terça-feira, 25 de novembro de 2008

A voz da experiência

Um poeta chinês escreveu: “recriar algo com palavras equivale a viver duas vezes.” Lembrei-me da frase, após conversar com meus consultores para construção, enquanto suava a camisa caminhando na esteira da academia de ginástica. Eles acabaram de construir uma casa e estão curtindo as suas delícias, depois de esquecidas as tristezas dos embates com engenheiro, arquiteto, mestre de obras, pintores, etc, etc. Atualmente, encontram-se envolvidos em um curso de jardinagem e usando termos, tais como: hibridação, pólen, bulbo, semente, irrigação, alporquia, enxertia, poda e até calendário lunar. E, eu acreditando que o tal calendário lunar tivesse sido substituído pelo Julio César da Cleópatra, há muito e muitos anos.
Eles, como eu, encarregaram-se da supervisão da obra, um feito propiciado por nossa total ignorância em relação ao assunto. As experiências e os relatos de ambos me fazem rir. Às vezes, é claro, estou rindo dos meus próprios problemas. Mas, não é um privilégio que a gente possa libertar-se com um riso sardônico dos entraves e constrangimentos do nosso dia a dia?
Toda essa divagação gira em torno de algumas questões ocorridas durante a construção de minha casa. Uma viga foi colocada fora do lugar e o teto da garagem rebaixado. Parei a obra. Como rebaixaram o teto? Mudaram uma viga de lugar? Qual era o problema? Não dá para negociar com o arquiteto e o mestre de obras? É uma questão estética ou capricho? Iluminação ou proporcionalidade? São perguntas feitas por ambos e ao mesmo tempo. Ela pondera que certas decisões são aparentemente irracionais, mas imagine como o trabalho de um arquiteto é diferente. Eles são arrojados e suas soluções são criativas, todo mundo vai aprender mais e tudo ficará mais bonito... depois a pressa é inimiga da perfeição. Ainda bem que a ela não usou o termo tão funcional, a máxima da arquitetura moderna. Eu teria uma crise histérica em plena academia, pois não acredito na famosa frase a forma é a função. Praticidade e conforto são meus lemas. Por isso busquei um condomínio para viver. É o espaço pós-moderno por excelência.
Sua explicação continua: na minha casa após um formidável volume de trabalho realizado, uma viga foi retirada do lugar com a mesma facilidade com que se arranca um dente mole. Como ela sabe, se não é dentista nem mestre de obras, só Freud explica.
Por isso, resolvi escrever, para viver o fato duas vezes e encontrar a solução mais equilibrada. A viga ficou onde estava e o teto foi rebaixado, para depois subir uns trinta centímetros. Na ocasião, eu fiquei com a impressão que ia haver pedido de demissão em massa, sem trocadilho... .

3 comentários:

Paulo Fernando disse...

Que tal reescrever o fato para vivê-lo três vezes? Acredite: às vezes a gente entende menos quando tem a possibilidade de reviver algo. rs

Abraços

Bem interessante!

Janaina Fainer disse...

Rosa, que divertido.
Bom ver vc sempe por aqui
bjs

Rosa Bertoldi disse...

Paulo:
Vc não deixa de ter razão, pois eu não entendi o porque da atitude do mestre obras até hoje, beijão
Rosa