sábado, 5 de junho de 2010

A fuga para o Egito...

Cena bíblica pintada por diversos pintores. Refiro-me a verdadeira fuga e não a de uma pintura. “José foi advertido em sonhos por um anjo do Senhor, que lhe disse: pega a Maria e a criança, e dirige-te para o Egito pelo caminho do deserto.” E eles foram...
Em 1945 apareceram os Manuscritos de Nag Hammadi. Dois anos depois, 930 fragmentos em hebraico, aramaico e grego foram encontrados em Qumran, conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. A École Biblique et Archéologique Française está traduzindo o material, que fala do antigo testamento e de uma seita nascida no Egito de Akhenathon, da qual os essênios eram seguidores. Se a família sagrada fugiu para o Egito, teria Cristo contato com a doutrina in loco? Quando voltaram à Palestina? Os evangelhos mostram Jesus e João Batista sendo chamados de rabi. Não existem provas de que um deles tenha um estudo aprofundado da Toráh, porém a hipótese não pode ser descartada. Os historiadores escreveram sobre Jesus e seus relacionamentos conflituosos ou amigáveis, porque aqui está se falando de um profeta escatológico ao estilo de Elias, que mantinha contatos com importantes agregados judaicos, em especial os fariseus, os saduceus e por que não... os essênios! Qual era o tom desses intercâmbios?
Os seguidores de Cristo formavam uma rede de apoio para suas andanças podendo ser divididos em três círculos concêntricos: a multidão que o ouvia em suas pregações; o grupo intermediário de adeptos, os quais pactuavam de suas ideias e os apóstolos, um conjunto restrito, simbolizando as doze tribos de Israel. Evidentemente a divisão é acadêmica e mesmo verdadeira não reflete a situação complicada do século I. Eram diversos grupos brigando por predomínio e poder político ou religioso. O fato de Jesus persuadir seus correligionários a aceitar uma mensagem e seguir sob sua liderança o colocou na rota de colisão com os fariseus, que tiveram uma importância vital para a sobrevivência do judaísmo. O Jesus histórico é um campo de calorosos debates esbarrando em convicções, as inimigas mais perigosas da verdade, diria Nietzsche. Vamos enfrentar a complicação adicional de um retrato dessa época: fariseus, saduceus, macabeus, zelotes e cananeus, todos reunindo as características do fervor religioso e compromisso social. Desses, os fariseus, têm importância vital para o judaísmo, pois eles criaram uma lei oral e a sinagoga como instituição. O termo pode ser traduzido por separados, ou seja, uma dissidência legalista. Eles se consideravam a verdadeira comunidade hassidim/os piedosos e apoiaram a revolta dos macabeus contra o império Selêucida. Desiludidos com a política se voltaram para a religião esperando a vinda do Messias. Os essênios são oriundos do mesmo agrupamento e foram viver na zona rural. Dizem que João Batista esteve com eles durante o período em que permaneceu no deserto sendo considerado um nazireu, assim como Paulo de Tarso. Sansão também pertenceu à seita. Interessante é destacar que se dividiam em subgrupos de doze com um líder chamado “mestre da justiça.” Acreditavam em milagres através da imposição das mãos, vestiam roupas brancas, não cortavam os cabelos, não tocavam em cadáveres, não empregavam alimentos e bebidas fermentados, a comida estava sujeita as regras de purificação e foram chamados de nazarenos devido aos votos nazaritas e não por causa da cidade de Nazaré. O termo saduceu indica: pertencente ao partido da estirpe sacerdotal dominante eram os ritualistas e estavam próximos dos princípios gregos. Tratava-se de religião ou política?

Um comentário:

Rosa Leda disse...

Querida Rosa, tenho gostado demais de seus textos. Enriquecedores e interessantes. Um presente!
Rosa