quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sem nome...

Meus caros…

Sinto informar-lhes que se abateu sobre mim um misto de gripe e desânimo, não necessariamente nessa ordem. Uma afasia incapacitante e acinzentada que impede qualquer tentativa de produção literária, por mais despretensiosa que seja. As idéias são muitas. Algumas sobre a maravilha da humanidade. Outra sobre a mesquinhez dos homens. Muitas sobre a injusta finitude da vida humana e alguns lampejos de um hediondo sentimento de que alguns humanos não são dignos de tal adjetivo. Cheguei mesmo a ter a impressão de que pretender tratar os cães como humanos seria algo terrível para os cães. Contradição sobre contradição, sobre contradição. Esta a característica humana por excelência.


Nestes dias meus companheiros tem sido o chá verde (que amarela os dente de modo impressionante) e os cobertores (não felpudos, vez que estes produzem séries de espirros cômicas). A internet, ao alcance das mãos, não parece trazer novidades. Sombrios tempos estes em que as manchetes desta semana se parecem demais com as do mês passado, e do retrasado, e assim por diante, ad infinitum...


Muito embora tudo que foi dito, conheço-me bem a ponto de saber que estes traços de bipolaridade (não sei se é isso... não fui diagnosticado por um profissional) estarão bem distantes deste confortável cômodo em que me encontro dentro em breve. Então escreverei sobre flores que não tocaram meu olfato, amores que não arranharam meu coração, músicas que não ouvi, paisagens que não vi... enfim. Utilizarei o arsenal de possibilidades dos que colocam palavras em papéis e que muitas vezes não precisam fazer um mínimo de sentido. Afinal, acho que quero é ser um grande fingidor mesmo (salve Pessoa).


Para a Marta, que me fez – com o maior prazer do mundo – sair da cama e vir até aqui. Este tosco ensaio é pra você.


Abraços e até quarta-feira que vem.

Thiago.

terça-feira, 16 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O ANIVERSÁRIO







Noventa anos é data para ser comemorada.
Dalila planejou tudo: os melhores salgadinhos, vinhos seco e frisante, tinto e branco, sucos, refrigerantes e a cerveja para Danilo. As taças todas sobre a mesa , gelo no baldinho e whisky, afinal alguém poderia ter mudado de gosto, a porcelana polonesa herdada da mãe, a toalha usada só nas grandes ocasiões e os guardanapos grandes, impecáveis, de linho com monograma bordado à mão.



Convidara os quatro. Quem viria?



Lucy chegou com o mesmo vaso de sempre, o mesmo perfume, o mesmo sorriso e a mesma desculpa: não poderia ficar muito. De ano para ano só mudava a razão. Desta vez era porque Enzo chegaria da Europa à noite. Estava linda e distante.



Danilo foi o segundo. Sorriu quando Dalila lhe ofereceu cerveja
– Estou ficando barrigudo, tia – disse. Um whisky, sim.
Os queijos estavam na mesa. Serviu-se sem olhar para Lucy à sua frente. Há anos não conversavam.



Celeste e Celso chegaram juntos. Desde pequenos os gêmeos eram muito unidos. Conversavam o tempo todo, viajavam com seus companheiros, eram até motivo de comentário. Inexplicavelmente unidos, nunca brigavam, gostavam das mesmas coisas e eram amorosíssimos com a tia. Trouxeram perfume, chinelo acolchoado, bombons e, num envelope, o convite para uma viagem com eles para Porto Seguro.



Dalila adorava os quatro. Sem filhos, sempre visitara muito os irmãos, e fora aquela tia querida que fazia os brigadeiros, enchia os balões, acudia cada amiguinho que se machucava, vestia-se de coelho, Papai-Noel e o que precisasse. Foi a confidente de todos eles, o refúgio e aconchego de todos. Independente, gostava de viver sozinha mas contava com os irmãos. Um a um tinham morrido e agora ela, sozinha, aos noventa, sentia um pouco de medo dessa solidão que fora sempre tão importante.



Programara tudo para hoje. Teria que ter coragem.



Tirou os salgadinhos do forno, repôs o gelo, Glen Miller no equipamento de som, os três primos conversando e Lucy folheando uma revista, parecia que tudo corria bem.



Confiante, Dalila aproximou-se deles e disse que precisava dizer uma coisa.
Celso, brincalhão, começou e os outros acompanharam:
- Discurso! Discurso! Discurso!



- Não é discurso, meus amores, mas é uma declaração. Tia Dalila está muito sozinha e velhinha. Chegou a hora de pedir um favor a vocês.



- Claro, tia, não é favor nenhum, sua vontade é uma ordem.
- Pára com isso, tiinha! A senhora sabe que fazemos tudo pela senhora. Pede!
- Eu tenho um pouco de medo...
- Já sei, a senhora quer autorização para namorar!



As risadas altas pareceram a Dalila um pouco nervosas. Talvez estivessem matutando sobre o que ela poderia dizer de tão importante... Seria a hora certa? Mas se não fosse agora quando seria?



- Bom, meninos, vocês vão ver que é um favor, sim. Não vou enrolar. Gostaria que um de vocês viesse morar aqui, comigo. Não quero deixar meu cantinho, não quero incomodar pedindo para ir para a casa de um de vocês e não posso continuar sozinha. Fiz exames recentemente, estou forte, não preciso ir para uma clínica, casa de repouso, nada disso. Poderia até contratar uma empregada para ficar à noite, durante o dia a Nina cuida de tudo mas à noite tenho sentido um pouco de medo. Pensei, pensei e não quero uma estranha aqui, enquanto durmo, tem tanto maluco neste mundo... Então quis propor a vocês. Não precisam responder agora. Pensem, mas não demorem muito. Está bom?



Olhou docemente para seus queridos meninos que, de olhos baixos tinham a fisionomia cerrada. Nada de risos, nem sorrisos, estavam claramente preocupados. Ela os conhecia tão bem!



- O primeiro que se manifestar será recebido de braços abertos. Além de não ter que gastar nada ainda vai ser presenteado, lógico, pelo grande favor que estará fazendo à titia... – Tentava manter o bom humor mas havia-se rompido alguma coisa.- Não se preocupem queridos, não é nada tão grave, não fiquem tristes. Vocês não haviam percebido que tia Dali estava velhinha?



Ofereceu mais bebida, buscou salgadinhos quentes, colocou música mais alegre na vitrola, buscou o bolo, cantaram parabéns, recebeu os abraços de felicitações e de despedida, recolhia os pratos e copos, e enquanto dobrava com carinho os guardanapos que iriam para a lavanderia, no dia seguinte, usava-os para enxugar as lágrimas mais tristes de sua vida.



Nunca tivera tanta certeza de sua enorme solidão.

domingo, 14 de junho de 2009

Shibboleth

“Uma rachadura não precisa pedir permissão para existir.”
Doris Salcedo


Há pouco mais de um ano uma ferida foi britada na Tate. Britada é a única hipótese possível se bem que a britadeira e seu piloto deviam ser muito sensíveis para atingir traços tão bem definidos e doces. A obra nunca foi muito explicada tecnicamente. Seu impacto era muito maior. Abertas ficaram as entranhas do museu. Belas, expostas ao prazer da artista e de seus visitantes. Cheias de sinuâncias e significados intrínsecos. Eu tive o prazer de ver Shibboleth enquanto obra presente. Voltei algumas vezes para ser essa obra somente. A cicatriz fechada, pleonasmicamente, cicatrizada está lá ainda para ser vista. A ferida aberta fechou regenerando a ordem. A Tate nunca mais será a mesma.

Abaixo o line up da 27 SPFW

17 quarta
1 :: Osklen 15h
2 :: Priscilla Darolt 17h
3 :: V.Rom 18h
4 :: Paola Robba 19h
5 :: Uma Raquel Davidowicz 20h15
6 :: Colcci 21h30

18 quinta
1 :: Iodice13h30
2 :: Maria Bonita 15h30
3 :: Alexandre Herchcovitch (fem) 16h30
4 :: Cori 17h30
5 :: Forum Tufi Duek 19h
6 :: Huis Clos 20h15
7 :: Cia. Maritima 21h30

19 sexta
1 :: Reinaldo Lourenço 12h15
2 :: Simone Nunes 15h30
3 :: Agua de Coco por Liana Thomaz 16h30
4 :: Carlota Joakina 17h30
5 :: Fabia Bercsek 18h30
6 :: Ellus 19h30
7 :: Triton 21h

20 sábado
1 :: Gloria Coelho 12h45 e 13h45
2 :: Erika Ikezili 15h30
3 :: Maria Garcia 16h30
4 :: FH por Fause Haten 1730
5 :: 2nd Floor 19h
6 :: Oestúdio 20h15
7 :: Animale 21h30

21 domingo
1 :: Cavalera 12h
2 :: Neon 14h30
3 :: Ronaldo Fraga 15h30
4 :: Jefferson Kulig 17h
5 :: Mario Queiroz 18h
6 :: Lino Villaventura 19h30

22 segunda
1 :: Isabela Capeto 15h
2 :: Wilson Ranieri 16h
3 :: Movimento 17h
4 :: Alexandre Herchcovitch (masc) 18h
5 :: Reserva 19h
6 :: Samuel Cirnansck 20h15
7 :: André Lima 21h30

sábado, 13 de junho de 2009

Um mundo único e plural...

O ódio é o guia pálido da calúnia, representado em símbolo pelo macaco carregando sacos contendo as sementes do mal... foi assim que visualizei o autor da mensagem. Pensei em Hitler e na leve semelhança física entre eles, no texto da Myrella, na segunda guerra, no filme Au revoir les enfants, no olhar de Louis Malle em direção ao amigo e nos nazistas levando o garoto judeu. As imagens apontam para o horror sentido ao ler o aviso, listar quem estava praticando preconceito contra um colega, quando o pré-conceito vinha do remetente. Preso a um único ponto de vista, está cego em relação ao problema alheio e míope quando se trata do seu. O outro... o diferente, o diverso do primeiro, o único. Eis a definição do termo. Bastide escreveu: “eu sou mil possíveis em mim, mas não posso me resignar a querer apenas um deles.” A Sociologia vê a humanidade como única e plural. Isso pressupõe ruptura com a monotonia do idêntico, pois as sociedades ocidentais são diversas entre si. Tão desiguais que Tzvetan Todorov da École Pratique de Hautes Études passou parte da vida pesquisando o conceito de alteridade existente na relação de indivíduos pertencentes a grupos distintos. A justificativa encontra-se na situação do autor, emigrante na França, onde a relação entre nacionais e minorias está marcada por xenofobia. No dia a dia, um colega diferente, no trabalho ou na escola, acaba sendo o outro. Alguns autores acreditam que todo preconceito seja medo. Mas, medo em excesso é distúrbio psiquiátrico.
A globalização gerou um fenômeno migratório grande e o ressurgimento do nacionalismo, ambos somados aos distúrbios no sistema econômico apontam para o outro como responsável pelas mazelas do mundo. Estereótipos levam a idéia errada sobre as diferentes culturas. Asiático sujo, negro menos inteligente, mulçumano violento, judeu avarento são exemplos pejorativos.
O que é certo? O que é normalidade? Perguntas sem respostas. Apesar da diversidade existe algo nos igualando: a essência humana. Pessoas devem ser tratadas como tal, não com rótulos ou adjetivos sem utilidade. Não dizia Sartre que existir é escolher livremente? Alguns são jardineiros por opção ou necessidade, outros designers, um outro escolhe ser feliz pura e simplesmente, imaginando: os incomodados que se mudem ou mudem o mundo, se puderem! E sem ódio no coração, pois posturas rígidas demais denotam graves problemas. Necrofilia era uma das doenças de Hitler, além de outras mais!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Feliz Dia dos Namorados

com uma das minhas duplas favoritas



terça-feira, 9 de junho de 2009

Realmente a semana voou. A ultima vez que sentei na frente da televisao foi pra escrever no blog...parece que foi ontem (meu computador é conectado na televisão, ok?). Claro que semanas ou períodos assim são horríveis porque provavelmente nada de legal aconteceu.

Na verdade, acho que a única grande ação da semana foi o fato de ter de passar roupa porque a faxineira não veio. 17 camisas de uma vez... E descobri também que passar roupa sem camisa, vendo concerto do Armin Van Buuren na televisão não é uma boa idéia porque você pode queimar a barriga com o ferro.

O desespero bateu à porta esta semana. Cansei da solidão. Cansei de não ter amigos e não ter com quem falar. O duro é que eu continuo na mesma situação do "Eu sou legal , não to dando mole"...Será que dá prá entender que eu NÃO quero pegar todo mundo que passa na frente? Enfim... no momento do desespero quando eu já estava na porta do carro prá ir pro México, a 100 km de provavelmente fazer alguma bobagem o telefone tocou e era um conhecido de Cuernavaca que me chamou prá sair com seus amigos... QUANTA ALEGRIA... Conheci gente nova, e foi muito legal. Preciso dar um jeito de manter minhas amizades.

Próximo final de semana já estarei em SP. Estou com passagem já comprada :-) São tantas coisas prá fazer que não sei como vou trabalhar... Sim...vou a trabalho... ao menos a passagem é de graça. Mas tenho dois finais de semana incluídos ao menos.

Estou notando uma certa eletricidade durante minha escrita... Será o Red Bull Light que tomei com o jantar? Acabou tudo que tinha na geladeira. Hoje no almoço tomei cerveja e agora Red Bull. Acho que amanhã vou ser obrigado a tomar o vinho que comprei prá fazer risotto e trabalhar depois de tomar vinho é HORRÍVEL! Dá um sono..

Outra coisa que sempre acontece comigo aqui no México... Essa cidade é SECA prá caramba...e eu levo choque em tudo...na porta, nas pessoas... já fui até ao médico por isso e ele disse que não tem jeito... O que eu notei que todo dia eu faço é abrir a porta do carro prá sair dele, levo um choque, bato forte com o braço na porta por causa do choque e a porta bate forte no carro ao lado... Já contei 13 carros amassados pela minha porta... E mesmo sabendo disso, NAO tenho como evitar...

Escrevi coisas sem pé nem cabeça... mas foi o que tive vontade... Saluti a tutti!