segunda-feira, 1 de março de 2010

UMA FAMÍLIA INDIANA

A experiência de estar numa casa de família em outro país, é riquíssima e única.

Tivemos essa oportunidade. Fomos recebidos pela família Singh Kholi. A palavra "Singh" significa "leão" e todos os homens sikhs adotam como sobrenome. Para as mulheres o sobrenome equivalente é "Kaur" que significa "princesa".

A obrigatoriedade do seu uso foi decretada pelo décimo guru do sikhismo, o Guru Gobind Singh, em 1699 quando se fez pela primeira vez a cerimónia de iniciação na Khalsa*. A adoção de um nome único visava fomentar um espírito de união entre os sikhs perante as perseguições que estes atravessavam na época por parte do Império Mogol, bem como abolir os nomes que, de acordo com o sistema de castas da Índia, estavam associados a determinada casta (sistema esse que foi rejeitado pelo sikhismo).

*Khalsa ou Khalasa, que significa "Puros", é a comunidade composta por todos os sikhs que passaram por uma cerimónia de iniciação que consiste na realização de leituras e na ingestão de uma bebida açucarada chamada amrit (preparada com o uso de uma espada). Algumas gotas deste líquido são também espalhadas no cabelo e olhos do iniciado. É obrigatória a presença de cinco testemunhas, que devem ser sikhs já iniciados. Os iniciados passam a usar os Cinco K (ver postagens anteriores). Os iniciados são denominados Amritdhari ("portador de néctar"). Os membros da Khalsa prometem levar vida pura, seguindo o código de ética sikh, chamado Rahit Maryada. Este código estabelece, entre outras coisas, adorar um único deus, acreditar no Guru Granth Sahib (o livro sagrado do sikhismo), rejeitar práticas como a astrologia e as superstições (embora adorem numerologia porque afirmam ser uma ciência matemática), não cometer adultério, não fumar ou roubar.

Harpal, o pai da família tem 50 anos. Sua mulher Dolly, 46. Mataji, a avó 69 e os três jovens Pavandeep, Avneet e Harleene, 28, 25 e 19. A geração anterior, que vivia há milhares de anos no Punjab, foi obrigada a sair da terra quando formou-se o atual Paquistão. O Paquistão surgiu como país independente em agosto de 1947 (data da independência da Índia). A idéia de se criar o Paquistão esteve ligada à oposição dos muçulmanos do subcontinente indiano em passarem a integrar uma Índia plurireligiosa e laica. Radicais, queriam uma religião única e impuseram aos velhos moradores do Punjab que não querendo converter-se, fossem embora do país. Com sacos, malas e o que puderam recolher partiram a pé em direção à Índia.
Mataji fica com os olhos cheios de lágrimas ao falar de sua terra e suas mãos, que tão docemente acariciam o livro sagrado, se movimentam no ar com a mesma delicadeza quando ela diz “Ah, como lá é bonito!” O avô era professor de urdu, jornalista e escritor. Ao se instalarem na Índia optaram pela compra e venda e tornaram-se comerciantes para sobreviver.
O nome do país foi “inventado” por jovens intelectuais muçulmanos que estudavam na Grã Bretanha durante a década de 1930. O termo Paquistão, cujo significado é “ o país dos puros”, tem uma origem singular. Cada letra que compõe o nome do país - Pakistan em inglês - tem um significado geográfico: cada uma delas refere-se a uma das regiões que integram o país. Assim, a letra P é de Punjab, o A é de Afegânia, o K é de Kachemira, o S é de Sind e as três últimas letras (TAN) referem-se à área meridional do país, conhecida como Baluquistan.

O urdu (اردو) é uma língua indo-européia da família indo-ariana que se formou sob influência persa, turca e árabe no sul da Ásia durante a época do sultanato de Deli e do Império Mogol (1200-1800). Isoladamente, urdu é o 19º idioma mais falado do mundo como idioma nativo, sendo o idioma nacional do Paquistão, e um dos 24 idiomas nacionais da Índia. Entretanto, muitas vezes é considerado - assim como o hindi - como sendo parte do idioma hindustânil, o que no caso a torna o segundo idioma mais falado do mundo. O urdu é escrito em um alfabeto árabe modificado.
Aguardem o próximo capítulo.

2 comentários:

Anônimo disse...

uma verdadeira aula! parabéns!
Eto Coelho

Anônimo disse...

Melhor do o livro que li sobre a Índia....mais detalhes, mais vivencia!
Parabéns duplos, pelo texto e pelo livro lançado na quinta. Pode anotar a Rosa Bertoldi esteve lá e leu no Bom Dia sua referencia ao setegraus.Obrigada.
Rosa Bertoldi