domingo, 27 de abril de 2014

Ah...Marias!

Vou escrever sobre mulheres e poderia iniciar por cientistas “prêmio Nobel” ou por atrizes contempladas com o Oscar, contar a vida de pintoras esquecidas pela história da arte, começando nos primórdios da cultura, quando as mulheres eram consideradas a metade do céu. A primeira é Madalena, devido ao interesse despertado por essa Maria nas últimas décadas. Eu nunca acreditei que fosse prostituta. Ela foi igualada à mulher penitente pela tradição cristã. A questão de Jesus ter sido casado com Madalena é um conceito antigo. Se não houve casamento, a relação devia ser íntima, fazendo dela não só a mantenedora do grupo, como a pessoa mais próxima de Cristo, provavelmente até sua sucessora. A “apóstola dos apóstolos” como pregava Peter Albert em pleno século XII. A pergunta é: qual o motivo das intelectuais feministas rememorarem o assunto? A culpa não é de Brown, pois tudo principiou antes do Código da Vinci.
A outra Maria foi à condessa de Walewska, que se tornou amante de Napoleão, na esperança de conseguir a liberdade de seu país, a Polônia. O pensamento dominante entre poloneses era como recuperar a independência perdida. Desesperados eles estavam dispostos a agarrar-se a qualquer oportunidade e quando perceberam o interesse de Napoleão por Maria Walewska, depositaram sua fé na delicada mulher de vinte anos. Ela teve como preceptor Chopin. Além de geografia, francês e música, ele incutiu-lhe um ardente patriotismo. Para salvar a família da ruína casara-se aos 17 anos com o conde Anastase Walewska, de 68 anos. Condenada a um casamento sem amor, procurou conforto na religião, entregando-se ao seu objetivo de fazer renascer a Polônia.

Talleyrand fora nomeado por Napoleão, príncipe da Polônia, e advogava a causa do país. Em 1807, o imperador chegou à Varsóvia como um libertador, mas os poloneses sabiam que sem ajuda ele não derrotaria a Rússia. Conheceu Maria em um baile e ficou impressionado. Ela era tímida e devia ser uma visão encantadora, diferente dos rostos atrevidos das beldades sofisticadas espalhadas pelas cortes da Europa, com as quais Napoleão estava acostumado. Ele escreveu-lhe três vezes sem obter resposta. Varsóvia não era Versalles. A sociedade desaprovava o adultério. Entretanto, se a condessa encaixava-se nas necessidades atuais de Bonaparte, Talleyrand a entregaria a ele. Napoleão se recusava em ouvir seus argumentos sobre a Polônia, mas os apelos daquela jovem patriótica, talvez o convencessem. Maria resistiu o quanto pode, mas sua força cedeu diante do magnetismo do imperador, mesmo estando concentrada em conseguir dele a liberdade da Polônia. Napoleão interrogava Maria a respeito do país e analisava a história da Polônia explicando as falhas do passado para que ela pudesse entender a política do futuro. Embora ela fosse à mulher ideal para Napoleão, a política externa falou mais alto.
Mesmo tendo derrotado a Rússia na batalha de Friedland, Bonaparte precisava dos russos como aliados no bloqueio comercial contra a Inglaterra. Declarou-se uma trégua entre os dois países e os imperadores se encontraram para negociar um acordo. Algum tempo depois, Napoleão ofereceu a Polônia à Rússia em troca de um casamento dinástico. A resposta foi o silêncio. O embaixador austríaco aproveitou e ofereceu... Maria Luísa. Napoleão ficou deslumbrado por unir-se a casa dos Habsburgos e sua reputação de filhas fecundas. Enquanto isso, Maria dava luz ao filho Alexandre.  Anastase voltou para o batizado e reconheceu-o como dele. A honra de todos os envolvidos estava salva. A história garante que Bonaparte foi fiel a Luísa. A condessa morreu aos 31 anos. Napoleão exilado em Elba mantinha no dedo um presente dela com a frase: “quando você deixar de me amar, lembre-se que ainda o amo”. Deferentes Marias unidas no eterno tema do amor. Ah... mulheres!


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