
Kitschen é a palavra alemã para atravancar, daí para kitsch é um pulinho.
Há uma gota de kitsch em toda arte, dizem os entendidos. A frase não me consola, pois se o kitsch é eterno, os momentos de pico estão ligados a uma situação social marcada pelo acesso à opulência. Não é meu caso, sou uma capricorniana simples em busca de conforto e praticidade. Acredito possuir um senso de humor apurado e ser clássica. Será?
A interrogação continuou martelando meu cérebro por um bom tempo e cheguei a seguinte conclusão: sou contemporânea. Portanto, dividida entre a cultura do excesso e o elogio da moderação. E o kitsch entra onde nessa conversa?
Bem, ele é um fenômeno social universal presente no dia a dia das pessoas, nos utensílios comuns e até em coleções de arte, mas precede e ultrapassa estes suportes, constituindo-se em estado de espírito cristalizado nos objetos. Kitsch é a banheira ou a atitude? Ambas, pois o kitsch opõe-se a simplicidade. A arte vive do consumo do tempo e da inutilidade. Nesse sentido o kitsch é uma arte, pois enfeita o cotidiano das pessoas com uma série de ornamentos decorativos e sem utilidade.
Para meu consolo descobri através de Gilles Lipovetsky que nossa época dita pós-moderna caracterizada pela emergência do supermercado e do preço fixo é... kitsch! E como tal tomou conta da nossa vida modificando o modo de viver, criando apenas cultura e arte. Para minha sorte faz parte do mundo dessa nova cultura um povo bem estranho. Gente que não considera crime de lesa-majestade relacionar um sofisticado texto de Eco ou Deleuze com o último videodisco de Caetano Veloso ou com um remix da Celly Campelo. Provavelmente eles também não vão se preocupar com a instalação de uma banheira em recinto tão pequeno. Gente como a gente. Dessas que com uma boa gargalhada se livra dos entraves e gafes sociais. Gente como eu não se importando com rótulos e vivendo plenamente esse momento neokitsch, imaginando-se vanguarda...
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