sábado, 10 de outubro de 2009

Made in Brasil...



Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro é o novo livro de Arlindo Machado. Lá pelas tantas, encontro uma declaração de Marcelo Tas relatando como optou pela sua carreira. Estava se formando engenheiro na Politécnica e freqüentando rádio e televisão na Eca à noite. Foi convidado para uma festa numa casa na Benedito Calixto. Marcelo conta em detalhes sua noite afirmando como duas coisas o impressionaram: havia um casal casado em cartório (algo pouco comum nessa época) e o fato dele ter-se deparado com uma televisão em cima de um caixote de madeira veiculando programas fora do circuito comercial. Era trabalho do Olhar Eletrônico, um grupo de alunos da referida escola. Seu primeiro contato com vídeo, feito quase à mão, com uma câmera velha que ninguém sabia se era da Eca ou do Mac. Vídeo, como assim? É bom lembrar: nessa ocasião não existia videocassete e nem TV a cabo no país. A programação era produzida pelas próprias emissoras. Marcelo se junta à turma e logo depois são convidados para trabalhar na TV Gazeta. Relata o primeiro programa Olhar Eletrônico. O jornalista Goulart de Andrade apresentou a abertura entregando tudo ao bom Deus. Eles fizeram dois começos porque faltou ritmo no início. Tudo ao vivo. Teve desfile de moda com os meninos dos Titãs e entrevistas na rua pedindo para as pessoas falarem de suas mortes. Sua história me levou ao passado da televisão. Ela chegou ao Brasil nos anos 50 e na década seguinte aportou na cidade de Bauru. Junto com o sinal vieram 100 aparelhos. Um deles acabou instalado na minha casa. Foi um furor! A imagem era horrível, os programas locais artesanais, mas o sucesso era grande. A criançada endoidou. A emissão começava por volta de 17 horas e depois de 10 horas não se via mais nada. O estúdio ficava em frente ao colégio onde eu estudava e o Moacir Franco vinha de São Paulo para apresentar alguns programas. Depois o estúdio ficou pequeno e acabou transferido para perto da minha casa, junto da PRG8, a emissora de rádio local. Perseguição, não era? O técnico italiano que veio instalar a nova aparelhagem casou com minha prima e acabei trabalhando com publicidade e apresentação de programa na TV Bauru. Alguém fez um roteiro para um infantil. Precisavam de uma jovem com boa aparência para apresentá-lo. O programa ia ser exibido de segunda a sexta às 17 horas. A região recebia o sinal. A gente até podia ver imagens, uma maravilha! Sugeri uma colega de escola para apresentadora. Só que a tal moça trabalhava escondida da família. Mulheres que se envolviam com os meios de comunicação não eram bem vistas pela sociedade. Aula pela manhã, ela acabava indo embora à tarde toda sexta-feira, pois morava em uma cidade próxima à Bauru. A Estrela, uma empresa que fabricava brinquedos patrocinava o horário e começou a reclamar do fato de se colocar desenhos no lugar do programa, afinal o contrato dizia “ao vivo”. O diretor da empresa que tinha vindo do Rio de Janeiro engrossou e me chamou. A senhora me colocou nessa embrulhada, portanto pode descer e apresentar o infantil. Como? Quem o senhor pensa que é? Diretor da emissora e estou mandando e não pedindo. Mas, nunca vi a apresentação... “Improvisa moça, o corredor tem alguns metros vá andando e pensando. E nunca mais venha trabalhar de rasteiras, é horrível.” Não levou nem cinco minutos para eu chegar ao estúdio. Estavam exibindo um filminho. Olhei para o auditório lotado de crianças. Perguntei ao câmera-man como era feita a programação e pedi para escreverem o comercial da Estrela em cartolina com letras grandes. Para quem não sabe fui míope por muitos anos, até aparecerem às famosas cirurgias. Tirei os óculos, olhei em direção à luz vermelha e falei. O que? Não me lembro, só sei que a partir daquele dia passei a apresentá-lo todo dia. E como uma “estrela” trouxe uma produtora para o programa, fiz convênio com lojas de roupas e com o Sebastião, um cabeleireiro que acabara de chegar ao interior. Tinha até um maquiador a disposição: Edinho. Acredite se quiser. Saia correndo de lá, pois estava cursando uma Escola de Belas Artes toda noite e freqüentando um cursinho pela manhã para prestar vestibular na faculdade. Foram cinco bons anos da minha vida, antes de ir para São Paulo. Em tempo, continuo usando rasteirinhas, como boa filha da Eca.

2 comentários:

Camilla disse...

Bom te ler de novo. Saudade da sua prosa boa. Essa história é demais. Quer dizer que foi apresentadora infantil?
Que máximo.
beijos

Janaina Fainer disse...

Eita, Rosa, tem alguma coisa q vc não fez na vida?
bjs