terça-feira, 23 de agosto de 2011

Era Baptista. Sorriu ao nos ver. Segurei sua mão e disse que iríamos ao hospital. Em poucos minutos estávamos lá. O diagnóstico veio logo depois: colapso nervoso. Pensei imediatamente que seria resultado de mágoa crônica e não resolvida. Minhas leituras nos sites de psicologia e psicanálise ajudam quando decido fazer pequenos diagnósticos. O médico nos tranquilizou. Ele ficaria em repouso por algumas horas. Receberia a visita de uma psicóloga e teria alta antes do anoitecer.
Passamos a tarde ali, mimando nosso amigo e deixando-o dormitar quase todo o tempo. O médico perguntou se ele não gostaria de passar a noite ali, mais tranquilo. Categoricamente respondeu que não. Voltaria conosco para o hotel.
Eu me propus a ficar com ele durante a noite. Brinquei dizendo que sendo a mais nova do grupo a mim competiria essa “missão”. Azevedo concordou, como usuário conformado do Lexotan, sem o qual as noites eram para ele verdadeiras tragédias, não seria a companhia ideal pois dormiria profundamente. Baptista se opôs, disse que não se sentiria à vontade mas fui assertiva: iria, com sua aprovação ou não.
Ainda sob o efeito de alguma coisa que lhe fora ministrada no hospital, ele adormeceu em poucos minutos. Fiquei lendo até mais tarde e acabei dormindo no sofá, com o abajur aceso. Ainda com os olhos fechados pressenti alguma coisa e senti um arrepio. Levantei lentamente as pálpebras com medo do que poderia ver. Felizmente Baptista continuava na mesma posição ressonando levemente. Apaguei o abajur e deitei. Já clareava quando abri os olhos, totalmente desperta. Batista estava à janela. Olhava o mar. Levantei silenciosamente e me aproximei colocando meu braço em sua cintura. Ele chorava.
- Quantos anos ainda viverei tão sozinho, minha querida?
- Todos somos sozinhos, Baptista, às vezes também sinto-me num túnel sem a tal luz lá no fundo... A vida é assim. Esta noite, antes de adormecer, fiquei matutando sobre nosso encontro. Temos nos sentido tão bem e tão amorosos, não? Se continuarmos nos encontrado poderemos até montar uma “república”. Só precisaremos nos conhecer um pouco mais.
- Você sabe, minha querida Júlia, que o termo estresse foi emprestado da física? Designa a tensão e o desgaste a que estão expostos os materiais, foi usado pela primeira vez no sentido hodierno, em 1936, pelo médico Hans Selye. O stress pode ser causado pela ansiedade e pela depressão devido à mudança brusca no estilo de vida e à exposição a um determinado ambiente, o que leva a pessoa a sentir um determinado tipo de angústia. Quando os sintomas de estresse persistem por um longo intervalo de tempo, podem ocorrer sentimentos de evasão (ligados à ansiedade e depressão). Os nossos mecanismos de defesa passam a não responder de uma forma eficaz, aumentando assim a possibilidade de ocorrerem doenças, especialmente cardiovasculares. Felizmente fui tomado apenas por este colapso, poderia ter sido mais grave. Sinto que uma mudança imediata se faz necessária.
Azevedo chegou, com um cesto cheio de flores. Tomamos o café da manhã juntos, evitando falar sobre o dia anterior.




4 comentários:

Rosa Bertoldi disse...

Fala pro velhinho que eu caso com ele... eu Rosa Bertoldi é claro!!!!!!

Rosa Leda disse...

Ops... consegui emocionar esta mulher! Tá bom, vou dar o recado. Bjs e obrigada pelo incentivo.

Anônimo disse...

Uma coisa é o velhinho; outra coisa é o que sentimos ao conhecê-lo pela narrativa do escritor.

Rosa Leda disse...

Anônimo, você tem razão... velhos geralmente nos afastam: ou são ranhetas ou não são muito limpos,ou são intrometidos, donos da verdade... reconheço tudo isso, mas Baptista é de outra espécie, daqueles que são impecáveis,tranquilos, agradáveis e atraentes. Aqueles que têm coisas para contar sem serem saudosistas nem pontificais. Esses não nos afastam e Baptista é assim.