sábado, 25 de junho de 2011

Nefertiti ou Van Gogh?


Pensei em começar pelos girassóis de Van Gogh. Mas vou direto ao assunto, pescoço. Não do livro Meu pescoço é um horror, sugerido por alguém numa conversa brincalhona quando reclamei do meu chegando perto do umbigo. Comentei na hora que pescoço bonito era o da Nefertiti, mulher incrivelmente conservada para seus 3.500 anos. Minha amiga respondeu: ela deve ter sofrido um bocado, pois na época costumavam colocar uma cinta justa no local para as moças terem aqueles pescoços longos. Meu marido acrescentou que era para não precisarem de cirurgia plástica. Plástica, palavra grega de significado moldabilidade da forma, talvez fosse uma solução. Naquela noite sonhei com a Marta. Desisti da ideia, embora o pensamento estivesse latente em mim. Dias depois sonhei com Marisa. Credo uma semana de pesadelos com Michael Jackson, desisto.
Caetano cantarolando que Narciso acha feio o que não é espelho. Pensei:corajosa ou covarde? Afinal, você é uma mulher ou uma barata? Marquei a consulta e deparei-me com o mais jovem, e simpático cirurgião da paróquia, João Gabriele. Dentro da minha brutal sinceridade disse: nada me incomoda, boca, nariz, olhos grandes, só o pescoço. A resposta foi simples, deixa comigo. De repente, estava fazendo uma via sacra por diferentes especialistas até obter todos os exames e a ansiedade levando minha pressão a mil. Na hora marcada lembro-me de ter ido para a sala de cirurgia e só. No dia seguinte uma enfermeira mostrou-me o espelho. Teria ela um pacto com Narciso? Olhei horrorizada: Nefertiti ou Van Gogh? Estava embrulhada como se minhas orelhas tivessem sido cortadas. Logo depois chegou o doutor dando-me alta e dizendo que eu estava ótima! Nunca mais vou tirar o lenço nem os óculos de sol. Giuseppe, o avô vai perdoar ,pela adoção do islamismo, assim ninguém poderá ver meu rosto. A irmã prestativa cuidando de mim e perguntando se queria dar uma olhadinha. Não! Dois dias depois ao sair do banho criei coragem e olhei. Gases prendiam tudo e não via nem meus olhos. A burca é a solução, mesmo.
Minha mãe me achava esquisita e minha filha acredita piamente que sou maluca. Pertenço à geração beat. Arroz integral, florais de Bach, homeopatia, hormônios, farmacopéia alternativa fazem parte do meu dia a dia, além da filosofia oriental. Certa vez fiz um tratamento com ventosas. Voltei para casa como se tivesse passado uma temporada com o reverendo Moon. Teriam elas razão? Quarto dia: eu no consultório tirando pontos em frente ao espelho. Surpresa, vejo um rosto levemente inchado, sem nenhuma mancha roxa, boca, nariz, olhos arregalados como se nada tivesse acontecido. O pescoço? Está melhor que o da Nefertiti!

Um comentário:

Rosa Leda disse...

Que delícia de texto! Bj