Poderia ser o fim da história, mas...

Ótima oportunidade para me livrar de tudo isso, pensou. Entrego a criança, o problema fica encerrado e deixar um bebê com uma vovozinha é perfeito. Seguindo a recomendação abaixou a cabeça e disse:

 

- Quem é você? - Sou a avó, Luciana me encarregou de pegar a criança com você, onde ela está?

 

Sua fala era marcada por um leve sotaque. Olhava aterrorizada para todos os lados.

 

- Pegue a sacola. Se quiser o leite e a mamadeira estão no quarto posso ir buscar.

 

- Não! Vou sair daqui agora antes que eles apareçam. Deus lhe pague. Muito obrigada. Não vou abraça-la para não chamar atenção. Por favor, fique sentada.

 

Depois que a velha saiu, carregando a sacola, percebeu que seus olhos estavam embaçados e uma lágrima escorreu por seu rosto. Que seria tudo aquilo? Qual o destino daquela nenezinha? Em que estivera metida?

 

Não se sentia segura ali, apesar da aparente tranquilidade da cidade. Arrumou suas coisas, acertou a conta e foi para a rodoviária. Antes de deixar o hotel perguntou à recepcionista se conhecia uma senhora com um lenço de seda na cabeça que saíra há pouco.

 

- É a mãe do dono do hotel... ela é argentina ou espanhola, não sei direito, sempre que vem para o Brasil se envolve em confusão, o filho fica louco com isso. Ela incomodou a senhora?

 

- Não, é que tive a impressão de já tê-la visto em algum lugar...

 

- Ela foi atriz de cinema, vai ver a senhora viu algum filme em que ela trabalhou... Elza e Fred, a senhora assistiu? Ela fez o papel de Elza. No filme ela praticamente representava a si mesma pois estava sempre se metendo em confusão.

 

- Deve ser isso, então. Obrigada!

 

Na rodoviária percebeu que dois rapazes, sentados lado a lado, sorriram para ela quando correu os olhos pelo ambiente. Viu um jipe parando em frente ao hotel bem na hora em que o ônibus estacionou. Dois soldados armados entraram. Subiu no ônibus e rezou para que nada mais acontecesse. Para onde ia? Comprara uma passagem de R$78,00.