sábado, 27 de novembro de 2010

FIQUEI COM MUITA PENA DELA...

Sabe com quem eu cruzei essa semana? Com a Janira, a secretaria de cultura. Todo mundo falando de Natal e ela as voltas com o pessoal do carnaval. Comentei que ouvi a entrevista dada no sábado passado na rádio Auri-Verde e ela disse: parece fácil, não é? Fique sabendo que o povo do carnaval é bem difícil de lidar. Mesmo assim estou levando... Lembrei-me do carnaval passado. Eu como sempre fui para a praia e escolhi Salvador para meu descanso e quando voltei alguém comentou que a Janira havia publicado um texto sobre o assunto e pedi que ela me enviasse o rascunho, pois o jornal fora parar no lixo reciclável. Tomei a liberdade de colocar abaixo, pensando no que ela disse: parece fácil, não é? Divirtam-se, enquanto minha pobre amiga trabalha....

Ó abre alas que eu quero passar...

Qualquer dicionário dará como definição para carnaval os três dias de folia, precedentes à quarta feira de cinzas, e carnavalesco, o participante do festim, cuja data é indefinida acontecendo entre fevereiro e março. Antecede a quaresma e a Páscoa cristã, celebrada no primeiro domingo após a lua cheia, que ocorre depois do equinócio da primavera boreal. Existe uma tabela para o cálculo. Simplificando, o domingo de carnaval será sempre o sétimo antes da Páscoa. Na prática, os festejos iniciam-se na sexta feira. De verdade, começou dez mil anos atrás com as populações rurais de corpos pintados se reunindo, durante o verão, para espantar os demônios da má colheita. Por volta de 600 a.c. as comemorações da fertilidade do solo deram origem ao culto à Dioniso/Baco. Quero que Freud explique porque ele levou a culpa pelos “prazeres da carne” mesmo sendo vegetariano.
O primeiro foco de concentração carnavalesca estava no Egito e não era muito diferente, pois os foliões usavam máscaras ou disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais. Depois a tradição se espalhou pela Grécia e Veneza consolidando-a com fantasias, carros alegóricos, desfiles e rei Momo, filho do Sono e da Noite, na mitologia grega. Para conter a libertinagem, a igreja católica oficializou o carnaval no ano de 590 e o Concilio de Trento acabou por reconhecê-lo como manifestação popular de rua. Cada região brincava de acordo com seus costumes. O período era marcado por um “adeus aos prazeres da carne” antecipando os quarenta dias de jejum, com a quaresma. Um tempo de penitência e privação. Por isso, o termo mardi gras/terça-feira gorda, é usado como sinônimo para carnaval. No Brasil aportou no século XVII, influenciado pelos europeus. Em 1928, Ismael Silva fundou a primeira escola de samba no bairro Estácio de Sá, na cidade maravilhosa.
Eu vou atrás de um trio elétrico qualquer, mesmo sabendo que a folia seja vista com maus olhos pelas ciências sociais por aspectos primitivos em sua origem. Toda festa laica tem características religiosas afirmam os estudiosos enfatizando os excessos populares. Bom, melhor questionar George Dumèzil, George Bataille, Mircea Elíade ou Émile Durkheim, que afirmou: “os limites dos ritos representativos das recreações coletivas são flutuantes” e concluiu seu pensamento dizendo “toda religião é elemento recreativo e estético.” Casamento perfeito entre religião e carnaval, diria Baco. Uau! O reinado de Momo, inserido em obras de Antropologia e Sociologia continua. Entendo o interesse dos intelectuais com as sobrevivências culturais. Porém, eles não deveriam perguntar: quais as razões que levam as pessoas a participarem dessas festas?
Melhor deixar o problema de lado pedindo como Chiquinha Gonzaga: ó abre alas que eu quero passar. Afinal é carnaval e quem não vai atrás do trio elétrico...

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