Em 30 de novembro de
2013 morreu um grande homem: Dom Waldyr Calheiros de Novaes, alagoano de
Murici, nascido em 29 de lulho de 1923. Foi bispo da diocese da Barra do Piraí
e Volta Redonda (RJ). Nesta última cidade localizava-se a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), onde imperava o trabalhismo organizado. Em 1988, em pleno
período considerado de retorno do país à democracia, contrariando essa
situação, com o fito de desbaratar uma greve que ocorria na CSN, o exército
invadiu a fábrica e da violência resultaram a morte de três operários e
ferimentos em muitos outros.
Num dia chuvoso,
na praça de Volta Redonda, dom Waldir e quatro outro bispos em cima de um caminhão e assistida por
milhares de trabalhadores, rezaram a missa de sétimo dia dos operários
falecidos e, segundo Kenneth Serbin, “pendendo de uma grande cruz, as roupas
ensanguentadas dos três trabalhadores morto se erguia como testemunha da
violência do sistema político no Brasil.”
Há muito tempo que
dom Waldyr litigava com os militares pela injusta prática da censura ou da
tortura àqueles que não concordavam com o regime instalado. Serbin relaciona
casos em que, além de defender os direitos dos trabalhadores na greve
sangrenta, dom Waldyr resistiu “ao militarismo e seus efeitos
dolorosos sobre a sociedade brasileira” , defendendo sua posição com firmeza.
Segundo esse autor, “dom Waldir entrou pela
primeira vez em conflito com as autoridades em 1967, quando soldados invadiram
sua casa para prender um grupo de padres e leigos acusados de subversão. Ele
criticou o oficial encarregado da investigação, um tenente-coronel do Primeiro Batalhão
de Infantaria Blindada de Barra Mansa (1º BIB), por concentrar-se na luta
contra a subversão ao mesmo tempo em que a política do regime era manter os salários dos trabalhadores muito baixos.
Em 1969, declarou-se prisioneiro do 1º BIB, um ato de protesto contra a
detenção de dois professores suspeitos de subversão.”
Dom Waldir e
dezessete padres denunciaram a prática de tortura naquele batalhão, sendo por
isso interrogado durante 25 horas. “Depois de quatro soldados serem torturados
até a morte no 1º BIB, em janeiro de 1971,
ele reportou as atrocidades para bispos colegas que participaram da
ultrassecreta Comissão Bipartite, criada com o fim de amainar a relação cada
vez mais tensa entre Igreja e Estado”, escreveu Serbin. Depois de muita
insistência, comandos militares reconheceram que torturas foram feitas contra
subordinados.
Seu
falecimento fica ligado a sua ação que somente engrandece o papel da Igreja
Católica na luta pelos direitos humanos. Espero que esses episódios, para que
não se repitam, sejam inseridos nos currículos escolares.
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