vai subir e muitas
cidades desaparecerão. Terrorista, dirão. Mas, como não ser, vendo os
noticiários das televisões e a quantidade de catástrofes naturais, como são
chamados os tufões, os tornados e as chuvas torrenciais ou secas alarmantes pelo
mundo afora, sem falar no frio e calor intensos... No meu tempo a coisa
funcionava assim: os raios solares penetravam na atmosfera atingindo a Terra.
Ela devolvia parte da quentura recebida. Atualmente, o calor fica retido por
gases provocando o efeito estufa. Estão vendo só, mais um problema: o tal do
efeito estufa, considerado como o problema ecológico mais grave a ser
enfrentado pelo planeta. Ninguém pode provar que tal aquecimento seja provocado
pelas atividade
s humanas. Mas, ele está aumentando... Calma, está tudo bem. O
tal efeito é benéfico, dizem os relatórios fabricados pelas Nações Unidas.
Pânico? Não há razão para isso, afinal o carbono fornece alimento para plantas,
portanto com a população crescendo, eu aconselho os leitores a fincar os pés no
acelerador dos carros para aumentar as colheitas. Ah, deixem dessa bobagem de
abastecer carro com combustível alternativo para poluir menos, tudo bobagem.
Vou colocar a venda uma bela camionete Eco Sport flex quase zero, alguém se
interessa?
Será que existem pessoas crédulas, o suficiente para
acreditar nesse pessoal? Qual o interesse deles em divulgar essas notícias tão
atravessadas e fora da realidade?
Paralelamente, quem não acredita nessas declarações procura
educar as crianças pensando na proteção do planeta azulzinho. Ele é ele só, não
conheço outro igual no sistema solar. Existe também um alerta sobre a emissão
do chumbo. Presente na gasolina responde por 60% das emissões geradas pelos
veículos. Por isso é desaconselhável consumir alimentos plantados próximos às
estradas, numa distância de 100
metros de ambos os lados. Mas, não se preocupem com
isso, está tudo bem! Os novos combustíveis estão zerados desse elemento
químico. Quem falou? O noticiário da televisão.
Enquanto os americanos tentam convencer a humanidade que os
ecologistas são radicais e estão errados, os europeus buscam harmonizar as
diferentes legislações sobre o meio ambiente. Na França até a gendarmeria
nacional criou uma seção dedicada ao verde. Produziram um manual, aplicam multas
contra os delitos referentes à natureza. A ação preventiva é necessária,
ninguém me convence do contrário, basta constatar a quantidade de catástrofes
naturais, nem tão naturais assim, pois provocadas pelas intervenções humanas no
planeta. É hora de dar um basta à imprudência dos seres humanos ou vai sobrar
pouca gente para contar a história.
sábado, 22 de março de 2014
Alegria
Achei que deveria escrever palavras de alegria. Da alegria que arrebata, faz a mandíbula doer, os olhos brilharem. Alegria sabe? Como criança com mangueira, como chocolate derretido no abajour, como banho de mar com chuva de verão, como lua cheia de férias na praia. Livro novo ganho no Natal? Macarrão com bastante queijo ralado. Um bom vinho e um papo que não acaba. Uma nota de cem reais escondida no bolso da calça no final do mês. Um amigo querido que chega de uma longa viagem. Abraço de mãe quando o mundo parece que vai acabar. Cachorro balançando o rabo quando chego em casa? Alegria. Essa mesma. Eu também conheço alegria. Assim, profundamente. Ela é colorida, toca música, tem imagens boas, costura panos de prato que enfeitam os almoços de domingo, com mesa cheia. Isso é alegria:mesa cheia. De comida e de gente amada. Um bom livro, um bom filme. Um não, muitos deles fazem minha alegria. Cheiro de biblioteca, hum.... Uma bolsa nova e bem cara, daquela que a consciência pesada não ganha da alegria. Irmão que mora longe e chega de surpresa? Alegria pura. Pé no chão, na areia, na grama? Alegria. Beijo na boca, sexo com música, sem... alegria. Ufa.... quase não consegui. Alegria é coisa difícil. Mas nesse texto não cabe nada além de alegria. Deu certo? Vou continuar tentando.quinta-feira, 20 de março de 2014
0800
só havia escuridão no quarto quando ele levantou da cama.
e um cheiro forte de insanidade também.
sentado, mãos passeando pela barba cheia, suspirou.
não se despediu dessa vida dormindo.
pena.
obrigado a encarar mais um dia.
mais um dia de dores.
mais um dia de desejos não realizados.
de sonhos distantes.
de ideias desprezadas.
de esperanças maltratadas.
pensou em ligar no 0800.
reclamar. direito dele.
mas deu preguiça.
levanta, toma banho, toma o café.
tenta não pensar nas coisas.
nos inimigos que vai abraçar.
nas hipocrisias que vão despejar.
na coleção de sorrisos que terá de tirar do fundo da gaveta.
tarde demais.
escova os dentes, escolhe a roupa, calça o all-star.
calça a culpa cotidiana que arrasta há anos.
o desânimo que encontrou na esquina e, com dó, trouxe pra casa.
deu até leite quente, pra ver se engordava.
gira a chave. chama o elevador. diz bom dia ao porteiro.
estufa o peito de uma coragem mentirosa pra caralho.
nesse meio tempo, clareia.
o que era escuridão dá lugar a um escandaloso sol matinal.
ao menos, do lado de fora.
porque, dentro, tá tudo opaco.
mexe no contraste, por favor.
o estado é de calamidade.
se vai melhorar?
ninguém liga.
coça a barba, pé depois do pé, segue a vida.
ninguém liga.
nem a mina do 0800.
quarta-feira, 19 de março de 2014
Da minha janela vejo a Lua.
Ah, Lua, quão bela você é!
Se um dia chorei quando disseram que eu tinha cara de lua, é porque imaginei que fosse feio.
Hoje gostaria que alguém me olhasse nos olhos, sorrisse e dissesse:
- Você tem cara de Lua.
Desvendaram seus mistérios, violentaram seu silêncio, marcaram sua face com pegadas de pesados sapatões, você não é mais virgem, foi possuída, fincaram uma bandeira em seu ventre.
Como você se sente? Eu me sentiria escancarada. Afinal você está nua, Lua, não há musseline, filó, point d´esprit, nada, por mais fino e delicado que fosse o tecido, nenhum suave e esvoaçante pano a esconder sua intimidade. E o homem chegou com seu veículo lunar, escolheu no seu corpo o melhor lugar e a marcou como se marca um zebu, um gir ou um gado qualquer, fincou-lhe um mastro. Não deveria ter feito isso, Lua. Peço desculpas.
São Francisco, tão seu amigo que a chamava de irmã, nunca abusou de sua bondade, não lhe teve intimidades, você não se deu ao desfrute. Por que essa ousadia de um astronauta que só a olhou como meta a ser atingida e sequer fez um poema olhando-a nos olhos?
Desculpe-nos, Lua!
domingo, 16 de março de 2014
Sarah Thornton: visita ao ateliê...
As minhas observações de hoje continuam um assunto
iniciado semana passada. Gostaria de deixar claro: 1) tenho o maior respeito
pela arte contemporânea, 2) principalmente, pelos artistas que conseguem ganhar
milhões com seu trabalho sem fazer força. Como vocês sabem estou lendo Sete
dias no mundo da arte. Isso não vai me
transformar em especialista da área, mesmo assim vou comparar a opinião de um
editor respeitado como o da Artforum e meu humilde ponto de vista, pois ele tem
razão quando diz que muitos artistas não podem ser levados a sério na
atualidade.
Estou me divertindo ao acompanhar a visita de Sarah
ao ateliê de Murakami. Não, não é o autor do best seller 1Q84. Nesse caso, trata-se
de um discípulo de Andy Warhol, afirmação dele, não minha. Takashi Murakami e
seus 90 empregados entre Saitama, Tóquio e New York são os autores do Oval
Buddha com seus cinco metros e meio de altura. Ufa, um horror! Fiquei de boca
aberta ao ver a obra e de queixo caído ao saber que em Tóquio os taxis são
pretos com bancos rendados. O motorista usa luvas brancas e máscara cirúrgica.
Não perguntem: porque??? A autora não diz e nem sei como cheguei aqui. Como não
gosto de comida japonesa e não sou do meio artístico a minha resposta é nada a
declarar... Ainda mato o Baptista com sua mania de querer me transformar em intelectual.
Sou hippie e jogo tênis. Esquisito? Esquisito seria dizer sou hippie e não fumo
maconha! Murakami deve ser um fenômeno de mídia. Posso garantir: o homem não cursou
Belas Artes (não coloca um dedinho nos trabalhos) ele é publicitário e cuida
muito bem da própria carreira. Criou um
monograma para Louis Vuitton cheio de flores coloridas usando 33 cores e a
coisa pegou. Como a empresa pagou um bom dinheiro, ele decidiu aumentar sua
fortuna se apropriando do próprio desenho e colocando tudo em telas, pintadas
pela enorme equipe distribuída pelos três ateliês. Outra extravagância do
japonês são quatrocentos quadros de cogumelos de 25 centímetros. Alguém se
interessa? Cogumelos... como não pensei nisso... Cogumelo/psilocybe dá um chá alucinógeno, vai
ver é isso. Os cogumelos são psicodélicos, só pode ser! 33 cores!!!!!!!!!
Quando pensar no ateliê de Murakami esqueça tudo que
você viu ou imaginou até hoje como um ateliê. O dele está mais próximo de uma
sala cirúrgica. Silencioso, paredes brancas, email, iChat, iPhone, iPad,drones,
smartwatches e toda parafernália de softwares inteligentes, além de conferências
telefônicas regulares. O único barulho é de um secador de cabelos usado para enxugar
a tinta das telas. Lendo a descrição de Sarah Thornton sobre sua ida aos
ateliês, e a descrição dos trabalhos, pensei em Romero Brito. Para mim sempre foi inexplicável o sucesso do
brasileiro em Miami, mas comparado ao trabalho de Murakami, Brito pode ser
considerado quase um clássico!
quarta-feira, 12 de março de 2014
Adjetivos qualificativos...
Quando uma de minhas filhas foi para Florença estudar, eu a acompanhei. No primeiro dia de aula dela o diretor da escola perguntou o que eu faria com meu tempo livre (achei que era uma cantada, o que confirmaria a fama dos italianos... mas não era).
Disse-lhe que andaria pela cidade sem destino, sentindo o cheiro e vendo detalhes daquelas ruas históricas... Ele respondeu enfaticamente:
- “Perda de tempo. Venha fazer um curso aqui. Não vou cobrar nada.”
Colocou uma folha na minha frente, eu fui preenchendo e depois de uns vinte minutos me disse que eu estava classificada para a sala 3.
Entrei numa turma já formada: uma jovem senhora, executiva suiça, um jovenzinho alemão lindo, de família riquíssima e que estava ali aprendendo seu sexto idioma, duas mocinhas peruanas cujas mães trabalhavam na Itália como faxineiras, uma jovem de trinta e poucos anos, canadense, doutorada em arte e fotografia, uma mocinha nova-iorquina, filha de jornalistas pretendendo ser advogada com especialização em Direito Internacional e uma outra senhora, um pouco mais velha, nascida na Irlanda, criada na Austrália e na França, residente na Suiça, era chefe da segurança de um internato suiço para rapazes... sabia caratê e manejava uma arma de fogo com destreza. Essa foi a minha classe.
O professor, Ermano, tinha a minha idade e encontramos uma infinidade de pontos em comum, livros, filmes, opiniões políticas, ele era encantador apesar de seu metro e cinquenta. Ao falar, principalmente quando se empolgava, parecia ter dois metros.
Um dia, ao iniciar um debate, ele sugeriu que a primeira pergunta fosse dirigida a mim. Eu perguntei, intrigada:
Um dia, ao iniciar um debate, ele sugeriu que a primeira pergunta fosse dirigida a mim. Eu perguntei, intrigada:
- Por que eu?
E a resposta foi:
- Porque você é excêntrica.
Fiquei felicíssima. Hoje acredito que essa seja minha maior qualidade: sou excêntrica.
domingo, 9 de março de 2014
SETE DIAS NO MUNDO DA ARTE
O livro
foi escrito por Sarah Thornton. A autora conta com um bom humor sensacional seu
contato com a arte a partir de um leilão da Christie’s realizado todo mês de
novembro em New York. Ela descreve os tipos exóticos frequentadores desse mundo
tão pequeno através de um passeio de sete dias. O leilão é o primeiro dia. O
segundo
ela passa ao lado de críticos de arte classificando seis diferentes
papéis exercidos por essa gente estranha: artista, marchand, curador, crítico,
colecionador, leiloeiro. Para Sarah Thornton esse universo partilha um
princípio: nada é mais importante do que a própria arte. De acordo com a autora
muita gente até acredita nisso! Em
seguida ela embarca para a Suíça onde se realiza a mais importante feira de
produção artística contemporânea do
planeta se perguntando quando a bolha vai explodir. Eu me faço a mesma pergunta
sempre... e nem sou entendida em arte. Leio essas coisas para agradar o
Baptista, esse homem turrão decidido a fazer de mim uma intelectual. Ele
precisava ter ido ao casamento da Leticia Sabatella. O padre disse algo
interessante. O homem casa acreditando na mudança da mulher, porém quem se
transforma é ele. Baptista não percebeu que, de sério e mal-humorado, está
feliz e risonho. De sedentário passou a atleta, guardadas as devidas
proporções. Falando em proporções vamos voltar ao assunto principal, arte. De
certa maneira a feira e a visita ao ateliê têm algo em comum, a produção e
comercialização da obra. Nesse perambular a autora descobre 1) o mundo da arte
é uma aldeia; 2) feiras são menos estressantes que leilões; 3) obras comercializadas
em feiras nem sempre são vendidas pelo maior preço e sim ao mais respeitável
colecionador, o praticante da compra em profundidade, cujo acervo seja
coerente. Viva! Fica claro para o leitor que o nome do livro refere-se à
síntese de uma pesquisa maior distribuída em uma semana. O quarto dia foi
dedicado ao Prêmio Turner, da Tate Britain, conjunto de três galerias e um
museu. A Tate Gallery é a mais visitada do mundo seguida pelo Moma. O prêmio
anual tem quatro correntes finalistas. Uma de suas observações é que as pessoas
do mundo da arte falam como se fossem íntimas de todos, chamando poderosos pelo
primeiro nome: Jay, Larry, Damien, etc. De volta a New York após passar pela
Suiça e Grã Bretanha vai ao encontro do editor da Artforum. Poderosa eu?
Trata-se da revista mais conhecida no mundinho artístico, consequentemente,
Knight Landsman é tão respeitado quanto o papa.
Para a arte Artforum tem a mesma importância da Vogue para a moda. De
acordo com o editor da revista – prefere o anonimato – 95% da arte
contemporânea não pode ser levada a sério. Sério??? Eu ainda estou no quinto
dia. Aí tem coisa... sábado, 8 de março de 2014
Nunca mais ver Maria
Talvezeu devesse me submeter a um rito de passagem. Desses onde se pinta a cara, ou
onde se entoa hinos pelada ou coisa assim. Sim, uma marca que me garanta que
estou entrando para uma nova existência. E aí chamaria Maria para me
acompanhar. Ela viria descalço, assim como veio João quando o chamei. Ela
estaria sorrindo e me daria as mãos calejadas me jurando que daqui para frente
as viagens seriam mais alegres. Mas eu teria coisas a dizer a ela, não sei
fazer viagens alegres, elas ficam sem graça. Maria me pegaria pelas mãos e me
levaria ao lugar mais distante da cidade, diria que o rito de passagem faria
ela mesma.
E
ela me contaria de mim, das minhas coisas e das minhas dores. Maria seria
abençoada com uma luz que só Maria, moradora de Cuiabá, teria. Ela me diria que
o que vai rápido deveria ir mais devagar e o que vai devagar, deveria ir mais
devagar ainda. Maria sábia, moça vivida, terra batida.
Falaria
a ela que me falta luz, me faltam
palavras que se bastem em
uma. Talvez ela me dissesse para ter calma que as palavras
vão voltar assim como muita coisa voltou. Diria a ela que quero sair do meu
corpo e assim fazer meu rito de passagem. E ela me ajudaria. Eu sairia e fugiria
para nunca mais ver Maria.
quinta-feira, 6 de março de 2014
palavras
paixão era cega.
nascera assim, segundo os médicos.
por quê? nenhum doutor se arriscava.
mas foda-se.
não era problema.
paixão não precisava dos olhos.
apostava no seu sexto sentido.
poder de super-herói, sabe?
quando algo ruim se aproximava, a dor no joelho piorava.
joelho ruim por causa do basquete.
doía sempre.
mas quando a energia negativa se instalava, a dor era de chorar.
e, assim, dos olhos pálidos da paixão, corria uma lágrima.
uma só.
era o sinal.
“cai fora. e rápido.”
ela não pensava duas vezes.
corria.
guiada pelos braços, que descobriam o espaço físico ao redor, e pelo coração, que protegia cada passo acelerado.
proteção mais-que-divina, sabe?
chegava em casa, trancava a porta, se escondia embaixo do edredon estampado com fitinhas do senhor do bonfim.
não, não acreditava em santos.
nem em anjos.
acreditava só no amor.
tadinha.
também tinha super-poder para o amor.
ao sentir que um grande amor se aproximava, paixão escrevia.
tirava lápis, caderneta (paixão era vintage…) da bolsa.
era incrível.
as letras ganhavam forma em sua mente. as mãos faziam o resto.
geralmente, era uma palavra.
uma vez, saiu “sereno”. em outra, “capricho”. em outra, “música”.
o barulho do arrancar-página vinha acompanhado daquele friozinho na barriga.
frio adolescente, espinhas na cara.
paixão se dirigia até a pessoa, esticava o braço.
o papel, dobrado duas vezes, era entregue.
em silêncio.
rompido apenas pela ensurdecedor desdobrar da folha.
esperava uma resposta.
qual?
nem ela sabia.
sabia que, quando fosse a resposta certa, não haveria mais lágrima.
nem corridas.
só o amor.
até hoje, nada de resposta certa.
talvez não fosse a palavra certa escrita também.
mas não faz mal.
paixão segue fugindo.
paixão segue escrevendo.
cega dos olhos.
mas vendo o amor em cada palavra.
segunda-feira, 3 de março de 2014
domingo, 2 de março de 2014
A moda
Para os sociólogos é um fenômeno cultural consistindo na
mudança periódica e coercitiva de estilo. A maioria das pessoas acredita ser
uma proposta para uma estação. Vejo como uma renovação no estilo pessoal de
cada um. Como o Baptista decidiu fazer de mim uma mulher culta deu-me uma
coleção de livros ilustrados com a história da beleza nas artes. Nossa o livro
é um arraso! O que isso tem com a moda? Tudo. Quando conheci Nefertiti descobri
que ela desenhava sua própria roupa. Nefertiti, a rainha do Egito... Seu nome
significa “a mais Bela chegou” isso explica a preocupação com a moda? Dizem que
ela era deslumbrante. E para mostrar toda essa beleza criou vestidos longos e
levemente transparentes presos somente até a altura dos seios e abertos lateralmente
até os pés. Quando andava o vestido abria revelando seu corpo escultural. O
faraó não devia ser ciumento. Eram primos e isso deve ter provocado à doença de
suas seis filhas: hidrocefalia. Trata-se da acumulação de líquido no interior
da cavidade craniana causando um inchaço no crânio. Resumindo as princesas
tinham as cabeças alongadas como mostram as pinturas egípcias naturalistas
daquela época. Quando as meninas começaram a frequentar a corte, mamãe modista
desenhou um tocado para as garotas e para ela. Muito engenhosa a imperatriz,
vocês não acham? Todas as mulheres passaram a usar algo parecido e as princesas
estavam salvas das fofocas da corte.
Muitas páginas depois, me deparo com uma jovem alemã em um
retrato cuja descrição me pareceu hilária: o autor compara a brancura da moça
com Penélope, fala do ornamento cefálico que amplia sua fronte. Aqui sou eu
falando: reparem na semelhança com o tocado de Nefertiti. Mas, tem mais sobre a
descrição do apaixonado: “a ridente boca cheirosa de canela e sua ornadissima
fala.” Como diz a propaganda da maionese: ah, não orna... com os dias de hoje
não é? Em seguida chego ao capítulo denominado de A beleza mágica entre os
séculos XV e XVI. Olha o cabelo da moça, parecendo com os frisados da
atualidade. O lenço na cabeça me fez lembrar os tempos de hippie, com bandanas
e fios amarrando cabeleiras sujas e mal lavadas. É a lei do eterno retorno.
Alguém deve estar dizendo: pirou. Que conversa mole. Não é. Comprei uma saia
longa estampada. Devido ao calor cortei o forro. Ela ficou um pouquinho
transparente. O detalhe é que a costura na frente só vai até o joelho. Juro que
veio assim da loja. Quando eu sento a abertura sobe e deixa uma das pernas de
fora. Pera aí mente suja eu não sou Nefertiti e minhas pernas são finas, mas
como convencer o Baptista que foi um acidente e não proposital a compra? Ah, a
moda... me deixou literalmente numa saia justa!
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