sábado, 23 de maio de 2009

Tel-Aviv sabia o que não queria ser...

A Lu fez aniversário. Na comemoração a Marilena perguntou-me se eu conhecia o Egito. Respondi: não. Com isso lembrei de uma antiga conversa com a madrinha dela e minha amiga, Deboráh Pádua Mello Neves. Seu relato sobre uma viagem falando das pirâmides e de como atravessou o deserto rumo a Israel me encantou. A frase: “de repente o deserto floresceu...” fez meu queixo cair! Deboráh não estava contando um milagre, simplesmente descrevia a fronteira entre Egito e Israel.
A conversa na pizzaria, a lembrança da viagem – que não foi minha – levou-me a Tel-Aviv e ao sonho de famílias do leste europeu, que em 1909, após percorrer poucos quilômetros partindo de Jaffa, antes de chegar a Jerusalém pararam para uma fotografia, e vislumbraram ali um futuro porto nas dunas de areias e conchas.
Era muita imaginação para pensar uma metrópole moderna, única cidade judaica construída nos últimos dois mil anos naquela região. Esses pioneiros sonharam com uma New York em Israel, pois não queriam um local impregnado nem pela religião, nem pelos conflitos nacionais e foram esses moradores leigos que deram o tom, escancarando as portas para engenheiros formados na Bauhaus, de Gropius. Em Tel-Aviv ele encontrou o espaço necessário para dar vida a seus arrojados projetos. Centenas de casas elegantes ou prédios de três andares com jardins e uma rede de ruas particulares, com lojas necessárias a poucos passos das construções. Entre os edifícios foi deixado um espaço para a passagem da brisa marinha, um exemplo seguido logo depois pela Boa Viagem, do Recife.
Quinze anos depois de 11 de abril de 1909, Albert Einstein visitou o canteiro de obras e foi agraciado com o título de cidadão honorário de Tel-Aviv. Enquanto passeava ouviu do prefeito: “está vendo as dunas? Lá vamos construir uma universidade.” Trata-se do atual campus universitário reforçando sua vocação de local para cultura, educação e lazer. Em 1936, os músicos que fugiram da Europa reuniram-se no moderno porto para apresentar os primeiros concertos sob a direção de Arturo Toscanini.
Hoje o sonho é uma realidade de 370 mil habitantes em permanente estado de efervescência 24 horas por dia, sendo uma das mais importantes cidades do Oriente Médio. Agora, começam as construções de arranha-céus, ao mesmo tempo, restauram-se casas de pedras construídas em 1868, preparando-se para uma expansão planejada para 500 mil pessoas.
Os antropólogos afirmam que conhecendo as medidas administrativas de uma cidade é possível saber seu grau de cultura. Pois bem, se um dono não recolher os excrementos de seus animais paga uma multa de 80 euros. A mesma importância desembolsada pelo grafiteiro ou pela mulher que ousar fazer topless numa praia! Hoje o sonho transformou-se em uma cidade com calçadas limpas, eficiente, otimista e moderna. Até o exigente Theodor Herzl teria de admitir que algum avanço houve onde até o deserto floresceu...

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