quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

sentimento

andava distraída, sob o calor moderado da estação, apenas para matar o tempo.
saiu de casa sem rumo, sem horizonte, sem destino.
apenas andar. um passo após o outro, o outro após o um.
mp3 em volume 30, fiona apple in concert.
mas não demorou para encontrar, na esquina da padaria, um sentimento perdido.
estava sujo. fedido. infestado de pulgas.
ela ficou com dó. pegou o bichinho no colo, correu pra casa.
deu banho.
deu carinho.
deu ração.
deu carinho.
deu vacinas.
deu carinho.
em pouco tempo, eram inseparáveis.
saíam pra passear juntos. dormiam juntos. assistiam aos filmes do tim burton juntos.
o sentimento cresceu. engordou. entrou no cio.
era um rapaizinho já.
um dia, o carteiro deixou o portão aberto.
sentimento não resistiu. fugiu.
dobrou a esquina.
correu feito um maluco atrás de um carro.
e se perdeu.
e não voltou.
ela chorou.
procurou na padaria.
chorou.
procurou na carrocinha.
chorou.
todos os dias, ao acordar, afastava a cortina à medida de meio rosto.
ainda sem óculos, procurava por ele no portão da casa.
nada.
sentimento tinha voltado às ruas.
podia estar lá, sujo, fedido, pulguento novamente.
ou simplesmente esperando uma nova moça, sem destino, passar por ele.

3 comentários:

Fernanda Miguel disse...

se eu encontrá-lo, pego pra criar...
adoro sentimentos de estimação...rsrsrs

Rosa Leda disse...

Gostei muito. Os sentimentos são muito levados.

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

hehehe... os sentimentos estão meio assim, né? vem e vão rápido e fácil, tratamos direito e eles se vão, alguns maltratam...