sábado, 1 de maio de 2010

Sobre quintais...


Nasci em uma fazenda perto de Bauru. Quando estava com dois anos, meu pai mudou-se para uma casa alugada na cidade. Com o tempo, construiu uma outra para onde nós mudamos. Nessa época eu tinha uma irmã menor.
Passado alguns anos fomos viver em uma casa maior. Na ocasião estava com quase sete anos e havia habitado quatro casas diferentes. Nessa última nasceu meu irmão e lá vivemos durante anos. Dali eu ia para o colégio católico onde estudava. Foi nesse período que comecei realmente a pensar, talvez filosofar... Nunca consegui assistir a aula de religião inteira, porque sempre fazia as perguntas “erradas”. Isso devia ser fruto da minha herança judaica, pois todos sabem que sou neta de um judeu austríaco. Hoje, mais tranqüila consigo estudar a história das religiões, ter minhas próprias opiniões sobre o assunto, freqüentar uma sinagoga, quando vou à São Paulo e ainda de quebra ouvir as palestras do padre Beto, de bem com o catolicismo. Minha mãe nunca admitia discussões, pois era uma católica fervorosa, como boa mineira que era. Tempos passados. Bom, o que tudo isso tem há ver com quintais?
Nessa última casa tinha um pé enorme de jaboticaba que num belo dia foi cortado. Motivo? Reforma na residência que ia se tornando cada vez maior.
E o quintal foi se tornando cada vez menor... Essa falha era compensada pelas maravilhosas férias passadas junto de meus tios-avós fazendeiros. Janeiro e julho eram meses sagrados para os três irmãos. Então, tenho uma memória que poderia ser classificada de verde. Adoro o verde em roupas, na decoração, nas plantas.
Mas, se vocês pensam que só mudei quatro vezes estão enganados. Quando me casei fui viver em São Paulo. Primeiro, perto do centro, depois na Aclimação, depois na vila Mariana e quando meus filhos nasceram em uma casa no Butantã. Quatro mais quatro somam oito. Oito vezes e meus filhos nem iam para a escola ainda. Retornei ao apartamento da vila Mariana e depois para Bauru. Antes de voltar definitivamente para cá morei em Paris.


Então, contando Paris são nove o número de vezes. Em Bauru fui viver em uma chácara perto da cidade por um ano, tempo que minha casa levou para ser construída e lá estava eu de novo de mala e cuia na estrada pela décima vez. Atualmente vivo em um condomínio. A casa é grande, mas o quintal com um gramado que parece tapete de tão verde é enorme. E, por causa dele, pretendo permanecer aqui pelo resto da minha vida. Grama, mas só grama? Não existem arvores frutíferas e flores. Dentre as flores tenho um pé de manacá que é meu predileto e ... aquela que mora no meu coração é a jaboticabeira. Pequena, mais dá frutos o ano todo. Quando passo perto dela e faço isso toda manhã relembro da outra, da grande, sacrificada por uma bobagem, mas fazer o que?
A mesma paixão que tenho pelo verde se estende ao roxo. Será esse o motivo de gostar tanto de vinho? Mas, a uva tem uma substancia antioxidante em sua casca que faz dela um produto quase medicinal. Dizem que sua cor atrai pássaros que espalham as sementes garantindo a perpetuação da espécie (das uvas... seria dos pássaros?) O mesmo acontece com nossa pequena notável. Mas, os cientistas brasileiros descobriram que a mesma substancia que faz a uva tão cobiçada está presente também na jaboticaba.
Autocianinas por grama de frutas: uva: 227; amora: 290; JABOTICABA: 314. Para eles se uma fruta for azulada ou arroxeada é porque elas contem autocianinas. Viva, as amoras e jaboticabas são minhas preferidas. Uma boa razão para todos vocês meus jovens terem pelo menos uma muda da preciosa fruta em suas casas. Se vocês me conhecessem, ficariam admirados, pois tenho quase cem anos e minha aparência é de metade, mais um pouquinho disso! E não venham me dizer que a culpa é do dermatologista, pois tenho certeza que é a jaboticaba!

Um comentário:

Anônimo disse...

Que texto lindo!