Não tenho por hábito assistir novelas. De vez em quando fico em frente à telinha para me colocar em dia com os acontecimentos. Dia desses ao ligar a televisão encontrei-me em uma galeria de arte. Fiquei antenada! Tratava-se de um vernissage e dentre os participantes estava um jovem judeu. Ele voltou repetidas vezes ao local devido ao seu interesse por uma funcionária. Pensei nas cicatrizes deixadas pela guerra, nas lembranças das perdas, na vontade de que o holocausto não se repita, no desejo por parte de alguns ortodoxos na preservação de sua cultura. Estariam em busca de um tempo perdido? É assim que a mãe do moço se comporta criando um enfrentamento entre ela e o filho. E a mocinha, me perdoe, não ajuda muito.
Isso acabou por me levar a história verídica relatada em um filme de Amos Gitai sobre a vida de Jérôme Clement, vice-presidente do canal franco-alemão Arte. O título do livro/filme dá nome ao post. A minha impressão é que como eu, ele nunca entenderá.
O executivo descobriu cartas e fotografias apontando serem seus avós maternos descendentes de judeus. O fato nunca fora mencionado pela mãe católica. Ela manteve o segredo até a morte, embora existam provas dos seus parentes terem morrido em campo de concentração, Auschwitz, para ser mais precisa.
Um caso semelhante ao de meu avô: silêncio absoluto! A investigação tornou-se uma obsessão para Clément. Sua história serviu para cutucar a ferida da colaboração francesa com os nazistas na guerra. Cumplicidade reconhecida por Chirac, em 1995.
O drama do conhecido homem da cultura e da mídia francesa é o mesmo de muitas famílias refugiadas no Brasil, possivelmente até da mãe, representada na novela Caras e Bocas. Ela é o protótipo da mãe judia. Parece retrógrada, mas percebe-se nela uma ânsia de preservar costumes milenares, de lembrar... Hoje em dia, embora haja um selo “apropriado para o público observante da Torá e das mitzvot” não existe unanimidade. No limite cada qual é livre para escolher o que deseja comer ou ver, pois algumas locadoras colocam o aviso até em filmes. Na Polônia, muitas produções da National Geographic não são alugadas porque mostram animais não kasher, isto é, não adequados ao consumo!
Porém, existem judeus ortodoxos e leigos. Alguns conservadores, vestidos como o jovem da novela, outros surfistas ou cantores como o rabino Nilton Bonder e Fortuna. Shabats festivos na Hebraica são freqüentados por belas mulheres – sem perucas ou roupas pretas – e homens elegantes, às vezes trajando jeans.
Enfim, gente como a gente, respeitadora de tradições e livres para escolher, até com quem quer se casar. Quer aprender a diferenciá-los? Prestem atenção na kipá. Pretas significam que o usuário é tradicional. A kipá tricotada é usada por um público mais aberto à modernidade. Um amigo, tão novaiorquino e tão gozador quanto Woody Allen, costuma brincar com a frase: quatro judeus, cinco opiniões.
Isso resume tudo.
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