terça-feira, 20 de maio de 2014
segunda-feira, 19 de maio de 2014
domingo, 18 de maio de 2014
INVEJA DE QUE?

quarta-feira, 14 de maio de 2014
Já ouviu falar em Baptista?
Rosa era uma mulher
independente. Sempre fora. Muito jovem, ainda, mal completados os dezessete
anos decidiu ir para a Europa. Seus pais tentaram impedir mas não conseguiram.
Ela esperou apenas fazer os dezoito e ganhar a maioridade. Vendeu sua máquina
de escrever, uma enciclopédia, seus pares de sapatos, bolsas, a bicicleta, uma
peruca (na época era moda usar peruca), uns poucos livros e foi embora dizendo
que não voltaria.
Estudara num colégio de
freiras belgas, sabia um pouco de francês, foi para a França. Com a cara e a
coragem procurou os devotos de sua Igreja. Eles a ajudaram. Após duas semanas
tinha um emprego. Após seis meses tinha um namorado, após dois anos tinha um
filho.
Vivendo simplesmente achou
melhor entregar o menino para adoção.
Não sentiu remorso algum.
Sabia que ele seria mais feliz... e ela também. Trabalhou como bailarina no
Crazy Horse e no Moulin Rouge, foi operadora do carrossel perto da Torre
Eiffel, guia falando português, no Museu do Louvre e modelo na Place du Tertre.
Já estava com quase quarenta anos quando decidiu trabalhar com turismo.
Coincidentemente chegara um grupo de brasileiros que iriam da França para a
Finlândia. Lá teriam um guia local, bastava que ela os acompanhasse. Aceitou na
hora.
Muitos anos depois, de volta
ao Brasil, num fim de tarde, ela sentiu o mesmo perfume. Seguiu aquele rastro e
se aproximou de dois senhores que conversavam confortavelmente instalados nas
espreguiçadeiras do hotel. O nome de um deles era Baptista.
domingo, 11 de maio de 2014
Ver além do permitido...
“Ó Tirésias que tudo explora,
tanto o sabível quanto o misterioso, o que paira no céu e o que pisa em terra
compreendes, embora não enxergues...”
Desde jovem uso óculos. Na família da minha mãe algumas
pessoas ficaram cegas na velhice. Isso me amedrontava... Na verdade, as trevas
me davam medo. Freud explica!? Claro, inconscientemente eu ficava imaginando
como seria não ver. Meus sentidos são desenvolvidos em excesso devido a
deficiência visual. Minha filha comentou
que a partir da cirurgia de implante das lentes, eu perderia essa percepção tão
apurada de tudo. Credo, eu estou com medo de ver além do permitido, como
Tirésias, o conhecido vate da mitologia grega. Por que era cego possuía vaticinium,
o poder de predição. Diz uma lenda que Zeus e Hera consultaram Tirésias e este
confrontou a deusa. Como castigo ela deu-lhe a cegueira. Zeus presenteou-o com
o dom da mantéia/adivinhação e o privilégio de viver sete gerações. Outros dizem
que ele ficou cego ao ter visto Atena se
banhando nua. Gosto dessa versão, pois aqui Tirésias viu além do permitido.
Mas, voltando à questão de viver mais tempo, sete gerações, a coisa está
piorando... Quantas plásticas serão necessárias durante esses anos todos para
manter o pescoço lisinho? Esse é meu terceiro casamento. Quantos Baptistas eu
preciso ter se viver sete gerações? No mínimo dois. Socorro Rosa Leda. Comece a
procurar, pois não resisto a falta dele. Sou até capaz de viver com a quantidade de ruguinhas
e rugonas que passei a enxergar no pescoço, afinal ver é um risco e quanto mais
profundo esse ver, maior a quantidade de rugas vistas. Voltando ao assunto não
foi Homero ou Platão, mas Sócrates quem me apresentou a Tirésias. O homem era
impossível, mesmo cego ele enxergava. Quando famoso foi personagem de tragédias
gregas. Em Édipo tem uma presença forte tornando-se o contraponto elucidativo
da peça.
“Declaro que vives sem saberes numa comunhão sórdida com teus entes
mais caros e não enxergas toda a tua torpeza” disse ao rei em conversa informal.
Como Édipo não leu nas entrelinhas demorou um bocado para desvendar o subtexto.
O vate estava xingando o rei de cego por não ver sua desdita, apesar de sua
integridade física, depois o cego sou eu, deve ter pensado Tirésias, circulando
pelo mundo da clareza espiritual. Mas, quando Édipo descobriu a verdade furou
os olhos. Seria uma tentativa de tornar-se um vate? Nossa, acho que baixou a
pitonisa de algum oráculo grego. Como cheguei aqui? Divagando como sempre. Tudo
porque implantei lente multifocal e passei da clareza espiritual para a visual
e vi rugas no pescoço. Daí para pensar em plástica para esticar o dito cujo foi
um pulo. Vou começar a escolher o modelo. Nefertiti, a mais bela do Egito? Afrodite,
a deusa da beleza no Olimpo? Simonetta Vespucio, a modelo de Botticelli? Jeanne
Hebuteine, a musa de Modigliani? A
fotógrafa Dora Maar, o grande amor de Picasso? Os cisnes têm belos pescoços. Sei não... Acho
que vou consultar o Baptista. quarta-feira, 7 de maio de 2014
Por falar em pescoços...

Outro dia, almoçando aqui em casa, ela me disse:
- Ando preocupada com o pescoço.
Sabendo de sua paixão e considerando que já está com "certa idade", tasquei rapidamente:
- Pode quebrar o dente?
- Ahn???
- Ficar mordendo os ossinhos do pescoço para procurar as carninhas, como você gosta, poderia quebrar seu dente?
- Não estou falando de comida, menina, ando preocupada porque meu pescoço está caindo, está flácido. Já fui a um cirurgião plástico mas ele me disse que só poderá puxar a pele se eu fizer um lifting, e eu tenho medo de mudar minha fisionomia. Queria que ele puxasse para trás e grampeasse a pele... eu usaria cabelos compridos e tudo estaria resolvido.

Falamos sobre cirurgias plásticas, sobre os pescoços de Modigliani e Picasso, passamos para as mulatas de Di, digressionamos sobre o culto à beleza, a submissão das mulheres à imposição da moda, a injustiça de se envelhecer, e a tarde findou com a convicção, por parte dela, de que precisava voltar ao cirurgião plástico. Ela, e eu também, desejamos o pescoço de Afrodite... aquele, do famoso quadro O Nascimento de Vênus, de Botticelli: longo e liso.
Após sua partida fui me observar ao espelho. Terá meu pescoço, um dia, despertado a atenção de algum Homero, Hesíodo ou Platão? Por que meu quadro predileto, entre todos que já vi, é o Nascimento de Vênus?
domingo, 4 de maio de 2014
O pescoço de Afrodite

Uma das mais
famosas telas renascentistas O Nascimento de Vênus, de Botticelli, retrata a
deusa no momento exato em que emerge das águas em uma concha (na antiguidade
grega a concha simbolizava a vagina) empurrada por Zéfiro, símbolo das paixões
espirituais. Trata-se de uma obra polêmica tanto pelo assunto como pelos
detalhes afastados do classicismo. Uma delas a posição do pescoço de Afrodite.
Não vejo nada de estranho nisso, ela era descrita por Homero, Hesíodo e Platão como
a dona do mais belo pescoço dentre todas as deusas, então a desproporção pode
ser considerada como licença poética do artista... ou não?
Assinar:
Postagens (Atom)