Quando uma de minhas filhas foi para Florença estudar, eu a acompanhei. No primeiro dia de aula dela o diretor da escola perguntou o que eu faria com meu tempo livre (achei que era uma cantada, o que confirmaria a fama dos italianos... mas não era).
Disse-lhe que andaria pela cidade sem destino, sentindo o cheiro e vendo detalhes daquelas ruas históricas... Ele respondeu enfaticamente:
- “Perda de tempo. Venha fazer um curso aqui. Não vou cobrar nada.”
Colocou uma folha na minha frente, eu fui preenchendo e depois de uns vinte minutos me disse que eu estava classificada para a sala 3.
Entrei numa turma já formada: uma jovem senhora, executiva suiça, um jovenzinho alemão lindo, de família riquíssima e que estava ali aprendendo seu sexto idioma, duas mocinhas peruanas cujas mães trabalhavam na Itália como faxineiras, uma jovem de trinta e poucos anos, canadense, doutorada em arte e fotografia, uma mocinha nova-iorquina, filha de jornalistas pretendendo ser advogada com especialização em Direito Internacional e uma outra senhora, um pouco mais velha, nascida na Irlanda, criada na Austrália e na França, residente na Suiça, era chefe da segurança de um internato suiço para rapazes... sabia caratê e manejava uma arma de fogo com destreza. Essa foi a minha classe.
O professor, Ermano, tinha a minha idade e encontramos uma infinidade de pontos em comum, livros, filmes, opiniões políticas, ele era encantador apesar de seu metro e cinquenta. Ao falar, principalmente quando se empolgava, parecia ter dois metros.
Um dia, ao iniciar um debate, ele sugeriu que a primeira pergunta fosse dirigida a mim. Eu perguntei, intrigada:
Um dia, ao iniciar um debate, ele sugeriu que a primeira pergunta fosse dirigida a mim. Eu perguntei, intrigada:
- Por que eu?
E a resposta foi:
- Porque você é excêntrica.
Fiquei felicíssima. Hoje acredito que essa seja minha maior qualidade: sou excêntrica.
Um comentário:
Ser excêntrico é uma qualidade do criativo. Parabéns Rosa Leda.
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