segunda-feira, 31 de maio de 2010

AMOR E AMORES

O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceita desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida... (O Livro do Desassossego - Fernando Pessoa)

"O amor é uma doença que acomete o pensamento de uma pessoa e a torna obcecada por outra pessoa, criando um vício incontrolável que busca penetrar em todos os mistérios da pessoa amada: suas formas, seu corpo, seus hábitos.

Trata-se de um anseio desmedido, uma visão perturbada que invade o coração dos infelizes. Tornam-se ineficazes e dispersos. Esses infelizes deliram em abraçar, conversar, beijar e deitar-se com o ser amado, mas jamais conseguem fazê-lo plenamente (por várias razões), e essa impossiblidade é essencial na dinâmica do desejo perturbado. Corpo e alma estremecem anunciando a febre da distância.

O amor romântico é uma doença. Nada tem a ver com felicidade. Por isso sua tendência a destruir o cotidiano, estremecendo-o.

Ou o cotidiano o submeterá ao serviço das instituições sociais como família, casamento e herança patrimonial, matando-o.

Por isso os medievais diziam que o amor não sobrevive ao cotidiano. O cotidiano respira banalidade e aspira à segurança (irmã gêmea da monotonia, mas que a teme ferozmente) e a paixão se move em sobressaltos e abismos. Uma pessoa afetada pela paixão não pensa bem.

Nem todo mundo sofrerá da "maldição do amor" como diziam os medievais. Muita gente morre sem saber o que é essa doença."

Gostei tanto do que li hoje, na Folha, E 8, escrito pelo Luiz Felipe Pondé, que não poderia deixar de dividir com vocês.

Ao que transcrevi acrescentaria: azar de quem não não foi contaminado pelo vírus do amor e mais: pegar a doença uma vez não imuniza, o que é ótimo.

Bendita maldição!

Finalizando, trecho de uma entrevista com Flávio Gikovate que lançou recentemente seu livro

“Uma História de amor... com final feliz” onde decreta a morte do amor romântico e acredita que os relacionamentos atuais não duram por serem formados por “um egoísta” e “um generoso”, onde um exige de mais e o outro sempre cede. Melhor ficar sozinho! “A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem”, diz.

Vocês acreditam nisso?

sábado, 29 de maio de 2010

Poetando em ídiche...


Não se preocupem o poema está em português e foi transcrito do informativo da Organização Wizo SP do 1º trimestre de 2010. Trata-se do texto de um poeta judeu Avraham Liessin (1872-1938). Ele foi educado tradicionalmente e dedicou à literatura e filosofia haskalá/iluminista. Perseguido devido suas idéias socialistas exilou-se em New York. Eis o poema inspirado em heróis religiosos judeus.

O JUDEU ETERNO

Prolonga-se através de intermináveis gerações
A violenta luta entre os povos
O campo de batalha estremece sob as tensões
Continuo minha andança por caminhos novos

Através de areia e espinhos, através de pedras e ossos
Eu caminho e caminho e sempre caminharei
Firmei com o próprio demônio, assassino,
Um tratado que para sempre manterei

Que o fogo não consiga me queimar
Que a água não consiga me engolir
Que a lança não consiga me perfurar
Que o petardo mude de direção

Sinto ser mais forte que todo sofrimento
Que o ódio dos homens e seu combate
Mais forte que a água, o fogo e o tormento
Mais forte até que o mortal combate

Diante de mim, através de milhares de anos
As maiores potências foram aniquiladas
Os povos mais poderosos se foram pelos canos
E populações inteiras foram dizimadas

Montanhas gigantescas há muito ruíram
E campos perenes – apodrecidos e pisados
E rochas poderosas amolecidas desmoronaram
E eu vivo, próspero, sem os tempos contados!

E eu vivo, e vivo e sempre viverei
Através de centenas de anos de luta
Viverei, lutarei e aspirarei
E a base da eternidade é a confiança absoluta.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quem estiver me acompanhando poderá perceber uma leve preocupação com meu cérebro...
Começou quando percebi que após o lançamento do meu livro Contos de Solidão, iniciei a travessia de um deserto criativo. Agora é porque constantemente troco a ordem das letras enquanto digito. Será que estou ficando gagá? Ainda se fosse a Lady Gaga... então comecei a procurar "receitas" para melhorar. A boa e velha psicoterapia, conversar e conversar, ver filmes instigantes etc.

Sabe-se, hoje, que a ideia de que a memória tem uma capacidade limitada que vai diminuindo com o passar do tempo já ficou para trás.

Viver novas experiências é excelente para a memória. O cérebro fica em estado de encantamento quando a gente se esforça e aprende algo que quer muito.

“Musculação” da mente é estudar ou aprender algo novo e tudo é válido, desde reestudar uma língua já aprendida até natação e a famosa troca de mãos, usando a menos hábil para realizar as tarefas e a experiência de fazer coisas com olhos fechados.

FATORES QUE INFLUENCIAM NA CONDIÇÃO CEREBRAL
1. ATITUDE MENTAL POSITIVA
A boa memória depende da personalidade da pessoa e da emoção com a qual os fatos são codificados e armazenados. Evitar pensamentos negativos e preocupações ajuda na memorização. A tristeza desequilibra os neurotransmissores cerebrais e gera dificuldades até para resgatar dados já arquivados. Um estudo feito com ratos comprovou que uma única situação socialmente estressante pode destruir novas células nervosas na região cerebral que processa o aprendizado, a memória e a emoção. Ratos jovens, ao se depararem com ratos mais velhos e agressivos, tiveram as células localizadas no hipocampo comprometidas. Apenas um terço das células geradas sob o estresse sobreviveu.
2. NOITES BEM-DORMIDAS
Outro recurso valioso é manter o sono em dia. O repouso funciona como um coletor de lixo, quando é possível editar as ideias. A pessoa retém o que aprendeu, depura as informações e joga fora o que não presta. Esquecer também é fundamental para lembrar melhor. Manter-se acordado e alerta com as chamadas smart drugs, drogas que buscam melhorar a atenção e agilizar o desempenho intelectual, pode oferecer risco ao equilíbrio dos bilhões de neurônios, principalmente quando não há acompanhamento médico. Algumas substâncias naturais, como a xantina, presente no café, no chocolate e em alguns chás, podem servir de estimulante natural, sem efeitos colaterais ou contraindicações.
3. ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Alimentos ricos em gorduras e vitamina B ajudam a manter o equilíbrio de aminoácidos necessários para a formação e a estabilidade dos neurotransmissores, os componentes químicos que mantêm conectadas as células do sistema nervoso.
A gordura saturada pode ser encontrada nos peixes, na soja, nas castanhas e nas nozes. A gordura insaturada, mais saudável, está presente no azeite de oliva extra virgem e no óleo de canola. Essas gorduras melhoram a aprendizagem e o intercâmbio de informações no cérebro.
As vitaminas do complexo B fazem parte da composição de frutas, legumes e cereais integrais. Uma refeição que inclua salmão (peixe farto em boa gordura), verduras, arroz integral e molho de nozes, além de um copo de suco de frutas, é um poderoso combustível para a mente.
Nada disto é novidade mas de repente alguém poderá estar numa fase como a minha.

domingo, 23 de maio de 2010

Sucesso

Números finais de público nas 30 cidades participantes da 4ª edição da Virada Cultural Paulista:

Público Geral:

Araçatuba 33.068
Araraquara 86.594
Assis 108.486
Bauru 44.155
Caraguatatuba 32.121
Franca 32.315
Indaiatuba 86.825
Jundiai 75.972
Marilia 78.185
Mogi das Cruzes 58.711
Mogi Guaçu 43.591
Piracicaba 180.773
Presidente Prudente 68.026
Santos 55.786
Bertioga 2.130
Cubatão 3.862
Guarujá 6.120
Itanhaém 14.900
Mongaguá 1.330
Peruíbe 3.050
Praia Grande 2.110
São Vicente 7.345
Ribeirão Preto 27.349
Santa Barbara do Oeste 238.602
São Bernardo do Campo 21.563
São Carlos 36.769
São João da Boa Vista 85.117
São José dos Campos 44.959
São José do Rio Preto 24.923
Sorocaba 83.976

sábado, 22 de maio de 2010

Paris!!!!!

Hemingway disse que Paris era uma festa! Continua sendo uma festa para os olhos dos turistas. Vivi em Paris por um curto espaço de tempo e amo a cidade como qualquer parisiense. Estou sempre curtindo lembranças e acontecimentos engraçados ou tristes pelos quais passei. No começo o deslumbramento, no final a tristeza por abandoná-la, mas a saudade falou alto na ocasião. Meus filhos pequenos estavam no Brasil e eu morria de vontade de vê-los. A última vez que estive em Paris quando entrei no 16º arrondissement (os bairros são numerados)eu chorei e nem sei se foi de tristeza ou emoção... Mais do que uma festa Paris é história, é arquitetura das boas, é arte. Montmartre, o antigo bairro operário hoje um reduto de artistas com sua pequena praça e a famosa igreja, as ruas estreitas e sua efervescência ainda hoje encantam. Lá viveu Picasso e quase todos os vanguardistas. Paris é Montparnasse e as lembranças de gente como a gente. Escritores, poetas, jornalistas, editores e diretores de suplementos culturais vivendo – entre 1920/1940 – ao redor de Gertrude Stein, tais como: D.H. Laurence, Miller, Pound, Edith Whartton. Gertrude possuía uma casa na rue Fleurus, conhecida como pavillon, cujas paredes estavam cobertas por desenhos e pinturas de Picasso e Matisse, que a família Stern doou aos museus americanos. Paris era a cidade onde estavam aqueles que se revelaram humanos demais e os que acabaram por mostrar seu mau caráter como Joyce e Fitzgerald. É claro que a culpa não é da cidade. Ás vezes penso que Paris deveria ter um Wood Allen para amá-la como merece, como o cineasta judeu ama seu bairro com sua conhecida ponte a Brooklin Bridge, na cidade New York.
Paris exerceu um forte fascínio e foi amada, mas quase sempre por estrangeiros. Gertrude e Sylvia Beach, ambas americanas, adoravam Paris e apimentaram os conhecidos anos loucos com suas atitudes de mulheres liberadas. Elas se conheceram por causa da livraria de Sylvia, a famosa Shakespeare and Company. Aberta em 1919, acabou por fechar suas portas durante a ocupação nazista. Hoje ela continua lá com suas paredes verdes. Seu dono é George Whitman que reabriu a loja e deu o nome da antiga proprietária à sua filha. Na livraria pode-se ver velhos manuscritos, quadros, folhear os livros e de quebra ainda olhar para as águas do rio Sena.
Paris para mim tornou-se símbolo de liberdade, da arte de ver com olhos de coruja. (dizem que seu olhar abrange 180 graus...) Foi um banho de cultura, reencontro com alguns amigos, aproximação com novas pessoas, enfim uma superação daquele velho complexo de terceiro mundo em relação ao primeiro. Foi decepção por conta do racismo aderente aos franceses e fazia parte do dia a dia deles. Não que eu particularmente tenha sofrido qualquer tipo de xenofobia, ao contrário sempre fui muito bem tratada por todos. Na última viagem que fiz ganhei até caixa de bombons do hotel onde estava e tudo porque choveu e pingou água na minha coberta!!!!!!! Os franceses são mesmo imprevisíveis, ou talvez nós os turistas sejamos tão imprevisíveis quanto eles, não é? Bem, não vou descrever museus ou ruas, nem mesmo a Ilê de France, com seus casarões antigos, pois a maioria conhece reproduções, cartões postais ou até ao vivo e a cores a cidade das luzes, uma cidade romântica e por incrível que pareça limpa, embora perfume nenhum consiga disfarçar um leve cheiro de xixi de cachorro!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

outrora

e, de repente, os olhos se cruzam.
não tinha notado como ele tinha envelhecido.
mas não era pelos cabelos brancos - poucos, mas já visíveis, mostrando que, sim, o tempo passa.
estava no olhar.
opaco. infeliz. cansado.
uma pena.
os olhos pareciam sem horizonte.
perdidos na imensidão do nada que insistia em afogar a visão.
fitavam vai saber o quê. mal respondiam.
volta e meia, piscavam. necessidade física.
adestrados.
amedontrados.
receosos de, novamente, encontrar algo que fizesse a pupila, já esclerosada, dilatar.
pareciam preferir aquela vida de asilo.
de chá das cinco.
olha de novo para ter certeza.
é. tinha certeza.
e mais: podia jurar que já existia um sorriso ali.
um, não. vários.
tinha um que surgia após as gargalhadas, como prêmio ao bom humor.
outro, por sua vez, era tímido, canto de boca, utilizado nas situações de vergonha/desejo.
usava em ocasiões especiais - que ele não sabia quais eram até surgirem.
e o de boca cheia? felicidade em estado bruto, querendo ser lapidada por alguém.
faltava só alguém se candidatar a ourives...
cadê?
o gato comeu?
outro olhar...
uma pena.
a barba escondia aquela serenidade de outrora.
esconde o que não era segredo pra ninguém. ou para alguém.
aliás, esconde quase que totalmente - uma falha aqui, outra ali e você descobre uns pecados acolá.
escondia definitivamente emoções que, antes, até RG tinham.
não gostou do que viu.
não mesmo.
há quanto tempo ele estava assim?
quando se tornou uma caricatura de tudo o que temia?
quando tinha virado o monstro debaixo da cama?
não fazia ideia.
via, agora, um rascunho feito de grafite tipo solidão.
desenho livre. dolorido. esboço sem cores primárias.
os olhares se cruzam.
no exato momento em que se cria o momento eterno.
ele não gostou do que viu.
não mesmo.
apagou a luz acima do espelho.
fechou a porta do quarto.
e foi sonhar.