Dia desses assisti a uma palestra onde o padre Beto diferenciou com propriedade o significado de misticismo e místico, ao discorrer sobre cultura judaica. Na hora eu pensei em Akhenaton e Nefertiti, o casal esotérico mais célebre da história. A região do Nilo foi extraordinária, tanto do ponto de vista do poder material, quanto do religioso. Uma viagem ao Egito não deixa ninguém indiferente, pois os deuses gravaram profundas marcas nos monumentos desse solo onde ecoam as vozes de Queóps, Ramsés II, Alexandre, Cleópatra... Mas, vamos falar na aventura de Amen-hotep IV que se transformou em Akhenaton, espírito atuante de Aton. Ele criou uma nova religião e construiu uma cidade inteira: Tell-el-Amarna. Sua viagem interior deu ao povo egípcio, novas leis espirituais. Um místico como São João da Cruz brilhou para si mesmo. Akhenaton, ao contrário, fez sua união com a divindade se derramar sobre uma civilização, afinal ele era o faraó do Egito. O aspecto mais espantoso disso tudo é a atualidade de sua mensagem. A oração cotidiana da cristandade, o Pai Nosso, é herança de Aton. Ao pesquisar Akhenaton, eu me aproximei de alguém com uma força espiritual enorme. Ele colocou questões éticas e religiosas de vital importância para toda a humanidade. Mas, quem foi Akhenaton? Um jovem rei que se insurgiu contra sacerdotes corrompidos, recusando-se a admitir verdades estereotipadas, libertou os escravos, acabou com os altos impostos e destituiu os exércitos egípcios. Fundou uma religião com um deus único, onde se vislumbra o atual monoteísmo. Na verdade, restaurou um movimento que vinha ocorrendo desde o quarto império, pois às pirâmides estão diretamente ligadas ao culto solar. Desposou Nerfetiti escolhida fora da nobreza, como uma espécie de desafio lançado contra o grão-sacerdote de Amon. Ela entra na história ao se casar com Amenófis, nome helenizado de Amen-hotep. Casamento pouco convencional, pois o encontro deles provocou um enlace de amor e essa paixão destruiu todas as barreiras da etiqueta. Estes são os fatos expostos com crueza. Porém, ao me deparar com Akhenaton fiquei surpresa com a pureza de seu ideal. Era um profeta. Um pregador conhecedor da teologia solar tão querida na região de Heliópolis.
Tal ensinamento inebriou o futuro faraó. Ao subir ao trono, realizou os desígnios secretos de sua mãe, fundando Amarna para servir de estrutura na crença de Aton. Ela ficava perto da velha cidade santa do deus Thot, no centro geográfico do Egito. Possuía ruas largas e paralelas ao Nilo. Seu plano urbanístico tinha uma concepção clara e pretendia ser tão luminoso quanto o novo deus. O faraó demonstrou com essa escolha a intenção de apresentar o Sol como mediador entre todos os cultos do país, como o deus vivificador da alma ancestral do Egito, dando a localização de Amarna, um significado simbólico. A mitologia egípcia fala da dupla face do disco solar: vida/morte. Alguns templos tiveram a função de eliminar as influências nocivas dessa energia e espalhar somente seus benefícios. Akhenaton é conhecido como o primeiro homem a quem Deus se revelou pessoalmente, tornando-o pai do monoteísmo. Monoteísmo trazido ao Ocidente por Moisés, fundador da religião judaica. A experiência do faraó foi uma tentativa sincera de entender a Sabedoria Eterna e de replicá-la. Talvez, por isso, ele continue vivo dentro de cada um de nós. Segundo uma lenda Akhenaton reinaria até que o cisne se tornasse preto e o corvo branco. Uma forma de evidenciar o quanto seu pensamento era imortal?
2 comentários:
Todo começo da semana venho aqui em busca dos seus textos, Rosa. Uma narrativa extremamente agradável que sempre reserva surpresas e aprendizado. Desta vez, decidi explicitar minha admiração! Faço questão de parar a correria desses dias para ler seus escritos. Parabéns e muito sucesso pra ti! beijos, Clarissa.
Amei,esse assunto ou melhor a maneira como vc se dirigiu a Akhenaton.Muito interessante.
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