segunda-feira, 5 de julho de 2010

Um das maiores autoridades brasileiras em depressão diz que hoje, qualquer tristeza é tratada como doença psiquiátrica e que prefere-se recorrer aos remédios a encarar o sofrimento. Miguel Chalub afirma que muitos médicos se rendem aos laboratórios farmacêuticos e indicam antidepressivos sem necessidade, pacientes e médicos estão confundindo tristeza com depressão. “Não se pode mais ficar triste, entediado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. Hoje, brigar com o marido, sair do emprego, qualquer motivo é válido para se dizer deprimido. Mas o sofrimento não significa depressão"

É preciso reconhecer as diferenças entre a “tristeza normal e a patológica”. O despreparo dos médicos especialistas tem levado ao que ele chama de medicalização da tristeza. O medicamento não corrige a distorção humana.

Nos índices apresentados pela mídia estão sendo computadas situações humanas de luto, de tristeza, de aborrecimento, de tédio como depressão. Isso é transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter, dependendo das situações, numa entidade patológica. Anormal seria não ficar triste com a morte, o divórcio, um filho envolvido com drogas, o desemprego... O homem não aceita mais sentir coisas que são humanas, como a tristeza.

Existe uma busca desenfreada pela felicidade. Qualquer coisa que possa atrapalhá-la tem que ser chamada de doença, porque, aí, justifica: “Eu não sou feliz porque estou doente, não porque fiz opções erradas.” Dou uma desculpa a mim mesmo. Segundo, à tendência de achar que remédios vão corrigir qualquer distorção humana. É a busca pela pílula da felicidade. Ninguém mais pode ser/estar infeliz. A diferença é que a tristeza patológica é muito mais intensa e mais longa.
Aperto no peito, dificuldade de se movimentar, só querer ficar deitado, dificuldade de cuidar de si próprio, da higiene corporal, são sintomas de depressão e de tristeza. Na tristeza normal, por dois ou três dias. Na patológica, fica nas entranhas.

Antes, a pessoa com depressão era vista como fraca. Hoje, as pessoas dizem que estão deprimidas com a maior naturalidade. Não se fica mais triste, qualquer motivo é válido para se dizer deprimido. Pode até ser que alguém fique realmente com depressão, mas, em geral, fica-se triste, depressão é outra coisa.

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