sábado, 22 de janeiro de 2011

A lógica cultural da atualidade

De uns tempos para cá, surgiram prognósticos sobre o fim da ideologia, da arte, das classes sociais, da social-democracia, da previdência social, etc. Tudo isso configura o aparecimento de uma nova época na história da humanidade. A filosofia deu-lhe o título de pós-modernidade. O argumento em favor de sua existência apóia-se na hipótese de uma quebra radical na cultura, cujas origens remontam ao começo dos anos 60. Como o próprio nome sugere, esse repúdio é feito contra a era moderna, cujo início deu-se com a Renascença. Por essa ótica, o expressionismo abstrato em pintura, o existencialismo em filosofia, as formas de representação no romance, os filmes de grandes autores, são vistos como impulsos da modernidade se exaurindo. Depois, tudo se torna de imediato empírico, caótico e heterogêneo: a pop art, o foto-realismo, a nova figuração, a música de Cage, o punk rock, o cinema experimental e o comercial, o vídeo, Goddard, Burroughs, Kerouac e Fante, além da critica literária baseada na estética da textualidade, bem... a lista poderia se estender quase ao infinito. Isso implica uma ruptura mais fundamental do que as mudanças periódicas de estilo? Sim, e na arquitetura, as posições pós-modernistas são inseparáveis do repúdio ao estilo de Le Corbusier. Dessa forma, atribui-se ao modernismo a responsabilidade pela destruição da teia urbana da cidade tradicional. Essa retórica teve o mérito de dirigir a atenção dos historiadores de arte para a característica fundamental do momento: o apagamento da fronteira entre alta cultura e cultura de massa. O pós-modernismo revelou um enorme fascínio por uma paisagem degradada, pelo kitsch, pelos seriados de tv, filmes B, histórias de mistérios, ficção cientifica e romances biográficos. A curiosidade mórbida pela vida alheia pode ser constatada na série televisiva BBB. Esse brusco rompimento entre modernidade e pós-modernidade não deve ser tomado como puramente cultural. Os conceitos relacionados ao contemporâneo são semelhantes às generalizações sociológicas trazendo as novidades a respeito da sociedade pós-industrial. A missão ideológica de tais teorias é evidenciar uma nova formação social sem o primado da produção industrial ou a presença da luta de classes. Elas propõem fazer a anatomia dessa sociedade demonstrando tratar-se de um estágio mais puro do capitalismo. Fredric Jameson refere-se ao período atual como o da terceira idade da máquina. É oportuno lembrar a celebração desses instrumentos no momento anterior ao nosso. A exaltação da máquina pelo Futurismo, o endeusamento da metralhadora e do automóvel por Marinetti. O prestígio dessas formas aerodinâmicas pode ser constatado, em sua presença metafórica, na construção de Brasília. As máquinas exerceram fascínio também sobre artistas como Picabia e Duchamp. A tecnologia contemporânea não mais possui a capacidade de representação, agora são máquinas de reprodução como televisões e computadores e não mais de produção. No retrato traçado, quero me eximir da afirmação de que a tecnologia seja de algum modo determinante na vida de qualquer sociedade, embora tal tese seja coincidente com a noção pós-marxista sobre o assunto. A concepção aqui esboçada é histórica e não política ou estética.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rosa Bertoldi:
meu anjo, sem ofensas tá? Mas, Jean Luc Godard se escreve com um d somente.
Sua amiga Janira