quarta-feira, 30 de abril de 2014

Amarias?

Amarias se te fosse permitido? Amarias se fosses maltratado? Amarias num mundo destruído? Amarias num mundo violentado? Ah, Maria, como consegues Manteres-te pura ante agressões? Como te recuperas de golpes da sorte? Como sorris com tantas dores? Ah, Maria, quanto te amo Sem saber por quê Quanto te quero, tão pura, Tão meiga, tão você! Maria, amada Maria, deu para perceber Que hoje não tenho ideias
Não tenho sonhos, não consigo escrever, Então inventei versos sobre você?

domingo, 27 de abril de 2014

Ah...Marias!

Vou escrever sobre mulheres e poderia iniciar por cientistas “prêmio Nobel” ou por atrizes contempladas com o Oscar, contar a vida de pintoras esquecidas pela história da arte, começando nos primórdios da cultura, quando as mulheres eram consideradas a metade do céu. A primeira é Madalena, devido ao interesse despertado por essa Maria nas últimas décadas. Eu nunca acreditei que fosse prostituta. Ela foi igualada à mulher penitente pela tradição cristã. A questão de Jesus ter sido casado com Madalena é um conceito antigo. Se não houve casamento, a relação devia ser íntima, fazendo dela não só a mantenedora do grupo, como a pessoa mais próxima de Cristo, provavelmente até sua sucessora. A “apóstola dos apóstolos” como pregava Peter Albert em pleno século XII. A pergunta é: qual o motivo das intelectuais feministas rememorarem o assunto? A culpa não é de Brown, pois tudo principiou antes do Código da Vinci.
A outra Maria foi à condessa de Walewska, que se tornou amante de Napoleão, na esperança de conseguir a liberdade de seu país, a Polônia. O pensamento dominante entre poloneses era como recuperar a independência perdida. Desesperados eles estavam dispostos a agarrar-se a qualquer oportunidade e quando perceberam o interesse de Napoleão por Maria Walewska, depositaram sua fé na delicada mulher de vinte anos. Ela teve como preceptor Chopin. Além de geografia, francês e música, ele incutiu-lhe um ardente patriotismo. Para salvar a família da ruína casara-se aos 17 anos com o conde Anastase Walewska, de 68 anos. Condenada a um casamento sem amor, procurou conforto na religião, entregando-se ao seu objetivo de fazer renascer a Polônia.

Talleyrand fora nomeado por Napoleão, príncipe da Polônia, e advogava a causa do país. Em 1807, o imperador chegou à Varsóvia como um libertador, mas os poloneses sabiam que sem ajuda ele não derrotaria a Rússia. Conheceu Maria em um baile e ficou impressionado. Ela era tímida e devia ser uma visão encantadora, diferente dos rostos atrevidos das beldades sofisticadas espalhadas pelas cortes da Europa, com as quais Napoleão estava acostumado. Ele escreveu-lhe três vezes sem obter resposta. Varsóvia não era Versalles. A sociedade desaprovava o adultério. Entretanto, se a condessa encaixava-se nas necessidades atuais de Bonaparte, Talleyrand a entregaria a ele. Napoleão se recusava em ouvir seus argumentos sobre a Polônia, mas os apelos daquela jovem patriótica, talvez o convencessem. Maria resistiu o quanto pode, mas sua força cedeu diante do magnetismo do imperador, mesmo estando concentrada em conseguir dele a liberdade da Polônia. Napoleão interrogava Maria a respeito do país e analisava a história da Polônia explicando as falhas do passado para que ela pudesse entender a política do futuro. Embora ela fosse à mulher ideal para Napoleão, a política externa falou mais alto.
Mesmo tendo derrotado a Rússia na batalha de Friedland, Bonaparte precisava dos russos como aliados no bloqueio comercial contra a Inglaterra. Declarou-se uma trégua entre os dois países e os imperadores se encontraram para negociar um acordo. Algum tempo depois, Napoleão ofereceu a Polônia à Rússia em troca de um casamento dinástico. A resposta foi o silêncio. O embaixador austríaco aproveitou e ofereceu... Maria Luísa. Napoleão ficou deslumbrado por unir-se a casa dos Habsburgos e sua reputação de filhas fecundas. Enquanto isso, Maria dava luz ao filho Alexandre.  Anastase voltou para o batizado e reconheceu-o como dele. A honra de todos os envolvidos estava salva. A história garante que Bonaparte foi fiel a Luísa. A condessa morreu aos 31 anos. Napoleão exilado em Elba mantinha no dedo um presente dela com a frase: “quando você deixar de me amar, lembre-se que ainda o amo”. Deferentes Marias unidas no eterno tema do amor. Ah... mulheres!


quarta-feira, 23 de abril de 2014

O amor tem mau humor?


Ruy Castro escreveu "O Amor de Mau Humor". Nesse livro ele juntou mil frases que colocam homens x mulheres (ou ao contrário) cada qual no seu canto do ringue, numa hilariante antologia. É uma coletânea de frases venenosas que, dependendo de nosso humor podem fazer rir ou chorar. O livro caiu nas minhas mãos por acaso, um amigo está diminuindo sua biblioteca e tem feito doações. Peguei por causa do mau humor do título.

A verdade - e ninguém em sã consciência negaria isso - é que homens e mulheres são muito diferentes e há muitas citações que poderíamos colocar aqui a fim de exemplificar. O pior é que não só são diferentes, são opostos.
Eu mesma me encontrei naqueles dois desenhos que mostram a mulher que sai de casa para comprar um par de meias no shopping e o homem com o mesmo objetivo. Ela lembra do aniversário de uma amiga e entra numa  chocolateria, depois vê uma liquidação de sapatos, daí começa a procurar a bolsa que combine com ele, aproveita para comprar um pijama para o filho, encontra um buquê de flores lindo que combinará com a mesa do jantar que vai dar amanhã, ouve uma música e entra na loja para comprar o CD...fica quatro horas no shopping e esquece de comprar as meias. O homem entra no shopping, vai à loja de meias e volta para casa. Fica no shopping quinze minutos.
Tem também a adorável história dos dois mineiros conversando:
- É, cumpadi, muié é coisa esquisita, não é não?
- Mai óia se é... muito esquisita... muié num gosta de pescá!
- Pois é... nem gosta de ficá no bar tomando umas...
- Pois é... nem gosta de caçá.
- É...óia, cumpadi, si num fosse tão bão durmi com muié eu nem olhava pra elas.
- É........
Então, pesquei uma frase aqui e outra acolá, mas aviso: não sou eu que penso assim, tá? Alguém escreveu, o Ruy Castro traduziu e transcreveu e a Companhia das Letras publicou.

"Há mulheres cujas infidelidades são os únicos laços que elas ainda mantêm com seus maridos." (Sacha Guitry)

"Uma esposa que foge com o amante não abandona seu marido, apenas o libera de viver com uma infiel." (Sacha Guitry)

"A única diferença entre as mulheres e os abutres é o esmalte das unhas." (Robert Upton)

"O homem é um animal doméstico. Se tratado com firmeza e ternura, pode ser treinado para fazer muitas coisas." (Jilly Cooper)

Algumas mulheres permanecem na memória de um homem, mesmo que ele as tenha visto por um único segundo, atravessando a rua. (Rudyard Kipling)

Nunca tenha filhos. Só netos. (Gore Vidal)

Algumas pessoas têm aquele rosto que, depois de visto, nunca mais é lembrado. (Oscar Wilde)

Cuidado com o homem que não devolve a bofetada: ele não a perdoou, nem permitiu que você se perdoasse. (George Bernard Shaw)

Sexo é bom. Mas o poder é melhor. (Jiang Qing)

A proteção mais infalível contra a tentação é a covardia. (Mark Twain)

A virgindade é curável, se detectada cedo. (Henny Youngman)

Algumas mulheres se acham tão lindas que, quando se olham no espelho, não se reconhecem. (Millôr Fernandes)
Até a próxima!

domingo, 20 de abril de 2014

“Cada macaco no seu galho”

Só fale sobre o que você realmente domina. Pensei em um antigo professor e quase desisti de continuar escrevendo esse texto. Mas, como sou corajosa fui em frente, embora o verso cantado pelo Gil “cada macaco no seu galho” não tenha saído da minha cabeça o tempo todo.
Vou discorrer sobre Política. Para Max Weber, os partidos são organizações de poder político, e em muitos casos, com potencial de transformação da realidade. A definição não vale no Brasil, onde a política partidária gira em torno de um líder com ideias políticas econômicas nem sempre discerníveis. Isso sem falar nas promessas de campanhas jogadas na lata do lixo, antes do gari limpar as ruas da sujeira provocada pela distribuição dos santinhos na boca das urnas.
Sociólogos costumam teorizar sobre o assunto, considerando o partido político como a essência da democracia, com uma proposta de governo, que evidentemente deveria cumprir. Em geral, todos possuem um programa, mas não se espelham nele.

A FAPESP financiou há mais de dez anos, uma pesquisa sobre a composição dos partidos brasileiros. A conclusão dessa análise sócio-ocupacional das bancadas revelou o perfil de alguns deles. No ex-DEM, a categoria predominante era de homens oriundos dos setores empresariais. O perfil do PMDB sempre foi menos nítido, devido à quantidade de empresários e profissionais liberais ser proporcional. Talvez, esse equilíbrio de forças seja sua fraqueza, criando dificuldades para a coesão ideológica e o conflito na disciplina interna da agremiação.
A composição social dominante no PSDB estava formada por empresários e pela intelectualidade de renda alta, os últimos dando o tom ao partido, enquanto o PT compunha-se de trabalhadores não manuais que ascenderam por intermédio dos sindicatos – geralmente metalúrgicos ou bancários – e professores oriundos da classe média. A bancada do PDT agregava profissionais liberais, ex-funcionários públicos e um pequeno grupo de empresários urbanos. A escolaridade dos parlamentares também foi critério de avaliação indicando poucas chances de se chegar à Câmara dos Deputados sem diploma, pois somente 4% dos analisados não haviam completado o segundo grau, na ocasião da pesquisa. A maioria dos deputados eram bacharéis em Direito e o montante do patrimônio dos parlamentares tendia a crescer, mesmo quando a atividade política estava sendo exercida dentro dos cânones da decência.
Passados dez anos, é interessante ressaltar que buscando informações na internet encontrei além dos partidos citados acima, 22 em atividade, 28 em processo de legalização e dez agremiações sem registro. Dentre eles estão aqueles, cujo propósito explícito é alugar suas siglas em troca de um objetivo eleitoral comum.
Como observadora atenta aos fatos políticos, vejo o PV saindo fortalecido nessas eleições, nem tanto por realizações, mas pela sua imagem. Possivelmente, os votos serão de uma nova geração com preocupações ecológicas e atitudes politicamente corretas. Esse grupo passa longe da onda de autoritarismo de lideres que distorcem a democracia para calar a oposição e manter-se no poder, como Castro, Maduro ou Lulla.

















sexta-feira, 18 de abril de 2014

Mistério ou incompetência? Não tenho ideia. Ontem digitei e postei um texto... hoje vim olhar se havia algum comentário e tive a surpresa: nem comentário, nem o texto. Que terá havido com ele?

domingo, 13 de abril de 2014

A Retórica como arte enganadora...

Palavras de Sócrates - não do jogador de futebol - mas do conhecido filósofo grego. Platão transformou seu velho mestre em personagem de um livro onde compara a retórica com a adulação e o sofismo, artes ligadas à política, afirmando que são os filósofos e não os retóricos, os conhecedores   da política.  Ele escreveu sobre o assunto tentando entender como os persas, comandados por Xerxes, ganharam a guerra em Atenas. O ataque contra a retórica era produto de seu estado de espírito e por trás desse clima havia uma dura critica ao antidemocrata Péricles. Nietzsche polemizou com um Sócrates moderno: Rousseau, o pai da revolução francesa, e ao mesmo tempo buscou na retórica um instrumento para refletir sobre a verdade e a mentira.
A pretensão humana de conhecer a verdade é ilusória. O impulso para criar metáforas é encontrado no mito, na arte e por que não dizer, na política, onde ser verdadeiro significa servir-se delas.  A expressão moral disso  pode ser traduzida pela mentira repetida segundo uma sólida convenção, em um estilo marcante para todos, como nunca antes na história desse país... Como Sócrates, eu repito retórica... uma arte enganadora!
O que diria Nietzsche das "verdades" veiculadas pelas pesquisas eleitorais, por exemplo? Talvez respondesse: "foram reforçadas poética e retoricamente, foram deslocadas, embelezadas e após um longo uso, pareceram, a um dado povo, sólidas, canônicas..." Afinal, verdades são efêmeras, iguais as "metáforas que se esgarçaram e perderam toda forma sensível, são moedas cujas imagens se apagaram."

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ele estava ali, parado, há horas. Maltrapilho, sujo, barbudo, dormia na calçada molhada pela chuva que caíra durante toda a noite. Seu cheiro azedo atraiu moscas que ficaram circundando-o, caminhando por seu rosto, cabeça e braços. Eu o olhava à distância tentando entender o que passaria pela cabeça de alguém nesse estado.

Suas calças estavam molhadas, levantar para urinar? Para quê? Os sapatos não eram um par, um pé amarelo, daquele couro natural com que são feitas as botinas dos caboclos, e o outro preto. Este parecia ser novo o que acentuava o estado lastimável do amarelo. Teria alguém jogado pela janela de um carro? Imaginei um grupo de jovens com suas brincadeiras típicas, arrancando o sapato do mais distraído e jogando para fora. O miserável o encontrou e saiu alegremente calçado, talvez pensando que um dia encontraria outro pé, novo também.

Ele se mexeu, ergueu a cabeça e encontrou meu olhar. Fixou-me por alguns instantes deixando-me constrangida, eu fora indiscreta observando-o enquanto dormia. Virou-se, puxou a coberta, cobriu inclusive a cabeça e tornou a deitar. Eu
não conseguia entender o que me prendia ali mas sentia vontade de continuar olhando, pensei em me aproximar, mas o que haveria para ser dito? Dar-lhe alguma esperança? Diria que a vida tem fases e que esta também iria passar? Expor meu pensamento sobre o liberalismo econômico, as consequências da globalização e a agressividade da sociedade contemporânea?

Princípios morais, o pecado de omissão, o olhar fraterno, o horror à desonra e à sujeira, a rejeição aos maus cheiros  digladiavam-se em minha consciência. O inverno estava chegando, ele, tão jovem, tão sem esperança, tão desprovido de tudo, teria que entrar em algum grupo de apoio, de promoção humana... eu deveria fazer alguma coisa. 

Vi que dormia novamente, joguei cinco reais na sua frente e voltei para casa. Estava começando a chover e eu não podia resfriar.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O brilho eterno

Está na capa da Isto é desta semana uma matéria enorme sobre "A cura do amor".
Flashback para quem já viu "O brilho eterno de uma mente sem lembranças"(2004) com direção de Michel Gondry e excelente roteiro de Charlie Kaufman. Lindo, delicado e brutal, a história propõe o "apagamento" literal de um ex amor da mente. É algo como um derrame em pequenas proporções e localizado. Na história Joe apaga Clementine quando descobre que esta o apagou. Vingança com abandono é sempre assim, né? Ação e reação.
Bom, mas voltando ao filme, é lindo e vale ser visto e poucas vezes vi o cinema americano falar de amor de uma maneira tão contundente e eficaz.
Agora saindo da ficção e voltando a realidade. Na matéria, diferentes opiniões médicas apontam para o futuro, onde o amor será tratado exatamente como o colesterol alto ou a diabetes, como uma patologia que pode e deve ser curada através do uso de pílulas e exames clínicos.
Ao meu ver, a possibilidade é assustadora e ao mesmo tempo incrível.
Incrível ver o nível de avanço a que chegamos, capazes de mapear de maneira tão direta algo que até então era considerado tão vago. E assustador saber que talvez com o auxílio de uma pílula a não dor... o que seria de Shakespeare, Rimbaud, Nick Hornby e da maior parte das músicas produzidas na Inglaterra? O que seria do brit pop sem a dor de amor?

Deixo a dica de uma das músicas mais bacanas dos últimos tempos sobre o tema e o trailer de "O brilho eterno de uma mente sem lembranças"

domingo, 6 de abril de 2014

Poetar...

Foi minha filha quem chamou atenção para a palavra. Poetar é igual a poetizar ou contar em versos.
Poesias, são para serem sentidas e estão próximas de nós, quer nas letras de música, quer nas brincadeiras infantis, quer em jornais ou livros. É só olhar em volta, pois ela está em todo lugar basta trabalhar a emoção, brincar com as rimas, fazer sons, jogar com as palavras, as imagens e a fantasia, decifrar metáforas, ler, sentir, escrever.

“Dançam, dançam os paladinos,
Os mágicos paladinos do diabo,
Os esqueletos dos Saladinos.”

O verdadeiro poeta está além de seu tempo. Daí a incompreensão e a rejeição sofrida por todos os grandes artistas. O poeta vê o que a imaginação comum não pode conceber. Essa passagem para o outro lado da existência, realiza-se ao preço de uma experiência catártica onde imperam a loucura e a maldição. Arthur Rimbaud, autor dos versos acima, em carta a Paul Demeny escreveu: “o poeta se faz vidente mediante um longo e racional desregramento de todos os sentidos.” Ele não estava evocando a decadência do comportamento ou a degeneração dos valores, queria simplesmente romper as normas e convenções para perceber o desconhecido. Alcançá-lo é tornar-se sábio... A arte deve ultrapassar o limite do sabido, do conhecido, do visto, afinal o poeta é o artesão de uma nova linguagem, um inventor com méritos diferentes dos de todos os seus antecessores. Por exemplo: enquanto Baudelaire/moderno partiu da angústia de seus contemporâneos para nela se encerrar, Rimbaud/vanguarda pregou uma filosofia feroz cantando “a danação do mundo”. Não surpreende que os surrealistas tenham considerado um irmão, o adolescente com cara de anjo encarnando um pequeno demônio. Aliás, não foi somente o surrealismo que se encantou com ele. Escrita quando estava entre os quinze e dezoito anos, sua obra inspirou o existencialismo e os beatniks. Quando minha filha comentou a beleza contida na palavra poetar, pensei em Rimbaud.
Nele a modernidade encontra seu mais ilustre representante e talvez seu mais severo crítico. Ele sentiu a aceleração do tempo e a renovação infinita das feridas por ele provocadas. Pressentiu a coisificação das relações humanas e a desumanização dos tempos pós-modernos. Só o verdadeiro poeta alcança o fundo dessa vidência: “Vi o suficiente/Tive o suficiente/Conheci o suficiente”... então abandonou tudo, pois a visão deve ter sido a de um pesadelo!


sexta-feira, 4 de abril de 2014







Alucinei, tudo girou, o azul tomou conta, dentro e fora de mim, nada mais fazia efeito. Imagens de ontem, hoje e acredite, de amanhã. Tirei as botas, elas saíram andando e não voltaram mais. Andei pra cima e pra baixo, pra um lado e pro outro, se quer saber andei até pra cima, sem medo de acontecer de voar.. e não encontrei ninguém. Estranho, não é? 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

quebra-cabeças

cansou.
não queria mais brincar de quebra-cabeças.
de ter que conhecer cada pecinha de cada pessoa.
encaixar as falas bonitas perto da boca.
(aliás, tira uma dúvida: elas não deveriam partir do coração?)
tinha raiva de juntar as raras boas ações na altura do quadril.
se decepcionava ao não encontrar encaixe para os sentimentos mais puros.
anatomia burra.
sim, cansou de brincar.
de ver tudo repartido, cheio de linhas imaginárias.
de acreditar que o todo é feito de peças pequenas.
de perceber que, ao faltar uma, a paisagem fica incompleta.
pelas regras, isso é um problema.
cansou de perder horas.
dias. meses.
vidas até.
tudo para entender cada peça.
cada minúsculo pedaço de cor fosca.
tudo para que o todo faça sentido.
brincadeira chata.
odiava a falta de surpresa.
o pouco espaço para revoluções.
a pseudoliberdade do montar.
sempre à procura do encaixe perfeito.
sem espaço para erros.
premiação apenas para acertos.
aos vencedores, mais peças!
pra puta que pariu.
e, de repente, tudo vinha em peças.
tudo precisava ser montado.
amizade: 200 peças.
sonho: 3.200 peças.
desejo: 12 peças.
amor: varia conforme o jogo. 
não gostava dessa história de ler manual.
tinha horror às letras miúdas.
e pouco talento para marcenaria.
volta e meia, encontrava peças pela casa. 
embaixo do sofá.
dentro do all-star.
na caixa de areia do gato.
uma vez, embaixo do tapete, achou um conjuntinho de peças.
montou e formou um coração.
onde ia encaixar isso agora?
é… uma hora cansa mesmo.