segunda-feira, 9 de junho de 2008

Das ruas...




Fui criado numa pequena cidade onde rua era lugar para brincar, jogar bola, andar de bicicleta, e, de vez em quando, tinha que parar e deixar alguns carros passar. Calçada servia para ter árvores e a gente apenas passava por ela para chegar à rua.

Era muito espaço para pouco carro. Naquela época, “rodízio” era algo relacionado à pizza e não a placas de carro. Hoje, vivo em uma cidade onde ruas não suportam mais carros e calçadas servem como meio de ultrapassagem para motos.

Como motorista em São Paulo, passei por diversas fases. No início, muito cauteloso e assutado, além de perdido. Um verdadeiro “roda presa”, como fui xingado uma vez por um taxista. Primeira evolução: perdi o medo e ganhei confiança. O abuso foi aumentando. A confiança exagerada foi me dominando. A lição veio em seguida e com ela a prova de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo. Pelo menos não sem uma colisão. Claro que foi minha culpa. Pelo menos, escolhi a dedo: uma Rav4 (R$ 130 mil) - faço questão fazer bem feito, mesmo quando faço merda.

Segunda evolução: aprendi, de certa maneira, que não adianta ter muita pressa. Isso porque, quando você se arrisca todo para pegar o próximo sinal aberto, sempre você encontra um motorista conformado com o trânsito para empatar a foda.

Terceira e(in)volução. Fiquei neurótico. Você percebe quando ficou neurótico quando sabe o momento certo de mudar de faixa.
Aqui tem que pegar a da direita porque muitos viram à esquerda e atrapalham os que seguem em frente. Agora tem que pegar a da esquerda porque tem uma ruazinha de onde entram carros na faixa da direita. Agora ... que horas são? Ahh... a escola já fechou e não tem mais estudantes aqui.

Passei a analisar a engenharia de tráfego. Por falar nisso, nunca tinha pensado que tráfego era algo tão complexo que mereceria um estudo digno de “engenharia”. Depois que criaram uma rádio para falar exclusivamente sobre o trânsito da cidade, nada mais me surpreende. Comecei a tentar entender como a lógica – ou a falta dela – afeta o fluxo dos veículos. Comecei a buscar possíveis soluções aqui e ali. Semana passada, cheguei ao limite de escrever uma carta para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) propondo uma melhoria específica, perto da minha casa, óbvio. No dia seguinte, tive a resposta de que ela seria encaminhada ao departamento que cuida do assunto. Estou aguardando...

O que vem ocorrendo é que cada vez mais está impossível se locomover. Isso não é um problema dessa cidade, apenas. Sei que há muitas outras, cujo trânsito era considerado normal e agora está ficando caótico. Segundo relato de um amigo meu, Brasília é um exemplo disso. Especula-se sobre a implantação do rodízio (não o de pizza) lá.

Existem inúmeros culpados por tudo isso. Falta de investimentos em infra-estrutura e em transporte coletivo. Até o aquecimento da economia tem sua parcela de culpa. Em São Paulo, centenas de carros são emplacados a cada dia. Com crédito fácil e relativamente mais barato, hoje, financia-se automóvel em trilhões de vezes. Estou até vendo, daqui a pouco, a criação do Sistema Financeiro da Locomoção. E tem gente que vai terminar de pagar a prestação da casa própria antes mesmo de liquidar a dívida do carro.

Além dessas razões, grande parte do problema ainda está no motorista. Os conformados ainda são maioria – e estão em toda parte. São egoístas. Não pensam que se forem um pouco mais para frente, se aproveitarem melhor o espaço, se andarem um pouquinho menos devagar, se pensarem que há milhares atrás deles, mais um poderia aproveitar o farol, mais um poderia pegar a saída para outra rua ou, até mesmo, mais um chegaria à garagem de casa.

Dizem que corro. Não é verdade. Em condições normais é impossível correr, mas quando é possível, ando no limite da velocidade permitida. Outro dia ouvi naquela rádio de trânsito uma sugestão enviada por um motorista que dizia que todos deveriam andar no limite da velocidade. O pessoal da rádio obviamente disse que não poderia estimular esse tipo de atitude, que não seria correto, mas recomendaram aos motoristas mais lentos usarem a faixa da direita.

Outro dia tomei uma multa (mais uma). Dessa vez foi por excesso de velocidade. O limite era 70 km/h. Passei a 78 km/h. Descontando a margem de erro, a considerada foi 71km/h. Setenta e UM!!!! E UM!!!!! Não acho justo. Essa velocidade é muito baixa para a avenida. Na verdade, estava fazendo um favor. Havia espaço. Queria sumir da frente dos outros. O problema é que, ao mesmo tempo em que estava sumindo da frente dos outros, estava trazendo os outros (aqueles conformados) para perto de mim. Pensei em recorrer da multa, mas, lamentavelmente, não tenho registro da minha velocidade média na mesma avenida em outros horários. Deixa pra lá...

A quarta evolução está iminente. Não sei como será, mas é possível que eu faça como meu irmão, que comprou uma moto e é um cara feliz. Será que existem motoqueiros conformados? Duvido. Estou ciente dos riscos, mas tudo tem seu preço.

Não posso deixar de registrar um fato inédito, que aconteceu comigo na semana passada. Pela primeira vez, alguém que me ligou no celular, e, ao saber que eu estava dirigindo, fez questão de desligar e dizer que chamaria em outro momento. Era da companhia de seguro.

domingo, 8 de junho de 2008

Carrie Bradshaw



"As protagonistas de Sex and the city são ícones de um pós feminismo que acreditam que os direitos da mulher já estão garantidos e que é hora de ir atrás dos sonhos individuais"
Márcia Messa


Tem quem goste e quem não goste, mas lendo a matéria da revista Época não há como negar que Sex and the city deixou há muito de ser uma série de televisão e agora filme e passou a ser um ícone cultural. Impressionante como essa semana só se falou nisso. Eu já vi o filme e amei, é claro. Fiz uma cabine ultra private e chorei, ri, sofri e quis comprar tudo aquilo. Mas voltando, há quem diga que a série prega o consumismo, vida fútl e fácil... Isso dizem as amargas, as que não tem amigas de verdade, as que não perdem nem um tempinho comprando sapato e sonhando com um vestido tal. Mulher que não se identifica em alguma instância com as personagens não sabe o que está perdendo porque ser mulher hoje em dia é isso: é viver de alto alto. Na boa, eu não lutei para poder votar, para deixar o filho em casa, não queimei sutiã, não pedi aumento de salário... eu não acompanhei os passos desse feminismo da qual hoje muitas vezes sou vítima. Calma, deixa eu me explicar melhor, eu lido com homens que temem mulheres bem sucedidas, que não pagam a conta, que não acreditam em casamento e verdade seja dita, eu não tenho nada a ver com isso já que eu herdei toda a atitude que o mundo adquiriu pós feminismo... E quer saber? Eu quero um colo eventual e um homem que seja HOMEM mas também quero ser respeitada como profissional e o direito de fazer happy hour com meus amigos.
Outro dia recebi um texto que dizia que as mulheres estão tendo tanto stress porque hoje não basta ser mulher, tem se que ser super mulher. É sua obrigação coordenar a casa, se dar bem no trabalho, encontrar o homem da vida, ter amigos, filhos perfeitos tudo isso fazendo pilates cinco vezes por semana e linda!
Mas voltando, as personagens são consumistas sim mas qual o problema em se gastar dinheiro que se ganha trabalhando muito? E qual o problema em se divetir como homens errados até encontrar o certo? Se é que existe algo como o homem certo, vamos combinar! Resumindo, eu sou meio Carrie Bradshaw mesmo.



sábado, 7 de junho de 2008

Neurótico Viajante


A neurose vai tomando conta de sua vida sem perceber você se torna um neurótico completo. Mas tão neurótico que acaba convencendo as pessoas de que aquilo que faz tem todo sentido. E não aceita o contrário. E trabalha cada vez mais pra convencer o mundo de que está certo... E se você é um neurótico bem qualificado você convence... E vê as pessoas fazendo aquilo que você sugeriu e as vê ensinando outras, fazendo com que o mundo se torne um grande sanatório...

E honestamente, aeroporto não é um lugar legal pra pessoas neuróticas. Mas é lá que tenho passado grande parte do meu tempo. O problema não é medo de acidente aéreo não, até porque todas as vezes que entro no avião eu tenho certeza de que ele vai cair, mas eu, como sempre sento perto da saída de emergência, sei que vou conseguir abrir a porta antes da queda, voar apoiado nela, sofrer algumas escoriações e desmaiar, acordar no hospital com um monte de repórteres perguntando se eu "nasci de novo" e responder que "Não porque ninguém nasce de novo. Só essas pessoas idiotas que têm vidas medíocres e precisam de um acidente aéreo pra acordar e começar a aproveitar e dizer que nasceram de novo". No dia seguinte vou acordar e andar de bicicleta no parque, como se nada tivesse acontecido. Além disso, a novidade é que agora viajo com a câmera fotográfica digital na mão... Minha idéia é em caso de pane, começar a tirar foto de tudo e filmar também. Antes de voar com a porta de emergência, vou puxar o colete salva vidas de baixo do banco, inflá-lo, colocar a câmera dentro dele pra que ela não quebre na queda do avião e deixar fotos do acidente de um ponto de vista inédito além de sons de terror para o mundo...

Mas enfim, isso não é coisa de gente neurótica não. É uma coisa pessoal minha. Deixe-me voltar ao tema.

O problema de aeroportos é que tudo lá envolve tempo... E tempo só alimenta a neurose... Você tem de chegar 3 horas antes do embarque, aguardar 1 hora na fila, embarcar 2 horas antes, ficar 30 minutos na fila da imigração, anunciam que seu avião está 20 minutos atrasado, depois que faltam 10 minutos pro embarque...tudo como referência o tempo e isso é um problema pra quem é neurótico.

Por essa razão vou citar algumas coisas que todos poderiam fazer (ou não fazer) no aeroporto pra economizar tempo no embarque:

Ao verem alguém perto do portão de embarque as pessoas já começam a formar uma fila bagunçada, mesmo que seja uma hora antes. E daí, quando começa o embarque, todos têm de sair do lugar porque velhinhos, crianças e quem viaja business class embarcam primeiro... E isso incomoda muito porque atrasa tudo, uns se aproveitam pra furar a fila, que se transforma num monte de gente aglomerada e provoca até mesmo interrupção do embarque e chilique do funcionário da empresa aérea, que provavelmente também é neurótico e atrasa tudo. Portanto, nada de aglomerações desnecessárias...Esperem sentados...

Essas pessoas que embarcam antes, em geral, não são neuróticas (nem podem ser mesmo porque além de embarcar antes são crianças, velhinhos ou vão sentar-se em uma poltrona confortável). Enfim, essas pessoas não percebem que o picote do papel do cartão de embarque é ruim e que leva uns 3 segundos pra que o atendente destaque uma parte da outra. E muitas vezes - o que é enlouquecedor - seguram o bilhete pelo lado contrário... A parte que vai ser entregue fica na mão do passageiro e a parte do passageiro na mão do atendente... E isso aumenta o tempo de embarque em mais uns 3 segundos!
A técnica é você já começar a destacar a parte picotada superior e inferior do bilhete ANTES de entregá-lo. No momento em que for fazê-lo, entrega a parte MAIOR para a pessoa, que deve SEGURÁ-LO enquanto você delicadamente puxa a outra parte... QUE JÁ ESTÁ COM O PICOTE COMEÇADO... e você não precisa parar de caminhar enquanto faz o processo... Isso é fundamental... e economiza ao menos uns 2 segundos do embarque de cada pessoa...

Outra coisa que as pessoas não entendem é que nos aviões maiores...SEMPRE são conferidos os assentos dentro da aeronave, pra que você pegue o corredor correto e não bagunce tudo e atrase a acomodação das pessoas. Então, você NÃO DEVE guardar o cartão de embarque até entrar na aeronave e sentar-se... O fato de ter de procurar o cartão - tem gente que o perde num percurso de 20 metros. É incrível! - atrasa todo o embarque dos demais.
Na verdade, você deve guardar o comprovante do cartão no bolso... É o único local aceitável... Se não tem bolso, sei lá.. enfia no... segure-o nas mãos até o avião decolar... Depois você pode fazer o que quiser com ele...

Quanto à bagagem... As pessoas insistem em querer levar a mãe na mala de mão, que de mão não tem nada... Ainda bem que não a levam porque senão essa mãe levaria um tapão por ter criado um filho tão imbecil. De maneira breve, as pessoas têm dirigir-se a seus assentos, ENTRAR NO ESPAÇO DO ASSENTO e somente então colocar a mala no compartimento superior. Não é pra por a mala em cima enquanto está no corredor... Isso atrasa todo o embarque.

Uma vez acomodadas, as pessoas têm de entender que estão numa lata de algumas toneladas, com uma poltrona que se inclina a uns 89 graus e estão a 20 cm do assento da frente. Por mais que estejam fazendo a viagem dos sonhos, há outros que lá estão pra passar uma bosta de semana numa bosta de país, com uma bosta de comida, pra fazer uma bosta de trabalho, pra entregar pra uma bosta de chefe e que depois desse monte de bosta vai passar por tudo isso outra vez pra voltar pra casa, então tentem prestar atenção aos sinais: Fone de ouvido no ouvido e livro aberto significam NÃO ESTOU A FIM DE BATER PAPO. Respostas curtas para perguntas imbecis significam NÃO ESTOU A FIM DE BATER PAPO também...

Muito importante... NUNCA, MAS NUNCA MESMO peça pra mudar de lugar. Chegar antes no check-in aumenta as possibilidades de pegar a poltrona menos ruim... Então, pense nisso antes de pedir alguma coisa a alguém...

Se você é do tipo que não consegue ficar sem ir ao banheiro do avião - há pessoas que sentem um prazer doentio nisso...só pode ser, mas não é o caso do neurótico. O neurótico é asseado e evita ao máximo usar o banheiro do avião... E se o utiliza, o faz durante...não...não vou dizer a técnica pra não a usarem também...Enfim... se precisa ir ao banheiro e está na janela, entenda que TUDO na vida tem um preço...

Aquele apoio pra cabeça do ladinho, na janela, aquela vista linda custam o desconforto da imobilidade...Aceite e respeite o cara que está no corredor. Se você está na poltrona do meio, na fila do meio, sinto muito...é o pior lugar e nada justifica...você tá ferrado mesmo...Vai ter de incomodar a pessoa que senta no corredor, então tente não esperar que ela durma...

Pra terminar, porque isso pode ir longe, e podem começar a achar que sou neurótico mesmo: Os assentos para decolagem têm de estar na posição vertical não pra que VOCÊ se dê bem, nem porque o comissário é um gay chato e implicante... Mas pra que o cara que está atrás de você consiga sair correndo em caso de pane e não tenha a droga de seu assento bloqueando o espaço de fuga dele... Entenda isso... Deite a porcaria do assento somente quando for permitido...

Tenho certeza de que alguns desses conselhos fundamentais serão aproveitados por alguns. De qualquer forma, já valeu esforço se no próximo vôo lembrarem de mim ao ver o picote do cartão de embarque...Boa Viagem!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Vozes

Hoje, ao ir a uma entrevista coletiva - fui conversar com as atrizes da peça "Confissões das Mulheres de 30" - reparei na vozes daquelas mulheres lindas durante a conversa, ... e que vozes! E, assim, cheguei à conclusão que quero ter a voz de um ator de teatro. Uma voz que chame a atenção, que consiga alcançar o espectador da última fileira. Não que a minha voz seja feia - isto, eu deixo que você mesmo julgue -, mas, sei lá, fiquei com inveja daquela voz bela, alta, sem gritar.... E, assim, fiquei com vontade de brilhar em uma grande produção teatral... ou, até mesmo sem público, dar algumas cambalhotas no palco deserto...

Ao mesmo tempo, queria registrar que estou em um momento fantasia total... além de estar quase terminando "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" - era preciso ler algo mais leve depois de "A Sangue Frio" -, assisti ao bacana "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal". Ok, o Steven Spilberg dá uma viajada no final, mas me senti como meus pais na década de 1980, quando, possivelmente, assistiram às primeiras aventuras de Henry "Indy" James no cinema...

adoro um filme denso, no entanto, os filmes de entretenimento são tão legais, quando quer se desligar do mundo ou, como foi o meu caso, não ter a surpresa de pegar um ônibus com os torcedores do Corinthians - assisti ao filme na quarta-feira, dia da final da Copa do Brasil...

quero várias vozes... outras vozes... todas as vozes... que seja assim sempre!

P.S: galerinha, desculpem-me pela minha ausência nos comentários dos textos... estou realmente sem tempo de respirar... trabalho no jornal, frilas e e-mails a serem respondidos...
P.S 2: a tosse foi curada naturalmente, como eu previa...
P.S 3: tenho ciúme dos meus textos quando ele cai na mão do editor... risos

quinta-feira, 5 de junho de 2008

madrugada

coca-cola. angústia. lembrança.
chocolate. tv. frio.
fiona apple. tristeza. estrelas.
sofá. cama. sofá.
mais coca-cola. mais angústias. mais lembranças.
cabeça. coração. pau duro.
clarah averbuck. louça. meia no pé.
contas. computador. silêncio.
mais chocolate. mais tv. mais frio.
oração. exorcismo. blasfêmia.
fiona apple + clarah averbuck.
silêncio.
sono. sem sono. sono.
sol. banho. realidade.
lembrança. angústia.
e coca-cola.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

TUDO BEM, MUITO PRAZER E ATÉ LOGO


Semana passada falei de um termo que não aprecio, os “dias úteis”. Essa semana, desculpem os que me lêem, mas quero falar sobre mais coisas que não gosto: certos cumprimentos.
Vamos por partes:
O que realmente me incomoda não é o cumprimento em si, mas a honestidade (?) contida nele. O mais trivial de todos: “oi, tudo bem?”. Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. É incrível. O telefone toca e antes mesmo de me dar conta quem é, ouço: “Oi Camilla, tudo bem?”. E por educação desonesta tenho que responder: “ sim, e você?”.
Quem me conhece, sabe que odeio mentiras, odeio muito. Um ódio diria exagerado para os dias tolerantes de hoje. Odeio mentiras grandes, pequenas, caridosas ou cruéis. E esse tal do “tudo bem?” é uma mentira dupla. Mente quem pergunta, porque não quer mesmo saber e quem responde mente duas vezes: “Sim, tudo”, e nunca está TUDO bem com alguém. E mente no “ E você?”, quando na verdade não quer mesmo saber.
Tá, vocês podem pensar que ando com tempo sobrando para pensar em besteiras assim. Quase verdade, ando com tempo folgado, me dando o direito a certos prazeres, mas isso me incomoda há muito tempo, aliás, sempre me incomodou.
Há tempos venho buscando uma saída para a buzina que toca nos meus ouvidos quando ouço “oi, tudo bem?”, assim, desonestamente educado. Por algum tempo acreditei ter encontrado a saída. E quando me perguntavam “tudo bem?”, eu respondia:“olha, tô muito bem não. As coisas estão complicadas, ando com os saco cheio do meu trabalho, a grana tá curta, ganhei uns dois quilos, peguei gripe 4 vezes nos últimos tempos e não transo há seis meses”. Pronto, uma resposta honesta. Mas fui vencida pelas gargalhadas. Vocês já notaram que honestidade às vezes assusta tanto que é encarada como piada? A rota de fuga é certeira. Experimentem! Escolham um amigo ou conhecido como cobaia, diga a ele o que realmente pensa (de maneira educada, claro!). À qualquer pergunta, responda exatamente o que pensa. Ele acabará achando que você está brincando e vai rir de você. Acontece comigo sempre.
Não estou dizendo que não adoro quando amigos me perguntam como estou. Mas dá para sentir quando a pergunta é verdadeira e quando é um cumprimento, não dá?
Outro cumprimento que me irrita é o “prazer em conhecê-lo(a) ou muito prazer”.Por favor, convenhamos, prazer é uma palavra muito séria para ser usada assim, desonestamente.
Você e seu companheiro(a) vão ao supermercado onde encontram um colega de trabalho dele(a). Ele(a) odeia o colega e você sabe disso, pois é obrigada a ouvir desaforos sobre o fulano quase toda noite. Eles se cumprimentam, ele(a) te apresenta e dois minutos depois, lá vai você: “prazer em conhecê-lo”. M-E-N-T-I-R-A! Prazer é sexo, rock and roll, chocolate, amor, férias , sorriso de criança, fim de semana na praia, noite fria com pipoca e DVD. Isso sim é muito prazer. Então, até no supermercado você é obrigado a mentir por educação.
Quando esse tipo de situação me acontece eu me despeço dizendo: “tchau”. Nem “até logo” digo, porque na verdade logo é muito cedo para ver alguém que não se gosta.
Bem, e daí não é? Não gosto desses cumprimentos e se você também se incomoda com pequenas mentiras, também não gosta. Mas o que podemos fazer quanto a isso? Quando usei respostas honestas, já contei, cansei das gargalhadas. Hoje, ando numa fase muito bem educada, evitando confronto. Então não sei mais o que fazer. Se alguém tiver uma sugestão, aceito e prometo passar adiante. Poderíamos começar uma campanha: “abaixo o tudo bem, muito prazer e até logo”. Ou não, aí é coisa do Clube dos Estranhos mesmo. Esqueçam, mas aceito sugestões menos estranhas.
Bem, era isso. Foi um prazer verdadeiro estar aqui de novo e espero que esteja tudo bem com todos vocês, ou pelo menos mais ou menos. Ok, um pouquinho bem já está bom. Beijos de verdade a todos e até logo.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Acredite no conhecimento astrológico, curadora.



Ivelize De Agostini abriu uma mostra de artes plásticas no final do ano passado. Sim, ela é tia do candidato a prefeito Rodrigo Agostinho e o assunto é a exposição e não a candidatura. A Ive pediu um tempo aos organizadores. Para ela o ideal seria novembro. Deixou escapar 29 de outubro, dia razoável de acordo com sua astróloga. Os envolvidos no evento, a mãe da Janaina era a curadora, optaram por essa data. Claro, o arrependimento veio depois. Imaginem a quantidade de coisas acontecidas. Horário marcado com o Tuca para montagem: 7 horas da manhã. Distribuídas as telas, cadê o rolo de arame para prendê-las? Foi necessário buscar outro. As etiquetas não vieram porque? O computador do escritório de arte pifou. O técnico chamado diagnosticou a morte do coitado. Com esse atestado de óbito precisaram de outro. Bom, até comprar e instalar, melhor pensar: somente em quinze dias as informações contidas no antigo vão estar no novo. A curadora, decidida a deixar a exposição pronta e acreditando saber tudo, resolveu fazer o material em casa.
Mas, cadê a experiência? Não sei imprimir etiquetas, concluiu. Incumbiu à artista, enquanto escrevia um texto e confeccionava um cartaz. Na galeria, Alessandra colou em papel cartão preto. Ao encaminhar o material ao local da exposição, avisou que iam precisar de luvas para manuseá-lo, pois o cartão manchava, só esqueceu do durex e para grudar o cartaz, fita dupla face, era indispensável. Ossos do ofício ou coisas da vida. A organizadora do evento ao sair percebeu estar sem combustível, com óleo baixo e devido ao calor nem água tinha no radiador. Não calibrou pneus, sentiu isso ao deixar o posto e cair no primeiro buraco. Para quem não sabe, as ruas de Bauru são compostas de asfalto e buracos, mais buracos... Rodrigo! Aparentemente tudo acertado, a Janira foi até a rodoviária para reservar uma passagem descobrindo não ter dinheiro para pagar o estacionamento. Viu ou foi vista pela Vera Junqueira, da Unesp, e ofereceu carona. A colega aceitou e gentilmente deu a moeda para o pagamento, saltando no primeiro quarteirão. O Poupa Tempo era seu destino. Deve ter pensando: carona cara! No mesmo dia, a coitada da curadora, a beira de um ataque de nervos, se submeteu a uma cirurgia necessitando de três dias de repouso. Ela jura nunca mais realizar nada sem consultar uma astróloga e quer matar Pierre Thuillier por começar uma campanha para desacreditar essa ciência. O fato aconteceu no século XVII e o homem deve estar mortinho da silva. Desculpe o da Silva, você não gosta muito do Luís 51. Parece até provocação, não é?
Informações astrológicas são largamente difundidas no ocidente vindas da astronomia dos povos da região conhecida como fértil crescente. Ela se baseia em algumas medidas, posição da Terra, relações trigonométricas entre si, dos corpos celestes e no movimento relativo de dois eixos terrestres: o ascendente e o meio do céu. Os primeiros astrólogos apareceram por volta de 4000 a.C. Como uma doutora em História da Arte esqueceu disso? Pagou caro pela falta de crença. Como foi a recuperação? Vai precisar de mais uma, eu soube. Noticias são como anjo, têm asas. Consulte a especialista ao agendar outras datas, ok? Quem avisa amigo é. A astrologia é a ciência mais antiga e sua origem perde-se em tempos remotos, quando a vida das pessoas estava ligada ao ciclo da natureza. O saber astrológico continua firme, mesmo com a campanha de descrédito movida por Thuillier, pois afirmar a existência de um único modo de produzir conhecimento leva a interpretações contestáveis, do ponto de vista histórico. A Astrologia é uma linguagem particular adaptada ao contexto sociocultural desse momento, mostrando que suas noções e seus esquemas constituem um quadro onde os fatos são percebidos. Além de explicação simbólica e poética dos fenômenos ela está ligada à vida do homem desde sempre. Trata-se de saber popular, acredite nele! A Lua estava fora de curso e Mercúrio retrógrado, o pessoal da exposição queria o que, não é João Bidu?