Essa é a única certeza que tenho na vida nesse momento.
Se o próximo vai ser bom?
Não sei.
A liberdade, gera no homem a angústia que pode levá-lo, de várias formas, ao desespero Então, cada decisão é um risco, o que deixa a pessoa mergulhada na incerteza, pressionada por uma decisão que se torna angustiante. No modo de vida estético, ele escolhe fugir dessa angústia e do desespero através do prazer e de buscar a inconsciência de quem ele é. Outra forma de fuga é ignorar o próprio eu, tornar-se um autômato, apegar-se a um papel, como no modo de vida ético (Kierkegaard)
“Quando os professores de Matemática passavam problemas para os alunos resolverem, e do acerto da solução dependia a nota para ser aprovado, parecia que jamais eu teria um diploma nas mãos.
A Matemática era uma ciência destinada, exclusivamente, a separar os burros dos inteligentes. PI, raiz quadrada, regra de três, trigonometria, binômio de Newton, progressão geométrica, expoentes, senos e tangentes eram coisas absolutamente inúteis, concebidas por cérebros doentios capazes de resolver teoremas impossíveis e chegar a resultados para mim incalculáveis (e inexplicáveis).
Eu estava sempre no time dos burros (em matemática) porque desde a tabuada resolvida a duras penas com os dedos das mãos e dos pés, até os malditos logaritmos, tudo eram invenções do diabo para castigo antecipado dos pecados que eu viria a cometer ao longo da vida.
Para mim o inferno era ali.Sinceramente, não sei como atravessei as matemáticas de cada série e cheguei à formatura, ultrapassando, de quebra, fórmulas de Química e os mistérios insondáveis da Física.
Eu me perguntava: para que serve isso? (Gostava era de escrever). Para que serviriam a geografia, o latim, as análises sintáticas, as peripécias dos Godos e Visigodos, as drosófilas, as hipotenusas, catetos e as paralelas que só se encontram além de onde minha vista alcança, no infinito?
(Eu queria algo diferente.)
Escrever colcheias e semibreves ovaladinhas, entulhar pautas e depois fazer sua leitura grotescamente sonora em trágicas melodias de solfejos, no ritmo quebrado dos compassos... Todas essas coisas não me pareciam servir para coisa alguma até o dia em que o tempo mostrou-me as ciências realizando os milagres humanos. (Até a hora em que me propus escrever e descobri que a vasta bagagem acumulada me faz circular com certa naturalidade por vários campos).
Claro que nas passarelas, nos estádios e palcos, alguns ignorantes das ciências ganham o ouro do mundo sem fazer contas, fundir neurônios, sem entender por que o Sol nasce todos os dias ou por que uma reta é o caminho mais curto entre dois pontos. Às vezes pelos atalhos em ziguezague tem gente que chega antes.”