sábado, 31 de julho de 2010

Uma opinião sobre fontes religiosas antigas...

Minha especialidade é arte. Passei a me interessar pela história das religiões quando fui orientada em meu mestrado por um judeu americano. Sua cabeça antecipava o século XXI e nas sextas feiras ia à sinagoga. Alguma coisa me incomodava nessa atitude dele e um dia conversando sobre o problema ouvi suas razões. Depois disso o assunto não saiu mais de pauta. Por coincidência, assisti algumas palestras, versando sobre costumes religiosos, fazendo-me retornar a questão, agora iluminada pela transcrição de documentos encontrados em Qumran.
Qual a origem dos judeus? Alguns historiadores afirmam serem eles os drandâlas, pedreiros mencionados por Vina-Snati, exilados da Índia. São descendentes dos fenícios, dizia Heródoto. Para Josefo, pertenciam ao grupo indo-árico de origem semita, e tornaram-se conhecidos no Egito como hicsos. Ária correspondia a uma região na Índia Setentrional. A palavra deu origem aos termos ariano e aristocrata. Ainda hoje, os armênios são designados arianos, com conotação de sangue puro. Todas essas hipóteses relacionadas às raízes do povo judeu possuem um fundo de verdade, então ele pode ser todos ou nenhum deles.
Essa introdução serve como encaminhamento para o assunto religião. Champollion demonstrou: os livros sagrados do Egito eram mais antigos do que a parte mais antiga do Gênese e a civilização egípcia devia suas instituições civis e artísticas à Mesopotâmia e à Índia. Tudo começou há 6.000 anos com Gilgamesh e suas indagações sobre vida eterna.
A opinião emitida aqui está baseada em livros recentes de David Flusser, um professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele é um estudioso do Novo Testamento e acompanha as traduções dos Manuscritos do Mar Morto. É perigoso generalizar, mas ao sair da segunda reunião, pensei há verdades e mitos em qualquer sistema teológico. Lembrei-me também de um ditado hebraico: quatro judeus, cinco opiniões... ao imaginar a época em que Jesus nasceu. Naquele momento, além do judaísmo oficial, havia vinte e quatro seitas espalhadas por Israel. À tradução dos manuscritos de Qumran evidencia mais similaridades do que diferenças entre judaísmo, cristianismo e essênios, grupo radical que vivia no deserto, onde supostamente João Batista foi educado.
Na opinião dos judeus, o tempo dos milagres e das profecias havia passado, embora existisse uma expectativa em relação à vinda de um profeta escatológico antecedendo ao Salvador. O tema do Messias sacerdote e do Messias real apareceu nos pergaminhos dos essênios, nos testamentos dos Doze Patriarcas e na literatura rabínica, o Novo Testamento combinou essas funções e encontrou sua realização em Jesus.
Flusser fez um cauteloso estudo perguntando até que ponto o midrash reflete crenças judaicas antigas e como essas orações apareceram no cristianismo. Buscou reforço na famosa passagem do Talmude quando o rabi Eleazar ben Arak louva o sacerdote Yose dizendo: "Abençoado és tu e abençoada é aquela que te gerou, e abençoado são meus olhos que viram isso." Em hebraico, essa era uma forma natural de elogiar alguém que desse uma resposta correta ou fosse um sábio. Semelhantes palavras foram ditas por Isabel à Maria. "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre."
Todos os evangelhos têm uma pré-história complicada. Não se sabe o processo de transferência de uma fonte oral para uma escrita, embora a existência de afinidade entre a forma e a estrutura dos textos seja visível. O Novo Testamento contém vestígios da messianologia primitiva, que por sua vez têm raízes em fontes judaicas. Portanto, a pergunta levantada aqui não é se Deus existe, mas qual a origem do monoteísmo. Ele foi uma resposta para a sociedade do século I que procurava não um deus, mas o Deus, confirmando a teoria de Freud que o monoteísmo hebraico teve como matriz as ideias de Akhenathon, pois as semelhanças são notáveis!

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