domingo, 6 de novembro de 2011

Em fatos verídicos

Ler biografias nem sempre geram bom resultados. Sou amante da obra de Jane Austen e qualquer pessoa que me conheça sabe disso. Li todos os livros, vi boa parte das adaptações para o cinema e finalmente, em minha última viagem, comprei empolgadíssima duas biografias da autora. Estou na página 176 de 347 da primeira delas e relutando cada vez mais em virar a página. Algo me diz que não lerei a segunda. E por quê? Porque incrivelmente, ou não, a imagem e fantasias que tinha relacionados a Jane, criados e nutridos a revirar de páginas sobre Lizzy e Darcy, não condizem muito com a realidade da vida da autora. E para piorar em dado momento assisti Amor e inocência (Becoming Jane), que se vende como retrato de um momento na vida de Jane e vamos combinar que não condiz com o que tenho lido na última semana. Só para exemplificar, o filme trata de seu avassalador romance com o jovem irlandês Tom Lefroy, que nos meus sonhos foi o Mr Dancy de Jane, e no livro não é nada disso. Sim, a jovem então aspirante a escritora conhece Tom Lefroy em 1795, algo por volta da página 114 e ao todo encontra o rapaz umas três vezes em eventos sociais e nunca mais volta a vê-lo já na página 121. E o encontro na floresta? A fuga para o casamento? O amor infinito e imortal? A filha com outra nomeada a partir de sua amada? Nada disso foi verdade? A passagem de Tom Lefroy na vida de Jane Austen se resume a sete páginas e algumas poucas cartas trocadas com a irmã Cassandra. Somente. Basicamente o livro tem acabado com todo e qualquer sonho romântico dessa que vos escreve, mas ouso dizer que isso tudo vem a calhar e de certa forma cabe bem na minha situação atual. Outro dia estava com duas amigas queridas em um barzinho quando meu celular anunciou a chegada de um torpedo. Dizia algo assim: "Amor, estou morrendo de saudade". Li e apaguei. Minhas amigas, curiossissimas, queriam saber quem era. Era engano, é claro, afinal não tenho ninguém na vida nesse momento que me mandasse um torpedo desse teor. Triste? Admito que sim. Então ler que na verdade Jane Austen não viveu um grande amor, não teve um encontro incrível na floresta e nunca encontrou seu Darcy mas mesmo assim criou um para sua Lizzy, me faz ver que a vida é assim mesmo. E que os roteiristas americanos tem muita (mas muita) imaginação.

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