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autor em crise.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
1968: é proibido proibir

1968: ano do ápice das mudanças iniciadas logo após a segunda guerra. Os estudantes clamavam por liberdade. A mesma do famoso tripé liberdade, igualdade, fraternidade, da revolução francesa. Não que a gente tenha chegado lá...
Mas, o termo era belo, digno, algo bom e serviu como catalizador para os protestos que estavam acompanhados do grito de guerra: é proibido proibir.
Eu lia com admiração os jornais e acompanhava pela tv uma ou outra noticia relacionada ao assunto, vendo as imagens do prédio da Sorbonne, a figura frágil de Sartre, ao lado de Simone de Beauvoir, caminhando nas passeatas. Como eu desejava estar lá. Por incrível que pareça... fui com quinze anos de atraso, para terminar uma pesquisa durante meu curso de pós-graduação. Sartre ainda ativo sentava-se no mesmo banco da praça de sempre, para tomar o sol da manhã. Como ele queria ficar só, as pessoas fingiam não vê-lo.
Voltando a 1968, quando eu conseguia parar, pensava de onde ambos tiravam essa capacidade de busca contínua de renovação? Um casal e tanto enfrentando a violência policial ao lado de seus alunos. Por detrás de muitas conquistas dos rebeldes dos anos sessenta encontra-se o aval de Sartre. Só por isso ele merece nossa admiração, viu Luciana Bergamini?
Não preciso dizer que os protestos se estenderam pelo mundo, Reagan disse.
Mas, vamos falar de flores, é meu forte. Quem não se lembra do meu vestidinho indiano com quase trinta anos de uso? Falei dele em algum texto. O estilo hippie se estabeleceu com roupas coloridas, túnicas, sandálias, cabelos longos para ambos os sexos. Meu irmão vai querer esconder as fotos dele, tenho certeza.
A expressão flower power/força das flores e a própria flor eram símbolos fortes no movimento. A música permeou tudo. Uma melodia romântica, pouco crítica, que depois se tornou ácida, quando sofreu influência do folk e dos autores da música de protesto. Pop e rock foram considerados os meios de expressão perfeitos devido ao efeito libertador sobre a mente. Uma idéia defendida por Timothy Leary, que acabou por tornar-se uma espécie de guia espiritual dos hippies pela defesa do uso de drogas nessa libertação.
O termo contra-cultura passou a ser empregado referindo-se ao momento e palavras como turn on/ligar a luz/ligado; turn in/sintonizar/aderir, drop out/sair tornaram-se parte do nosso vocabulário. O último referia-se a recusa de participação na guerra do Vietnã. O venerável beat Allen Ginsberg é considerado um dos pais desse movimento. As idéias dos beatniks saíram dos bares diretamente para as salas de aula do campus universitário. E agora sim, tudo acontecendo ao mesmo tempo e no mesmo espaço underground: eram os politicamente engajados, os hippies, os normais e os não tão normais assim, os gênios, os vagabundos, os pobres e os ricos. Como um retorno era impossível, a sociedade passou a absorver as novas idéias e a acomodação voltou a reinar. Credo, tudo isso por culpa do Mamma Mia, nunca mais vou ao cinema, juro!
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Obrigação
Um time tradicional, ao comemorar a subida para a primeira divisão, reconhece a própria incompetência. Obrigações não são conquistadas, são cumpridas.
domingo, 26 de outubro de 2008
Em Vivo Contato

Aí a noite de sexta foi de comemoração pelo sucesso. Ainda há muito o que fazer mas ver o resultado deu gás. Felizmente. E aí foi cerveja e risada e muita música.
E sábado acordou colaborando com calor bom e sol lindo. Café da manhã de hotel, cuidar do corpo, do coração, das coisas... e lembrar que a vida é muito mas muito maior...
E para fechar com chave de ouro a abertura e festa para convidados da 28º Bienal - Em Vivo Contato, de Ivo Mesquita. Muito já se falou sobre essa Bienal nesse último ano. A bienal do vazio. E não vou ser eu quem vai falar mais nada.
São Paulo ganha outra cara durante esse período e eu só agradeço e recomendo.

E gente, lá estava eu, no meu segundo dia consecutivo de Bienal, domingão fim de tarde tomando uma cerveja a quase nada de distância do curador quando plaft, blang, uau... barulho de quebradeira, gente correndo e gritando. Eu quase caí da cadeira, ele permaneceu impassível.
A 28º Bienal sofria, no seu primeiro dia de visitação pública, seu primeiro ataque também público. Já que o primeiro ataque oficial foi a adesivagem feita pelo grupoArac dias antes da abertura.
Por volta das 19h30, cerca de 40 pessoas picharam algumas paredes, pilares e corrimãos do segundo andar, o andar Vazio, do pavilhão da Bienal. Houve confronto entre seguranças e pichadores, parte escapou antes do prédio ser fechado e outros foram detidos pela segurança. Para fugir, quebraram uma vidraça e fizeram muito barulho.
Claro que com toda essa comoção ninguém mais foi liberado do prédio, ninguém entrava ou saia, ninguém podia sair do bar e ir ao banheiro e de repente ver o Fischerspooner ficou absolutamente obsoleto.
No final, até onde presenciei ninguém foi preso, todo mundo foi liberado, o show atrasou mas foi um arraso. E bota arraso!!!
E esse foi somente o primeiro final de semana da 28º Bienal.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
ele
ele não sabe o que é amar.
não, senhor. não faz a menor idéia.
pobre diabo. nunca chegou perto. jamais teve fagulha deste bem-querer.
justiça seja feita: tentou, uma única vez. passou longe. gosto de bolacha amanhecida.
cuspiu. e cerrou as portas.
na infância, trocava as manifestações de carinho pela cabeça baixa, envergonhada, medrosa, assustada com o desconhecido.
na adolescência, herege convicto, nunca acreditou que beijos e experiências trocadas, roubadas, às vezes até permitidas nos muros da cidade poderiam acender-lhe chama do verbo.
hoje, faz tanta falta... Se soubesse...
mas sabe o que é certo. mas sabe o que é ser bacana. mas sabe de suas necessidades.
escova os dentes. trata o garçom com educação. tem tesão.
mas amor, nadica. sem pé cansado nem chinelo velho.
ninguém para discutir se o pivete vai chamar João ou Petrus.
não acha no supermercado. já procurou na farmácia. Só encontrou solidão na promoção – comprou dez quilos para não deixar faltar na despensa.
vidinha ordinária. de dar dó.
sem frio na barriga, abraço aconchegante, beijo na testa.
sem precipício. só a constante queda livre. poesia cega, surda e muda. amputada. à base de morfina.
conhecia só o silêncio ensurdecedor de seus próprios demônios no final de noite.
um dia, ela, deitada e envolta pelo desejo, disse a ele: “me ame”.
ele a colocou de quatro.
amém.
não, senhor. não faz a menor idéia.
pobre diabo. nunca chegou perto. jamais teve fagulha deste bem-querer.
justiça seja feita: tentou, uma única vez. passou longe. gosto de bolacha amanhecida.
cuspiu. e cerrou as portas.
na infância, trocava as manifestações de carinho pela cabeça baixa, envergonhada, medrosa, assustada com o desconhecido.
na adolescência, herege convicto, nunca acreditou que beijos e experiências trocadas, roubadas, às vezes até permitidas nos muros da cidade poderiam acender-lhe chama do verbo.
hoje, faz tanta falta... Se soubesse...
mas sabe o que é certo. mas sabe o que é ser bacana. mas sabe de suas necessidades.
escova os dentes. trata o garçom com educação. tem tesão.
mas amor, nadica. sem pé cansado nem chinelo velho.
ninguém para discutir se o pivete vai chamar João ou Petrus.
não acha no supermercado. já procurou na farmácia. Só encontrou solidão na promoção – comprou dez quilos para não deixar faltar na despensa.
vidinha ordinária. de dar dó.
sem frio na barriga, abraço aconchegante, beijo na testa.
sem precipício. só a constante queda livre. poesia cega, surda e muda. amputada. à base de morfina.
conhecia só o silêncio ensurdecedor de seus próprios demônios no final de noite.
um dia, ela, deitada e envolta pelo desejo, disse a ele: “me ame”.
ele a colocou de quatro.
amém.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Sobre dentes...

Faltou falar do vinho, pois de acordo com meu psicólogo predileto, Jair Marangoni, Rosa Bertoldi é dionisíaca. Não disse bacante, poderia haver dupla interpretação. Dionisíaca, por favor!
Vamos voltar ao assunto. O que é um dente? Descobri a seguinte definição: órgão duro guarnecendo as maxilas do homem e de animais. Pensei logo em dente de elefante. É de marfim, um tesouro. Os nossos são também, e revestidos de esmalte na coroa. O assalto aos cemitérios vai começar, pois a preciosidade não se desfaz, ou vira pó, hein doutor Flávio Monteiro?
Lembrei-me de armado até os dentes, falar entre dentes, dente de coelho, esse eu sei, dá sorte. Ninguém percebeu, mas no dia da minha cirurgia eu coloquei um, junto com a mão de Deus, amuleto judaico, que carrego no pescoço. Seguro morreu de velho, dizem.
Ah, ia me esquecendo da famosa frase dente por dente. Dia desses, postei um texto no blog setegrausdeseparacao, comentando a lei de Talião. Vou fazer o comercial: trata-se de um grupo composto de sete pessoas, três jornalistas, uma produtora, um auditor, um economista, e eu. Todos vivendo na cidade de São Paulo ou no interior e não nos conhecemos. Como o jovem auditor trabalha em uma multinacional vive com a mala nas costas, deveria dizer pelo mundo afora? Mas, relembrando: essa lei consiste na rigorosa reciprocidade do crime e do castigo. Se uma pessoa arrancasse o dente de outra, a pena seria a mesma. Daí o dente por dente. Socorro, eu não sei aplicar anestesia. Quer dizer os dois responsáveis pela extração do meu vão ter os seus arrancados sem o conforto do anestésico. Paciência. Da próxima, vão pensar bem antes do crime.

Falando sério. Comecei há algum tempo um tratamento estético com uma dentista jovem, bonita, elegante e principalmente eficiente. A idéia era uma reforma geral. Como uma coisa leva a outra, acabei por decidir fazer implante de dois dentes com o doutor Flávio Monteiro Amado. É ai que entra a brincadeira com a lei de Talião. Hoje em dia a perda de um dente não significa mais ficar banguela. Existe o implante. Trata-se de uma estrutura feita de metal, aderida ao osso, funcionando como a raiz do dente. Após esse pino estar assentado, processo chamado de ossointegração acontece à segunda fase: colocação da prótese sobre essa base, ou seja, um novo dente. Branquinho e bonito, ninguém percebe que é falso. Deverei chamá-lo de kitsch? Vou perguntar ao doutor.
Explicarei o uso do termo, afinal ele não é do ramo. Uma pena, pois daria um bom escultor. Seria outro Rodin? É bom avisar que, hoje as mulheres não são como Camille Claudel, tornaram-se feministas. Melhor ser dentista. Pode ser sádico do mesmo jeito arrancando dentes, furando-os, tratando canais e os pacientes agradecem e ainda pagam para sofrer. Digo a favor dele, não houve dor, nem inchaço ou qualquer outro incomodo relacionado ao processo. Mas, afinal, o dente é kitsch ou não?
Kitsch é um termo contemporâneo. Para Marx seu significado era “falsa consciência”. Daí a relação da palavra com o falso. O conceito ganhou nova dimensão, infiltrando-se nas manifestações artísticas e estéticas para satisfazer o gosto da sociedade de consumo, apoiado pela indústria cultural e pelos meios de comunicação de massa. Hoje a associação é feita com o cult, que chic, hein? Meu dente não é kitsch... é cult!
domingo, 19 de outubro de 2008
Fora da ordem
Sabe por que essa porra de mundo não vai para a frente? Porque as pessoas perderam a humanidade no sentido mais básico da palavra. Essa semana passei por várias mas chego no domingo assim: com um sorrisinho nos lábios e com a certeza de que o sucesso é sempre de quem merece.
Aos invejosos a vidinha medíocre e burra que levam já é castigo suficiente.
E eu chego sorrindo de orelha a orelha e com os olhos brilhando.
Brilhando!


Fotos da obra Aqui tudo parece que ainda ér construção e já é ruína, A partir de Fora da Ordem de Caetano Veloso (2004) da artista inglesa Cerith Wyn Evans.
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