segunda-feira, 13 de outubro de 2008

“Não te esqueças de usar algumas flores no cabelo...”

Talvez alguém reconheça o verso citado acima. Ele pertence a S. Francisco, a canção-hino da minha geração: a flower power. Talvez por isso eu tenha saído tão leve do cinema, dia desses. Vi Mama Mia. Podem rir, não me importo!
Era o clima pesado de um Brasil ditadura, pensei no Geraldo Vandré em pra não dizer que não falei de flores... em outro contexto, um pouco diferente do clima dos politicamente engajados.
Pensei 1968/71 os quatro agitados anos que passei na faculdade. Os congressos, as prisões, mortes de operários e estudantes. Pensei em como deve se sentir a mãe dos meninos Petit, os três desapareceram durante a guerrilha no Araguaia. Quem nunca ouviu o Caetano cantando Cuba seja aqui/me falou Petit. Vocês podem imaginar-me no predinho amarelo do Dops fazendo xixi de porta aberta e acompanhada de um soldado? Pois é, o tempo passa e nem tudo foram flores. Mas, as coisas tiveram inicio alguns anos antes com os beatniks.
Pós- guerra, desenvolvimento, muito dinheiro nos Estados Unidos e muita perseguição aos intelectuais, ditos comunistas. A juventude descontente, com novas expectativas sociais e uma busca frenética de liberdade vivia o sonho suficientemente grande de paz, amor, ideais de vida comunitária, de braços dados com antigas crenças em tarô, astrologia e religiões orientais misturadas com a não-violência de Gandhi. Uma salada não é? Parece que mesmo assim essa geração mudou o mundo. Parece também que tudo aconteceu ao mesmo tempo, embora hoje eu perceba que existiam anos de diferença entre uma coisa e outra.
Os quinze primeiros anos entre 1945/60 foram de aquisição e sedimentação desse pensamento. Os anos 60 começaram com Bob Dylan, as primeiras transmissões ao vivo pela televisão, as pílulas anticoncepcionais, Gagarin na Lua, o Muro de Berlin, os Beatles, Aldous Huxley morrendo de overdose de LSD, protestos ao racismo, a guerra do Vietnã, o assassinato de Luther King e Kennedy, o black power, o feminismo. Foi nesse contexto que o movimento flower power surgiu.
Além de paz e amor e é proibido proibir havia a famosa frase que se tornou conhecida no Brasil pela voz de Raul Seixas: faça o que tu queres, pois é tudo da lei. Os anos sessenta chegaram ao fim com manifestações mundiais em todas as universidades. Pense em mim/ chore por mim... uma garota no meio desse redemoinho todo. Acho que nessa época comecei a tornar-me dionisíaca, sem saber nada sobre Dioníso.
Ah, teve HAIR, assim como recentemente foi encenada RENT, comprovando que a arte é um espelho da sociedade independente do tempo e do espaço.

2 comentários:

guru martins disse...

..."a arte é um espelho da sociedade independente do tempo e do espaço"...
...e às vezes aponta
um caminho também.

bj

Camilla Tebet disse...

Rosa dando mais uma aula de um tempo que ainda é hoje..., com sensibilidade.
Adoro seus textos Rosa.