"O amor é uma doença que acomete o pensamento de uma pessoa e a torna obcecada por outra pessoa, criando um vício incontrolável que busca penetrar em todos os mistérios da pessoa amada: suas formas, seu corpo, seus hábitos.
Trata-se de um anseio desmedido, uma visão perturbada que invade o coração dos infelizes. Tornam-se ineficazes e dispersos. Esses infelizes deliram em abraçar, conversar, beijar e deitar-se com o ser amado, mas jamais conseguem fazê-lo plenamente (por várias razões), e essa impossiblidade é essencial na dinâmica do desejo perturbado. Corpo e alma estremecem anunciando a febre da distância.
O amor romântico é uma doença. Nada tem a ver com felicidade. Por isso sua tendência a destruir o cotidiano, estremecendo-o.
Ou o cotidiano o submeterá ao serviço das instituições sociais como família, casamento e herança patrimonial, matando-o.
Por isso os medievais diziam que o amor não sobrevive ao cotidiano. O cotidiano respira banalidade e aspira à segurança (irmã gêmea da monotonia, mas que a teme ferozmente) e a paixão se move em sobressaltos e abismos. Uma pessoa afetada pela paixão não pensa bem.
Nem todo mundo sofrerá da "maldição do amor" como diziam os medievais. Muita gente morre sem saber o que é essa doença."
Gostei tanto do que li hoje, na Folha, E 8, escrito pelo Luiz Felipe Pondé, que não poderia deixar de dividir com vocês.
Ao que transcrevi acrescentaria: azar de quem não não foi contaminado pelo vírus do amor e mais: pegar a doença uma vez não imuniza, o que é ótimo.
Bendita maldição!
Finalizando, trecho de uma entrevista com Flávio Gikovate que lançou recentemente seu livro
“Uma História de amor... com final feliz” onde decreta a morte do amor romântico e acredita que os relacionamentos atuais não duram por serem formados por “um egoísta” e “um generoso”, onde um exige de mais e o outro sempre cede. Melhor ficar sozinho! “A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem”, diz.
Vocês acreditam nisso?