Rosa era uma mulher
independente. Sempre fora. Muito jovem, ainda, mal completados os dezessete
anos decidiu ir para a Europa. Seus pais tentaram impedir mas não conseguiram.
Ela esperou apenas fazer os dezoito e ganhar a maioridade. Vendeu sua máquina
de escrever, uma enciclopédia, seus pares de sapatos, bolsas, a bicicleta, uma
peruca (na época era moda usar peruca), uns poucos livros e foi embora dizendo
que não voltaria.
Estudara num colégio de
freiras belgas, sabia um pouco de francês, foi para a França. Com a cara e a
coragem procurou os devotos de sua Igreja. Eles a ajudaram. Após duas semanas
tinha um emprego. Após seis meses tinha um namorado, após dois anos tinha um
filho.
Vivendo simplesmente achou
melhor entregar o menino para adoção.
Não sentiu remorso algum.
Sabia que ele seria mais feliz... e ela também. Trabalhou como bailarina no
Crazy Horse e no Moulin Rouge, foi operadora do carrossel perto da Torre
Eiffel, guia falando português, no Museu do Louvre e modelo na Place du Tertre.
Já estava com quase quarenta anos quando decidiu trabalhar com turismo.
Coincidentemente chegara um grupo de brasileiros que iriam da França para a
Finlândia. Lá teriam um guia local, bastava que ela os acompanhasse. Aceitou na
hora.
Nas geladas terras
finlandesas ela teve uma tarde livre. Decidiu andar à toa. Usava seu casaco
preto, botas pretas e uma echarpe francesa maravilhosa. Era 10 de dezembro, dia
da independência, feriado nacional e muita gente estava nas ruas. A neve
abrandara um pouco mas o frio intenso fez com que Rosa entrasse na catedral. Estava
sendo executado um concerto de Sibelius. Havia um senhor elegantíssimo sentado
na quinta fileira e uma assento desocupado ao seu lado. Discretamente ela pediu
licença e sentou-se. O perfume dele era delicioso, chique e discreto. Ela sentiu-se aquecida e embevecida. Ao
terminar a apresentação ele levantou-se sem olhar para ela e saiu. Ela não mais
esqueceu daquele perfume.
Muitos anos depois, de volta
ao Brasil, num fim de tarde, ela sentiu o mesmo perfume. Seguiu aquele rastro e
se aproximou de dois senhores que conversavam confortavelmente instalados nas
espreguiçadeiras do hotel. O nome de um deles era Baptista.
2 comentários:
Qual das duas Rosas????????????? Estou adorando! Parabéns. E os nossos companheiros de blog? Jovens, espirito crítico exagerado, sem senso de humor, preocupados com o efeito estufa e tentando resolver os problemas do mundo como se eles tivessem solução. Pior é que eles escrevem muito bem... Não querem dar o prazer de seus textos aos leitores. Bjs
Adorei a história. Qual das duas rosa. O Batista não é da Bertoldi?
Ao que nos cabe, querida, vida corrida, muita preocupaçao mesmo, sem tempo pra escrever o que é bom. MAs depois dessa reapareço semana que vem. Beijos pras duas Rosas.
Postar um comentário