quinta-feira, 9 de outubro de 2008

almas

antes de se conhecerem, eram duas almas pálidas, gelo nos lábios, coração em ritmo de cotidiano.
coube ao destino a missão de colocá-las frente a frente. a paixão fez o resto.
deu cor a cada uma. trouxe calor, desejo, tesão.
o coração quase parou mediante esforço físico de suas batidas em ritmo de fazer inveja a maratonista campeão mundial.
com o encontro, descobriram que não eram completas, e sim complementares.
se misturaram uma na outra, encontrando, em cada pequeno movimento, mais um grande motivo para amar.
vestiram-se de alegria, calçaram os sonhos, perfumaram-se com a esperança. de longe, exalavam bem-querer.
agora, o tempo e a culpa, que nunca se entenderam, mas que continuam juntos por capricho volátil e desnecessário, decidiram que as duas almas precisam se separar.
no início, elas acreditaram que isso não seria empecilho. que o amor era força-mor, movia montanhas com mais facilidade do que as passagens da bíblia.
mas descobriram que ele, o amor, é só o ingrediente mágico. para realizar a magia, era preciso mais.
não sabe onde erraram. perderam-se. não encontram mais o caminho uma da outra. não sabem como consertar. aliás, sozinhas com suas mágoas, não sabem mais nada.
só descobriram que nem almas voltaram a ser.
separadas e após conhecerem a dor, foram rebaixadas de nível, como castigo divino por não lutarem pelo que poderiam ser.
agora, são apenas humanos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Almas complementares separadas pelo tempo e pela culpa...O que será que é preciso pra realizar a magia???
Belo texto, mas ainda espero o final feliz...
Beijos

Anônimo disse...

O final feliz talvez seja a descoberta de que nada é insubstituível. E por isso, não é necessariamente um final. É a disposição pra superar, mas não no sentido de tocar pra frente como se tivesse perdido algo. É superar pelo acréscimo, pelo saldo positivo. É se abrir pra complementos diferentes. O que enriquece a vida é... vivê-la. E a vida é mais matéria do que alma.

Aí também é importante desencanar da magia. A espera do sobrenatural sempre tem um final frustrante, porque a conclusão é sempre a mesma: somos humanos. É isso aí, você acertou. Só falta concordar consigo mesmo. Né?

Um beijo!

Ana Alice disse...

não conheço essa silvia, mas já gosto muito dela! Concordo em número e grau (de reparação, não de separação). beijo, saudades imensas!

Juliana David disse...

Almas em algum momento se encontram, parecem uma só. Mas este momento é mágico e tênue. Ao soprar da brisa, o equilíbrio se desfaz, como em " Feitiço de Áquila". Todos queremos esse momento de união de almas. Mas como saber e quando acontece? Mistérios do universo, onde somos meros fantoches do acaso, só rezamos para estar em cena, quando o espetáculo acontecer.

Belissíma colocação. Adorei.

Eu, pendamentos e Poesia. Juliana David