quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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autor em crise.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

1968: é proibido proibir

Enquanto Sartre, o mais conhecido filósofo francês naquela época participava das barricadas que fecharam a Sorbonne em 1968, pois ele sempre esteve na linha de frente dos acontecimentos políticos na França, da Resistência à Argélia, e no mundo, polemizando com o livro Furacão sobre Cuba, Ronald Reagen referindo-se aos protestos estudantis afirmava: “se for preciso um banho sangue, vamos a isso”. Duas cabeças, duas sentenças, não é moçada?
1968: ano do ápice das mudanças iniciadas logo após a segunda guerra. Os estudantes clamavam por liberdade. A mesma do famoso tripé liberdade, igualdade, fraternidade, da revolução francesa. Não que a gente tenha chegado lá...
Mas, o termo era belo, digno, algo bom e serviu como catalizador para os protestos que estavam acompanhados do grito de guerra: é proibido proibir.
Eu lia com admiração os jornais e acompanhava pela tv uma ou outra noticia relacionada ao assunto, vendo as imagens do prédio da Sorbonne, a figura frágil de Sartre, ao lado de Simone de Beauvoir, caminhando nas passeatas. Como eu desejava estar lá. Por incrível que pareça... fui com quinze anos de atraso, para terminar uma pesquisa durante meu curso de pós-graduação. Sartre ainda ativo sentava-se no mesmo banco da praça de sempre, para tomar o sol da manhã. Como ele queria ficar só, as pessoas fingiam não vê-lo.
Voltando a 1968, quando eu conseguia parar, pensava de onde ambos tiravam essa capacidade de busca contínua de renovação? Um casal e tanto enfrentando a violência policial ao lado de seus alunos. Por detrás de muitas conquistas dos rebeldes dos anos sessenta encontra-se o aval de Sartre. Só por isso ele merece nossa admiração, viu Luciana Bergamini?
Não preciso dizer que os protestos se estenderam pelo mundo, Reagan disse.
Mas, vamos falar de flores, é meu forte. Quem não se lembra do meu vestidinho indiano com quase trinta anos de uso? Falei dele em algum texto. O estilo hippie se estabeleceu com roupas coloridas, túnicas, sandálias, cabelos longos para ambos os sexos. Meu irmão vai querer esconder as fotos dele, tenho certeza.
A expressão flower power/força das flores e a própria flor eram símbolos fortes no movimento. A música permeou tudo. Uma melodia romântica, pouco crítica, que depois se tornou ácida, quando sofreu influência do folk e dos autores da música de protesto. Pop e rock foram considerados os meios de expressão perfeitos devido ao efeito libertador sobre a mente. Uma idéia defendida por Timothy Leary, que acabou por tornar-se uma espécie de guia espiritual dos hippies pela defesa do uso de drogas nessa libertação.
O termo contra-cultura passou a ser empregado referindo-se ao momento e palavras como turn on/ligar a luz/ligado; turn in/sintonizar/aderir, drop out/sair tornaram-se parte do nosso vocabulário. O último referia-se a recusa de participação na guerra do Vietnã. O venerável beat Allen Ginsberg é considerado um dos pais desse movimento. As idéias dos beatniks saíram dos bares diretamente para as salas de aula do campus universitário. E agora sim, tudo acontecendo ao mesmo tempo e no mesmo espaço underground: eram os politicamente engajados, os hippies, os normais e os não tão normais assim, os gênios, os vagabundos, os pobres e os ricos. Como um retorno era impossível, a sociedade passou a absorver as novas idéias e a acomodação voltou a reinar. Credo, tudo isso por culpa do Mamma Mia, nunca mais vou ao cinema, juro!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Obrigação

Um time tradicional, ao comemorar a subida para a primeira divisão, reconhece a própria incompetência. Obrigações não são conquistadas, são cumpridas.

domingo, 26 de outubro de 2008

Em Vivo Contato

Essa não foi um semana fácil. Na verdade, essa foi uma semana em que se eu não prezasse tanto meu direito de ir e vir, teria cometido um homicídio. Doloso. Mas tudo bem, a semana acabou por acabar bem. Dentro do estúdio lindo com tudo lindo. Deu orgulho de ver. E é isso, não é? O produto final que conta?!
Aí a noite de sexta foi de comemoração pelo sucesso. Ainda há muito o que fazer mas ver o resultado deu gás. Felizmente. E aí foi cerveja e risada e muita música.
E sábado acordou colaborando com calor bom e sol lindo. Café da manhã de hotel, cuidar do corpo, do coração, das coisas... e lembrar que a vida é muito mas muito maior...
E para fechar com chave de ouro a abertura e festa para convidados da 28º Bienal - Em Vivo Contato, de Ivo Mesquita. Muito já se falou sobre essa Bienal nesse último ano. A bienal do vazio. E não vou ser eu quem vai falar mais nada.
São Paulo ganha outra cara durante esse período e eu só agradeço e recomendo.





E gente, lá estava eu, no meu segundo dia consecutivo de Bienal, domingão fim de tarde tomando uma cerveja a quase nada de distância do curador quando plaft, blang, uau... barulho de quebradeira, gente correndo e gritando. Eu quase caí da cadeira, ele permaneceu impassível.
A 28º Bienal sofria, no seu primeiro dia de visitação pública, seu primeiro ataque também público. Já que o primeiro ataque oficial foi a adesivagem feita pelo grupoArac dias antes da abertura.
Por volta das 19h30, cerca de 40 pessoas picharam algumas paredes, pilares e corrimãos do segundo andar, o andar Vazio, do pavilhão da Bienal. Houve confronto entre seguranças e pichadores, parte escapou antes do prédio ser fechado e outros foram detidos pela segurança. Para fugir, quebraram uma vidraça e fizeram muito barulho.
Claro que com toda essa comoção ninguém mais foi liberado do prédio, ninguém entrava ou saia, ninguém podia sair do bar e ir ao banheiro e de repente ver o Fischerspooner ficou absolutamente obsoleto.
No final, até onde presenciei ninguém foi preso, todo mundo foi liberado, o show atrasou mas foi um arraso. E bota arraso!!!
E esse foi somente o primeiro final de semana da 28º Bienal.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ele

ele não sabe o que é amar.
não, senhor. não faz a menor idéia.
pobre diabo. nunca chegou perto. jamais teve fagulha deste bem-querer.
justiça seja feita: tentou, uma única vez. passou longe. gosto de bolacha amanhecida.
cuspiu. e cerrou as portas.
na infância, trocava as manifestações de carinho pela cabeça baixa, envergonhada, medrosa, assustada com o desconhecido.
na adolescência, herege convicto, nunca acreditou que beijos e experiências trocadas, roubadas, às vezes até permitidas nos muros da cidade poderiam acender-lhe chama do verbo.
hoje, faz tanta falta... Se soubesse...
mas sabe o que é certo. mas sabe o que é ser bacana. mas sabe de suas necessidades.
escova os dentes. trata o garçom com educação. tem tesão.
mas amor, nadica. sem pé cansado nem chinelo velho.
ninguém para discutir se o pivete vai chamar João ou Petrus.
não acha no supermercado. já procurou na farmácia. Só encontrou solidão na promoção – comprou dez quilos para não deixar faltar na despensa.
vidinha ordinária. de dar dó.
sem frio na barriga, abraço aconchegante, beijo na testa.
sem precipício. só a constante queda livre. poesia cega, surda e muda. amputada. à base de morfina.
conhecia só o silêncio ensurdecedor de seus próprios demônios no final de noite.
um dia, ela, deitada e envolta pelo desejo, disse a ele: “me ame”.
ele a colocou de quatro.
amém.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Sobre dentes...

Eu gostaria de estar falando de flores, dente de leão, por exemplo. Mas, vou escrever sobre dente, esse mesmo...usado para morder. Aquele que tem de ser escovado e bem tratado. Os meus foram fortificados com cannabis sativa, pois meus colegas de faculdade garantiam não fazer mal nenhum. Acredito ser verdade, pois gozo de uma saúde de ferro, mesmo vivendo a base de integrais, florais, hormônios e sonhos.
Faltou falar do vinho, pois de acordo com meu psicólogo predileto, Jair Marangoni, Rosa Bertoldi é dionisíaca. Não disse bacante, poderia haver dupla interpretação. Dionisíaca, por favor!
Vamos voltar ao assunto. O que é um dente? Descobri a seguinte definição: órgão duro guarnecendo as maxilas do homem e de animais. Pensei logo em dente de elefante. É de marfim, um tesouro. Os nossos são também, e revestidos de esmalte na coroa. O assalto aos cemitérios vai começar, pois a preciosidade não se desfaz, ou vira pó, hein doutor Flávio Monteiro?
Lembrei-me de armado até os dentes, falar entre dentes, dente de coelho, esse eu sei, dá sorte. Ninguém percebeu, mas no dia da minha cirurgia eu coloquei um, junto com a mão de Deus, amuleto judaico, que carrego no pescoço. Seguro morreu de velho, dizem.
Ah, ia me esquecendo da famosa frase dente por dente. Dia desses, postei um texto no blog setegrausdeseparacao, comentando a lei de Talião. Vou fazer o comercial: trata-se de um grupo composto de sete pessoas, três jornalistas, uma produtora, um auditor, um economista, e eu. Todos vivendo na cidade de São Paulo ou no interior e não nos conhecemos. Como o jovem auditor trabalha em uma multinacional vive com a mala nas costas, deveria dizer pelo mundo afora? Mas, relembrando: essa lei consiste na rigorosa reciprocidade do crime e do castigo. Se uma pessoa arrancasse o dente de outra, a pena seria a mesma. Daí o dente por dente. Socorro, eu não sei aplicar anestesia. Quer dizer os dois responsáveis pela extração do meu vão ter os seus arrancados sem o conforto do anestésico. Paciência. Da próxima, vão pensar bem antes do crime.
Falando sério. Comecei há algum tempo um tratamento estético com uma dentista jovem, bonita, elegante e principalmente eficiente. A idéia era uma reforma geral. Como uma coisa leva a outra, acabei por decidir fazer implante de dois dentes com o doutor Flávio Monteiro Amado. É ai que entra a brincadeira com a lei de Talião. Hoje em dia a perda de um dente não significa mais ficar banguela. Existe o implante. Trata-se de uma estrutura feita de metal, aderida ao osso, funcionando como a raiz do dente. Após esse pino estar assentado, processo chamado de ossointegração acontece à segunda fase: colocação da prótese sobre essa base, ou seja, um novo dente. Branquinho e bonito, ninguém percebe que é falso. Deverei chamá-lo de kitsch? Vou perguntar ao doutor.
Explicarei o uso do termo, afinal ele não é do ramo. Uma pena, pois daria um bom escultor. Seria outro Rodin? É bom avisar que, hoje as mulheres não são como Camille Claudel, tornaram-se feministas. Melhor ser dentista. Pode ser sádico do mesmo jeito arrancando dentes, furando-os, tratando canais e os pacientes agradecem e ainda pagam para sofrer. Digo a favor dele, não houve dor, nem inchaço ou qualquer outro incomodo relacionado ao processo. Mas, afinal, o dente é kitsch ou não?
Kitsch é um termo contemporâneo. Para Marx seu significado era “falsa consciência”. Daí a relação da palavra com o falso. O conceito ganhou nova dimensão, infiltrando-se nas manifestações artísticas e estéticas para satisfazer o gosto da sociedade de consumo, apoiado pela indústria cultural e pelos meios de comunicação de massa. Hoje a associação é feita com o cult, que chic, hein? Meu dente não é kitsch... é cult!

domingo, 19 de outubro de 2008

Fora da ordem



Sabe por que essa porra de mundo não vai para a frente? Porque as pessoas perderam a humanidade no sentido mais básico da palavra. Essa semana passei por várias mas chego no domingo assim: com um sorrisinho nos lábios e com a certeza de que o sucesso é sempre de quem merece.
Aos invejosos a vidinha medíocre e burra que levam já é castigo suficiente.
E eu chego sorrindo de orelha a orelha e com os olhos brilhando.
Brilhando!



Fotos da obra Aqui tudo parece que ainda ér construção e já é ruína, A partir de Fora da Ordem de Caetano Veloso (2004) da artista inglesa Cerith Wyn Evans.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

encontro

o mesmo bar. primeira terça-feira do mês.
era sempre assim. deus chegava antes, chapéu cata-ovo, barba tingida, óculos nerd. depois, chegava o diabo: terno preto risca-de-giz, sapatos encerados, a gravata vermelha, goma no cabelo.
encontro amigável. assunto: o andamento do mundo, concessões, pedidos.
deus já estava na terceira long-neck. o diabo chegou, sentou, pediu uísque e gelo extra.
- você está atrasado, lu - disse deus, bebericando a garrafa.
- não, velhinho. você é ansioso demais, sempre chega antes.
frente a frente. no meio do bar. nunca eram incomodados.
- preciso fazer um pedido especial dessa vez, lu.
- manda.
- preciso que você elimine do mundo o ódio e a tristeza. fiz umas pesquisas e percebi que muitas das reclamações que chegam a mim têm ligação com essas merdas que você criou. uma ladainha que não tem fim. então, hoje queria negociar isso com você. o que quer em troca?
diabo, velho malandro, recebe o uísque do garçom. sorri de canto de boca.
- não posso fazer isso, velhinho.
deus é um tanto escandaloso, sabe? quando bebe, então... um chato. quando ouviu o não do diabo, já deu um tapa na mesa.
- como não, lu? já negociamos a morte do elvis, o lento e contínuo fim da camada de ozônio, incêndios, assassinatos em massa... por que a frescura?
- não posso - repete e sorri, de forma mântrica, o demo.
- você tá valorizando seu preço, te conheço - diz deus, um tanto alterado.- mas vamos lá, lu: o que quer? mais filas em bancos? mais mosquitos? dor de cabeça?
- hum... tentador, velhinho - e lá se vai meio uísque, enquanto chega mais uma long-neck pra deus.
- já sei - brada o criador. vou lhe dar mais 10 serial-killers. você coloca onde quiser. escolhe o número de vítimas e o estilo das mortes. metade será presa, metade não - e deus sorri, feito vendedor das Casas Bahia.
- você me conhece, velhinho.
- feito, então.
- ok. obrigado.
o diabo mata o uísque, levanta, deixa o dinheiro da bebida, pega duas pedras de gelo, levanta.
- ei, onde vai? já fez sua parte?
o sorriso do tinhoso aumenta.
- já disse, velhinho. não posso fazer o que me pediu. mas agradeço sua gentileza.
deus vira a mesa, quebra a long-neck na parede, ameaça o capeta.
- que porra é essa? como não pode fazer?
a turma do deixa-disso se levanta para apartar. sereno, no boteco, só o diabo.
- devia beber menos, velhinho. ódio e tristeza não são sentimentos, e sim conseqüências. surgem nos espaços onde não há amor. e não fui eu quem colocou o amor como primeiro mandamento.
deus se senta, encosta na cadeira, os ânimos se acalmam.
de repente, deus ri. enlouquecidamente.
- diabo filho da puta - murmura. até mês que vem.
- até mês que vem, velhinho.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

“Não te esqueças de usar algumas flores no cabelo...”

Talvez alguém reconheça o verso citado acima. Ele pertence a S. Francisco, a canção-hino da minha geração: a flower power. Talvez por isso eu tenha saído tão leve do cinema, dia desses. Vi Mama Mia. Podem rir, não me importo!
Era o clima pesado de um Brasil ditadura, pensei no Geraldo Vandré em pra não dizer que não falei de flores... em outro contexto, um pouco diferente do clima dos politicamente engajados.
Pensei 1968/71 os quatro agitados anos que passei na faculdade. Os congressos, as prisões, mortes de operários e estudantes. Pensei em como deve se sentir a mãe dos meninos Petit, os três desapareceram durante a guerrilha no Araguaia. Quem nunca ouviu o Caetano cantando Cuba seja aqui/me falou Petit. Vocês podem imaginar-me no predinho amarelo do Dops fazendo xixi de porta aberta e acompanhada de um soldado? Pois é, o tempo passa e nem tudo foram flores. Mas, as coisas tiveram inicio alguns anos antes com os beatniks.
Pós- guerra, desenvolvimento, muito dinheiro nos Estados Unidos e muita perseguição aos intelectuais, ditos comunistas. A juventude descontente, com novas expectativas sociais e uma busca frenética de liberdade vivia o sonho suficientemente grande de paz, amor, ideais de vida comunitária, de braços dados com antigas crenças em tarô, astrologia e religiões orientais misturadas com a não-violência de Gandhi. Uma salada não é? Parece que mesmo assim essa geração mudou o mundo. Parece também que tudo aconteceu ao mesmo tempo, embora hoje eu perceba que existiam anos de diferença entre uma coisa e outra.
Os quinze primeiros anos entre 1945/60 foram de aquisição e sedimentação desse pensamento. Os anos 60 começaram com Bob Dylan, as primeiras transmissões ao vivo pela televisão, as pílulas anticoncepcionais, Gagarin na Lua, o Muro de Berlin, os Beatles, Aldous Huxley morrendo de overdose de LSD, protestos ao racismo, a guerra do Vietnã, o assassinato de Luther King e Kennedy, o black power, o feminismo. Foi nesse contexto que o movimento flower power surgiu.
Além de paz e amor e é proibido proibir havia a famosa frase que se tornou conhecida no Brasil pela voz de Raul Seixas: faça o que tu queres, pois é tudo da lei. Os anos sessenta chegaram ao fim com manifestações mundiais em todas as universidades. Pense em mim/ chore por mim... uma garota no meio desse redemoinho todo. Acho que nessa época comecei a tornar-me dionisíaca, sem saber nada sobre Dioníso.
Ah, teve HAIR, assim como recentemente foi encenada RENT, comprovando que a arte é um espelho da sociedade independente do tempo e do espaço.

domingo, 12 de outubro de 2008

Corrida

Gente, gente minha gente
semana de MUITO trabalho e correria.
So far? Muita alegria também.
E salve salve o talento.


sábado, 11 de outubro de 2008

Don't Panic!


Don't Panic! 
Health Department Clueless about killer virus, but tells the public: Don't Panic!

Essa foi a manchete de primeira página do jornal sulafricano "The Times" na quinta feira.

Imaginem que uma pessoa do Zambia tomou um vôo emergencial para a África do Sul pois apresentava alguma doença rara. A paciente faleu alguns dias depois em decorrência de algo inexplicável. Dias depois outra pessoa faleceu, e coincidentemente era o paramédico que acompanhou a paciente no vôo para a África do Sul. Mais uma pessoa faleceu alguns dias depois. Uma enfermeira que teve contato - não sei de que tipo - com o paramédico que tratou da paciente zero.

Eu odeio esse tipo de jornal sensacionalista. Se é prá não ter pânico, precisava colocar em letras fonte 900 prá não ficar em pânico?

Aeroportos estão em alerta, cuidados sanitários estão sendo tomados - não que eu tenha percebido na verdade - mas o objetivo do jornal parece ter sido alcançado. Ninguém está em pânico... Exceto eu.

Já checaram se trata-se de mais um tipo de febre hemorrágica, e chegou-se à conclusão que não. Aparentemente o contágio dá-se somente por algum tipo de troca de fluidos. APARENTEMENTE! Mas de qualquer forma, eu odeio essas novas doenças que aparecem de repente. Eu sou meio neurótico, como já falei muitos posts atrás e isso não é nada bom. Eu fico pensando, pensando, pensando no assunto e fico cada vez mais tenso.

Era assim com a gripe aviária, mas eu não viajava tanto internacionalmente naquela época. 

Daqui a pouco vou começar a viajar a la Michael Jackson e vão achar que estou louco.

Mas é isso aí... Don't Panic! Mesmo que ninguém saiba do que se trata, que a autoridade sanitária esteja completamente sem respostas e você seja um frequent flyer estressado...


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

almas

antes de se conhecerem, eram duas almas pálidas, gelo nos lábios, coração em ritmo de cotidiano.
coube ao destino a missão de colocá-las frente a frente. a paixão fez o resto.
deu cor a cada uma. trouxe calor, desejo, tesão.
o coração quase parou mediante esforço físico de suas batidas em ritmo de fazer inveja a maratonista campeão mundial.
com o encontro, descobriram que não eram completas, e sim complementares.
se misturaram uma na outra, encontrando, em cada pequeno movimento, mais um grande motivo para amar.
vestiram-se de alegria, calçaram os sonhos, perfumaram-se com a esperança. de longe, exalavam bem-querer.
agora, o tempo e a culpa, que nunca se entenderam, mas que continuam juntos por capricho volátil e desnecessário, decidiram que as duas almas precisam se separar.
no início, elas acreditaram que isso não seria empecilho. que o amor era força-mor, movia montanhas com mais facilidade do que as passagens da bíblia.
mas descobriram que ele, o amor, é só o ingrediente mágico. para realizar a magia, era preciso mais.
não sabe onde erraram. perderam-se. não encontram mais o caminho uma da outra. não sabem como consertar. aliás, sozinhas com suas mágoas, não sabem mais nada.
só descobriram que nem almas voltaram a ser.
separadas e após conhecerem a dor, foram rebaixadas de nível, como castigo divino por não lutarem pelo que poderiam ser.
agora, são apenas humanos.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Punição semelhante ao crime...

Vocês não têm obrigação de conhecer Baudrillard. Trata-se de um autor difícil e pessimista em relação às questões do mundo contemporâneo. Em sua opinião o terrorismo é uma nova forma de violência nascida paradoxalmente de uma sociedade permissiva e pacificada. Calma pessoal, eu não vou falar no dia 11 de setembro. Quero discorrer sobre uma sociedade de normas e não de leis. Esse pensamento está baseado nas idéias do citado Baudrillard e é válido para os fatos do nosso cotidiano. Como leio jornais todo santo dia, ele não me sai do pensamento. Em vez de pessimista deveria dizer que é realista? Crime e assassinato são as palavras mais vistas nos noticiários.
Assassino é uma palavra tão velha quanto o homem. Estão aí os relatos bíblicos para confirmar. Caim matou Abel e Judite assassinou Honofernes, general do exército assírio, no reinado de Nabucodonosor. Do ponto de vista feminino, nossa heroína estava coberta de razão, afinal tinha sido violentada pelo estrangeiro. Na tradição judaica o ocorrido ficou apócrifo. Mesmo assim o ideal desse homicídio inspirou os sicários, grupo político surgido quando Jerusalém estava caindo nas mãos romanas de Tito.
Na iconografia católica Judith foi musa inspiradora de diversos pintores, dentre eles, um dos meus prediletos: Gustav Klimt.
Mas, não só os cristãos e judeus têm fatos violentos para contar. Assassinatos eram comuns, também, na história política islâmica. Não por acaso, a conhecida Lei de Talião apareceu no Código de Hamurabi. Trata-se de um conjunto de normas reguladoras da sociedade mesopotâmica. Um texto estabelecendo a pena conforme a intensidade do delito, ou seja, para tal crime igual castigo. Penso que nossos legisladores desconhecem a história e a religião. O capítulo 21, do Exodus, no Antigo Testamento prescreve: se houver dano grave, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, queimadura por queimadura... Em Roma, quando as leis foram sintetizadas nas doze tábuas, a sétima dizia: se alguém ferir a outrem, sofrerá a pena de Talião. Bárbaro? Melhor perguntar para os habitantes da Arábia Saudita, Iêmen e outros países do Oriente Médio onde ladrões têm as mãos cortadas. E cá entre nós barbaridade é o que a sociedade brasileira está presenciando. Citando um único caso, onde estão os assassinos do garoto carioca morto friamente por um bando de selvagens? Provavelmente sob o manto protetor dos direitos humanos. Para eles não seria mais adequada a Sociedade Protetora dos Animais? Não. Agora, eles têm a nova lei 11.464/2007, de autoria do ex-ministro Márcio Thomas Bastos. Ironicamente, foi aprovada logo após a cena de horror com João. De acordo com ela os assassinos do garoto responderão em liberdade provisória pelo crime cometido. Bom, não é? Enquanto esperam, eles podem até planejar outro... Afinal, o assalto não passou de mera banalidade!
Uma grande parte dos habitantes desse país acredita que um pouco mais de rigor não faria mal a ninguém. Garanto que eles não pensam na lei de Talião, embora seja algo para se meditar: olho por olho/dente por dente... Diz o ditado que quem cala consente. Trata-se de um silêncio quase tácito. Vocês perceberam que ninguém está reclamando do bafômetro?
As atuais discussões sobre lei e segurança pessoal caracterizam-se pela urgência de um lado – o da população – e por um cinismo ineficiente do outro, o das autoridades. Durante a Revolução Francesa foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos do Homem afirmando que todos os seres humanos têm direito à vida e a segurança pessoal. O brasileiro não possui ainda essa prerrogativa e se depender dos poderes constituídos a gente vai demorar muito para tê-la.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Efeito Jack Daniels

Uma vantagem de ser pobre é que, quando ocorrem crises financeiras, como essa pela qual estamos passando, não se perde dinheiro na bolsa. É claro que haverá perdas a médio e longo prazos, decorrente da redução do crédito e das pressões cambiais e inflacionárias. E por falar em câmbio, lembrei-me daquelas mercadorias trazidas por amigos do exterior. São as responsáveis pela ilusão de que algumas regalias cabem no orçamento. Charutos cubanos, uísque 12 anos e barbeadores de 5 lâminas especiais que custam 10 dólares a unidade. O dólar passou dos 2 reais.

Permitam-me transcrever uma explicação sobre a atual crise financeira, recebida de um amigo.
É suficientemente ilustrativa, permitindo a aqueles que não entendem muito de economia, de subprime ou alavancagem entender como a bolha imobiliária norte-americana pôde causar essa tormenta no mercado financeiro internacional, o efeito Jack Daniels.

“É assim: O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça 'na caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito). O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia. Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer. Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu). Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bêubo da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifu.”

domingo, 5 de outubro de 2008

Friends

Contra todo e qualquer bom senso cheguei de mais uma viagem à trabalho, onde além de cansada tive dois dias de febre e gripe, dormi, acordei... e sim, fiz o look e fui ver o Justice no Skol Beats. E quer saber? Foi a melhor coisa que fiz. Com frio, sereno e cerveja na cabeça e talvez nem todos entendam o apelo de ver um show onde dois franceses passam a maior parte do tempo de cabeça abaixada concentradíssimos em suas pickups mas foi um show e tanto. Pulei, dancei, encontrei amigos, perdi amigos na multidão... e voltei para casa para dormir pela manhã renovada e curada da gripe.
Abaixo dois vídeos que não dão idéia do que foi esse show. Mas valem como registro e deixam mais e mais e mais vontade de Justice.





Ah, e esta semana aprendi que inveja realmente é uma merdaaaaaaaaaaaa
E dá-lhe arruda e banho de sal grosso e muito oração a todos.
E prestem muita atenção na programação da Mostra de Artes 2008 do Sesc porque está sensacional.



sábado, 4 de outubro de 2008

Viagem sem Fim...


Perdoem-me, mas não consegui.

Serão completadas 70 horas de vôo em 3 semanas, sem contar tempo de aeroporto nas conexões...
3 continentes em 3 semanas com direito somente a passar em casa para trocar de mala.

O resultado disso já está começando a aparecer: 6 tubos de ensaio de amostras de sangue para análise, uma receita de remédio prá dormir e algo muito peculiar no rosto: a barba está parando de nascer...

Será que vale a pena? Não sei... Não tenho resposta.

Espero tê-la até o final do mês. Se até lá, estiver vivo prá saber qual é...

Saudações,

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um tempo depois...

Um mês e alguns dias, talvez. Destak. Matérias. Reportagens. Beijo na boca. Vontade de dar beijo na boca. Roubadas. Risadas. Piadas prontas. Piadas feitas. Shows bons. Frio. Calor. Praia. São Sebastião. Shortbus. Ensaio. Ensaio sobre a Cegueira. Quartos. Pintura. Mudança de quarto. Séries de TV. Download. Lost. Perdido. Grey's Anatomy. Choro. George O'Malley. Encontro surreal. Encontro real. Celular. Números trocados. Música eletrônica. Falta de blusa. Saudades. Promessas. Vontade de mudar de emprego. Vontade de ficar no emprego. Muitas horas no trabalho. Orgulho de você. Uma ligação inusitada. Uma conversa estranha. Quem é você? Novidades musicais. Passagem de volta comprada. Buenos Aires em março. Salvador em fevereiro. Micareta. Mônica Salmaso. Canções de amor. Filme francês. Ida ao prédio da Folha. Teste. A Favorita. Vôlei na televisão. Muitos e-mails para responder. Novos contatos profissionais. Crianças. Quarto bagunçado. Fora da Bolha. Dentro da bolha. Vontade de fugir do orkut. Bauru, quem sabe? Correspondências. Cartas. Um (quase) sexo. Meio ambiente. Saudades trucidadas. Planos de viagem. Jornais. Mais jornais. Novas revistas. Vícios. Madrugadas acordado. Falta de sono. Muito sono. 13 horas dormindo. Poucas horas dormindo. Meio. Começo. Um cartão VIP.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

puta

- 100 reais.
ela só falou isso.
- 100 reais.
frase cara.
pegou o dinheiro com ele já na cama dela.
lençóis encardidos. utilizados por outros 100 reais.
talvez menos.
o edredon cor-de-rosa, presente da avó, ficava no armário.
ganhava a cama só depois do fim do expediente.
assim como os cabelos escovados.
tirou os brincos, o piercing do lábio inferior, o pudor que um dia pintou na adolescência com cores vivas.
ela se despiu. em menos de um minuto, estava lá, nua.
nua, sim.
estar lá, a confirmar.
envergonhada, mãos a esconder os seios, apagou a luz do abajur da hello kity.
sem-vegonha, mãos no corpo do cara, chupou o cliente.
com culpa, à meia-luz vinda de um corredor quase de morte, ficou por cima.
sem nada a perder, virou-se de quatro.
os olhos fechados. tudo escuro.
silêncio mudo. burro.
ela, ele, aquele vazio preenchido pela necessidade.
15 minutos, tinha terminado.
não gozou. nunca gozava. contra a política da empresa.
virou-se. encontrou o top, no canto do quarto.
lá, chorou.
de lá, mostrou a porta ao cliente.
ele foi. levou um pouco da dignidade dela.
ela ficou. pensando em uma maneira de jogar fora seus pensamentos, cada dia mais violentados.
um a um.
não deu tempo. a porta abriu.
- 100 reais.