Como vivo na cidade de Bauru, isso me impede de freqüentar uma sinagoga e discutir assuntos espirituais ligados à filosofia da religião. Vou aos eventos festivos e freqüento o Centro Cultural Judaico ou a Hebraica. Ao conhecer o padre Beto, percebi nele um praticante cristão próximo do judaísmo e procuro ouvi-lo sempre que surge uma oportunidade. Quando olho para ele penso na fortaleza que deve ser. Vejo nele o Muro de Lamentações de sua comunidade. E haja lamentos nesse mundo caótico!
Dei-lhe um livro de Nilton Bonder, e recentemente, padre Beto fez uma palestra sobre as idéias do mais conhecido líder espiritual da Congregação Judaica do Brasil.
Padre Beto é o Bonder dos católicos, enquanto o rabino é o padre Beto do judaísmo. Ambos são filósofos e praticam uma religião ecumênica aberta aos ensinamentos da tolerância e convivência, tão necessários aos dias de hoje. Ambos são jovens e bons comunicadores. Ambos são escritores reconhecidos. O padre apaixonado por cinema e o judeu por teatro. Um dos textos do rabino surfista foi encenado com sucesso num teatro carioca. Convidado a aparecer nu em uma revista, deu como resposta um sorriso e um suave não, mas ao sugerir ao leitor que tire os sapatos, Bonder se revela “por inteiro, como que despido de qualquer proteção,” da mesma forma que o padre. Ele teve a coragem de expor idéias paralelas ou controversas em relação à religião perante um público ávido por qualquer deslize. A palestra foi ótima. Saí de lá com vontade de ir à missa para ouvir seus recados tão diretos e bem dados.
Deve ter gente se perguntando que livro é esse e criticando a ousadia... ela quer que o padre pense como um rabino? Mas, ele age como um, pode acreditar e isso o torna tão especial, deveria dizer tão humano? Ele está livre das convenções e do pré-estabelecido, disponível para ouvir até quem se diz ateu. Ao conhecê-lo percebi em sua crença uma ligação com os primórdios do cristianismo. A palestra é a comprovação disso, Torá versus Bíblia.
O livro de Bonder é um diário crítico da peregrinação do caminho de Abraão, de Haran onde ouviu Deus, até seu túmulo no Hebron. O rabino aproxima as religiões monoteístas através do termo: paralelismo histórico. O padre faz uma confluência interessante entre catolicismo e judaísmo. A travessia foi um projeto realizado pela universidade de Harvard agregando 24 pessoas dos diferentes credos atuais. A intenção declarada: tornar a região uma rota de turismo cultural, a mensagem sublinear: abrir mentes e corações para novos diálogos, fazer a alma abrigar o outro, seja qual for esse outro.
2 comentários:
É isso mesmo, xará, acolher o outro esse é o caminho que nos aproxima de Deus. Você já leu A Cabana? Parabéns!
Eu acho que sua dica funcionou, pois o Padre indicou esse livro numa das ultimas missas (segundo minha sogra).
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