
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
visita
ela o espera todas as terças.
aguenta, com disposição militar, os dias passarem surrando a janela do quarto violentamente com seus ventos, suas tempestades, sua solidão.
uma eternidade de sete dias.
existem duas vidas: a das terças e o que sobrava.
viciada, toma suas doses de ansiedade controladamente.
veste seu melhor vestido de princesa, cheio de fitas e alegria.
costura buracos nas meias feito trabalho de ourives.
os pratos brancos floridos ganham a companhia de bolachas maisena.
fazia chá. perfumava o quarto.
a trilha sonora ganha mais cordas.
o coração, esquizofrênico, não controla as batidas, nem seus ataques.
o batom foge da caixa de maquiagem e, sem-vergonha que é, pinta os lábios com toques de impressionismo.
as unhas ganham cor.
os cabelos, oferecidos feitos putas famintas, se deixam tocar pela escova velha, dos tempos de garotinha.
bulímica, vomita as decepções. disfarça o hálito com gargarejo sabor limão.
troca as pilhas do relógio. não queria perder a hora, muito menos procurar os segundos suicidas, atirados ao chão, um após o outro.
na velocidade do tic-tac, espera.
sentada.
como um mantra.
disfarça impaciência virando cartas com seu destino - péssimo jogador, aliás.
na hora certa (ela sempre sabia qual), corre pra janela, sempre tão maltratada, hoje renovada feito borboleta.
desliza sua única saída para o mundo com uma leveza angelical.
deixa o rosto ser acariciado pela brisa da esperança - de mãos limpas, cheirando a sabonete de uva.
abre os olhos aos poucos, saboreando cada imagem embaçada que ganhava forma, nome, RG, foto 3x4, sentimento.
olha para a direita.
olha para a esquerda.
para a direita.
para a esquerda.
direita.
esquerda.
ninguém.
ainda sente o cheiro do chá. consegue salivar dali o gosto das bolachas.
abre um sorriso. de cabeça baixa, sorri - talvez por não saber o que fazer.
fecha lentamente a janela.
crê num último milagre, segurando à mão direita a medalha do santo de devoção, enquanto o mundo vai ficando vertical.
é... sem milagres hoje.
o tic-tac do relógio já soa diferente.
aos poucos, todos retornam a seus lugares: o vestido, o batom, o perfume, as bolachas.
a janela começa a apanhar. nem pede por socorro ou promete dar queixa.
com o olhar sereno, ela separa agulha, linha e seus sonhos.
senta. sorri. recomeça.
faltam sete dias.
aguenta, com disposição militar, os dias passarem surrando a janela do quarto violentamente com seus ventos, suas tempestades, sua solidão.
uma eternidade de sete dias.
existem duas vidas: a das terças e o que sobrava.
viciada, toma suas doses de ansiedade controladamente.
veste seu melhor vestido de princesa, cheio de fitas e alegria.
costura buracos nas meias feito trabalho de ourives.
os pratos brancos floridos ganham a companhia de bolachas maisena.
fazia chá. perfumava o quarto.
a trilha sonora ganha mais cordas.
o coração, esquizofrênico, não controla as batidas, nem seus ataques.
o batom foge da caixa de maquiagem e, sem-vergonha que é, pinta os lábios com toques de impressionismo.
as unhas ganham cor.
os cabelos, oferecidos feitos putas famintas, se deixam tocar pela escova velha, dos tempos de garotinha.
bulímica, vomita as decepções. disfarça o hálito com gargarejo sabor limão.
troca as pilhas do relógio. não queria perder a hora, muito menos procurar os segundos suicidas, atirados ao chão, um após o outro.
na velocidade do tic-tac, espera.
sentada.
como um mantra.
disfarça impaciência virando cartas com seu destino - péssimo jogador, aliás.
na hora certa (ela sempre sabia qual), corre pra janela, sempre tão maltratada, hoje renovada feito borboleta.
desliza sua única saída para o mundo com uma leveza angelical.
deixa o rosto ser acariciado pela brisa da esperança - de mãos limpas, cheirando a sabonete de uva.
abre os olhos aos poucos, saboreando cada imagem embaçada que ganhava forma, nome, RG, foto 3x4, sentimento.
olha para a direita.
olha para a esquerda.
para a direita.
para a esquerda.
direita.
esquerda.
ninguém.
ainda sente o cheiro do chá. consegue salivar dali o gosto das bolachas.
abre um sorriso. de cabeça baixa, sorri - talvez por não saber o que fazer.
fecha lentamente a janela.
crê num último milagre, segurando à mão direita a medalha do santo de devoção, enquanto o mundo vai ficando vertical.
é... sem milagres hoje.
o tic-tac do relógio já soa diferente.
aos poucos, todos retornam a seus lugares: o vestido, o batom, o perfume, as bolachas.
a janela começa a apanhar. nem pede por socorro ou promete dar queixa.
com o olhar sereno, ela separa agulha, linha e seus sonhos.
senta. sorri. recomeça.
faltam sete dias.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
O moralista e o geômetra.
Muitas de nossas ilusões acerca da existência estão relacionadas intimamente às tentativas de compreender e analisar os sentimentos e impulsos humanos com base em critérios morais e religiosos. A avalanche de possíveis sentimentos brotados na mente do homo sapiens acaba sendo, segundo esse método de análise, sempre observada em conexão com uma escala valorativa, que vai da mais ignóbil baixeza à mais alta e pura nobreza de sentimentos.
Num exemplo, podemos apontar numa extremidade a inveja e na outra a ânsia por justiça. Mesmo se tratando de dois substantivos abstratos de definição extremamente difícil, sabemos que se trata de sentimentos tipicamente humanos, muito embora as concepções da moralidade teísta vinculem uma às profundidades daquilo que se poderia chamar de inferno e outra à mais sagrada inspiração divina. A primeira seria a quintessência do reprovável no que tange à humanidade, enquanto a outra, por sua essência sagrada, poderia ser vista como a prova de que o homem fora realmente feito à imagem e semelhança de Deus.
Todavia, é de grande valia a percepção de que alguns dos elementos direcionadores da interpretação acerca da inveja e da justiça estão intimamente ligados por suas características, por assim dizer, geométricas. De certo modo, tanto a justiça quanto a inveja raciocinam de maneira geométrica, valendo-se da percepção de que algumas coisas sobram à alguns, enquanto outras coisas faltam aos outros. Independentemente da ocorrência de uma análise quantitativa ou qualitativa, o olho do intérprete enxerga e percebe a ocorrência de um desequilíbrio (real ou imaginário) no mundo dos fatos, surgindo daí um desejo de recolocação das coisas nos eixos, de reequilíbrio. Tanto o invejoso quanto o justiceiro buscam devolver ao universo a harmonia perdida com a ruptura da igualdade inicial. Por mais que a inveja tenha uma caráter destrutivo e a justiça se baseie na busca por um reequilíbrio construtivo, não se pode negar que ambas tem aquilo que poderíamos chamar de modal geométrico de pensamento, no qual a abstração recebe uma interpretação concreta, que facilita sua compreensão.
Curiosamente a análise semiótica das deusas da justiça, seja ela grega, ou Diké, ou romana, a Iustitia revela sempre uma balança em pelo menos uma das mãos. A idéia de igualdade, retribuição, ison (de onde surge, por exemplo, isonômico, isonomia) se mostra, desta forma, historicamente vinculada a idéia do justo. De modo parecido, nossa concepção de inveja também se relaciona com a idéia de uma pretensa igualdade, ou pelo menos de desfazimento de uma desigualdade (ainda que totalmente merecida).
Essa conexão entre dois sentimentos tão antagônicos, deixa claro que todo o esforço realizado pela humanidade para compreender a si mesma tem nuances bastante curiosas, muitas vezes frutos de leituras teleológicas, ignorando a profunda ligação que pode estar presente nas mais completas e complexas interpretações do bem e do mal.
Num exemplo, podemos apontar numa extremidade a inveja e na outra a ânsia por justiça. Mesmo se tratando de dois substantivos abstratos de definição extremamente difícil, sabemos que se trata de sentimentos tipicamente humanos, muito embora as concepções da moralidade teísta vinculem uma às profundidades daquilo que se poderia chamar de inferno e outra à mais sagrada inspiração divina. A primeira seria a quintessência do reprovável no que tange à humanidade, enquanto a outra, por sua essência sagrada, poderia ser vista como a prova de que o homem fora realmente feito à imagem e semelhança de Deus.
Todavia, é de grande valia a percepção de que alguns dos elementos direcionadores da interpretação acerca da inveja e da justiça estão intimamente ligados por suas características, por assim dizer, geométricas. De certo modo, tanto a justiça quanto a inveja raciocinam de maneira geométrica, valendo-se da percepção de que algumas coisas sobram à alguns, enquanto outras coisas faltam aos outros. Independentemente da ocorrência de uma análise quantitativa ou qualitativa, o olho do intérprete enxerga e percebe a ocorrência de um desequilíbrio (real ou imaginário) no mundo dos fatos, surgindo daí um desejo de recolocação das coisas nos eixos, de reequilíbrio. Tanto o invejoso quanto o justiceiro buscam devolver ao universo a harmonia perdida com a ruptura da igualdade inicial. Por mais que a inveja tenha uma caráter destrutivo e a justiça se baseie na busca por um reequilíbrio construtivo, não se pode negar que ambas tem aquilo que poderíamos chamar de modal geométrico de pensamento, no qual a abstração recebe uma interpretação concreta, que facilita sua compreensão.
Curiosamente a análise semiótica das deusas da justiça, seja ela grega, ou Diké, ou romana, a Iustitia revela sempre uma balança em pelo menos uma das mãos. A idéia de igualdade, retribuição, ison (de onde surge, por exemplo, isonômico, isonomia) se mostra, desta forma, historicamente vinculada a idéia do justo. De modo parecido, nossa concepção de inveja também se relaciona com a idéia de uma pretensa igualdade, ou pelo menos de desfazimento de uma desigualdade (ainda que totalmente merecida).
Essa conexão entre dois sentimentos tão antagônicos, deixa claro que todo o esforço realizado pela humanidade para compreender a si mesma tem nuances bastante curiosas, muitas vezes frutos de leituras teleológicas, ignorando a profunda ligação que pode estar presente nas mais completas e complexas interpretações do bem e do mal.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Saiba que porque é feriado esqueci que era segunda-feira.
Saiba que porque sou muito responsável devo colocar alguma coisa no blog toda segunda-feira
Saiba que porque não sei o que escrever coloco uma música que adoro:
Saiba
Adriana Calcanhotto
Composição: Arnaldo Antunes
Saiba!Todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão, também
Hitler, Bush e Saddam Hussein
Quem tem grana e quem não tem...
Saiba!
Todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
E também você e eu...
Saiba!
Todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar...
Saiba!
Todo mundo vai morrer
Presidente, general ou reiAnglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano...
Saiba!
Todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao-Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Gandhi, Mike Tyson, Salomé...
Saiba!
Todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
E também eu e vocêE também eu e você
E também eu e você...
E como não sei adicionar um arquivo do Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=6lT_n2SyYV8&feature=related
Boa semana!
Saiba que porque sou muito responsável devo colocar alguma coisa no blog toda segunda-feira
Saiba que porque não sei o que escrever coloco uma música que adoro:
Saiba
Adriana Calcanhotto
Composição: Arnaldo Antunes
Saiba!Todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão, também
Hitler, Bush e Saddam Hussein
Quem tem grana e quem não tem...
Saiba!
Todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
E também você e eu...
Saiba!
Todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar...
Saiba!
Todo mundo vai morrer
Presidente, general ou reiAnglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano...
Saiba!
Todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao-Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Gandhi, Mike Tyson, Salomé...
Saiba!
Todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
E também eu e vocêE também eu e você
E também eu e você...
E como não sei adicionar um arquivo do Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=6lT_n2SyYV8&feature=related
Boa semana!
domingo, 11 de outubro de 2009
Fui
Faço minhas as palavras de Clarice Lispector...
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
E lá vou eu, mais uma vez a caminho da aventura.
E há de ser bom porque até hoje o universo sempre foi generoso comigo.

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
E lá vou eu, mais uma vez a caminho da aventura.
E há de ser bom porque até hoje o universo sempre foi generoso comigo.

sábado, 10 de outubro de 2009
Made in Brasil...


Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro é o novo livro de Arlindo Machado. Lá pelas tantas, encontro uma declaração de Marcelo Tas relatando como optou pela sua carreira. Estava se formando engenheiro na Politécnica e freqüentando rádio e televisão na Eca à noite. Foi convidado para uma festa numa casa na Benedito Calixto. Marcelo conta em detalhes sua noite afirmando como duas coisas o impressionaram: havia um casal casado em cartório (algo pouco comum nessa época) e o fato dele ter-se deparado com uma televisão em cima de um caixote de madeira veiculando programas fora do circuito comercial. Era trabalho do Olhar Eletrônico, um grupo de alunos da referida escola. Seu primeiro contato com vídeo, feito quase à mão, com uma câmera velha que ninguém sabia se era da Eca ou do Mac. Vídeo, como assim? É bom lembrar: nessa ocasião não existia videocassete e nem TV a cabo no país. A programação era produzida pelas próprias emissoras. Marcelo se junta à turma e logo depois são convidados para trabalhar na TV Gazeta. Relata o primeiro programa Olhar Eletrônico. O jornalista Goulart de Andrade apresentou a abertura entregando tudo ao bom Deus. Eles fizeram dois começos porque faltou ritmo no início. Tudo ao vivo. Teve desfile de moda com os meninos dos Titãs e entrevistas na rua pedindo para as pessoas falarem de suas mortes. Sua história me levou ao passado da televisão. Ela chegou ao Brasil nos anos 50 e na década seguinte aportou na cidade de Bauru. Junto com o sinal vieram 100 aparelhos. Um deles acabou instalado na minha casa. Foi um furor! A imagem era horrível, os programas locais artesanais, mas o sucesso era grande. A criançada endoidou. A emissão começava por volta de 17 horas e depois de 10 horas não se via mais nada. O estúdio ficava em frente ao colégio onde eu estudava e o Moacir Franco vinha de São Paulo para apresentar alguns programas. Depois o estúdio ficou pequeno e acabou transferido para perto da minha casa, junto da PRG8, a emissora de rádio local. Perseguição, não era? O técnico italiano que veio instalar a nova aparelhagem casou com minha prima e acabei trabalhando com publicidade e apresentação de programa na TV Bauru. Alguém fez um roteiro para um infantil. Precisavam de uma jovem com boa aparência para apresentá-lo. O programa ia ser exibido de segunda a sexta às 17 horas. A região recebia o sinal. A gente até podia ver imagens, uma maravilha! Sugeri uma colega de escola para apresentadora. Só que a tal moça trabalhava escondida da família. Mulheres que se envolviam com os meios de comunicação não eram bem vistas pela sociedade. Aula pela manhã, ela acabava indo embora à tarde toda sexta-feira, pois morava em uma cidade próxima à Bauru. A Estrela, uma empresa que fabricava brinquedos patrocinava o horário e começou a reclamar do fato de se colocar desenhos no lugar do programa, afinal o contrato dizia “ao vivo”. O diretor da empresa que tinha vindo do Rio de Janeiro engrossou e me chamou. A senhora me colocou nessa embrulhada, portanto pode descer e apresentar o infantil. Como? Quem o senhor pensa que é? Diretor da emissora e estou mandando e não pedindo. Mas, nunca vi a apresentação... “Improvisa moça, o corredor tem alguns metros vá andando e pensando. E nunca mais venha trabalhar de rasteiras, é horrível.” Não levou nem cinco minutos para eu chegar ao estúdio. Estavam exibindo um filminho. Olhei para o auditório lotado de crianças. Perguntei ao câmera-man como era feita a programação e pedi para escreverem o comercial da Estrela em cartolina com letras grandes. Para quem não sabe fui míope por muitos anos, até aparecerem às famosas cirurgias. Tirei os óculos, olhei em direção à luz vermelha e falei. O que? Não me lembro, só sei que a partir daquele dia passei a apresentá-lo todo dia. E como uma “estrela” trouxe uma produtora para o programa, fiz convênio com lojas de roupas e com o Sebastião, um cabeleireiro que acabara de chegar ao interior. Tinha até um maquiador a disposição: Edinho. Acredite se quiser. Saia correndo de lá, pois estava cursando uma Escola de Belas Artes toda noite e freqüentando um cursinho pela manhã para prestar vestibular na faculdade. Foram cinco bons anos da minha vida, antes de ir para São Paulo. Em tempo, continuo usando rasteirinhas, como boa filha da Eca.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Feriado Nacional

Todos unidos no trafego para a praia
Todos sem dinheiro
Todos com muita cerveja
Biquíni novo na Riachuelo
Pneu que fura
Chega na praia
Churrasco e queimadura do sol
Crianças demais
Sol e chuva
Quem se importa?
Tudo é muito bom
Feriado nacional no Brasil Brasil Brasil, só no Brasil
Salve, salve
image:
beach by ~kumiwi
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