sábado, 23 de abril de 2011

A pérgula

Sou uma mulher prática. Será? Bem, eu penso ser racional, objetiva, direta, etc, etc... Também, imagino-me assentada. Porém, cheguei a seguinte conclusão: não possuo nenhuma dessas qualidades. Estou constantemente procurando coisas para fazer. Se, canso de escrever, saio à cata de um trabalho manual, tipo limpar o jardim ou a calçada. E haja folhas, galhos ou poeira para remoção. Deixo o computador, se estou corrigindo um texto e minhas costas doem e procuro o que? Defeito no coitado do quintal. Tenho diferentes suportes para plantas e uma pérgula imaginada e feita - o marceneiro fez e minha filha impermeabilizou - num piscar de olhos. Tenho a impressão de possuir um exército de duendes, pois tudo parece ficar no lugar em pouco tempo. Isso tem um custo. Mas, não vou discutir a questão com vocês. Pensem: pérgula! Foi o que pensei também ao ver uma planta crescendo exageradamente. Começando pelo começo. Pérgula é um passeio ou abrigo nos jardins, feito de duas séries de colunas paralelas, de madeira, de alvenaria ou mármore servindo de suporte a trepadeiras. Trepadeiras? Planta da família das convolvuláceas. Entenderam? Como não???????? Vou explicar de novo. Sou impaciente e vivo procurando coisas para fazer. Meu hobby é jardinagem. Fui aluna da Teresa, uma bióloga sensacional. Tudo que sei sobre jardins, aprendi com ela. Pronto, agora todos sabem. Sou formada em jardinagem, além de outras coisas mais. Atrapalhada, eu? Não existe ninguém mais objetiva nas redondezas. Resumindo: no ano novo, o meu vizinho perguntou-me: que planta é essa? Uma trepadeira, respondi.
Cresce rápido e por isso é conhecida como sete léguas. Eu temia isso, disse-me ele. Sua mulher completou: cuidado, se for para o telhado pode arrancar as telhas! Eu ri, embora tenha acreditado neles por duas razões: 1) vizinho é fazendeiro. 2) ele não mente. E a planta cresceu, conforme o previsto. Eu encaminhei para a beirada do telhado imitando a casa de um filme da Merryl Streep. Dia desses o paisagista veio fazer uma inspeção no jardim e alertou: não deixe a tal planta passar dessa coluna para não escurecer a varanda. A convolvulácea fechou uma escada e eu não queria cortar, pois estava linda e florida!
Ela precisa de uma pérgula. Contratei o profissional. Ele veio acompanhado de um ajudante. Comprei a madeira e sujeito entregou somente as colunas. As outras viriam no dia seguinte. Os homens começaram o trabalho e nada da madeira. Ele fez uns consertos na varanda, fincou as colunas, subiu uma parte do muro, pois a ideia era fincar as toras na parede, conforme o modelo visto na revista Natureza e quando conseguiu colocar tudo lá e rebocar o mundo caiu! Quer dizer desabou uma chuva que arrastou todo o concreto sujando o chão e a calçada. Um horror! Coitado do homem. Tudo pronto, o resto era por conta do pedreiro/pintor/ajudante geral, enfim, do baiano, como ele chamava o outro. O ajudante faria os reparos no muro, a limpeza e a pintura do chão. Para mim sobrou pintar a mesinha e duas cadeiras francesas, esses móveis de jardins comuns na Europa e raros no Brasil, então eu cuido com o maior carinho. E seria minha diversão de fim de semana. Como choveu a noite toda, os homens não apareceram. Amanhã terminam, com certeza, e vou poder puxar a sete léguas para cima da pérgula e começar a decoração daquele canto. Escrevo e penso: só comigo, acontecem essas coisas. O meu lado racional responde: sete léguas, hein... quem procura, acha!