sábado, 29 de janeiro de 2011

A cabala da inveja

Meu autor predileto é Nilton Bonder. Rabino equilibrado com muitos livros traduzidos para diferentes línguas, ele é modesto, jovem e surfista, dentre outras coisas. Lembro-me dele há anos atrás - na Hebraica - lendo em hebraico o Eclesiastes transcrito por Haroldo de Campos, que por sua vez lia em português. Uma noite e tanto compartilhada com meus filhos.
Teria isso influenciado ambos em suas carreiras? Eles trabalham direta ou indiretamente com cultura. Mas, vamos ao assunto. Aconteceram duas coisas. Primeiro ganhei de um amigo A Cabala da Inveja. Ele faz parte de uma trilogia composta pelos A Cabala da comida e A Cabala do dinheiro. O mote do rabino é a possibilidade de se modificar uma atitude a partir do pressuposto da existência de outro ser humano em nós e um nós no outro! São conselhos trazidos diretamente da Torá e Talmud vindas de um homem ponderado compartilhando a força poética da palavra bíblica com o leitor comum da mesma maneira que com o intelectual, um dos irmãos Campos há tempos atrás. "eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços..." Esse mesmo, homenageado por Caetano em Sampa, quem não se lembra?
Segundo: estou sem nenhum ajudante para trabalhos domésticos desde outubro por falta de tempo de procurar ou por falta de vontade. Existirá uma cabala da preguiça? Quem aparece por aqui é o jardineiro, ainda bem, senão seria a segunda floresta amazônica, bem no centro do estado de Sampa... Descobri por acaso: um dos funcionários do condomínio onde vivo disse que em suas folgas limpava telhados, vidros, lavava carros, etc, etc. Pronto encontrei a solução para uma parte do problema. Ele esteve aqui na sexta e no sábado e vai voltar. A casa está começando a brilhar de novo. Mas, em conversa comentou comigo que sua mulher perguntou como havia sido o seu dia de trabalho e como eu era. Ele respondeu: ela tem um brilho diferente. Pensei: minha pele deve estar bem oleosa, mesmo. Efeito do Emedeen para mulheres acima dos cinquenta? Sei lá. Por via das dúvidas quando tomei banho usei um shampoo para cabelos oleosos e aproveitei para lavar o rosto com ele. Olhei no espelho e não brilhava... No dia seguinte o moço contou para mim e meu marido sobre uma fábula ouvida do pastor na noite anterior na igreja. O moço é evangélico. Prestem atenção, pois é bem interessante. Uma cobra estava andando pela floresta com fome. Ao encontrar um vagalume tentou comê-lo. O pirilampo pediu um tempo para perguntar à cobra o seguinte: pertenço a sua cadeia alimentar? Vou satisfazer sua fome? Não. Então, por que você vai me devorar? E a cobra respondeu: Não tolero o seu brilho. Pensei: então esse era o brilho!!! Serei realmente alguém com um brilho próprio como dizem meus amigos? Conversa e elogio de amigo não está valendo, porém a conclusão é: quando a gente brinca sobre a questão de um elefante incomodar muita gente, acho que o certo seria dizer: um pirilampo incomoda muito mais. Basta olhar ao redor. Quanta cobra venenosa a gente vê querendo acabar com pessoas que na opinião dela está fazendo sombra ou incomodando. Oh, rabino, reze por todos os vagalumes humanos desse nosso mundo tão invejoso!

2 comentários:

Rosa Leda disse...

Deixe para lá, minha amiga. Hoje, pelo menos, houve um comentário bom no jornal, o ar condicionado funcionou... É muito fácil reclamar, criticar, acusar, mas há um sol vivendo em você. Beijo

Janaina Fainer disse...

como se qualquer coisa que acontecesse no navio fosse vontade do comandante... eita, titanic!!!!