segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cora Coralina

Rebeldes à contenção lírica ou a quaisquer outras constrições, os poemas de Cora Coralina são frequentemente lírico-narrativos e alguns de seus melhores poemas chegam a cobrir dez ou mais páginas.

Em “O Prato Azul-Pombinho”, descreve por onze páginas as preocupações da bisavó com um aparelho de 92 peças que acabaram quebrados, sumidos, talvez roubados e que traziam prebendas de um tal Confúcio e baladas de um vate chamado Hipeng.
Dos 92 pratos ficou um.

Era um prato original, muito grande, fora de tamanho, um tanto oval... prato de centro, de antigas mesas senhoriais de família numerosa. De fastos decasamento e dias de batizado.... prato de bom-bocado e de mães-bentas, de fios de ovos, de receita dobrada de grandes pudins, recendendo a cravo, nadando em calda.

Fui me deliciando por sua descrição dos desenhos, das miniaturas delicadas, do tom azul forte, do fundo claro, do meio-relevo, dos galhos de árvores e das flores, do templo com lanternas, do quiosque rendilhado, do braço de mar, do pagode e do palácio chinês, da ponte, do barco coberto de seda e dos pombinhos voando. Ninguém senão Cora Coralina conseguiria escrever onze páginas sobre um prato. Não balelas, uma descrição fina, retrato sociológico de um tempo, narradora de sentimentos, emoções, paixões, fatos. Pura maravilha! O prato que levou bolo para a vizinha, e voltou cheio de muito-obrigados... que era centro das mesas de aniversário acomodando empadas ou bem-casados, o prato guardado no armário sólido, alto e bem fechado, como num relicário.

Um dia, por azar,
sem se saber, sem se esperar,
artes do salta-caminho,
partes do capeta,
fora de seu lugar, apareceu quebrado,
feito em pedaços
o prato azu- pombinho
.......................
Um torvelinho...

Que alegria ocupar a cadeira Cora Coralina na Academia Bauruense de Letras!
Imagino-me sentada, a ouvir Cora contar dos goiases, dos corais e coralinas, exaltando a natureza e os seres humanos, vendo encanto em pequenos/ humildes objetos, Ode às Muletas, enamorada pela natureza como no Poema do Milho.

Pela didática de Mestra Silvina, Cora Coralina aprende e chega à publicação de seus poemas. Como a própria Cora diz: “Foi pela didática paciente da velha mestra que a menina boba da casa, obtusa, do banco das mais atrasadas se desencantou em Cora Coralina, mulher que soube ler a vida dando-lhe conotações próprias.

Grande abraço e até a semana que vem.

3 comentários:

Janaina disse...

parabens

Anônimo disse...

PARABÉNS. VOU A POSSE EM MAIO, pode anunciar que Rosa Bertoldi vai dar as caras!!!!!!!!!!!!Olha que não vou nem ao lançamento dos meus próprios livros, quer dizer vou so que sem pseudônimo! Parabéns mais que merecidos.
Rosa II

Anônimo disse...

PARABÉNS. VOU A POSSE EM MAIO, pode anunciar que Rosa Bertoldi vai dar as caras!!!!!!!!!!!!Olha que não vou nem ao lançamento dos meus próprios livros, quer dizer vou so que sem pseudônimo! Parabéns mais que merecidos.
Rosa II