segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Certa ausência do mundo...

Afirmação de Cecília Meirelles sobre si mesma, mencionada hoje, na Folha, por Rubem Alves, em sua carta de despedida: “meu principal defeito é uma certa ausência do mundo”, levou-me a algumas conjecturas.
Quanto invejo quem consegue tão maravilhosamente se observar e qualificar! Quantos de nós sofremos do mesmo mal? Eu assumo, com todas as suas conseqüências, esse defeito: ausência do mundo. Para justificá-lo poderia argumentar que alojo-me platonisticamente no mundo das idéias... mas não é verdade... confesso, alojo-me no mundo da fantasia.
Um personagem de Gata Borralheira, conto publicado em Encontros Paralelos, diz: musas, fadas e duendes giram em redor de sua cabeça. É isso... fantasias, tenho viajado para a fantasia. Escrever terá agravado essa minha ausência do mundo? Temo que sim.
Busco uma justificativa que atenue essa ausência da vida real.
A depressão teve um up grade e foi promovida à categoria de mal do século, ameaça a maioria dos que tomam consciência da realidade formada pelo mosaico: violência, insatisfação, consumismo, pobreza de espírito, vulgarização, miséria e etc. Bombardeados por artigos de psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, motivadores, especialistas em RH, religiosos, gurus, economistas e pelo excesso de informação acabamos assustados. O susto produz adrenalina. ou epinefrina, hormônio simpaticomimético e neurotransmissor, derivado da modificação de um aminoácido aromático (tirosina), secretado pelas glândulas supra-renais, assim chamadas por estarem acima dos rins. Em momentos de estresse, as supra-renais secretam quantidades abundantes deste hormônio que prepara o organismo para grandes esforços físicos, estimula o coração, eleva a tensão arterial, relaxa certos músculos e contrai outros. O esforço físico (esperado) não é exigido, as emoções (esperadas) não acontecem, a pressão arterial aumenta (desnecessariamente), a musculatura é relaxada e algumas partes do corpo contraídas como os ombros, que elevam os braços e encurtam o pescoço e nós ficamos prontos para ser massacrados o que a mídia faz muito bem.
Então, não é bom conseguirmos “uma certa ausência do mundo”?

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