segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Ilha flutuante

Quando amanheceu lá estava ela. Uma ilha! Bem em frente à minha janela! De onde terá vindo? Deixou nosso lago tão lindo! Quando chegou? Terá surgido porque garoou? Antes do anoitecer, ali, eu não a pudera ver... À noite eu contemplara aquela llinda vastidão e da ilha, confesso, não havia vestígio, não. Na ilha havia um cão, placidamente sentado, olhando para o meu lado. Seria ele o comandante desta estranha nau errante? A ilha a flutuar, movia-se lentamente. Este fato era intrigante, um estranho acidente. À sua popa três patos, nadavam assim como quem nada teme. Seriam eles empurradores, ou da ilha o próprio leme? O “capitão” levantou-se e examinou as amarras. Os patos se agitaram e à primeira lufada, a navegar recomeçaram. Numa árvore um macaquinho, pendurado pelo rabo. Acenou-me, o atrevido, que sorria como um nababo. Latia ordens, o comandante, muito sério e responsável, de casa eu ouvia tudo, desse fato inexplicável. À distância eu percebia a fúria com que latia, e assim ficou atestado o nível de sua energia. Distraí-me alguns momentos e quando à janela voltei, já nada da ilha se via, tristemente constatei. Lia nas margens da represa enquanto a tarde caía, ouvi passos na areia e olhei. Era o cão que ali surgia. Cheirou-me e deitou-se ao meu lado. Colocou sua pata em meu colo. E surpresa constatei quanto era esse cão educado! Será que queria conversar? Perguntei-lhe sobre a ilha. Abandonara sua família? Olhou-me parecendo decidir se contava ou não a verdade. Eu era uma estranha, afinal, a perguntar de sua herdade. Suspirou e pôs-se a olhar-me, dizendo sem vacilar, apenas uma palavra como a querer explicar: - Garças! Mantive-me quieta a esperar que viesse uma explicação. Um tanto hermético, deveras, o temperamento do cão. - Muitas garças ocuparam minha linda embarcação... Discordam de minhas idéias, da vida não têm noção. Batem asas, ameaçadoras, bicam as raízes, e arrancam a grama... nisso elas são professoras. Por isso fiquei irritado, larguei-as sós com os patos. - De onde vieram? - As garças? - Não, vocês, com a ilha. - Não de muito longe... nas últimas chuvas nos desgarramos e gostei da vida errante... agora é continuar e ver onde chegamos. Vacilou por instantes mas decidiu continuar. - Os patos me acompanharam, só os carneiros ficaram, as garças foram chegando e assim me incomodando. Já viajamos há meses. - E agora que em terra está, daqui o que fará? - Penso seriamente em parar, hora de aposentar. Parecia sonolento e, relaxando, dormiu. Devia estar cansado das lutas na nau errante. Seu sono não era tranqüilo, sua respiração ofegante. Também eu adormeci, acompanhando seu suspirar, de repente, eu dormi. O sol baixando no horizonte, já inclinava seus raios, escondendo-se atrás do monte. Por causa disso, talvez, ou por sentir-me aquecer, despertei meio assustada e nada do cão ao meu lado. A ilha está à minha frente, as garças nela pousadas com suas pernas encolhidas, na areia parecem espetadas. O macaco de longe me acena, o cão a ladrar suas ordens, e na força do seu nado os patos perdem as penas. Vieram buscar seu comandante? Que história é essa da ilha, essa incrível nau errante? A nau sem rumo, sem meta, talvez esperasse a noite para se por em alerta. O cão olhou-me em despedida, e voltado à proa latiu, o sinal para dar a partida. Os patos aceleraram, o macaco outra vez acenou e destes fatos estranhos, ninguém mais nunca falou.

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