Conheci a obra de Kafka aos quinze anos através do livro Cartas a Milena. Devagar fui lendo toda sua produção. Acho que uma das razões por nunca ter desejado conhecer Praga foi ler Kafka. Como eu trabalho demais e estava mortamente cansada, há pouco tempo decidi descansar e escolhi Paris para isso. Queria rever a cidade onde morei durante um curto período para terminar meu mestrado. Minha filha fez uma contraproposta: uma visita à Praga. Contei para os leitores como foi chegar lá, então não vou repetir: uma maratona. Mas, a partir do aeroporto tudo começou a dar certo, graças a um carioca, professor de dança, que viva lá há uns quatro anos.
Praga/Kafka, Kafka/Praga essa sempre fora minha associação. E não é que apareceu aqui em casa um livro de Jeannette Rozsas, de titulo Kafka e a marca do corvo? Vocês devem ter percebido que procuro ler autores novos. Gosto de novidades, e as surpresas são sempre agradáveis. Trata-se de uma biografia romanceada de Franz.
Jeannette descreveu com precisão a Praga de ontem, que é a mesma de hoje. Foi um passeio e tanto. Não preciso dizer que quando estive lá, o primeiro lugar a ser visto foi o bairro judaico e sua velha sinagoga. Acho que levei uns três dias para criar coragem e visitar o castelo. Quem não se lembra do livro de Kafka sobre de titulo O Castelo?
Embora para mim o mais impressionante ainda seja O Processo. Descobri com ela que Kafka era advogado por formação. Estranho, eu nunca imaginei... mas faz sentido. Ele pertencia a uma rica família e seu pai precisava de alguém para tocar seus negócios e quem mais apropriado senão o próprio filho? Kafka era judeu de sangue e mesmo passando pelos rituais próprios do judaísmo, foi ateu por um bom tempo. Porém, adulto começou a perceber que a religião que seu pai seguia não tinha semelhança com os escritos da Tora e talmude e iniciou seus estudos sobre cultura judaica tendo aprendido hebraico e iídiche. Nasceu e viveu grande parte de sua vida em Praga, capital da Bohemia, mas os intelectuais e as classes altas falavam alemão, então suas obras foram escritas nessa língua. Era o idioma oficial do Império Austro-húngaro. Se você buscar informações sobre ele vai descobrir que é “o maior escritor de língua alemã do século XIX”. Estranho, não é?
Só para vocês perceberem a contradição: quase toda a família Kafka morreu em campos de concentração. Mas, de volta ao passado, não dona Rosa. Pra gente é que se anda... hum... acho que é plágio!
Uma curiosidade: Jeanette chamou seu livro de: Kafka e a marca do corvo. Kafka em tcheco é corvo. Parece que o aspecto negativo que tem o animal é coisa do Ocidente, embora uma ou duas vezes Kafka tenha se referido a isso. No caso dele deve ser por causa do Romantismo, que tinha a ave como de mau-agouro, porém em outras localidades como China, Japão e outros países orientais ela é símbolo de gratidão filial.
Uma gratidão que só foi despertada em Kafka no final de sua vida, após conhecer e viver algum tempo em Berlim, ao lado de Dora, o último amor de sua sofrida vida. Em tempo: Praga é uma cidade maravilhosa, mesmo com uma sensação térmica de -20 graus e sua neblina que só desaparece umas 10 horas da manhã para reaparecer às 16 horas, quando o relógio da praça centenária, religiosamente toca para chamá-la, e a noite cai de novo. Mas, o dia não termina aí, a cidade é cheia de bares e cafés e bons restaurantes que aquecem até turista brasileiro que odeia frio.
2 comentários:
Como gosto de sua escrita!Então Praga não é uma praga?rsssss...Sobre corvos, segundo reza a lenda, dos corvos depende o futuro da monarquia britânica. parece que tem algo a ver com o fato de o Rei Artur se ter transformado em corvo! Por isso, são cuidadosa e ciosamente guardados numa enorme gaiola na multisecular e vetusta Torre de Londres!Não tem muito a ver com seu texto mas, sei lá, deu vontade de contar...Beijo!
Como não tem nada com meu texto? (alias com alguns errinhos, pois foi escrito correndo)E droga, com a nova ortografia do presidente analfabeto, eu nem sei mais onde colocar assento, ponto, virgula, uma vergonha.Mas, não adianta chorar, como diz o proverbio popular.
E sim Praga é linda, merece uma visitinha de pelos menos alguns dias. Não só lojas de luxo, mas as feiras populares da cidade são uma jóia. Artesanato lindo!!!!!!
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