segunda-feira, 15 de março de 2010

MENINAS CHINESAS

Na Folha, há alguns dias, li sobre o lançamento nos próximos meses, do livro Message from an Unknown Chinese Mother, que no Brasil terá o título de As Filhas sem Nome, da escritora chinesa: Xinran Xue.

Confesso não conhecê-la, pura ignorância, pois, segundo a resenhista, trata-se da escritora mais declaradamente oposta à política chinesa do filho único, que valoriza quem tem um filho homem e inferniza quem insiste em criar uma menina. Devido à restrição, milhões de garotas são abortadas, outras são afogadas em penicos, e cerca de 120 mil são adotadas anualmente mundo afora, enquanto mães biológicas tentam o suicídio para sufocar o remorso.

Curiosamente, em minha recente viagem à Índia, descobri que lá o ultrassom em mulheres grávidas foi proibido há alguns anos pois as mulheres abortavam suas meninas. Por quê? Porque acham que a situação das mulheres lá é tão triste, tão dolorosamente infeliz, que preferem evitar seu nascimento. Algumas se suicidam depois. A situação no campo é mais grave do que nas cidades. Xinran diz o mesmo em relação à China. Ela pretende mudar a História dando voz às vítimas, aos perdedores e às mulheres.

A autora, que foi deixada pela família e adotada, na entrevista fala de sua mãe, uma mulher culta que falava quatro línguas que, membro do partido, foi doutrinada para colocar o partido em primeiro lugar, o país em segundo e, então, as pessoas. Qualquer um que valorizasse primeiramente os próprios filhos era considerado capitalista.

Quando, já adulta, procurou a mãe, perguntou-lhe se concordava com a hierarquia imposta pelo sistema e se realmente se importava com o que tivesse acontecido com ela. A mãe ficou brava com as perguntas, então a autora achou melhor não insistir mas acredita que todas as meninas abandonadas sintam falta dessas respostas. Quando viaja, é comum encontrar chinesas adotadas que querem ter notícias de suas mães. Não importa a idade ou a língua que falem, sempre perguntam a mesma coisa: "Por que minha mãe não me quis?"

OBSERVAÇÃO - no fim de 2005, na China, havia 32 milhões de homens a mais que mulheres, segundo pesquisa divulgada em março de 2009 e publicada na Folha em 10/04/2009

Um comentário:

Rosa Bertoldi disse...

Rosa:
Do mesmo jeito que li muito sobre a India, romances, história, reportagens, também fiz isso em relação a China. São dois locais que sempre me deixaram muito intrigada. Sobre a China eu posso conseguir algumas obras romanceadas ou não para que voce veja como era a vida na China (deve ser ainda)atual, ou de Mao para cá.
Bjs
Rosa Bertoldi