E então ela
tomou um ônibus.
Não
queria ir para determinado lugar, só queria ir. Na rodoviária entrou numa fila,
ficou olhando, na tabela atrás do atendente, os nomes das cidades. Não lhe
diziam nada, então olhou os preços e resolveu comprar uma passagem de setenta e
oito reais.
Jogou-se
na poltrona e quando o motorista deu partida ela sentiu uma enorme felicidade.
Ninguém sentara ao seu lado, poderia se esparramar. Fechou a cortininha e
percebeu que tomara a decisão certa e sem vacilar. Bom sinal, estava ficando
decidida.
Queria fumar. Será que no banheiro havia sensores?
Um saco essa história, essa guerra contra os fumantes, cada um opta por sua
vida, faz de sua saúde o que quiser. Caminhou para o banheiro e acendeu o
cigarro sentindo a boca do estomago. Não aconteceu nada. Inspirou sofregamente
a fumaça. Tinha sido uma boa fazer o curso de perfumaria, o spray na bolsa foi
aspergido para disfarçar o cigarro. A mulher que passou por ela no corredor
seria o tira-teima, se sentisse o cheiro do fumo iria denunciá-la? A mulher voltou,
passou por ela sem olhar. Beleza!
Pela
fresta da cortina espiava o poente. Lindo.
Acordou
com as vozes alteradas. As luzes estavam acesas, mexeu na cortininha, noite
ainda.
- Não
interessa, todos têm que sair! Vamos lá, pessoal, não enrolem, têm que sair.
Levantavam-se
preguiçosos, alguns agitados querendo argumentar e o policial com a arma
erguida – ainda bem, não apontava para
ninguém – só parecia se exibir: “sou a autoridade!” olhando-os de cima a baixo.
- Vamo
logo, vamo logo!
O
berreiro da criança deixando a todos mais alertas ainda. Sem explicação, sem
justificativa... ou ele teria dito algo antes que ela acordasse?
Fazia
frio, nenhuma luz à vista, nada de estrelas, nem luar ou nuvens. No meio do
nada sem saber por quê.
Um
policial de cada lado, armas em riste, guardavam o grupo. Ninguém falava. Ainda
bem que a criança calara a boca. Viu-a sugando uma mamadeira. Mãe providencial.
Dois outros policiais socavam os bancos, davam chutes nos assentos, cutucavam
sacolas. Dois ou três volumes foram jogados para fora do ônibus. Do degrau a
autoridade pediu que os donos se aproximassem.
- Abram!
Com a
boca do fuzil remexeu nas coisas que se esparramaram pela terra.
- Podem
subir. Devagar e calados!
A criança
dormia. Ajudaram a mãe a subir, outros, de joelhos, procuravam quinquilharias
na poeira para voltarem às sacolas violentadas.
- O que
aconteceu? Ela criou coragem de perguntar baixinho ao vizinho da frente, quando
a porta foi fechada e já não mais havia risco. Não sabia, estava dormindo.
Com o
ônibus em movimento foi até o motorista. Havia recebido sinal para parar.
Parara, eles entraram e o resto ela sabia.
Chegaram à cidade no meio da madrugada.
(Continua na próxima semana)
6 comentários:
Curiosa pra saber o fim da história...
E se eu disser que no hotel ela encontrou um senhor viúvo, impecavelmente vestido, que gostava de Sibelius e chamava Baptista??? rssssssssss.
E se eu disser que no hotel ela encontrou um senhor viúvo, impecavelmente vestido, que gostava de Sibelius e chamava Baptista??? rssssssssss.
E se eu disser que no hotel ela encontrou um senhor viúvo, impecavelmente vestido, que gostava de Sibelius e chamava Baptista??? rssssssssss.
Adoro "continua na próxima"... ai que desespero de esperar!!!!
Só começou a viagem.... já embarquei,,, quero mais.
Camilla Tebet
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