segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Juridicamente Impossível (IV)


Poucos minutos depois a encarregada do velório se aproxima apresentando a Júnior o rapaz do Crematório.
- Crematório? Flávio será enterrado, não é preciso haver vontade expressa para cremar?
- Ah, senhor, é uma promoção que estamos fazendo quando o falecido não tem parentes. Como o senhor deve ter lido no jornal – saiu no Bom Dia de ontem – em Redditch, na Inglaterra, foi iniciada uma experiência e como o dono de nosso crematório fez faculdade lá e está em contato com amigos, foi convidado a desenvolver a experiência aqui no Brasil. Olhe o recorte. Entregou-lhe a página de jornal dobradinha. Enquanto lia, ouvia o rapaz que continuava explicando: o crematório fizera um acordo com um clube das proximidades que aproveitaria o calor dos fornos para aquecer a piscina. Para tanto precisavam ter sempre corpos sendo cremados. Júnior sentiu uma repulsa enorme pela situação e decidiu, naquele momento, que não nadaria mais em águas aquecidas.
- O senhor assina a autorização, por favor?
Quase disse que perguntaria ao morto mas parou a tempo e informou que pensaria por alguns instantes, que aguardasse ali. Aproximou-se de Flávio e contou o que estava acontecendo. O “morto” quase pulou e saiu correndo. Júnior chorava de rir e alguns amigos aproximaram-se para consolá-lo. Ao levantar os olhos viu o rapaz do crematório conversando com o cadeirante que, informaram-lhe depois, era o dono do Crematório sendo a moça bonita, cujo nome era Jovenlinda, sua relações-públicas. Esses eram verdadeiramente caça-defuntos.
Júnior sentia que a situação se complicava. Flávio transpirava, as flores estavam murchando, por quanto tempo ainda conseguiria segurar a situação?
Sem dúvida o ambiente estava animado. Mais de cem pessoas se esparramavam pela sala e corredor.
- Decide, cara, se já está feliz, se já aproveitou e ouviu alguns lamentos, já curtiu tudo o que queria, revele-se e enfrente a situação, tô ficando de saco cheio.
- O duro é a dor nas minhas costas e minhas mãos formigando. Estão roxas o suficiente? O aspecto geral está bom?
- Ô, seu desgraçado, ainda está curtindo? Vou assinar o papel do crematório.

domingo, 30 de janeiro de 2011

E a correria pela Virada está a pleno vapor e a semana não foi das mais inspirativas, então fiz como a Rosa Bertoldi e estou publicando um texto do Edson Aran, porque aparentemente todo mundo perde a boa, menos o Aran.


21 OCUPAÇÕES PARA UM EX-PRESIDENTE

Tente, invente, faça um amanhã diferente

1 – Móbile. É só amarrar o cara no teto.

2 – Domador de egos. Ele não consegue domar o próprio, mas doma muito bem o da nova presidente.

3 – Comentarista esportivo na Globo. Aí todo mundo poderá dizer “Não cala a boca, Galvão!”

4 – Espantalho. É só deixar o cara de braços abertos no meio da convenção do PMDB para espantar os corvos. Vai que funciona...

5 – Peso de papel.

6 – Ator em minissérie bíblica da Record. Alguém sempre terá de fazer o papel de Caifás, não?

7 – Personagem do “Zorra Total”. Digo, tornar oficial o personagem do “Zorra Total” que ele sempre foi.

8 – Jurado do Prêmio Jabuti.

9 – Dançarina do programa do Faustão.

10 – Degustador de cachaça em alambiques de Salinas.

11 – Degustador de cachaça em alambiques de Parati.

12 – Degustador de cachaça em qualquer lugar.

13 – Garoto propaganda de xampu para branquear cabelos.

14 – Lutador de luta-livre (El Caudilho Enmascarado!)

15 – Comentarista do Manhattan Connection.

16 – Apresentador de noticiário policial às seis da tarde.

17 – Animador de auditório (“Quem quer dinheiruuuummmm?”)

18 – Colunista da Carta Capital

19 – Jurado do Jabuti

20 – Porteiro de boate.

21 -- Pêndulo. É só pendurar a criatura pelo. Pé, evidentemente. Ex-presidente merece respeito, ô leitor degenerado.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A cabala da inveja

Meu autor predileto é Nilton Bonder. Rabino equilibrado com muitos livros traduzidos para diferentes línguas, ele é modesto, jovem e surfista, dentre outras coisas. Lembro-me dele há anos atrás - na Hebraica - lendo em hebraico o Eclesiastes transcrito por Haroldo de Campos, que por sua vez lia em português. Uma noite e tanto compartilhada com meus filhos.
Teria isso influenciado ambos em suas carreiras? Eles trabalham direta ou indiretamente com cultura. Mas, vamos ao assunto. Aconteceram duas coisas. Primeiro ganhei de um amigo A Cabala da Inveja. Ele faz parte de uma trilogia composta pelos A Cabala da comida e A Cabala do dinheiro. O mote do rabino é a possibilidade de se modificar uma atitude a partir do pressuposto da existência de outro ser humano em nós e um nós no outro! São conselhos trazidos diretamente da Torá e Talmud vindas de um homem ponderado compartilhando a força poética da palavra bíblica com o leitor comum da mesma maneira que com o intelectual, um dos irmãos Campos há tempos atrás. "eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços..." Esse mesmo, homenageado por Caetano em Sampa, quem não se lembra?
Segundo: estou sem nenhum ajudante para trabalhos domésticos desde outubro por falta de tempo de procurar ou por falta de vontade. Existirá uma cabala da preguiça? Quem aparece por aqui é o jardineiro, ainda bem, senão seria a segunda floresta amazônica, bem no centro do estado de Sampa... Descobri por acaso: um dos funcionários do condomínio onde vivo disse que em suas folgas limpava telhados, vidros, lavava carros, etc, etc. Pronto encontrei a solução para uma parte do problema. Ele esteve aqui na sexta e no sábado e vai voltar. A casa está começando a brilhar de novo. Mas, em conversa comentou comigo que sua mulher perguntou como havia sido o seu dia de trabalho e como eu era. Ele respondeu: ela tem um brilho diferente. Pensei: minha pele deve estar bem oleosa, mesmo. Efeito do Emedeen para mulheres acima dos cinquenta? Sei lá. Por via das dúvidas quando tomei banho usei um shampoo para cabelos oleosos e aproveitei para lavar o rosto com ele. Olhei no espelho e não brilhava... No dia seguinte o moço contou para mim e meu marido sobre uma fábula ouvida do pastor na noite anterior na igreja. O moço é evangélico. Prestem atenção, pois é bem interessante. Uma cobra estava andando pela floresta com fome. Ao encontrar um vagalume tentou comê-lo. O pirilampo pediu um tempo para perguntar à cobra o seguinte: pertenço a sua cadeia alimentar? Vou satisfazer sua fome? Não. Então, por que você vai me devorar? E a cobra respondeu: Não tolero o seu brilho. Pensei: então esse era o brilho!!! Serei realmente alguém com um brilho próprio como dizem meus amigos? Conversa e elogio de amigo não está valendo, porém a conclusão é: quando a gente brinca sobre a questão de um elefante incomodar muita gente, acho que o certo seria dizer: um pirilampo incomoda muito mais. Basta olhar ao redor. Quanta cobra venenosa a gente vê querendo acabar com pessoas que na opinião dela está fazendo sombra ou incomodando. Oh, rabino, reze por todos os vagalumes humanos desse nosso mundo tão invejoso!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Por email

Fala ae galerinha, tudo bom?


Espero que sim...



com o anúncio dos indicados ao Oscar, ontem, um dos meus assuntos preferidos é justamente a premiação da indústria norte-americana. Qual será o melhor filme? Você acha que a atuação daquela atriz realmente merece ser agraciada com a estatueta do Oscar? Será que aquele documentário vai estrear no Brasil? Enfim, o assunto é cinema.



e, falando nisso, o fim de semana reserva a estreia de "Inverno da Alma", que tem no elenco a novata Jennifer Lawrence. O filme, um dos destaques do prestigiado festival de Sundance, abre a temporada de produções indicadas ao Oscar: na semana que vem, por exemplo, chegam às telas de cinema o aguardadíssimo "Cisne Negro" e "O Vencedor", que tem atuações sublimes de Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams (a minha mais nova jovem atriz preferida... risos)



fora do Oscar, mas não menos interessantes, estreiam "O Amor e Outras Drogas", com os bonitões Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal, e "Um Lugar Qualquer", novo filme de Sofia Coppola, uma das minhas cineastas preferidas - ao menos, ela dirige alguns dos filmes de que mais gosto, como "Encontros e Desencontros" e "Maria Antonieta". No domingo, devo assistir dois dos filmes em cartaz na cidade.



fora do universo cinematográfico, na área teatral, vale ficar de olho em "Rosa de Vidro" (assistirei amanhã à montagem, que está com ingressos esgotados), "12 Homens e uma Sentença", "Dueto para Um", "Nãotemnemumnome" e "Senhora de Dubuque", que estreia no Sesc Pinheiros, levando ao palco Karin Rodrigues.



entre os shows, o Sandália de Prata lança mão de músicas clássicas do samba-rock em show na convidativa choperia do Sesc Pompeia, amanhã, quinta. Para quem curte Carnaval, Banda Eva promove o projeto EvaNave, no Estância Alto da Serra, no sábado (eu vou! hehehehehehe).



e está chegando ao fim a mostra "Lugares, Estranhos, Quietos", de Wim Wenders, no Masp. Devo aparecer por lá no domingo...



e o melhor da semana passada foi o espetáculo "Resta Pouco a Dizer", que estava em cartaz no Sesc Consolação. Mesclando linguagem teatral, vídeoarte e performances, a peça apresenta três textos curtos de Samuel Beckett. A iluminação e as interpretações dos atores são ótimas. Vale ainda mencionar as soluções cenográficas de "O Amor e Outros Estranhos Rumores", do mineiro Grupo 3 de Teatro, que está em cartaz no Tuca. Sem contar, ainda, a atuação ímpar de Melissa Leo em "O Vencedor".



é isso

espero encontrá-los por aí!

até mais

se cuidem!

alan

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Juridicamente impossível (parte IV)

Sentados no corredor que dava para as várias salas do centro velatório, Júnior e os outros amigos viram alguém aproximar-se numa cadeira de rodas. O rapaz parou ao lado deles e perguntou:
- É do Flávio?
Ante a afirmativa ele manobrou rapidamente a cadeira e entrou sem nem agradecer.
- Vocês conhecem?
- Há anos não víamos o Flávio, faz bem uns quinze anos que não o encontramos. Você sabe o que houve?
- Não sei de nada. Acho que foi repentina.
Por volta de meio dia sentiram fome. A moça bonita e o homem na cadeira de rodas conversavam baixinho há muito tempo, totalmente esquecidos do falecido.
Deveriam avisá-los de que iriam almoçar? Melhor, chato deixar o Flávio sozinho. Júnior aproximou-se do amigo e falou baixinho como se rezasse.
- Cara, seu enterro está muito fraco. Espero que não tenha encomendado a festa para muita gente. Só o Edmo, o Ge e eu, a mulher bonita e um cara numa cadeira de rodas. Seu plano furou, cara! Vou comer alguma coisa e já volto.
Nesse momento, toca o celular do "morto". Este fica em dúvida se atende ou não, mas, percebendo que a mulher está distraída conversando com o cadeirante, resolve atender, até porque poderão pensar que é o telefone de Júnior que tocou. Sussura:
- Alô!
- É do serviço de sepultamento do cemitério e quero avisar que o jazigo está pronto e as carneiras foram abertas. Qual o horário do sepultamento?
- Ok! Vou confirmar o horário. As despesas foram pagas, e o atestado de óbito chegou?
- Positivo para despesas, negativo para o atestado.
- Então me ligue quando estiverem com o atestado em mãos – desliga.- Desculpe a interrupção, cara, acho que as pessoas virão, aposto.
Se tivesse apostado Flávio ganharia. Quando Júnior voltou do restaurante, uma hora depois, o velório estava lotado. Todos conversavam animadamente. Muitos conhecidos, turma de faculdade, mulheres lindas, várias com óculos escuros usavam lencinhos para limpar lágrimas.
Até que Flávio era popular, mesmo. O que aconteceria quando revelasse tudo?
Repentinamente alguém pergunta:
- É pra fazer a encomendação?
Debochado, Júnior responde:
- Se a encomenda já estiver paga tudo bem...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

"Tanto maior foi meu engano"

Com certeza ninguém duvida que Hamlet, de William Shakespeare, seja um dos textos teatrais mais belamente escritos de todos os tempos. Denso mas acessível, romântico e cruel, seu protagonista já foi vivido tanto nas telas quanto em palcos ao redor do mundo por muitos atores. Eu sempre tive amor ao doce príncipe que na tentativa de desmascarar a armação que levou a seu golpe de estado se finge de louco e apronta várias no processo. Sim o tema central e básico de sua trama é um golpe de estado, afinal após a morte/assassinato de seu pai, o príncipe não vai ao trono e sim vê este ser tomado por seu tio, o vilão e assassino de seu pai que não satisfeito se casa com sua mãe.
Mas porque estou aqui explicando tudo isso? Porque adoro a peça e acredito que ela tenha muitas camadas e nuances e porque acreditem ou não, esta peça de teatro sobre um golpe de estado onde nenhum personagem sobrevive ao final, é um desses livros que me dão alegria quando preciso. Um dos tais livros de cabeceira.
Amo Hamlet e sua densidade e a força com que ele vai contra o mundo a sua volta em busca do que acredita ser o certo e o quanto em sua batalha pessoal abre mão de coisas e pessoas queridas.
Como Ofélia. Certa vez fui fantasiada de Ofélia em uma festa a fantasia. Ninguém entendeu, todos acharam que eu estava de Julieta, graças a notoriedade da mesma, e parte por causa do vestido vinho com ares de Globe. Levava flores murchas comigo. E mesmo assim ninguém entendeu.
Ofélia na peça infelizmente não tem a densidade psicológica de Hamlet, e vamos combinar que mesmo sendo Shakespeare aquela não era a época em que autor dava densidade psicológica a personagens femininas até porque ninguém esperava densidade alguma vinda das mulheres.
Então no texto ela é uma vítima doce e infeliz das circunstâncias, que desavisada vê seu príncipe encantado se metamorfosear em um louco que não mais toma banho. Ela só tem o azar de estar ao lado de Hamlet durante a passagem do tsunami, não sendo poupada, até porque chega a ser usada como arma pelo pai e tal e tal....
Mesmo com todo o amor que nós leitores podemos acreditar que Hamlet sinta por Ofélia, e nisso tiro o chapéu para o filme de Kenneth Brannagh porque a platéia consegue ter essa certeza com gestos simples e sinceros vindos dessa ator que viveu com magnitude o dinamarquês.
Mas por que isso tudo, você ainda se pergunta?
Porque no texto há uma cena, a primeira do terceiro ato, quando Ofélia, a pedido de seu pai, vai ao encontro do atormentado príncipe, que após abrir seu coração estraçalhado a bela jovem, em meio ao seu embate pessoal percebe o esquema e reage.
A moça vai de coração aberto fazer uma das tarefas mais dolorosas de ex amantes, devolver presentes que tiveram significado e é recebida por um príncipe...
Bom, e nesta cena está uma frase que de vez em quando me ocorre no meio do dia ou da noite por sua densidade, verdade e dor... engraçado como um tempo verbal pode dizer tão mais do que mil palavras.

Abaixo segue parte do texto, um clip de uma versão estranha porém interessante de Hamlet com Ethan Hawke (2000) e a sensacional de e com Kenneth Brannagh (1996).
Espero que aproveitem.

"Ofélia: - Alteza, tenho comigo alguns presentes teus
Que há muito tempo desejava devolver.
Eu te peço que os aceite agora.

Hamlet: - Não, não eu.
Eu nunca vos dei nada.

Ofélia: - Honrado príncipe, sabes muito bem que sim,
E com eles, palavras tão docemente perfumadas
Que os enriqueceram ainda mais. Mas, agora que esse perfume se perdeu,
Aceite-os de volta. Para alma nobre
Os presentes mais ricos perdem seu valor, quando cruel se mostra o doador.
Aqui estão, alteza. [entrega os presentes]

(...)

Hamlet: - Certamente. Pois o poder da beleza logo transformará o que fora castidade em alcovitaria, ao invés da força da castidade tornar a beleza em virtude. Isso outrora foi um paradoxo, mas os dias atuais provam que é verdade. Eu te amei um dia.

Ofélia: - De fato, alteza, me fizeste acreditar que sim.

Hamlet: - Pois não devia. A virtude não pode se enxertar tão profundamente em nosso velho tronco sem que nos sobre sequer algum perfume dele. Eu nunca te amei.

Ofélia: - Tanto maior foi meu engano."






sábado, 22 de janeiro de 2011

A lógica cultural da atualidade

De uns tempos para cá, surgiram prognósticos sobre o fim da ideologia, da arte, das classes sociais, da social-democracia, da previdência social, etc. Tudo isso configura o aparecimento de uma nova época na história da humanidade. A filosofia deu-lhe o título de pós-modernidade. O argumento em favor de sua existência apóia-se na hipótese de uma quebra radical na cultura, cujas origens remontam ao começo dos anos 60. Como o próprio nome sugere, esse repúdio é feito contra a era moderna, cujo início deu-se com a Renascença. Por essa ótica, o expressionismo abstrato em pintura, o existencialismo em filosofia, as formas de representação no romance, os filmes de grandes autores, são vistos como impulsos da modernidade se exaurindo. Depois, tudo se torna de imediato empírico, caótico e heterogêneo: a pop art, o foto-realismo, a nova figuração, a música de Cage, o punk rock, o cinema experimental e o comercial, o vídeo, Goddard, Burroughs, Kerouac e Fante, além da critica literária baseada na estética da textualidade, bem... a lista poderia se estender quase ao infinito. Isso implica uma ruptura mais fundamental do que as mudanças periódicas de estilo? Sim, e na arquitetura, as posições pós-modernistas são inseparáveis do repúdio ao estilo de Le Corbusier. Dessa forma, atribui-se ao modernismo a responsabilidade pela destruição da teia urbana da cidade tradicional. Essa retórica teve o mérito de dirigir a atenção dos historiadores de arte para a característica fundamental do momento: o apagamento da fronteira entre alta cultura e cultura de massa. O pós-modernismo revelou um enorme fascínio por uma paisagem degradada, pelo kitsch, pelos seriados de tv, filmes B, histórias de mistérios, ficção cientifica e romances biográficos. A curiosidade mórbida pela vida alheia pode ser constatada na série televisiva BBB. Esse brusco rompimento entre modernidade e pós-modernidade não deve ser tomado como puramente cultural. Os conceitos relacionados ao contemporâneo são semelhantes às generalizações sociológicas trazendo as novidades a respeito da sociedade pós-industrial. A missão ideológica de tais teorias é evidenciar uma nova formação social sem o primado da produção industrial ou a presença da luta de classes. Elas propõem fazer a anatomia dessa sociedade demonstrando tratar-se de um estágio mais puro do capitalismo. Fredric Jameson refere-se ao período atual como o da terceira idade da máquina. É oportuno lembrar a celebração desses instrumentos no momento anterior ao nosso. A exaltação da máquina pelo Futurismo, o endeusamento da metralhadora e do automóvel por Marinetti. O prestígio dessas formas aerodinâmicas pode ser constatado, em sua presença metafórica, na construção de Brasília. As máquinas exerceram fascínio também sobre artistas como Picabia e Duchamp. A tecnologia contemporânea não mais possui a capacidade de representação, agora são máquinas de reprodução como televisões e computadores e não mais de produção. No retrato traçado, quero me eximir da afirmação de que a tecnologia seja de algum modo determinante na vida de qualquer sociedade, embora tal tese seja coincidente com a noção pós-marxista sobre o assunto. A concepção aqui esboçada é histórica e não política ou estética.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Por email


Fala ae galerinha, tudo bom?
Espero que sim...
 
de ressaca após o "polêmico" e/ou "será que foi bom?" show de Amy Winehouse no Brasil? E, agora, que a cantora inglesa se apresentou no Brasil, qual o show da vez? LCD Soundsystem? U2? Enfim, o começo de ano, em termos de shows, continua agitadíssimo. Sem contar ainda a vinda de Roxette e Kate fofa Nash. Enquanto essas apresentações não acontecem, o esquema é aproveitar outros eventos culturais da cidade.
 
falando em show, amanhã (quinta), Luisa Maita e Moraes Moreira e Davi Moraes sobem ao palco do bacana Studio SP, a partir das 22h. Luisa, considerada uma das promessas da nova geração da MPB, toca no projeto Cedo & Sentado, a partir das 22h, com entrada gratuita. Depois, com o ingresso a R$ 25, Moraes e Davi, pai e filho, tocam clássicos dos Novos Baianos. Soa imperdível esse show (eu estarei de plantão na redação, mas, dependendo da hora em que eu sair, aparecerei por lá). Na sexta, no teatro do Sesc Pompeia, é a vez de Blubell se apresentar. Ela acaba de lançar o bacana "Eu Sou do Tempo em que a Gente se Telefonava". O show tem início às 21h. Tentarei, a todo custo, comparecer... - já fui ao show dela no Studio SP e, na minha opinião, diria que é intimista e encantador.
 
na área teatral, as dicas são "Rosa de Vidro", no Sesc Consolação - assistirei ao espetáculo na próxima quinta, dia 27 (os ingressos estão concorridíssimos!) -; "Resta Pouco a Dizer", no Sesc Consolação, que encerra temporada no próximo domingo (um casal de amigos foi assistir à montagem e adoraram! - devo vê-la no sábado ou no domingo; e "O Amor e Outros Estranhos Rumores", no Tuca, que tem no elenco a linda Débora Falabella.
 
no cinema, estreia na sexta o ótimo documentário "Lixo Extraordinário" (quero ver novamente!) e o novo do Javier Barden, "Biutiful" (um amigo o assistiu e gostou bastante). Em cartaz, o italiano "O Primeiro que Disse", "Trabalho Sujo", "A Árvore" e "Abutres". E, para aqueles que acreditam que o Belas Artes não irá encerrar suas atividades, o cinema da esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação realiza mais um Noitão na próxima sexta-feira, com os filmes "O Amor e Outras Drogas" (Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal estão ótimos!) e "Inverno da Alma".
 
e o melhor da semana passada foi o documentário "Lixo Extraordinário", de João Jardim, Lucy Walker e Karen Harley. O documentário acompanha o processo de criação de um novo projeto do artista plástico Vik Muniz (cujas obras aparecerão na abertura da novela "Passione"), para o qual ele foi até o Jardim Gramacho (RJ), maior lixão da América Latina. Por lá, conheceu uma série de trabalhadores, com quem desenvolveu laços de amizade e profissionais. A apresentação de Janelle Monáe e o Noitão Belas Artes (que seria o derradeiro), na última sexta, também devem ser mencionados.
 
espero encontrá-lo(a) por aí!
 
até mais
se cuidem!
alan

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

silêncio

fez questão de desligar tudo.

tv, computador, telefone, microondas.

tirou até as pilhas do antigo disckman cinza – vai que o aparelho, velho gagá, soltasse uma nota ou outra...

fones de ouvidos escondidos em meias, espalhadas em gavetas.

queria silêncio.

era sua penitência.

afinal, poderia tirar os aparelhos da tomada, jogar as pilhas do velho disckman na privada, tocar fogo nos fones de ouvido, jogar pelas janelas cds, discos, fitas, mp3 – todos companheiros fiéis dos últimos anos.

poderia. e fez.

mas fazer o coração silenciar, impossível.

deve ter cabulado essa aula na sétima série. também não lembra de ter esse curso na faculdade.

se ignorar era impossível, terapia inversa: resolveu ouvir o coração.

coração... esse fanfarrão.

lembra-se da última vez que resolveu dar ouvidos ao safado. dava até para escrever uma cartilha.

primeiro, ele grita a plenos pulmões: euforia, felicidade, tesão, adrenalina, tudo se mistura de forma simples, harmônica, viciante.

são os dias dos sorrisos, das confidências, dos carinhos calculados, do sexo com gosto de para sempre.

de repente, bastardo que é (afinal, deve ser filho de algum músculo sem importância do corpo...), o coração começa a falar baixinho.

praticamente sussurra.

e é nessa hora que o canalha dá o aviso prévio.

avisa, num suspiro, que, a partir de agora, todo cuidado é pouco.

que essa sensação bacana pode durar para sempre - mas que sempre existe o risco de ela terminar ao fim do dia, e sem o pôr-do-sol.

e ri, com pena da gente.

vez ou outra, até dá conselhos – porém, como nunca se apaixonou, vai lá saber se são bons conselhos...

e ri de novo.

mas estava decidido.

dessa vez, ia ouvir tudo o que o coração ia dizer.

até as risadas.

se trancou no quarto, desligou tudo.

enfim, silêncio.

esperou.

esperou.

e esperou.

de repente, ouviu algo, bem baixinho.

era uma canção.

checou se o disckman estava sem pilhas mesmo.

estava.

sorriu. tem vergonha de admitir, mas até sentiu uma lágrima inundar o olho.

saiu do quarto, vestiu a camiseta vermelha preferida, calçou o coturno velho de guerra e saiu, apressado.

afinal, era hora de se apaixonar.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Terceira parte (veja a primeira parte no dia 17)

Júnior quase lhe deu um tapa quando percebeu a entrada de uma mulher jovem e linda. Não era conhecida, se a tivesse visto uma vez não esqueceria. Era perfeita. Caminhou para o caixão, colocou sua mãos sobre as mãos de Flávio, persignou-se e fez uma oração silenciosa, movendo os lábios. Deu um beijo sobre o tule, na altura das mãos e foi sentar ficando em silêncio.
- Quem é, Flávio?
- E eu vou saber? Não posso abrir os olhos... Fala como ela é. O cheiro é uma delícia!
- É linda, tem cabelo curtinho, nariz arrebitado, um corpo perfeito. Está com jeans e uma blusinha branca super clássica. Usa brincos, pulseira e anéis de prata, bolsa grande e está chorando.
- Puta que o pariu, quem será? Vou levantar e espiar.
- Ta louco? Fica quieto, vou ver se descubro.
Júnior foi até a porta, ligou o ventilador e como quem não quer nada sentou perto da mulher.
- Seu amigo?
- Muito!
De poucas palavras... não vai ser fácil, pensou.
- Há muito tempo?
- Não.
- Trabalhavam junto?
Ela olhou Júnior fechando ligeiramente os olhos. Queria mostrar-lhe, parecia, que a conversa não estava agradando. Tirou um rosário da bolsa.
- Com licença!
Começou a girar o rosário entre os dedos e mesmo não sendo católico Júnior sabia ser um sinal de que orava. Dois amigos de infância chegaram. Júnior os cumprimentou com tapinhas nas costas. Não chegaram perto do caixão. Quando viu que estavam distantes ela se levantou e puxou uma cadeira para perto de Flávio e continuou a desfiar o rosário.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Segunda parte do conto de ontem

Saiu do escritório sem a liberação de enterro sem morto e, dirigindo-se à funerária, pensou que talvez uma rede de televisão conseguisse montar o velório alegando gravação de um especial.
- O único problema é que terá que ser em tempo real, esses autores novos... sabe como é... inventam cada uma!
- Não tem problema. Nós temos salas e não trabalhamos com agendamento – riu da piada que devia fazer constantemente – Para amanhã posso reservar uma. O anúncio fúnebre não pode usar nosso emblema, não seria ético.
- Combinado! Eu coloco o anúncio e amanhã antes de clarear o dia já estarei aqui. Vocês me preparam e fico aguardando os “convidados”.
Ante a cara de espanto do encarregado explicou que era cinema experimental, não haveria câmeras grandes nem iluminação especial, deveria parecer um velório comum, de uma pessoa comum.
As aulas de yoga afinal teriam uma aplicação prática.
- Você não tem remorso? perguntou Júnior, preocupado com o rumo dos acontecimentos.
- Nenhumzinho. Se eu tivesse pais, tios, avós, filhos, não faria essa brincadeira, mas são amigos... E ex namorada, hein, será que virá alguma?
Estava empolgado. Dormiu pouco. Se tirasse uma soneca durante o velório não teria problema, todos garantiam que nunca havia roncado, problema seria se mexer ou coçar, precisaria de muito auto controle.
Completamente desperto rumou para o velório. Já o esperavam. Foi maquilado e enfeitado, colocaram até um colchãozinho para ficar mais confortável.
- Quando chega a equipe de filmagem?
- Já não disse que será discreto? Câmeras de mão, pequenas como as filmadoras comuns, vocês nem perceberão. A idéia é essa, mesmo, que ninguém suspeite ser uma filmagem.
Sozinho entre as velas e o perfume enjoativo das flores começou a sentir dúvidas sobre sua própria sanidade mental. Júnior viu além, não agüentarei até as cinco da tarde. Puxa vida, ninguém até agora... Combinara com a funerária de colocarem um relógio à sua vista. Eram oito e meia.
Júnior aproximou-se e, como se fizesse uma oração, contendo o riso, disse-lhe uma porção de bobagens para que também risse. Queria aproveitar o fato de estarem sozinhos para desfazer essa situação ridícula. Assustou diante da impassividade de Flávio, colocou a mão em sua testa. Estava quente, ainda bem, pensara que houvesse realmente morrido!
Flávio sorriu.
- Assustou, cara?

Sugestões!!!!!!!!!!!!!! Quero sugestões para continuar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Juridicamente impossível!

- Impossível.
- Não vejo problema algum... todos deveriam ter esse direito.
- Vamos fazer uma coisa? Gravamos tudo o que você me disse e depois conversaremos a respeito.
Caminhou até a estante, pegou o gravador, sentou-se ouvindo a argumentação do outro e, ligando o gravador, disse:
- Por favor, diga seu nome completo, a data de hoje e conte-me, novamente, sua reivindicação.
- Pô, cara, a gente é amigo, precisa tudo isso?
- É preciso, sim. Por favor.
- Bom, meu nome é Luiz Flávio Alcântara. Hoje é dia 17 de janeiro de 2011 e vim até aqui pedir ao meu amigo Júnior, que é um bom advogado, para ele fazer um documento que me dê o direito de participar vivo de meu enterro. É isso.
- Luiz Flávio, você expôs seus argumentos apresentando suas razões para reivindicar esse direito. Poderia expô-los novamente?
- Bom, eu acho que quando a gente morre vem um monte de gente para ver o cadáver, uns choram, outros dão uma risadinha, outros rezam, ficam por perto ou se afastam, ficam um pouco ou o tempo todo, justificam a chegada só na hora do enterro... isso é muito interessante.
- Continue, por favor!
- Bom, sempre penso como será quando eu morrer. Não sei se terei 40, 50, 80 ou 100 anos, então pensei em participar vivo do meu funeral como o Júnior fala...
Deu uma risadinha humilde como a dizer – tudo está tão claro, por que não? Júnior, já um pouco impaciente insistiu:
- Continue, por favor!
- Bom, eu pensei em contratar uma funerária, ela colocaria o anúncio, eu iria no meu caixãozinho para o lugar do velório e ficaria esperando os “convidados”, isto é, aqueles que tivessem se sentido tocados pelo anúncio fúnebre. Estaria ouvindo tudo, claro, e dando umas espiadinhas de vez em quando. Na hora marcada o féretro sairia e em vez de ir para o cemitério, iríamos para um Buffet onde haveria comes e bebes caprichados para todos, inclusive para mim que fiquei todas aquelas horas lá, esticadão.
- Você imagina que todos estariam celebrando? Ninguém ficaria aborrecido?
- Bom, já pensei nisso. Veja se concorda comigo: quem não gosta de mim só estaria lá porque eu estaria mortão, então, quando descobrir ficará louco da vida, sim, e continuará falando mal de mim como sempre fez, já que não vai com minha cara. Os que gostam vão ficar tão contentes com a minha "volta", que vão encher a cara com o melhor uísque que já tomaram. Melhor do que uma festa de aniversário dessas chatinhas, com todo mundo arrumado. E vai ser num sábado, então não tem risco de não poderem ir por causa de escritório, essas coisas.
Sorriu novamente e continuou:
- Fala que não é uma boa idéia. Eu acho ótima.
- Isso não existe, Flávio, se você quer fazer uma palhaçada, faça, garantir-se juridicamente quanto a eventuais ações por falsidade ideológica ou seja lá o quê, foi isso que você me pediu, no começo, isso não posso fazer por você.
- Júnior, não quero fazer um teatro, sempre haveria um ou outro que descobriria, quero fazer um enterro de verdade sem enterro. Pense nisso. Pô a gente é amigo desde pequeno, já aprontamos tantas, mais uma, cara, vamos nessa!
A conversa se prolongou e... o que vocês acham que aconteceu? Aceito sugestões.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Lágrimas secam sozinhas

Foi um dia em que falta de ar se misturava a uma dor pontiaguda no peito. Não era um enfarto, isso sabia. Era o espaço se abrindo em baixo da pele, a carne cicatrizando depois de tamanha violência. Seu coração fora aberto a fórceps. Desde uma semana antes, quando sozinha decidira que não mais o veria, esperara o momento exato para abrir o peito e estraçalhar o coração, abrindo espaço e removendo seu nome a fórceps, como naqueles contos de fadas quando a pagem remove a machadada o próprio dedo. E o fez. Numa sexta feira, com palavras duras e muita certeza, seguida de lágrimas doloridas que corriam descontroladas. Fórceps. Mas se Britney Spears e Amy Winehouse sobreviveram a traumas muito maiores, ela o faria com facilidade. Estava decidida, e dizem que isso é tudo o que é necessário, não? Estar decidida.

sábado, 15 de janeiro de 2011

E D'us criou a mulher...

A pergunta que não quer calar quando leio a Torá/Lei de Moisés é sempre a mesma: eram os deuses astronautas? Não eu não bebi, embora seja adepta de um bom frisante, não importa a marca, nem a procedência. Tenho uma restrição quanto aos brancos da Croácia, mas isso vocês sabem. Culpa do Aran e de seu Delacroix salvo das cinzas. Na verdade o que me incomoda é a idade das pessoas. Começo sempre do começo... não me perguntem o motivo. Nunca cheguei ao final, acho que a culpa é da escrita hebraica que obriga o leitor a ler de trás para a frente e como todo texto oriental sempre oposto ao jeito ocidental ao qual fui educada. Os meus olhos foram educados assim... Vamos ao que interessa: a idade. Gênesis trata da geração do homem. Adão viveu 130 anos e Eva viveu quanto? Noé gerou Sem e Ham aos quinhentos anos, pode? Por mais que eu me transporte para o calendário lunar a coisa não bate. Foi nessa época que D'us firmou sua aliança com o povo de Israel. Os descendentes de Sem e Ham povoaram o planeta até que nos deparamos com a Babel, quando o todo poderoso confundiu a língua de toda a Terra. E por falar em Sem, ele tinha cem anos quando gerou um filho, dois anos depois do dilúvio. Credo, vou parar por aqui... Paciência, contei a metade do livro para vocês, que nunca passaram perto da Torá, ou mesmo da Bíblia, pois estou me referindo ao antigo testamento. E ao falar em astronautas, pensei que os cientistas andam procurando outro planeta igual ao nosso. Por que hein? Dando razão ao prof. Paulo César Razuk, o motivo é simples: o nosso não tem salvação. Junte dois mais dois e tem-se o princípio de tudo, ou seja: esse começo mal traçado do livro Genêsis, bem pode ser a história de gente como a gente transplantada de um outro local para um planeta limpinho, e eles esquecidos de tudo emporcalharam de novo seu habitat. Faz sentido? Sim, da mesma forma que os textos do Aran, eles parecem fora de orbita, mas tem muita lógica. O título se refere à mulher. E como toda senhora bem educada e discreta não fala em idade. Nem a de Sara, que teve um filho em sua velhice... qual delas, segunda ou terceira idade? Ninguém pode reclamar de falta de elegância por parte do autor. Palmas para ele!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

1h45

Era 1h45 da madrugada do primeiro dia do ano quando ela olhou para o relógio do telefone celular pela primeira vez. Nada. E foi naquele momento que teve certeza. Não o veria mais.
Não que não quisesse ou que ele não fosse muito do que ela sempre desejou. Só sabia que se estava frustada por uma bobagem tão insignificante não havia como não se magoar cada vez mais.
Mulheres são assim mesmo e ela sabia ser implacável. No entanto, não conseguia segurar as lágrimas que rolavam pelo rosto. Implacáveis.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Já vai tarde...

Deveria desejar que não mais voltasse? Talvez. Sim, eu estou me despedindo do governo "como nunca houve.... etc, etc, etc" e da falta de modéstia, da basófia, da egolatria, enfim do falastrão cheio de defeitos, embora para uma maioria isso fossem consideradas qualidades.
Qualidades que posso relembrar em Getulio Vargas. Um ditador, um repressor, porém pode ser considerado o modernizador do Brasil. Vargas conseguiu alinhavar um pacto com a sociedade brasileira de seu tempo que vigora ainda hoje. Paradoxal, não é? Pensem em JK, sorriso nos lábios, mineiro matreiro e charmoso dinamizando o Brasil e governando cinquenta em cinco. Dirão: faliu o país, por sua culpa a inflação chegou aos céus. Sim, da mesma forma que o Sarney que fez do céu seu limite para uma inflação tão grave quanto aquela acontecida na Europa antes da segunda grande guerra.
Fernando Henrique Cardoso, o homem culto e elegante, um refinado intelectual, tão educado que permitiu que durante oito anos seu sucessor colhesse os frutos de seu governo e ouvindo o mau caráter falar em herança maldita. Herança maldita é ele, que pretende voltar e com certeza e os votos de um Brasil analfabeto acaba no poder de novo, afinal nunca como antes na história desse país houve tanta roubalheira, dólares viajando em cuecas ou meias e bolsas de políticos ou escorrendo pelo valerioduto...
O homem foi pequeno em sua mesquinhez, mas deverá passar para a história como grande, afinal a mídia aceita qualquer coisa, os banqueiros e empresários só pensam em seus lucros e lucros tiveram como nunca antes na história desse país, mudar para que? O homem saiu montado em 80% de aprovação... Se sim, se não, não posso dizer, não sei como funcionam essas coisas. Enfim, o pequeno grande homem já vai tarde e se Deus é mesmo brasileiro provavelmente se apiedará de seu povo e não permitirá que volte!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

por email


Fala ae galerinha, tudo bom?
Espero que sim...
espero que todos tenham um ótimo 2011. Muita saúde para que possamos nos encontrar pelos cinemas, teatros, exposições e shows da vida, não é mesmo?
E, falando em shows, 2011, ao menos em São Paulo, começa muito musical... Na quinta, a cantora potiguar Roberta Sá inicia uma mini-temporada no Sesc Pompeia. Acompanhada do Trio Madeira Brasil, ela apresentará o show de seu mais recente disco, "Quando o Canto É Reza", no qual presta uma homenagem ao compositor baiano Roque Ferreira, responsável por sucessos na voz de Maria Bethânia e Zeca Pagodinho, por exemplo. No repertório da apresentação sucessos dos outros dois trabalhos-solo de Roberta, "Braseiro" e "Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria", também devem estar presentes... Trata-se de uma oportunidade bem bacana para ver, ao vivo e a cores, uma das revelações da MPB. Devo assistir ao show na quinta mesmo...
na sexta, dia 7, a banda de forró Bicho de Pé sobe no palco do Canto da Ema, um dos poucos lugares de São Paulo que sobreviveu ao "boom" do forró pé de serra da década de 90. No estilo do Bicho de Pé, nada de tecno melody, tão comum em bandas de forró do norte do país e que fazem um tremendo sucesso à margem das grandes gravadoras. No som da banda vale mesmo é o xote, o forró pé de serra... A casa abre às 22h30... eu devo ir, relembrando o meu tempo de pé-sujo-unespiano... hahahahahaha
e, no novíssimo Sesc Belenzinho, Moska, que lançou no ano passado o ótimo "Muito Pouco", faz show no dia 8 (sábado), no estilo voz e violão. Para se emocionar... se der tempo, eu saio da redação (estarei de plantão) e vou correndo assistir à apresentação do músico carioca.
e quem vai show da Amy Winehouse? Eu vou... de pista comum/normal.
no cinema, começa a temporada de estreias de candidatos ao Oscar. Se não conseguiu assistir ainda, vá ao cinema ver "A Rede Social", dirigido pelo ótimo David Fincher... recomendo, e muito! Se curte cinema latino-americano, estão em cartaz no Belas Artes "Dois Irmãos", de Daniel Burman, e "Abutres", do Pablo Trapero, dois dos mais talentosos cineastas do país vizinho.
espero encontrá-los por aí....
é isso
até mais
se cuidem!
feliz 2011!
alan

 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ENTREATOS

(Artigo escrito e publicado em 31.12.2010 no JC)



Dentro de algumas horas, Luís Inácio Lula da Silva deixará, ao menos formalmente, o Palácio da Alvorada e a Presidência da República. Após oito anos de mandato, inúmeras viagens internacionais, vários pontos percentuais a mais no PIB e uma taxa de aprovação, até onde sei, jamais vista numa democracia do ocidente, Lula voltará para São Bernardo do Campo para viver – espera-se – como um cidadão comum. Mas os feitos, positivos e negativos, de seu mandato continuarão pairando no ar de Brasília por longo tempo e dificilmente serão ignorados por qualquer pessoa que pretenda analisar o Brasil do início de século XXI.


O conjunto de características impressionantes (repito: positivas e negativas) do país nos últimos oito anos acabam por fazer com que nossas atenções continuem voltadas sobre a própria figura de Lula, mesmo sabendo que depois de amanhã ele será um ex-presidente. Ainda assim, seu magnetismo carismático faz com que se continue analisando seu governo e suas atitudes. Por tais motivos é que venho indicar a todos que, assim como eu, permanecem curiosos em relação ao que mudou (ou não) no Brasil nesse período, um documentário gravado em 2002, produzido e dirigido por João Moreira Salles, às vésperas da eleição de Luis Inácio Lula da Silva. Trata-se de “Entreatos: Lula a 30 dias do poder”.


O documentário, aparentemente despretensioso, não passa de uma colagem de inúmeras cenas dos bastidores, da intimidade de Lula e de seus companheiros, como Palocci, José Dirceu e Gilberto Carvalho durante a reta final da campanha presidencial de 2002. Com a câmera na mão, o diretor seguiu Lula e sua equipe, registrando o que ocorria atrás das câmeras de TV, programas e debates eleitorais. O filme, entretanto, se torna um documento histórico fundamental ao fazer notar alguns traços da personalidade – defeitos e virtudes - de Lula, percebidos pela opinião pública ao longo do mandato e que de certa forma explicam o modo com que ele governou o país.


Lá é possível notar que Lula permanece, o tempo todo no comando de sua equipe. Seu olhar atento é por vezes ameaçador. Contudo, com a mesma facilidade, a postura de ameaça se torna doce e afável, em uma contínua tentativa de seduzir os interlocutores. Aliás, a tentativa de seduzir todos que o cercam parece ser o maior trunfo e o grande cacoete de Lula, o que denota sua vaidade exacerbada. Outro traço interessante perceptível no filme é visão que Lula tem de si mesmo. Vangloria-se inúmeras vezes de sua falta de estudo formal, a ponto de ser aconselhado por Ricardo Kotcho a não tocar mais no assunto durante a campanha. Além disso, Lula vê sua (então possível) eleição como o resultado da tomada de consciência por parte das classes trabalhadoras do Brasil, das quais ele se julga um porta-voz algo messiânico. Notável é ainda a capacidade de improvisação de Lula nas mais variadas situações, bem como sua muitas vezes apontada – por ele mesmo – verborragia. Mas talvez o elemento mais revelador do filme seja a aversão de Lula aos rituais e formalidades institucionais, principalmente os da liturgia do cargo. Em certa passagem ele mesmo menciona seu incômodo com os ritos militares, inerentes à Presidência.


A somatória dos traços mais notáveis de Lula – o ímpeto sedutor, a retórica fácil e o mal-estar diante dos ritualismos e formalidades – talvez explique inúmeros percalços desses oito anos. Mas, muito mais do que isso, mostra como partes do Brasil e parcelas de sua população pouco mudaram em sua mentalidade personalista desde que Sergio Buarque de Holanda indicou em seu “Raízes do Brasil” a figura do “homem cordial” brasileiro, avesso aos rituais, sempre tentando criar uma “ética de fundo emotivo”, em que aos amigos se dá tudo e aos inimigos nada. É a autoridade carismática levada ao extremo.


E mesmo sabendo de tudo isso, quando Lula fala, todos escutam, e a maioria obedece, geralmente com um sorriso no rosto. Não é por outra razão que o maior legado de Lula para o Brasil será a inquebrantável ausência de carisma de Dilma Rousseff. Vai ser bom pro povo brasileiro.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Olivier Clerc

A rã que não sabia que estava sendo cozida.


Imagine uma panela cheia de água fria, na qual nada, tranquilamente, uma pequena rã. Um pequeno fogo é aceso embaixo da panela, e a água se esquenta muito lentamente. (Fiquem vendo: se a água se esquenta muito lentamente, a râ não se apercebe de nada!). Pouco a pouco a água fica morna e a rã, achando isso bastante agradável, continua a nadar. A temperatura da água continua subindo... Agora a água está quente mais do que a rã pode apreciar; ela se sente um pouco cansada, mas, não obstante isso, não se amedronta. Agora, a água está realmente quente, e a rã começa a achar desagradável, mas está muito debilitada; então, suporta e não faz nada. A temperatura continua a subir, até quando a rã acaba simplesmente cozida e morta.

Se a mesma rã tivesse sido lançada diretamente na água a 50 graus, com um golpe de pernas ela teria pulado imediatamente para fora da panela. Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta, na maior parte dos casos, reação alguma, oposição alguma, ou alguma revolta. Se nós olharmos para o que tem acontecido em nossa sociedade desde há algumas décadas, podemos ver que nós estamos sofrendo uma lenta mudança no modo de viver, com a qual nós estamos nos acostumando. Coisas que nos teriam feito horrorizar 20, 30 ou 40 anos atrás foram, pouco a pouco, banalizadas e hoje apenas incomodam um pouco ou deixam completamente indiferente a maior parte das pessoas.

Em nome do progresso, da ciência e do lucro, são efetuados ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver; efetuados lentamente, mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisadas e, agora, incapazes de se defenderem. As previsões para nosso futuro, em vez de despertarem reações e medidas preventivas, não fazem outra coisa a não ser nos preparar psicologicamente para aceitarmos algumas condições de vida decadentes, aliás, dramáticas.

O martelar contínuo de informações, pela mídia, satura os cérebros, que não podem mais distinguir as coisas... Quando eu falei pela primeira vez destas coisas, era para um amanhã. Agora, é para hoje!!! Consciência, ou cozido, precisa escolher! Então, se você não está, como a rã, já meio cozido, dê um saudável golpe de pernas, antes que seja tarde demais.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Que venha 2011

Esse ano foi um ano muito corrido e cheio de emoções. Coordenei a programação da VCP, trabalhei muito, fui para Buenos Aires com amigos queridos, saí da SEC para uma nova aventura que acabou se revelando ser nada do combinado, chutei o balde, fui para o México finalmente visitar o Rogério, fomos dar um role na Califórnia, voltei para o Brasil, voltei para a SEC... 2010 foi um ano de aprendizado e amadurecimento.
2011 promete e vai cumprir!

Agora a tradicional retrospectiva...

Melhor Filme: A origem

Melhor Filme do ano passado que só viu nesse: Os amantes

Melhor Filme Ruim: The romantics com Katie Holmes

Música: Stylo - Gorillaz feat. Mos Def and Bobby Womack

Banda que eu não conhecia: The XX

Melhor livro: Só garotos, Patti Smith

Melhor livro antigo que só leu nesse: Comer, rezar, amar

Lances mais Descolados: ver Love - The Beatles do Cirque du Soleil em Las Vegas (por acaso!)



Melhor espetáculo: In On It

Mau momento: lies...

Bom momento: crescer com o meu trabalho

Excelente Momento: festas de fim de ano em família (há tempos não dava tanta risada)

Melhor viagem: Califórnia de carro... on the road, baby ...

Celebridade do Ano: os vampiros de True Blood e a Hebe

Coisas MAIS LEGAL da internet: Utorrant

Melhor meio de comunicação: nextel e facebook (ainda)

Melhor programa da televisão: Glee

Temas recorrentes: amigos e trabalho... trabalho e amigos...

Sonho de consumo: um apartamento bem bacana

Melhor compra: vestidos na H&M, Calvin Klein e Kenneth Cole...

Tipo de homem: hetero, solteiro e descomplicado

Viagem que gostaria de fazer: há de ser um retorno para a Califórnia (de carro, ponta a ponta por algo como um mês!)

Em quem você tacaria uma torta na cara: essa resposta fico devendo... a resposta pode ser ofensiva

Show: Elza Soares com Sandália de Prata no Comitê no dia do meu aniversário

CD: Nina Becker - Azul e vermelho



Coisa deleitável: ser feliz (always!)

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011: um novo ano no ocidente

Em grande parte do mundo o ano novo se consolidou há uns 500 anos. Desde o Egito Antigo de 3.750 a.C. quando Orion/Sirius alinhava-se com a estrela Canopus ao centro da Via Láctea, exatamente à zero-hora sobre as pirâmides de Gizé, passando pelo calendário babilônico de 2.800 a.C. chegando ao gregoriano, o reveillon mudou de data diversas vezes. A celebração na Mesopotâmia começava na lua nova do equinócio da primavera. Atualmente isso seria em 19 de março. Nessa data os espiritualistas comemoram o ano novo esotérico. Desde meados de dezembro com o tumulto das festas venho pensando no assunto. E para cada Feliz Ano que eu desejei, pensava: mas, qual? O gregoriano é claro! Esse calendário é uma herança do império romano. De Numa Pompilius até Julio César reinava uma confusão só, pois os anos não eram contados e sim nomeados em homenagem aos cônsules. Enquanto, os assírios e persas festejavam essa passagem no dia 23 de setembro e os gregos em 21 de dezembro para os romanos o ano principiava em 1º de março. Com o calendário de Júlio César passou a ser celebrado em 1º de janeiro, dia dedicado a Jano, deus dos portões. A reforma do papa Gregório III, em 1582, consolidou a data. Então está tudo certo. Será? Alguns povos ainda comemoram em datas diferentes. Na China, a festa acontece em fins de janeiro e início de fevereiro. No Japão e na Índia apesar das diferenças de calendários o apelo comercial está alterando muitas solenidades tradicionais e o ano novo está sendo festejado junto com o Ocidente. A comunidade judaica tem um calendário próprio, assim como os islâmicos.
Recentemente foi comemorado o Rosh Hashaná. Considerado como o ano novo, começa no primeiro dia do sétimo mês do calendário judaico: Lúach, 5771. Ele é oficial em Israel e vale para os judeus em todo o mundo. Está baseado no sol e na lua, enquanto o gregoriano tem como suporte o sol e o islâmico à lua. Em vez de feliz ano novo, a saudação é “que você seja inscrito e selado no Livro da Vida”. O período do grande feriado torna-se a escolha entre a virtude e o pecado e aqueles que se arrependem estão no caminho certo para serem inscritos no Livro da Vida, daí a saudação trazendo consigo a promessa de um ano bom. Na tradição judaica o livro é fechado no Yom Kipur. Os dez dias entre as duas datas são conhecidos como os dias de temor. O Rosh Hashaná é também de lembrança, rememorando a história de Isaac.
No islamismo o ano novo é celebrado na metade do mês de maio. A contagem corresponde a Hégira, em árabe, emigração, cujo ano zero é 622, data em que o profeta Maomé deixou a cidade de Meca estabelecendo-se em Medina.
Isso sem falar no calendário republicano francês de 1772. O ano teve início em 22 de novembro, data em que foi instaurada a República principiando a meia-noite no equinócio de outono. A eliminação das festas religiosas, dos nomes dos santos e do domingo indispôs grande parte da população contra ele. Teve curta duração e em 1806 o gregoriano voltou a vigorar. O reveillon que em francês significa despertar voltou ao 1º de janeiro. Então... Feliz Año Nuevo! Heureuse Nouvelle Année! Buon Anno! Happy New Year! Shaná Tová! Feliz Ano Novo! São os meus votos aos leitores do setegrausdeseparacao.